Glossário: Película e Digital
Por Críticos de Cinemas, em Glossário.
Na última semana, a Paramount, um dos maiores estúdios cinematográficos de Hollywood, anunciou que, a partir de agora, com o lançamento de O Lobo de Wall Street, todos os seus filmes serão distribuídos inteiramente em formato digital. Mais um passo é dado em direção ao aparentemente inevitável fim da distribuição de filmes em película cinematográfica. Mas o que isso significa? Quais as diferenças entre as duas tecnologias?
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Desde a invenção do cinematógrafo, em 1895, pelos irmãos Lumiére, virtualmente todos os filmes eram distribuídos e exibidos em película. Mas uma revolução vem acontecendo no cinema de todo o mundo. A projeção analógica em película de celulose vem sendo gradativamente substituída pela tecnologia digital, mais prática e barata. Cada vez mais filmes são distribuídos somente em formato digital – uma tendência que, pouco a pouco, vem se tornando uma regra.
A película cinematográfica é qualquer filme fotográfico que é utilizado para a realização de filmes para cinema ou televisão. Sua principal característica específica, que o distingue dos filmes fotográficos comuns, é ser fabricado em rolos maiores, permitindo filmagens mais longas. Há diversos formatos de película, em geral definidos pela sua bitola (largura). Os formatos mais conhecidos para cinema são 35 mm, 16 mm e Super-8.
Os principais problemas da tecnologia analógica são seu alto preço, além da maior dificuldade de manuseio e transporte. Os negativos são condicionados em latas refrigeradas ou em emulsões especiais; o filme está sempre sujeito a deterioração; o uso impróprio pode danificá-lo.
O cinema digital, por sua vez, utiliza bits e bytes (sequências de 1 e 0) para gravar, transmitir e reproduzir imagens, em vez dos processos químicos presentes na película. A maior vantagem da tecnologia digital é que ela pode armazenar e transmitir uma grande quantidade de informação exatamente da forma como foi gravada. A tecnologia analógica perde informação a cada nova projeção e geralmente perde qualidade com o tempo.
Em 2011, concorreu ao Oscar de melhor filme o longa-metragem “Inverno da Alma”, filmado inteiramente em formato digital, em câmeras RED. A própria Academia de Artes e Ciências Cinematográficas começava a se tornar mais maleável em relação a esse novo formato de filmagem. Cada vez mais, o cinema digital ganha força junto aos grandes estúdios e distribuidoras. Uma importante derrota para a produção de filmes em formato analógico foi a falência de uma das principais produtoras de películas cinematográficas, a Kodak, em 2012.
Um grande marco para o cinema digital foi 1995. Neste ano, apareceram duas produções que disputam até hoje o título de pioneira do cinema digital: Cassiopéia, do diretor brasileiro Clovis Vieira e Toy Story, do norte-americano John Lasseter. Em 2002, Star Wars: Episódio II – O Ataque dos Clones, foi o primeiro filme digital de alta definição.
Sete grandes estúdios de Hollywood (Warner, Fox, Universal, Paramount, Disney, DreamWorks e Sony) criaram um comitê chamado DCI (Digital Cinema Initiative) com o objetivo de estabelecer um padrão digital para a projeção de seus filmes. Os principais requisitos são a compressão de imagem em JPEG 2000 e a resolução de 2K ou 4K. Poucas salas de cinema que exibem filmes digitais conseguem atender a todos esses requisitos.
JPEG 2000 é um padrão de compressão de imagens de alta definição. Este tipo de compressão utiliza métodos de lógica difusa para criar os dados de origem. Pode compactar até 90% do arquivo original sem perder a qualidade de imagem, pois os pixels não são gerados aleatoriamente na tela, e sim com um cálculo geométrico em que as cores primárias e o RGB ficam paralelos ao eixo central do arquivo.
A resolução 2K é aplicada à imagens que contam com 2.048 pixels de resolução horizontal, possuindo resolução de 2048 x 1080 pixels. Foi idealizada pelo DCI no final da década de 1990, e a partir dos meados dos anos 2000, começou a fazer parte das telas de cinema digital e nas salas IMAX.
Já o formato 4K (4096 x 2160p) começou a ser adotado nas salas de cinema em 2006. A proporção da imagem é mais ajustada, permitindo que você projete vídeos em telas muito grandes, mas sem uma perda visível na resolução das imagens.
O charme e pouco do caráter manual da película se vão com o advento do digital. A nível de detalhes, textura e natureza do movimento, temos um outro tipo de experiência. Uma vez que a película exige, tanto para o processo de filmagem quanto para o de exibição, todo um aparato de profissionais capacitados para manusear o material filmado e alinhá-lo devidamente no projetor, temos esses artífices substituídos por HDs, e parte da (aqui, paradoxal) aura Benjaminiana é perdida, uma vez que a representação da ‘realidade cinematoráfica’ construída desde os irmãos Lumiére, com seus ainda tímidos 12 fps, é substituída por uma operação numérica de padrões outros que não os dos velhos e ultrapassados filme Kodak.
Não há dúvidas de que o cinema digital barateou e até mesmo democratizou o cinema. Hoje qualquer um que possua uma câmera de alta definição pode fazer filmes de boa qualidade. Ao mesmo tempo, não pode se negar que a película tem uma certa aura e um status que o cinema digital nunca deverá ter. Por mais que a produção em película venha diminuindo, ainda existem muitos defensores. Por mais que muitos estúdios produzam exclusivamente em digital, muitos ainda torcem o nariz para essa novidade. Dessa discussão surgirá o futuro do cinema.
Texto e imagens reproduzidos do site: criticosdecinemas wordpress com