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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Alphonsus de Guimaraens, o solitário...

Afonso Henrique da Costa Guimarães nasceu em 24 de julho de 1870, na cidade de Ouro Preto, estado de Minas Gerais. Toda sua vida esteve ligada a sua cidade natal e região, sendo conhecido como Solitário de Mariana, e passando a assinar Alphonsus de Guimaraens, em 1894. Um fato marcante em sua vida foi a perda prematura da prima e noiva Constança (uma das filhas de Bernardo Guimarães), vitimada pela tuberculose aos dezessete anos. A morte de Constança, em 1888, marcou profundamente sua vida e sua obra, cujos versos, melancólicos e musicais, são repletos de anjos, serafins, cores roxas e virgens mortas. É comum encontrarmos em suas obras, várias citações sobre este fato. Como exemplo, podemos citar o soneto ‘Hão de chorar por ela os cinamomos’, onde encontra-se: "...Ai, nada somos/ Pois ela se morreu silente e fria.../ E pondo os olhos nela como pomos/ Hão de chorar a irmã que lhes sorria". No Rio de Janeiro em 1895, conheceu Cruz e Sousa. Poeta do qual já admirava e tornou-se amigo pessoal. Posteriormente, no ano de 1899, estreou na literatura com dois volumes de versos: Setenário das dores de Nossa Senhora e Câmara Ardente e Dona Mística, ambos de nítida inspiração simbolista. Em 1900 passou a exercer a função de jornalista colaborando em "A Gazeta", de São Paulo, ao mesmo tempo em que cursava a Faculdade de Direito. Em 1902 publicou Kyriale, esta obra o projetou no universo literário, obtendo assim um reconhecimento, ainda que restrito de alguns raros críticos e amigos mais próximos. Em 1903, teve seu cargo de juiz-substituto em Conceição do Serro suprimido, fato que o levou à graves dificuldades financeiras.
Após recusar um posto de destaque em "A Gazeta", Alphonsus de Guimaraens foi nomeado para a direção do jornal político de Conceição do Serro, onde também colaboraria seu irmão Archangelus de Guimaraens, Cruz e Souza e José Severino de Resende. Em 1906, tornou-se Juiz Municipal de Mariana (cidade vizinha a Ouro Preto) cargo que exerceria pelo resto de sua vida pacata. Viveu seus últimos anos na obscuridade ao lado de sua esposa Zenaide de Oliveira, com quem teve 14 filhos. Ocasionalmente recebia a visita de poucos amigos e admiradores, até sua morte em 15 de Julho de 1921, na cidade de Mariana. Alphonsus de Guimaraens foi essencialmente, um poeta místico de obra profundamente embasada na espiritualidade humana. A religiosidade que pautava vários autores de sua época, surgia em versos simples, pausados e intimistas de sua obra, porém, sempre sublimes e musicais. Em toda sua trajetória literária, é translúcido o sofrimento que pontuava sua existência, por vezes soava até mesmo como uma convenção poética. Mas sabe-se que nem o casamento, nem a vida pacata em Mariana, atenuava o sofrimento perene dado pela ausência de Constança.
Alphonsus de Guimaraens inseriu em suas poesias um certo tom mórbido e misterioso, onde a morte da mulher amada é um fator intimamente presente em suas estrofes. Pode-se encontrar com facilidade referências as cores roxa e negra, ao corpo morto, ao esquife etc. Essas características foram herdadas dos ultra-românticos. Ainda quando compõe sobre a natureza, a arte e a religião, Alphonsus frequentemente insere citações mortuárias.

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...





Hão de Chorar por Ela os Cinamomos...

Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão — "Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria.. . "
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"


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