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sábado, 24 de fevereiro de 2024

Morreu António Feliciano o último projecionista ambulante do país


Publicação compartilhada do site CANALALENTEJO 22 de Dezembro, 2022

Chegou o fim do “Cinema Paraíso” em Portugal

Por Carlos Papafina 

Morreu António Feliciano o último projecionista ambulante do país.

As sombras de “Cinema Paradiso”, o clássico premiado com um Oscar, correm pela vida de António Feliciano, um enérgico homem de 82 anos, que faleceu na passada terça-feira, conhecido como o “homem dos filmes”, o último projecionista de cinema itinerante em Portugal.

“Se não sou o último, estou perto”, dizia Feliciano. “Este é um legado que vai acabar. Quando eu me for, o cinema itinerante será mencionado em artigos, mas apenas como uma memória.”

Depois de seis décadas e quatro milhões de quilómetros de viagem para projetar quatro mil filmes em aldeias distantes de Portugal, Feliciano ainda não tem planos para se aposentar. Mas está conformado com o fato de que a Internet, a televisão digital e os monopólios na distribuição tornaram o seu ofício obsoleto.

Tal como Toto, o menino que faz amizade com o projecionista Alfredo no filme italiano de 1988, Feliciano também começou muito jovem, na década de 1950, ajudando um projecionista ambulante a anunciar o programa do fim de semana num alto-falante, na sua aldeia do Alentejo rural.

“O bicho do cinema”, ​​como ele lhe chama, cresceu e na adolescência já se tinha feito à estrada, ajudando a projetar filmes em salões de baile e praças de touros. Isso levou a uma carreira que nem a necessidade de ganhar a vida como guarda-livros interrompeu, combinando as semanas passadas num escritório de Lisboa com as projeções ao fim de semana.

A cerca de 200 km de Lisboa, Monforte é uma aldeia típica Alentejo – pitoresca, mas sonolenta, a sua população reduzida a três mil habitantes pelos problemas económicos e pela emigração.

No entanto, num domingo brilhante, a vila anima-se quando Feliciano se prepara para projetar um filme em homenagem a Domingos Peças, um projecionista local, que morreu em 2005 após 50 anos no negócio.

A Última Sessão?

“O nosso entretenimento era o cinema ambulante, não tínhamos mais nada, nem TV, nem rádio, éramos muito pobres”, diz a residente Nazaré Alfaia, 71 anos. “Como não sei ler, não me lembro dos nomes dos filmes, mas eram aventuras, cowboys e cavalos”, acrescenta, cercada por uma coleção de projetores antigos de Feliciano e por cartazes desbotados de westerns e musicais.

Artemisio Peças, o filho do projetista, lembra que “antes do filme, mostravam as notícias e foi no cinema que as pessoas viam Lisboa, as colónias, ou mesmo o mar, pela primeira vez”.

Vestindo um casaco de trabalho azul com a palavra “Cinema”, impressa na parte de trás, Feliciano passa uma hora em preparações e a certo ponto usa um martelo para alinhar o rolo do filme biográfico sobre Amália Rodrigues, a diva do fado.

“Este é um passeio de emoções imprevisíveis, nunca é fácil. O som deve ser bom, a imagem clara, o equipamento protegido para viajar. Sou como um trapezista sem rede”, diz ele.

Mas não se arrepende: “Às vezes sinto que eu sou ‘o cinema’. Numa sessão aqui está a máquina, o ecrã, o público, todos concentrados, juntos, a rir, a chorar. E sem mim nada funciona… Emocionante. “

Feliciano parece mais jovem do que a sua idade e salpica a conversa com anedotas sobre a sua vida quase boémia. A expressão jovial só azeda quando lamenta não conseguir encontrar alguém que continue a tradição. “É uma pena que esta expressão cultural importante se perca e que, quando eu morrer, não haja ninguém para ir de aldeia em aldeia a mostrar um filme.”

António Feliciano como era conhecido, era natural de Sabóia e talvez tenha sido essa realidade de vida no interior do concelho e a sua paixão pela magia do cinema que o levou desde cedo a projetar filmes junto das comunidades locais, deslocando-se aos mais recônditos povoados, para que ninguém deixasse de ter acesso à denominada 7.ª Arte.

Para este grande Homem, que foi o último projecionista ambulante, “a cultura é para todos e deve chegar a todos”, e foi com base nessa máxima e com grande esforço que construiu em Vila Nova de Milfontes a primeira sala de cinema do concelho de Odemira: o Cineteatro GiraSol.

A sua história de vida foi sendo contada com direito a grandes reportagens, documentários como Cães sem Coleira, de Rosa Coutinho Cabral (1997) ou Cinema com Gente Dentro, de Rui Lamy e Diogo Vilhena (2007), até a uma canção da banda Azeitonas “Cinegirasol” com vídeo de animação stop motion.

Em 2016, o Município de Odemira atribuiu-lhe a Medalha Municipal de Mérito em reconhecimento da extraordinária ação em prole da comunidade enquanto agente da cultura, designadamente no cinema, junto da população odemirense, do Alentejo e até do país, ao longo de muitos anos.

Texto e imagens reproduzidos do site: canalalentejo sapo pt

sábado, 19 de novembro de 2016

História de Antônio Feliciano, projecionista português de 75 anos (2015)












Imagens: Rafael Marchante/Reuters.

Publicado originalmente pela Reuters De Monforte (Portugal), em 09/11/2015.

Aos 75 anos, projecionista português teme ser o último do cinema itinerante.


Traços do clássico ganhador do Oscar "Cinema Paradiso" permeiam a vida de Antônio Feliciano, um energético senhor de 75 anos, que teme ser o último projecionista do cinema itinerante em Portugal.

"Se não sou o último, estou perto disso", disse Feliciano. "Esse é um legado que vai acabar. Quando eu me for, o cinema itinerante será mencionado em artigos, mas apenas como uma memória", lamenta.

Depois de seis décadas viajando quatro milhões de quilômetros para exibir 4 mil filmes em aldeias distantes de Portugal, Feliciano ainda não tem planos de se aposentar. Mas está conformado com o fato de que os monopólios de Internet, TV e distribuição digital tornaram seu ofício obsoleto.

Como Totó, o menino que faz amizade com o projecionista Alfredo no filme italiano, sucesso em 1988, Feliciano também começou ainda jovem, na década de 1950, ajudando um projecionista itinerante a anunciar a programação do fim de semana em um alto-falante em sua aldeia na parte rural do Alentejo.

O negócio cresceu e já na adolescência ele pegou a estrada, ajudando a projetar filmes em salas de música e arenas de touradas. Isso o levou a uma carreira que até mesmo a necessidade de ganhar a vida como contador não interrompeu, pois ele combinou as semanas em um escritório de Lisboa com exibições de fim de semana.

A cerca de 200 quilômetros de Lisboa, a montanhosa Monforte é uma aldeia típica do Alentejo - pitoresca, mas sonolenta - com a população reduzida a 3 mil pessoas por causa de problemas econômicos e da migração.

Artemísio Pecas, filho do projetista, conta que "antes do filme, eles apresentavam o noticiário, e era no cinema que as pessoas viam Lisboa, as colônias, e mesmo o mar, pela primeira vez".

Em um domingo ensolarado, no entanto, a aldeia se anima quando Feliciano está para exibir um filme em homenagem a Domingos Pecas, um projetista local que morreu em 2005, depois de 50 anos na atividade.

"Nosso entretenimento era o cinema itinerante. Não tínhamos mais nada, nem TV, nem rádio. Éramos muito pobres", disse a moradora Nazaré Alfaia, de 71 anos. "Não sei ler, por isso não me lembro dos nomes dos filmes, mas eram aventuras, vaqueiros e cavalos", acrescentou, cercada por uma coleção de projetores antigos de Feliciano e cartazes desbotados de westerns e musicais.

Texto e imagens reproduzidos do site: cinema.uol.com.br