Lá no início, nos seus primeiros quatro séculos de existência, a Igreja Católica preferia comemorar a morte ao invés do nascimento. Afinal, morte e culpa eram coisas sérias e lucrativas naqueles bons tempos, onde a venda de indulgências (perdão católico) garantia o vinho de boa safra aos bons padres. Com o tempo a coisa foi virando bagunça e o preço absurdo do garrafão de tinto obrigou a Igreja, muito a contragosto, a comemorar também a vida e o nascimento das pessoas. Ok, eu sei que foi uma grande derrota para os sombrios e taciturnos monges que, esfregando as mãos umas nas outras e sorrindo nervosamente, dedicavam toda a vida estudando e reverenciando a morte e a culpa. Mas a pressão dos pagãos e dos camelôs da Uruguaiana tornou inevitável a aceitação do Natal pela Igreja. O Natal nada mais é que uma ficção histórica rendosa, dado que ninguém sabe de fato quando Cristo nasceu. Alguns dizem que teria sido no dia 6 de janeiro. Mas não há nada nas escrituras sobre isso e o mais provável é mesmo que Jesus não tenha nascido em dezembro. Mas quem se importa? O dia 25 de dezembro foi escolhido apenas porque era a data de uma grande festa pagã (Natalis Invicti) que comemorava o nascimento do Sol. Era uma festa alegre e cheia de comes e bebes. Sendo assim, Constantino e o alto escalão da Igreja viram na data idólatra uma ótima oportunidade para se angariar devotos e, por conseqüência, vender indulgências e coxinhas de galinha. Foi nessa época que surgiu a famosa promoção de Natal: pague 3 e leve 2. Com aquela coisa de presentearem-se uns aos outros, nem mesmo os judeus reclamaram muito da festa, exceto os mais ortodoxos (quando eram obrigados a comprar algum presente sem a certeza de receber outro). Não seria mau se a Igreja Católica adotasse o jazz em suas celebrações natalinas. Talvez até rolasse a eleição de um Papa negro para animar o Vaticano. Aí, então, a festa estaria completa. Eu pagaria satisfeito para ouvir Miles Davis tocando dingo bel, dingo bel, acabou o papel...