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quarta-feira, 21 de junho de 2017

Paraná dá adeus ao pioneiro das salas de cinema

 Zito Alves acompanhou as transformações nas salas de cinema da capital.

Harry Luhm teimou e o amigo Zito modificou o projetor 35mm
que guarda na oficina nos fundos de sua casa.

Publicado originalmente no site da Folha de Londrina, em 29/08/2008

Paraná dá adeus ao pioneiro das salas de cinema

Na semana em que morreu o projecionista Zito Alves, a FOLHA conversou com profissionais da área na cidade. Uma profissão em extinção?

Deu no obituário dos jornais da última quarta-feira, dia 27. ‘‘Zito Alves Cavalcanti, 83 anos, comerciante.’’ Citado como memória viva da exibição cinematográfica no Estado, no Dicionário de Cinema do Paraná, de Francisco Alves dos Santos, Zito Alves morreu poucos dias antes de completar 84 anos.

  De sua memória, ficam os textos que escreveu em jornais, o livro ‘‘No giro da manivela’’, de 1996, em que registra histórias ao modo de crônica, com especial atenção às décadas de 40, 50 e 60, de salas de cinema no Paraná – muitas das quais foi o responsável pela instalação, como as da Cinemateca, Luz, Groff e Ritz.

  Deixou, também, alguns depoimentos registrados em vídeo – um deles gravado para o projeto ‘‘Memória Viva do Paraná’’, do extinto Bamerindus. Naturalmente, restam, ainda, as lembranças das pessoas de seu convívio.

  ‘‘Eu ligava para ele todo dia 31 de agosto para dar os parabéns’’, lembra, saudoso, o amigo Harry Luhm, 78. No aniversário de 70 anos de Zito, há 14 anos, Luhm reuniu a turma no hoje extinto Cine Plaza, na Praça Osório, contando para o amigo que assistiriam a ‘‘Pandemônio’’ (1941), uma das comédias favoritas do aniversariante. Chegando lá, a projeção começou com uma surpresa: uma frase em homenagem a Zito, que respondeu emocionado ao presente.

  Em 1973, Zito abriu a Paracine, empresa especializada na manutenção de salas de cinema. Em 1982, Francisco Amancio da Silva começava a sua vida na Sétima Arte, aos 19 anos, como porteiro do Cine Avenida. Abandonando a função de lanterninha pouco depois, passaria a ser o projecionista da sala. ‘‘Fui privilegiado em pegar a época do carvão’’, lembra Amancio, comentando a tecnologia das máquinas que projetavam com a luz emitida pelo mineral em chamas.

  Sobre o contato com Zito, Amancio diz que foi graças a ele que aprendeu muitas coisas sobre cinema. Nas salas de projeção da Fundação Cultural, onde trabalha há 19 anos, conversaram várias vezes. ‘‘Lembro que ele chegava xingando os projecionistas por serem preguiçosos. Muitas vezes o chamavam apenas para apertar um parafuso’’, relatou.

‘Isso não vai funcionar,

Mr. Luhm’

Harry Luhm é um dentista aposentado cheio de idéias. Um dia chegou para Zito Alves e pediu para que fizesse algumas adaptações no projetor 35mm que tinha em casa. Alves não acreditava que as modificações surtiriam efeito, mas acabou topando o desafio do amigo. ‘‘Quando ele viu que, realmente, funcionava, me parabenizou. Foi muito gratificante, pois eu escutava aquilo de alguém que, realmente, entendia de cinema’’, lembra.

  Da época em que era menino, Luhm recorda das sessões em que Zito estava na cabine de projeção. Se ele era eficiente no ofício? ‘‘É um tipo de trabalho que quando não se nota nada de errado, é porque está bom’’, diverte-se.

  Zito começou como assistente de operador do Cine Broadway, em julho de 1941, aos 16 anos, tal como registra o livro ‘‘24 Quadros - Uma viagem pela Cinelândia Curitibana’’, das jornalistas Luciana Cristo e Nívea Miyakawa.

  Depois, foi chefe de cabine, gerente do Cine Lido, por 19 anos, e, ainda, dono de três salas diferentes. Uma época em que os cinemas de rua da cidade eram diversos e em que era comum que os projecionistas tivessem seus assistentes.

  Os tempos são outros, mas a história continua. Dirceu, filho de Zito, segue à frente da Paracine, responsável pela manutenção de boa parte das salas de cinema da Capital.

Rafael Urban (Equipe da Folha).

Texto e imagens reproduzidos do site: folhadelondrina.com.br