O Surrealismo é um estilo de produção artística que teve seus primeiros passos na Paris dos anos 20, inserindo-se no contexto das vanguardas que mais tarde definiriam o Modernismo. Nesse movimento reunem-se artistas anteriormente ligados a diferentes vanguardas, como o Dadaísmo, por exemplo. Trata-se de uma visão quase psicanalítica da realidade, ressaltando o papel fundamental do inconsciente e do elemento onírico em nossa potência criativa. Assim, o surrealismo apresenta uma forte influência das teorias da psicanálise freudiana. Albert Einsten também influenciou os surrealistas com sua teoria acerca da relatividade do tempo. Assim, as obras surrealistas apresentam-se de forma atemporal, com espaço não delineado, o onde se confunde com o quando e tempo e espaço tornam-se apenas diferentes matizes de um mesmo elemento. Como num sonho, torna-se difícil mapear espaços de forma racional, ou traçar uma linha temporal linear, posto que esses são elementos racionais, não oníricos. O principal objetivo do movimento foi recriar uma arte que vinha sendo destruída pelo racionalismo.
O movimento caracteriza-se pela combinação daquilo que é representativo, abstrato, irreal, inconsciente, ilusão e onírico. A arte surrealista é sensorial, sinestésica, deve se livrar daquilo que nos exige a lógica e a razão, não ficando aquém do consciente e da realidade, mas estrapolando seus limites e barreiras rumo ao infinito de nossos sonhos e ilusões. Nessa perspectiva, tudo aquilo que nos regra ou impõe normas é regeitado pelo surrealimo. É ele, pois, subversivo.
O surrealismo é um movimento essencialmente romântico em sua luta constante contra os clichês estéticos e linguísticos, contra as formas prontas e acabadas. É um movimento de resistência à sedução da forma e da ordem. A arte surrealista é uma arte em guerra,em tempos de guerra! Luta pela originalidade, pela retomada do sonho e da fantasia... luta essa em que se afina de forma significativa com o Romantismo, que há muito já se encontrava em tal combate.
O surrealismo é a luta pela retomada do tempo perdido dos sonhos, das fantasias e das ilusões.
O grande nome da arte surrealista foi Salvador Dalí, que desde muito cedo apresentou sua tendênia artística, sendo sempre muito incentivado por sua mãe. De caráter irônico e até mesmo excêntrico e extravagante, Dalí atuou de forma maciça nas artes e influenciou diversas gerações de artistas. Entre outros artistas, podemos observar, de forma significativa, sua influência na obra de Vladimir Kush.
Kush nasceu em 29 de março de 1965, em Moscou, Rússia. Sem conseguir a oportunidade que sua obra merecia, iniciou aquilo que chamou sua "Odisséia Americana" em 1990. Em 1993 foi levado para fazer uma exposição em Hong Kong, o sucesso superou todas as expectativas. Aos poucos sua obra foi tomando notoriedade, sendo hoje um artista bastante prestigiado por sua originalidade.
Um surrealista contemporâneo, Kush classifica sua obra como Realismo Metafórico. Ele produz uma arte realmente metafórica, com elementos sinetésicos, em que diferentes objetos se fundem ditando o caráter fundante de uma nova realidade. É um artista da metamorfose, como se percebe em diversas de suas obras, cujos traços ilusionistas confundem nossos olhos propiciando que um elemento se metamorfoseie de modo a gerar outro elemento e, com ele, outros significados. Sua arte é simbólica e representativa, mostrando diversas nuances que apenas olhos sensíveis podem vislumbrar.
Nas obras de Kush podemos perceber um universo simbólico repleto de significados que se revelam nas superfícies e nos recantos mais profundos de cada imagem, de cada cor...
A borboleta, elemento tão recorrente em sua obra, emerge de imagens outras, como frutas e objetos, dando o tom sinestésico e metamorfo da obra. A borboleta é, pois, símbolo da transmutação, da transformação e da transcendência do homem e do universo como um todo. Um universo que transita entre diversas possibilidades concretas e outras tantas marcadas por nossa capacidade onírica. A borboleta é a fusão do belo e do feio em um mesmo ser. É a beleza que emerge do horrendo de forma ambígua, fundindo os dois vieses da existência: o belo e o grotesco, o perfeito e o imperfeito, o nascimento e o renascimento, o ser amorfo e a sua deslumbrante metaformose.
As imagens são subliminares, maçãs borboletas, flores casais, horizonte humano, ovos sóis... São imagens para as quais temos que aguçar nosso olhar, cuja sensibilidade variada nos permite ver ora a máscara, ora a face, ora ambas misturadas.
Na obra de Kush percebe-se uma linguagem que, sem chegar a ser caótica, escapa a todo e qualquer elemento de ordem. O aspecto organizacional que rege a obra é distinto daquele regente da realidade circundante. Suas imagens respeitam a uma simples regra: seguir de forma natural os caminhos e descaminhos da alma sem barreiras, tendo como condutor apenas os limites de suas fantasias, de seus sonhos e de suas ilusões.