Trabalhar em grupo é uma forma simples de estimular a socialização e a solidariedade entre as crianças. Além disso, é uma forma de desenvolver o sentido de autonomia, através do qual todos se ajudam mutuamente promovendo o crescimento de todo o grupo.
O processo de formação dos grupos deve ter início com uma atividade de conscientização sobre o que é o trabalho em grupo, a atividade coletiva. Desse modo, temos que refletir sobre o que é um grupo.
Pode-se falar em grupo, quando um conjunto de pessoas movidas por necessidades semelhantes se reúne em torno de uma tarefa específica. No desenvolver as tarefas, deixam de ser um amontoado de indivíduos, para cada um assumir-se enquanto participante de um grupo com um objetivo mútuo. Isto significa também que cada participante exercitou sua fala, sua opinião, seu silêncio, defendendo seus pontos de vista. Portanto, descobrindo que, mesmo tendo um objetivo mútuo, cada participante é diferente. Tem sua identidade. Neste exercício de diferenciação – construindo sua identidade – cada indivíduo vai compartilhando com o outro.
Todo grupo tem uma liderança, seja ela consciente ou inconscientemente exercitada. O segundo passo, então, é trabalhar a noção de liderança.
“Liderança é a Arte de Motivar e Influenciar Pessoas”.
O líder tem o poder de levar as pessoas a lugares que elas jamais iriam sozinhas e isso pode ser bom ou ruim, por isso temos líderes positivos e negativos. Devemos, contudo, batalhar por uma liderança positiva, que faz com que cada membro do grupo tenha motivação para crescer e progredir. Cabe ao líder a responsabilidade de planejar e tirar o maior proveito das habilidades de cada membro de seu grupo, para isso é importante utilizar a sua influência, para o bem da equipe e por consequência o bem da turma. Uma grande qualidade de um líder eficaz é saber conquistar o respeito da equipe através da influência não pela sua posição e sim pela sensibilidade do que é direito e justo. O estilo de liderança segundo o qual todos são tratados de forma justa e igual sempre cria uma sensação de segurança. Isso é extremamente construtivo no ambiente de trabalho.
O terceiro momento é a formação do grupo, que pode se dar de várias formas. Dentre os inúmeros meios de construção de grupo, destacamos os grupos áulicos. Para melhor reflexão sobre o método, transcrevemos a seguir o texto "Grupos Áulicos - Técnica favorece o desenvolvimento dos valores de cidadania", de Rita Abbati, Suzana Villas-Bóas e Armando Villas-Bóas Cabral (texto extraído de Revista do Professor. Porto Alegre: Editora CPOEC, out./dez., 1999. v. 15, n. 60.):
O processo de formação dos grupos deve ter início com uma atividade de conscientização sobre o que é o trabalho em grupo, a atividade coletiva. Desse modo, temos que refletir sobre o que é um grupo.
Pode-se falar em grupo, quando um conjunto de pessoas movidas por necessidades semelhantes se reúne em torno de uma tarefa específica. No desenvolver as tarefas, deixam de ser um amontoado de indivíduos, para cada um assumir-se enquanto participante de um grupo com um objetivo mútuo. Isto significa também que cada participante exercitou sua fala, sua opinião, seu silêncio, defendendo seus pontos de vista. Portanto, descobrindo que, mesmo tendo um objetivo mútuo, cada participante é diferente. Tem sua identidade. Neste exercício de diferenciação – construindo sua identidade – cada indivíduo vai compartilhando com o outro.
Todo grupo tem uma liderança, seja ela consciente ou inconscientemente exercitada. O segundo passo, então, é trabalhar a noção de liderança.
“Liderança é a Arte de Motivar e Influenciar Pessoas”.
O líder tem o poder de levar as pessoas a lugares que elas jamais iriam sozinhas e isso pode ser bom ou ruim, por isso temos líderes positivos e negativos. Devemos, contudo, batalhar por uma liderança positiva, que faz com que cada membro do grupo tenha motivação para crescer e progredir. Cabe ao líder a responsabilidade de planejar e tirar o maior proveito das habilidades de cada membro de seu grupo, para isso é importante utilizar a sua influência, para o bem da equipe e por consequência o bem da turma. Uma grande qualidade de um líder eficaz é saber conquistar o respeito da equipe através da influência não pela sua posição e sim pela sensibilidade do que é direito e justo. O estilo de liderança segundo o qual todos são tratados de forma justa e igual sempre cria uma sensação de segurança. Isso é extremamente construtivo no ambiente de trabalho.
O terceiro momento é a formação do grupo, que pode se dar de várias formas. Dentre os inúmeros meios de construção de grupo, destacamos os grupos áulicos. Para melhor reflexão sobre o método, transcrevemos a seguir o texto "Grupos Áulicos - Técnica favorece o desenvolvimento dos valores de cidadania", de Rita Abbati, Suzana Villas-Bóas e Armando Villas-Bóas Cabral (texto extraído de Revista do Professor. Porto Alegre: Editora CPOEC, out./dez., 1999. v. 15, n. 60.):
Uma forma interessante de organizar o trabalho em sala de aula é a distribuição dos alunos em grupos áulicos, procedimento pedagógico que favorece a vivência de valores de cidadania, criado pelo professor Caon, em 1965 [...]. A expressão áulico, no caso desse procedimento, é relativo à aula, em acepção diferente comumente encontrada (palaciana).
Quando trabalhamos com grupos áulicos, procuramos permitir aos alunos o convívio com as diferenças, a aprendizagem sobre a importância de auxiliar e ser auxiliado, de pertencer a um grupo. A sustentação da aprendizagem de cada membro do grupo tem garantia nessa prática, através da cumplicidade que se instala.
Modificar a configuração na sala de aula, onde cada um é importante para si mesmo e para o outro, assegura a participação de todos, um envolvimento com a aprendizagem. Cada aluno tem a visão não só do professor mas, também, dos colegas, ao contrário da distribuição tradicional em que o professor é o centro de todas as atenções.
Na organização tradicional, formam-se panelas que são passíveis de reconhecimento até pela distribuição espacial. Às vezes, o professor acaba dando aula só para o grupo da frente, fazendo sua própria panela. Nos fundos da sala, ficam os rebeldes, os desatentos, os excluídos tanto da aprendizagem quanto do olhar do mestre. Formam, também, suas próprias panelas. Afinal, é preciso ser solidário e eles o são: solidários. Defendem-se. São alunos presentes/ausentes.
É preciso destruir a adoção de lugares fixos, porque esses geram ideias fixas, porque essa distribuição é metafísica, quer dizer, o lugar condiciona o comportamento do aluno. Caso sejam trocados, os alunos que ficam na frente na sala de aula passaram a ter o comportamento dos que antes estavam atrás e vice-versa. Essa situação se desmancha, quando se adota a nova metodologia em que há oportunidades iguais a todos.
Na aula tradicional, o aluno se torna um mero espectador. Nos grupos áulicos, cada integrante é testemunha da aprendizagem dos outros e é testemunhado por eles, é reconhecido. Não é um objeto que ocupe um lugar numa fila. É um sujeito. É alguém que aprende e que ensina, porque suscita ideias, interroga, pergunta, se nega, responde, reage, briga. Aparece como sujeito. É chamado pelo nome e sabe o nome dos colegas. Sua ausência é sentida e cobrada, e isso é importante para criar laços. O aluno sente-se importante e vai para o lugar onde se sente assim. A evasão e a infrequência ficam prevenidas por si mesmas, na dinâmica do próprio trabalho. Essa forma de trabalhar oportuniza, outrossim, que surjam sentimentos, rivalidades, agressões que, uma vez desveladas, podem ser trabalhadas pelo próprio grupo, obedecendo a uma dinâmica que tem regras que valem para todos. Isso permite que se trabalhem os limites. Há crianças ( e até adultos) que não sabem o que é isso. Pensam que podem fazer ou dizer tudo o que querem. Acham licito tomar para si o que ambicionam, sem considerar os demais. Esse é um recurso adequado, também, para trabalhar disciplina e autoridade partindo do próprio grupo, sem apelar para o autoritarismo do professor. O professor, trabalhando em grupo, através de processos de escolhas pela eleição possibilita resultados como os apresentados a seguir.
* Aos alunos:
- desmanchar as panelas formadas, propiciando maior integração entre eles, e que se conheçam melhor;
- fazer circular a oportunidade da convivência entre todos, porque cada participante muda de grupo;
- dinamizar os intercâmbios pessoais, na medida que cada elemento do grupo mostra o que sabe, o que aprendeu e o que não aprendeu;
- fazer a interação entre os elementos do grupo, facilitando que surja a solidariedade.
* Ao professor:
- desestabilizá-lo de seu lugar fixo frente ao aluno, transportando-o para outros lugares( ao lado do aluno, em torno do grupo, circulando pelos grupos);
- flexibilizar o seu lugar de ensinante que deve saber tudo para o de ensinante/aprendente, em que a dúvida, o não saber resolver uma situação leva-o a buscar procedimentos de saída para os impasses;
- exigir-lhe ser mais criativo, menos rígido, mais observador;
- favorecer um conhecimento maior de seus alunos quanto ao saber jogar, ganhar, perder, respeitar o seu limite;
- compartilhar o seu olhar com um outro a mais, na solução dos problemas;
- ser auxiliado pelo grupo na sustentação da dinâmica da sala de aula.
* Ao grupo:
- fazer aparecerem as diferenças e exercitar o difícil jogo de conhecer o outro e conhecer-se melhor;
- suscitar perguntas entre seus pares e aprender com eles;
- fazer sentir a necessidade de participar, porque sempre se defronta com os outros;
- fazer detonar problemas de relacionamentos, obrigando-o a buscar formas de resolvê-los;
- revelar outros conhecimentos que o grupo já possui, garantindo-lhe o conhecimento pelos colegas.
*Constituição dos grupos
Para a organização dos grupos áulicos, é importante que o professor não se precipite. É preciso que ele tome tempo para fazer com que todos na sala se conheçam, tenham oportunidade de interagir, de conversar, de trabalhar juntos. Da agilidade e da criatividade do professor depende que a etapa de preparação seja muito bem aproveitada e dure o tempo necessário. Só isso vai permitir que os alunos, realmente, possam participar com bastante elementos da eleição que iniciara os trabalhos com os grupos áulicos.
Procura se formar grupos de cerca de quatro a cinco participantes. Três não podem constituir um grupo. Mais de cinco terão de dificuldade até espacial de efetuar as trocas, de interagir.
A eleição se processa da seguinte forma: inicialmente cada integrante do grupo é convidado a votar, por exemplo no colega com quem mais gostaria de trabalhar. Dos mais votados, o professor tira o número correspondente ao número de grupos que pretende formar, calculando a partir do número de integrantes da turma. Se houver empate, todos os votados, entre eles mesmos, decidem. São convidados a votar novamente só eles. Normalmente esse grupo consegue selecionar o número de chefes que permanecerá.
Suponhamos que, numa classe de vinte e cinco alunos, o professor pretenda formar cinco grupos, mas no quinto lugar ficam duas pessoas com a mesma votação. Aí ele tem seis pessoas para cinco chefias. As seis pessoas votam entre si. Normalmente isso resolve a situação.
Escolhidos os chefes ou coordenadores, pela ordem de maior votação, cada um deles escolhe um outro integrante para seu grupo. O terceiro elemento é convidado dentre os demais alunos de comum acordo entre o chefe e seu primeiro escolhido. A ordem dessa escolha agora se inverte. Quem escolheu por último agora o faz primeiro. Para a chamada do quarto integrante, cada um dos três opina e juntos decidem. A ordem do convite se inverte novamente. Até aí cada grupo tem quatro integrantes, o chefe e mais três, mas são vinte e cinco alunos. Restarão, ainda, cinco alunos na turma que não terão sido chamados. Esses terão o direito de decidir para que grupo pretendem ir. É importante salientar que, na forma como se processam as eleições atualmente, em qualquer etapa é permitido recusar o convite, que então terá de ser feito a outra pessoa.Antes de se proceder à eleição, essas possibilidades devem ser tornadas claras para a turma. Inclusive, é preciso que se faça um trato que todos aceitem: cada um tem que pertencer a um grupo. Ninguém pode ficar de fora.
Formados os grupos, cabe ao professor propor uma tarefa que os solidifique. São convidados a dar um nome ao grupo, o que começa a torná-lo singular.
Ultimamente tem sido adotada a técnica de, após a eleição de líderes, ser-lhes oportunizado um momento para falar sobre sua plataforma, explicar para o grande grupo como cada um pretende agir enquanto chefe de um grupo. Isso ajuda a definir escolhas, permite posicionamento, não só dos coordenadores eleitos, mas de todos que estejam envolvidos na atividade.
Conforme as características da turma e a natureza dos conteúdos a serem desenvolvidos, o professor calcula o tempo em que cada configuração de grupo deverá permanecer. Com isso possibilita outras relações dentro da sala, evitando que os grupos se encerrem em limites fechados e inflexíveis, constituindo novas panelas.
*Condições para eleição
Para poder trabalhar com grupos, é preciso que o professor também passe por essa experiência de escolha, de trabalho, porque isso, mais que uma técnica é uma vivência forte, que meche muito com o sujeito. Surgem separações, o ser escolhido, o não ser escolhido. Meche com a estrutura subjetivante. O professor deve ter bastante consciência deste fato. Essa consciência só se adquire pela experiência.
Não só a sustentação teórica é necessária. Ele precisará abrir caminhos na escola e encontrar parceiros entre os colegas, para se sustentar na prática. Deve estar preparado para oposição, já que o desencadear de sentimentos e posturas antes escolhidos assusta muito. Então é preciso não estar só. Se não há colegas que partilhem de suas ideias, certamente isso poderá ser compensado por uma boa supervisão, até que os resultados do trabalho comecem a aparecer. Aí mais pessoas virão.
Preparado o professor, é hora de preparar a turma. Antes de efetuar a primeira eleição, o professor deve se certificar de que cada aluno é razoavelmente conhecido pelos demais. Que lhes sabem o nome e já o viram trabalhar e interagir. Só assim a eleição será valida. Para isso, o professor deverá empregar diversas técnicas de trabalho em grupo, misturando os alunos em configurações diferentes.
*Preparação da eleição
Quando inicia a trabalhar com a turma, o professor, se pretender apoiar-se na estruturação dos grupos áulicos, deve preparar as eleições, certificando-se de que os alunos tiveram a oportunidade de interagir com todos os colegas nas atividades preparatórias, em que é o próprio professor que estabelece a formação dos diversos grupos. Assim, ao propor as tarefas para turma, ele deve lançar mão de diferentes técnicas. Consideraremos, ainda, para exemplificação, a turma com vinte e cinco alunos. O professor pode desenhar no quadro-de-giz o esquema a seguir.
Formação de grupos
Após, pede que cada aluno coloque o seu nome em um dos quadradinhos, qualquer um de sua escolha, ou, se o aluno ainda não sabe escrever o próprio nome, o professor o faz, no espaço escolhido por ele. Depois, forma grupos de um a cinco e atribui uma tarefa diferente para cada um com um tempo determinado e liberdade de atuação.
Findo o tempo para a primeira formação, organiza grupos pelas letras, de A a E, em que cada aluno deverá explicar aos outros quatro o que aprendeu no grupo inicial.
Para crianças ainda não alfabetizadas, uma variação possível é distribuir cartões coloridos em cinco diferentes cores, por exemplo. Primeiro, convida-os a agruparem-se pela cor igual. Após a primeira tarefa, reorganiza-os de forma que em cada grupo haja um elemento de cada cor.
Para garantir que todos se conheçam, ligando os nomes as fisionomias, o professor pode fazer para cada aluno uma folha com as cópias fotográficas de todos eles. Cada criança trás em tirinhas tantas vezes o seu nome escrito quantos são os alunos na turma. Nos espaços que o professor terá deixado, cada aluno, em sua folha, colocará a tirinha com o nome do colega junto a sua foto. No final, cada um deles terá uma ficha de toda a turma, e pelo esforço de unir fotos e nomes. Terá tido ocasião de se deter em cada colega.
Uma técnica que estimula o espírito competitivo, mas também a disciplina, é a seguinte: dispor a turma em forma de U. Então. Combinam fazer uma competição de conhecimento. É possível pedir que cada um venha preparado, propondo-lhes algum tema. Combinar com eles, após a primeira distribuição aleatória, na formação, qual lado é o do primeiro lugar, qual o do último. Fazê-los numerar é um recurso. O objetivo é que cada aluno consiga conquistar o lugar número um ou mais próximo dele, procurando acertar os desafios ou perguntas que lhes forem feitas. Se por acaso já estiver lá que o possa manter. Cada participante terá direito, na sua vez, de fazer uma pergunta para alguém de sua escolha no grupo. Se o colega responder certo, senta-se ao lado do que perguntou, caso esteja em uma posição mais elevada no grupo. Permanece em seu lugar se for superior ao do outro na convenção adotada. Se não conseguir responder, vai para o fim da fila. Para lá vai também, no caso de infringir alguma regra do grupo, como, por exemplo, falar sem ser a sua vez. Conforme as atitudes que pretende trabalhar, o professor pode varias as regras, dando realce a uma ou outra das atitudes de trabalho em grupo. Saber esperar a hora para participar é uma das mais importantes.
*Considerações finais
Mesmo o trabalho com grupos áulicos, que comprovou ser eficiente, não é garantia de que nunca vai haver uma falha na integração do grande grupo. Por isso é preciso que o professor seja atendo e sensível que, ao detectar a formação de grupos de resistência, ou o isolamento de algum(ns) dos alunos, imediatamente interfira elaborando nova técnica apropriada para a ocasião.
No geral, no entanto, a um bom resultado no sentido de permitir que se trabalhem rivalidades, agressões, invejas, falta de limites, que se desenvolvam a solidariedade, o respeito pelo outro, a capacidade de colaboração, a realização e a aceitação de crítica construtiva.
A ideia é que cada aluno construa seu espaço na sala de aula, progrida, aprenda e ajude a aprender.
O trabalho didático compreende três momentos: o laboratório, o procedimento e o rendimento. Não são a mesma coisa o rendimento é o show, é o que veem os pais, os supervisores. Mas é no procedimento que o professor tem que ensinar. E ele se prepara para isso fazendo laboratório. A todo um trabalho anterior que se conclui, que se desvela no rendimento, mas que não se resume a ele. Na verdade, na sala de aula, o que o professor tem de ser é um grande animador. Precisa colocar obstáculos para que o aluno vença: são as dificuldades da aprendizagem. Elas são normais e essenciais no processo.
Já um problema de aprendizagem não é desejável. Surge quando o desafio é difícil demais e envolve uma angustia paralisante. Ou, quando ele é fácil demais, produz tédio, gera desinteresse, e consequente não-aprender. Quando o aluno não vai para a aula, não aprende: problema também. Quando há problema psicológico, de personalidade, algo o professor poderá fazer, aproveitando a dramática. As regras de funcionamento da turma, nesse caso, podem auxiliar a manter dentro de limites a expressão desses problemas e minimizar-lhes os efeitos negativos na aprendizagem escolar.
Quando trabalhamos com grupos áulicos, procuramos permitir aos alunos o convívio com as diferenças, a aprendizagem sobre a importância de auxiliar e ser auxiliado, de pertencer a um grupo. A sustentação da aprendizagem de cada membro do grupo tem garantia nessa prática, através da cumplicidade que se instala.
Modificar a configuração na sala de aula, onde cada um é importante para si mesmo e para o outro, assegura a participação de todos, um envolvimento com a aprendizagem. Cada aluno tem a visão não só do professor mas, também, dos colegas, ao contrário da distribuição tradicional em que o professor é o centro de todas as atenções.
Na organização tradicional, formam-se panelas que são passíveis de reconhecimento até pela distribuição espacial. Às vezes, o professor acaba dando aula só para o grupo da frente, fazendo sua própria panela. Nos fundos da sala, ficam os rebeldes, os desatentos, os excluídos tanto da aprendizagem quanto do olhar do mestre. Formam, também, suas próprias panelas. Afinal, é preciso ser solidário e eles o são: solidários. Defendem-se. São alunos presentes/ausentes.
É preciso destruir a adoção de lugares fixos, porque esses geram ideias fixas, porque essa distribuição é metafísica, quer dizer, o lugar condiciona o comportamento do aluno. Caso sejam trocados, os alunos que ficam na frente na sala de aula passaram a ter o comportamento dos que antes estavam atrás e vice-versa. Essa situação se desmancha, quando se adota a nova metodologia em que há oportunidades iguais a todos.
Na aula tradicional, o aluno se torna um mero espectador. Nos grupos áulicos, cada integrante é testemunha da aprendizagem dos outros e é testemunhado por eles, é reconhecido. Não é um objeto que ocupe um lugar numa fila. É um sujeito. É alguém que aprende e que ensina, porque suscita ideias, interroga, pergunta, se nega, responde, reage, briga. Aparece como sujeito. É chamado pelo nome e sabe o nome dos colegas. Sua ausência é sentida e cobrada, e isso é importante para criar laços. O aluno sente-se importante e vai para o lugar onde se sente assim. A evasão e a infrequência ficam prevenidas por si mesmas, na dinâmica do próprio trabalho. Essa forma de trabalhar oportuniza, outrossim, que surjam sentimentos, rivalidades, agressões que, uma vez desveladas, podem ser trabalhadas pelo próprio grupo, obedecendo a uma dinâmica que tem regras que valem para todos. Isso permite que se trabalhem os limites. Há crianças ( e até adultos) que não sabem o que é isso. Pensam que podem fazer ou dizer tudo o que querem. Acham licito tomar para si o que ambicionam, sem considerar os demais. Esse é um recurso adequado, também, para trabalhar disciplina e autoridade partindo do próprio grupo, sem apelar para o autoritarismo do professor. O professor, trabalhando em grupo, através de processos de escolhas pela eleição possibilita resultados como os apresentados a seguir.
* Aos alunos:
- desmanchar as panelas formadas, propiciando maior integração entre eles, e que se conheçam melhor;
- fazer circular a oportunidade da convivência entre todos, porque cada participante muda de grupo;
- dinamizar os intercâmbios pessoais, na medida que cada elemento do grupo mostra o que sabe, o que aprendeu e o que não aprendeu;
- fazer a interação entre os elementos do grupo, facilitando que surja a solidariedade.
* Ao professor:
- desestabilizá-lo de seu lugar fixo frente ao aluno, transportando-o para outros lugares( ao lado do aluno, em torno do grupo, circulando pelos grupos);
- flexibilizar o seu lugar de ensinante que deve saber tudo para o de ensinante/aprendente, em que a dúvida, o não saber resolver uma situação leva-o a buscar procedimentos de saída para os impasses;
- exigir-lhe ser mais criativo, menos rígido, mais observador;
- favorecer um conhecimento maior de seus alunos quanto ao saber jogar, ganhar, perder, respeitar o seu limite;
- compartilhar o seu olhar com um outro a mais, na solução dos problemas;
- ser auxiliado pelo grupo na sustentação da dinâmica da sala de aula.
* Ao grupo:
- fazer aparecerem as diferenças e exercitar o difícil jogo de conhecer o outro e conhecer-se melhor;
- suscitar perguntas entre seus pares e aprender com eles;
- fazer sentir a necessidade de participar, porque sempre se defronta com os outros;
- fazer detonar problemas de relacionamentos, obrigando-o a buscar formas de resolvê-los;
- revelar outros conhecimentos que o grupo já possui, garantindo-lhe o conhecimento pelos colegas.
*Constituição dos grupos
Para a organização dos grupos áulicos, é importante que o professor não se precipite. É preciso que ele tome tempo para fazer com que todos na sala se conheçam, tenham oportunidade de interagir, de conversar, de trabalhar juntos. Da agilidade e da criatividade do professor depende que a etapa de preparação seja muito bem aproveitada e dure o tempo necessário. Só isso vai permitir que os alunos, realmente, possam participar com bastante elementos da eleição que iniciara os trabalhos com os grupos áulicos.
Procura se formar grupos de cerca de quatro a cinco participantes. Três não podem constituir um grupo. Mais de cinco terão de dificuldade até espacial de efetuar as trocas, de interagir.
A eleição se processa da seguinte forma: inicialmente cada integrante do grupo é convidado a votar, por exemplo no colega com quem mais gostaria de trabalhar. Dos mais votados, o professor tira o número correspondente ao número de grupos que pretende formar, calculando a partir do número de integrantes da turma. Se houver empate, todos os votados, entre eles mesmos, decidem. São convidados a votar novamente só eles. Normalmente esse grupo consegue selecionar o número de chefes que permanecerá.
Suponhamos que, numa classe de vinte e cinco alunos, o professor pretenda formar cinco grupos, mas no quinto lugar ficam duas pessoas com a mesma votação. Aí ele tem seis pessoas para cinco chefias. As seis pessoas votam entre si. Normalmente isso resolve a situação.
Escolhidos os chefes ou coordenadores, pela ordem de maior votação, cada um deles escolhe um outro integrante para seu grupo. O terceiro elemento é convidado dentre os demais alunos de comum acordo entre o chefe e seu primeiro escolhido. A ordem dessa escolha agora se inverte. Quem escolheu por último agora o faz primeiro. Para a chamada do quarto integrante, cada um dos três opina e juntos decidem. A ordem do convite se inverte novamente. Até aí cada grupo tem quatro integrantes, o chefe e mais três, mas são vinte e cinco alunos. Restarão, ainda, cinco alunos na turma que não terão sido chamados. Esses terão o direito de decidir para que grupo pretendem ir. É importante salientar que, na forma como se processam as eleições atualmente, em qualquer etapa é permitido recusar o convite, que então terá de ser feito a outra pessoa.Antes de se proceder à eleição, essas possibilidades devem ser tornadas claras para a turma. Inclusive, é preciso que se faça um trato que todos aceitem: cada um tem que pertencer a um grupo. Ninguém pode ficar de fora.
Formados os grupos, cabe ao professor propor uma tarefa que os solidifique. São convidados a dar um nome ao grupo, o que começa a torná-lo singular.
Ultimamente tem sido adotada a técnica de, após a eleição de líderes, ser-lhes oportunizado um momento para falar sobre sua plataforma, explicar para o grande grupo como cada um pretende agir enquanto chefe de um grupo. Isso ajuda a definir escolhas, permite posicionamento, não só dos coordenadores eleitos, mas de todos que estejam envolvidos na atividade.
Conforme as características da turma e a natureza dos conteúdos a serem desenvolvidos, o professor calcula o tempo em que cada configuração de grupo deverá permanecer. Com isso possibilita outras relações dentro da sala, evitando que os grupos se encerrem em limites fechados e inflexíveis, constituindo novas panelas.
*Condições para eleição
Para poder trabalhar com grupos, é preciso que o professor também passe por essa experiência de escolha, de trabalho, porque isso, mais que uma técnica é uma vivência forte, que meche muito com o sujeito. Surgem separações, o ser escolhido, o não ser escolhido. Meche com a estrutura subjetivante. O professor deve ter bastante consciência deste fato. Essa consciência só se adquire pela experiência.
Não só a sustentação teórica é necessária. Ele precisará abrir caminhos na escola e encontrar parceiros entre os colegas, para se sustentar na prática. Deve estar preparado para oposição, já que o desencadear de sentimentos e posturas antes escolhidos assusta muito. Então é preciso não estar só. Se não há colegas que partilhem de suas ideias, certamente isso poderá ser compensado por uma boa supervisão, até que os resultados do trabalho comecem a aparecer. Aí mais pessoas virão.
Preparado o professor, é hora de preparar a turma. Antes de efetuar a primeira eleição, o professor deve se certificar de que cada aluno é razoavelmente conhecido pelos demais. Que lhes sabem o nome e já o viram trabalhar e interagir. Só assim a eleição será valida. Para isso, o professor deverá empregar diversas técnicas de trabalho em grupo, misturando os alunos em configurações diferentes.
*Preparação da eleição
Quando inicia a trabalhar com a turma, o professor, se pretender apoiar-se na estruturação dos grupos áulicos, deve preparar as eleições, certificando-se de que os alunos tiveram a oportunidade de interagir com todos os colegas nas atividades preparatórias, em que é o próprio professor que estabelece a formação dos diversos grupos. Assim, ao propor as tarefas para turma, ele deve lançar mão de diferentes técnicas. Consideraremos, ainda, para exemplificação, a turma com vinte e cinco alunos. O professor pode desenhar no quadro-de-giz o esquema a seguir.
Formação de grupos
Grade | A | B | C | D | E |
1 | |||||
2 | |||||
3 | |||||
4 | |||||
5 |
Findo o tempo para a primeira formação, organiza grupos pelas letras, de A a E, em que cada aluno deverá explicar aos outros quatro o que aprendeu no grupo inicial.
Para crianças ainda não alfabetizadas, uma variação possível é distribuir cartões coloridos em cinco diferentes cores, por exemplo. Primeiro, convida-os a agruparem-se pela cor igual. Após a primeira tarefa, reorganiza-os de forma que em cada grupo haja um elemento de cada cor.
Para garantir que todos se conheçam, ligando os nomes as fisionomias, o professor pode fazer para cada aluno uma folha com as cópias fotográficas de todos eles. Cada criança trás em tirinhas tantas vezes o seu nome escrito quantos são os alunos na turma. Nos espaços que o professor terá deixado, cada aluno, em sua folha, colocará a tirinha com o nome do colega junto a sua foto. No final, cada um deles terá uma ficha de toda a turma, e pelo esforço de unir fotos e nomes. Terá tido ocasião de se deter em cada colega.
Uma técnica que estimula o espírito competitivo, mas também a disciplina, é a seguinte: dispor a turma em forma de U. Então. Combinam fazer uma competição de conhecimento. É possível pedir que cada um venha preparado, propondo-lhes algum tema. Combinar com eles, após a primeira distribuição aleatória, na formação, qual lado é o do primeiro lugar, qual o do último. Fazê-los numerar é um recurso. O objetivo é que cada aluno consiga conquistar o lugar número um ou mais próximo dele, procurando acertar os desafios ou perguntas que lhes forem feitas. Se por acaso já estiver lá que o possa manter. Cada participante terá direito, na sua vez, de fazer uma pergunta para alguém de sua escolha no grupo. Se o colega responder certo, senta-se ao lado do que perguntou, caso esteja em uma posição mais elevada no grupo. Permanece em seu lugar se for superior ao do outro na convenção adotada. Se não conseguir responder, vai para o fim da fila. Para lá vai também, no caso de infringir alguma regra do grupo, como, por exemplo, falar sem ser a sua vez. Conforme as atitudes que pretende trabalhar, o professor pode varias as regras, dando realce a uma ou outra das atitudes de trabalho em grupo. Saber esperar a hora para participar é uma das mais importantes.
*Considerações finais
Mesmo o trabalho com grupos áulicos, que comprovou ser eficiente, não é garantia de que nunca vai haver uma falha na integração do grande grupo. Por isso é preciso que o professor seja atendo e sensível que, ao detectar a formação de grupos de resistência, ou o isolamento de algum(ns) dos alunos, imediatamente interfira elaborando nova técnica apropriada para a ocasião.
No geral, no entanto, a um bom resultado no sentido de permitir que se trabalhem rivalidades, agressões, invejas, falta de limites, que se desenvolvam a solidariedade, o respeito pelo outro, a capacidade de colaboração, a realização e a aceitação de crítica construtiva.
A ideia é que cada aluno construa seu espaço na sala de aula, progrida, aprenda e ajude a aprender.
O trabalho didático compreende três momentos: o laboratório, o procedimento e o rendimento. Não são a mesma coisa o rendimento é o show, é o que veem os pais, os supervisores. Mas é no procedimento que o professor tem que ensinar. E ele se prepara para isso fazendo laboratório. A todo um trabalho anterior que se conclui, que se desvela no rendimento, mas que não se resume a ele. Na verdade, na sala de aula, o que o professor tem de ser é um grande animador. Precisa colocar obstáculos para que o aluno vença: são as dificuldades da aprendizagem. Elas são normais e essenciais no processo.
Já um problema de aprendizagem não é desejável. Surge quando o desafio é difícil demais e envolve uma angustia paralisante. Ou, quando ele é fácil demais, produz tédio, gera desinteresse, e consequente não-aprender. Quando o aluno não vai para a aula, não aprende: problema também. Quando há problema psicológico, de personalidade, algo o professor poderá fazer, aproveitando a dramática. As regras de funcionamento da turma, nesse caso, podem auxiliar a manter dentro de limites a expressão desses problemas e minimizar-lhes os efeitos negativos na aprendizagem escolar.
Assim, sugere-se a todos os educadores uma maior exploração de grupos de trabalho. Dessa forma teremos uma sala de aula em que a autonomia, a solidariedade e o aspecto social tornar-se-ão características centrais.