Os autores clássicos, bem como os medievais, sempre desprezaram as mulheres. Para Filémon, Estrabão e Menandro "a mulher é um mal necessário". Para Arsênio "a mulher é uma tempestade em casa". Eurípides, em sua Electra, afirma que é torpe que a mulher mande na casa e Aristóteles (em seu Política) e Ésquines (em seu Adversus Timarchum), teorizaram sobre os perniciosos efeitos do governo feminino. Nos Monósticos de Menandro encontramos que "em mulher não acredites nem morta". Na Odisséia, de Homero, a sombra de Agamêmnon adverte Ulisses a não revelar à mulher a sua identidade, para não correr o risco de ter o mesmo fim que ele. Hesíodo, em seu Os trabalhos e os dias, faz a mesma recomendação, assim como Eurípides, Terêncio, Propércio, Horácio e Plauto. Também na Eneida, em seu quarto livro, Mercúrio aparece em sonho a Enéias e o adverte sobre possíveis e repentinas vinganças da irada Dido. São Jerônimo, em seu Comentário ao Eclesiastes, afirma que "a mulher é sempre variável e mutável". Sêneca e Calpúrnio Sículo já alertavam sobre a variabilidade de humor e de opinião das mulheres. No Rigoletto, de Verdi, há o famoso dístico "Donna e luna, oggi serena e domani bruna" (mulher e lua, hoje clara, amanhã escura). O mesmo ocorre em Le roi s'amuse, de Vitor Hugo, Canzioniere, de Petrarca, Filostrato, de Boccaccio, Aminta, de Tasso e Queen Mary, de Tennyson. Em sua Ifigênia em Táurida, Eurípides utiliza a gnoma segundo a qual "a astúcia das mulheres é pior do que qualquer ardil". Bebel, em seu Adagia Germanica, comenta que "as mulheres têm cabelos longos e idéias curtas" e Sófocles, em Ajax, diz que "o silêncio embeleza todas as mulheres". Juvenal comentava que três mulheres reunidas produziam o mesmo ruído de um grande mercado, enquanto Teócrito destaca a natureza curiosa das mulheres, capazes de descobrirem até mesmo o que o rei disse ao ouvido da rainha. Vovó Tícia dizia que, quando brigam as comadres, descobrem-se as verdades. A incapacidade feminina de guardar segredos é lembrada por La Fontaine e, segundo Rabelais, o papa João XXIII não permitia que as freias se confessassem entre elas porque a confissão deveria permanecer em segredo. Juvenal dizia que é raro encontrar beleza e castidade, idéia que é ampliada por Catulo, Petrônio, Esopo, Fedro, Goethe (Fausto) e nos Carmina Burana (In trutina), onde a beleza raramente anda junto com a virtude ou a inteligência. Durante muito tempo, era comum a seguinte inscrição fúnebre: Domi mansit casta vixit lanam fecit, ou seja, ficou em casa, viveu casta, fiou a lã, indicando a mulher virtuosa, dedicada ao lar e aos afazeres domésticos. Mas agora, tudo mudou. Temos uma candidata à presidência incapaz de mentiras e ardis. Temos também Toshiko Akiyoshi, pianista, compositora e líder chinesa do hard bop, nascida em 1929. Faz anos vem produzindo alguns dos melhores arranjos desde Duke Ellington, com certa influência de Gil Evans e de sutis elementos da música japonesa (sim, seus pais eram japoneses). Como pianista, seguiu inicialmente os passos de Bud Powell, criando, mais tarde, um estilo próprio e original. É considerada, sem exagero algum, a mais importante musicista do jazz de todos os tempos, ao lado da pianista Mary Lou Williams. Numa primeira fase, Toshiko trabalhou com seu primeiro marido, Charlie Mariano (as), em quarteto com Gene Cherico (b) e Eddie Marshall (d). Infelizmente sua gravadora à época era a pequena Candid, de Nat Hentoff, cuja promoção e distribuição não estavam à altura do talento de Toshiko e Mariano. Sua segunda fase acontece ao lado de seu segundo marido, Lew Tabackin (f, ts), e tem início em 1972, com a formação de sua tão sonhada big band. O resto, só mesmo ouvindo. Para os amigos, ficam algumas sugestões de audição, bem como a faixa Mr. Jelly Lord, retirada do álbum Finesse, gravado em 1978 para a Concord, com Monty Budwig (b) e Jake Hanna (d). É como sempre dizia vovô Acácio para vovó Tícia: não posso viver sem ti nem contigo.
Toshiko-Mariano Quartet – 1960 – Candid – Um dos mais importantes álbuns gravados logo após Kind of Blues, de Miles Davis. Aqui não há concessões à modalidade, com exceção da faixa Little T. O destaque fica por conta da faixa Long Yellow Road, que, doze anos mais tarde, viria a ser orquestrada por Toshiko. Com Gene Cherico (b) e Eddie Marshall (d).
The Toshiko Akiyoshi-Lew Tabackin Big Band – 1974-1976 – Novus – Coletânea do excelente trabalho orquestral de Toshiko para a RCA, pessimamente divulgado pela gravadora. Prova disso é que nem mesmo no Japão encontramos em cd os excelentes álbuns Tales of a Courtesan, de 1975, ou Road Time, de 1976. Aqui você tem uma boa mostra da maestria de Toshiko, com destaque para os excepcionais arranjos com leves pitadas orientais e um belíssimo trabalho com sopros. Com Bobby Shew (t), Phil Teele, Jimmy Knepper (tb), Gary Foster (f, cl, as), Tom Peterson (ts), Gene Cherico (b) e Peter Donald (d).
Wishing Peace – 1986 – Ken Music – Outro excelente álbum, fundamental para quem procura um trabalho de jazz orquestral no nível de Duke Ellington. Destaque para a faixa Liberty Suite, composta para comemorar o centenário da estátua. Com John Eckert, Brian Lynch, Joe Mosello, Chris Passin (t), Conrad Herwig, Kenny Rupp, Hart Smith (tb), Matt Finders (btb), Frank Wess (f, ss, as), Lew Tabackin (picc, f, ts), Jim Snidero (f, cl, as), Walt Weiskopf (cl, ts), Mark Lopeman (bcl, bs), Jay Anderson (b), Jeff Hirschfield (d) e Daniel Ponce (perc).
Carnegie Hall Concert – 1991 – Columbia – Se você acha que o jazz estava acabado, esse álbum demonstra que o jazz está em plena forma, cada vez mais criativo e belo. Com Freddie Hubbard, Mike Ponella, John Eckert, Greg Gisbert, Joe Magnarelli (t), Herb Besson, Conrad Herwig, Larry Farrel (tb), Matt Finders (btb), Frank Wess (f, as), Jim Snidero (picc, f, cl, ss), Lew Tabackin (picc, f, ts), Walt Weiskopf (f, cl, ss, ts), Scott Robinson (bcl, bs), Peter Washington (b), Richie Flores (perc), Terry Clarke (d) e Nnenna Freelon (v).