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terça-feira, 8 de maio de 2012

Facturas de Betão

A TVI, que tem dado um contributo muito importante para expor o que vai mal no domínio de ambiente (ver eg. o "Estado do Crime" e a "Máfia Lusitana"), superou-se ontem com o Repórter TVI, e a reportagem "Facturas de Betão". A reportagem aborda as contas do PNBEPH, mas não é por isso que se destaca das restantes reportagens que já vi na televisão portuguesa.

Carlos Enes, o repórter de serviço, fez o que um bom jornalista deve fazer: colocou as perguntas difíceis! E foi ver os entrevistados jogar na retranca! Particularmente impressionante foi a forma como Carlos Enes conseguiu encostar Nuno Ribeiro da Silva às cordas, sendo que António Sá da Costa foi mesmo vencido por KO.

Os leitores do Ecotretas sabem que eu sou a favor das barragens. Agora que temos excesso de eólicas, precisamos delas. Apesar dos problemas que têm, são uma melhor opção do que aventuras como o nuclear, e ainda servem para outros fins. O que há agora a fazer é envergonhar estes parasitas, e obrigar especialmente o sector da energia eólica a ser eficiente e a concorrer directamente no mercado. Eles estão a sentir a pressão e prova disso é a publicidade da APREN que anda no ar; afinal, eles agora sentem que a mama está a acabar, e esta reportagem de Carlos Enes muito contribui para isso!

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Cortar nos luxos e excesso de voluntarismo

As audições na Comissão de Economia e Obras Públicas terminaram há minutos, com muitas novidades! Estiveram presentes o ex-Secretário de Estado da Energia, e o actual Secretário de Estado da Energia, Artur Trindade. Fico com um mixed feeling sobre as suas declarações, sendo que Henrique Gomes continua com a sua guerrilha com António Mexia. As suas declarações, bem como a divulgação dos estudos confirma que Gomes estava obcecado com Mexia, e não com resolver verdadeiramente o problema. Enfim, hoje até reconheceu que "deveríamos ter feito os investimentos nas eólicas com mais cuidado", mas o resto foi um ataque cerrado a quem é responsável por apenas parte do buraco.

Artur Trindade avançou com algumas ideias claras, que tenho defendido aqui no blog. Relativamente ao PNBEPH, referiu que "existe e é para cumprir, agora não me venham pedir mais subsidios, o plano é para cumprir mas não para onerar mais a factura", o que significa que a minha interpretação da garantia de potência é correcta, e desmistifica totalmente as contas da GEOTA e companhia.

Na vertente da cogeração, Artur Trindade referiu que "temos que atalhar o problema dos falsos produtores de co-geração e que cuja actividade se centra na remuneração fixa". Referiu que "a redução é muito significativa, em torno de 100 milhões por ano, em ano cruzeiro, mas isso nao chega". Pois não, e pelos casos que temos levantado no blog, muitos cortes haverá aqui a fazer!

Na vertente das energias renováveis, Artur Trindade também não poupou nas palavras, embora tenha sido cauteloso. Segundo o Secretário de Estado, o Governo não tem "nada contra as energias renováveis. Mas deve haver moderação nos custos e na forma de remuneração, porque o país não tem capacidade de pagar luxos e excesso de voluntarismo" e que as "remunerações são muito acima da média". Falta saber se vão tomar medidas, ou se isto é apenas para parlamentares ouvirem...

terça-feira, 10 de abril de 2012

Dilma Rousseff já mediu vento!

Via Terrorismo Climático, tivemos acesso a uma passagem extraordinária da Presidente brasileira, Dilma Rousseff, visível no vídeo abaixo. Não dispensando a respectiva visualização, interessa analisar a sua transcrição. Atentemos primeiro nas suas palavras, antes de ver o vídeo (realces da minha responsabilidade):

Que é fundamental proteger os cursos dos rios, senão você não consegue se desenvolver. Que nós teremos que ter energia renovável. E energia renovável, e o Pinguelli sabe mais do que eu, para garantir energia de base renovável, que não seja hídrica fica difícil, não é Pinguelli? Porque a eólica não segura. Não. E todo mundo sabe disso. Eles sabem disso.

Porque ninguém numa Conferência dessas também aceita, me desculpem, discutir a fantasia. Ela não tem espaço, a fantasia. Eu não estou falando da utopia, essa daí pode ter, eu estou falando da fantasia. Eu tenho que explicar para as pessoas como é que elas vão comer, como é que elas vão ter acesso à água, como é que elas vão ter acesso à energia. Eu não posso falar: “olha é possível só com eólica de iluminar o planeta”. Não é. Só com solar, de maneira alguma. Por isso, que tem de ter base científica a nossa discussão.

É tecnicamente, para que isso ocorra, porque eu já estive na Espanha num momento em que fazia oito meses que a eólica não funcionava porque não tinha vento. E não tem como estocar vento, não é? Não tem como. Não, nós estocamos água. A grande coisa que o Brasil fez foi estocar água, porque hidrelétrica, também, a água passou, acabou. Nós estocamos água. A água era a forma de a gente controlar a produção de energia com base na hidreletricidade. Como não tem como estocar vento, tem de ventar para ter eólica. Há que ventar. E o vento, não sei se vocês sabem, não venta igual 24 horas por dia, nem os 365 dias do ano. Eu estou falando isso porque eu já medi vento, viu? Eu medi vento no Rio Grande do Sul. Eu sei o que significa medir vento.

sábado, 7 de abril de 2012

Para onde caminha a China?

Via Terrorismo Climático, apercebemo-nos que os Chineses se mantêm lúcidos em termos da sua estratégia energética. Enquanto por cá pensamos que eles compraram a nossa EDP pelos seus lindos olhos, esquecendo-nos que serão agora para eles que irão os nossos ovos taxas de ouro, por lá a estratégia energética é clara!

Num relatório governamental de 5 de Março, o Primeiro Ministro Wen Jiabao está determinado em apostar na utilização de um mix energético seguro: nuclear, gás de xisto e hidroeléctrico. E está determinado em acabar com a expansão cega da energia solar e eólica!

Tais avanços são confirmados num relatório da Agência Internacional da Energia Atómica, que perspectiva um aumento da energia nuclear em 100% nas próximas duas décadas, suportado num crescimento na Ásia, e especialmente na China e Índia. Tal permitirá um crescimento substancial das centrais nucleares chinesas, que podemos ver no mapa acima, retirado daqui.

No domínio do gás de xisto (shale gas), as expectativas são ainda maiores. Em 2015 a produção de gás de xisto deve atingir os 6.5 mil milhões de metros cúbicos, e pelo menos 10 vezes mais em 2020! Os Chineses incentivam as suas empresas a procurar empresas no estrangeiro com tal tecnologia, mas a EDP não é certamente uma delas... Segundo a notícia, também para aqueles lados o preço do gás tem vindo a descer, sendo que praticamente apenas na Europa vamos pagando mais por ele!

Segundo a notícia original, na área das energias renováveis, o que vai dar são as novas barragens, que serão responsáveis por dois terços do aumento de capacidade. Eles planeiam adicionar 20GW de potência hidro-eléctrica, um aumento de 57% ao ano!

E por cá, na Europa, ainda ficamos a tentar perceber porque os Chineses estão a crescer, e nós nos estamos a enterrar? Não há dúvidas que os nossos políticos andam completamente a dormir...

terça-feira, 27 de março de 2012

Rendas da electricidade

Um leitor habitual mandou-me uma digitalização de uma tabela que saiu no Público do passado 17 de Março. Dois leitores já me tinham referenciado o artigo, de duas páginas, extenso, e escrito pela alarmista do costume, Lurdes Ferreira. Depois de receber a digitalização, e pesquisando pelas palavras correctas, lá se encontra o artigo num documento de clipping (pag. 53 e seguintes). O que o artigo tem de mais extraordinário é uma pequena tabela, onde se enunciam as rendas de que se falam, e que é visível à esquerda.

O que é verdadeiramente extraordinário na tabela é o facto das energias mais caras aparecerem primeiro, e as mais baratas no final. Então, a do fotovoltaico é escandalosa! Reparem ainda nos valores negativos das três primeiras, na coluna Diferença, a indiciar que são, coitadinhas, as mais prejudicadas?

Se foi esta a análise com que Mexia se insurgiu, há que dar-lhe toda a razão! Se estas são as bases que estão a ser tidas em conta pelo Governo, vem aí merda da grande!

O custo do capital é um tema financeiro muito complexo, a que a ERSE dedica extensos relatórios. Em termos muito simples, é a taxa de juro a que a empresa se consegue financiar. E de uma forma também simples, quanto maior é o risco, tipicamente maior é o custo do capital. Já uma taxa de remuneração significa o lucro que uma empresa consegue gerar em função do investimento, sendo de uma forma simples calculada pela divisão do lucro pelo capital investido.

Voltando a olhar para a tabela chegamos à conclusão óbvia: nem com subsídios escandalosos as energias alternativas são financeiramente interessantes! E as taxas efectivas de remuneração são baixas, porque também são tecnologias ineficientes! Só a mamar à custa dos consumidores/contribuintes é que conseguem sobreviver...

quinta-feira, 15 de março de 2012

Eólicas dão cabo da nossa água

Numa troca de palavras com Rui Rodrigues, ele apontou-me para uma reportagem da SIC (ver abaixo), que aborda a temática da qualidade da água nas barragens do PNBEPH. Ora, como as novas barragens são necessárias por causa do excesso de eólicas, aqui está mais um efeito nefasto dos excessos da política das ventoinhas, dos melancias deste país. Não bastava serem caras, vulneráveis, poluirem e matarem; agora podemos culpabilizá-las também pela diminuição da qualidade da água, que as futuras barragens tenderão a causar.



É conhecido o impacto que as barragens têm na qualidade da água. Água parada é diferente de água corrente. Mas, é claro que este domínio é complexo. Veja-se o exemplo da Quercus, que considerou que a "água do rio Guadiana, na zona de Serpa, passou de “boa” em 2008 para “excelente” em 2009". Ou seja, mesmo com o Alqueva, a qualidade da água é excelente... Mas nem tudo é assim tão simples. No Relatório Ambiental do PNBEPH, percursor à escolha definitiva das barragens do PNBEPH, já era referenciado de forma clara:

Em termos de quantidade dos recursos hídricos, esta Directiva estabelece o seguinte: “Assegurar o fornecimento em quantidade suficiente de água de boa qualidade, conforme necessário para uma utilização sustentável, equilibrada e equitativa da água”, meta esta que o PNBEPH deverá ajudar a cumprir.
O PNBEPH vai, em termos de qualidade da água, em sentido oposto aos objectivos da DQA, que tem como principal objectivo evitar a continuação da degradação e proteger e melhorar o estado dos ecossistemas aquáticos, e também dos ecossistemas terrestres e zonas húmidas directamente dependentes dos ecossistemas aquáticos.
No entanto, de acordo com a mesma Directiva, esta não é violada desde que os empreendimentos sejam justificados como uma actividade necessária ao desenvolvimento humano e que “sejam tomadas todas as medidas exequíveis para mitigar o impacto negativo sobre o estado da massa de água”.
(...)
A criação de novos planos de água será equivalente à criação de novas reservas de água. Estas novas reservas de água poderão servir também para disponibilizar maiores caudais de água para acções de higiene, primeiros cuidados de saúde e salubridade. A sua mobilização poderá contribuir também para minimizar quaisquer doenças derivadas da menor qualidade da água e sobretudo da falta de fiabilidade de funcionamento dos sistemas de Águas de Abastecimento e de Águas Residuais.
Contribuição para o cumprimento dos objectivos preconizados no domínio do aproveitamento de águas termais, desde que antes da construção das barragens se proceda ao estudo das águas termais existentes e se proceda à análise das suas possíveis utilizações no âmbito do PNAAS.

Curiosamente, o que os melancias e todos associados ao processo parecem querer esconder é que provavelmente o maior problema da água das novas barragens do PNBEPH, será igualmente a consequência da necessidade de bombear a água para as barragens a montante, com utilização da energia eólica. O próprio estudo da ARCADIS, para a Comissão Europeia, e que tanto júbilo incutiu nos melancias, não faz uma única referência ao problema! Em 400 páginas, não arranjaram sequer um parágrafo para falar do problema!!! Curiosamente, o estudo considera mesmo (Tabela 6, página 293) que a existência de bombagem é "mais favorável" em termos de impacto ambiental!

São muito os potenciais problemas de andar a bombear a água, com a energia do vento. Tal será mais frequente no Verão, que no Inverno. Uma miríade de problemas ocorrem-me em segundos, mas sem que se vejam referidos pelos melancias, porque eles sabem que todas estas consequências resultam unicamente da energia eólica:
  • maior aquecimento médio das águas, nas albufeiras, e a jusante;
  • disrupção da estratificação térmica;
  • maior turbulência em termos de sedimentos;
  • mais frequentes e rápidas alterações de níveis de água;
  • maior erosão devido às ondas criadas em ambos os reservatórios;

Destes problemas derivam imediatamente outros. Outros problemas surgem com a localização de determinadas barragens reversíveis, como é o caso de Foz Tua, que vai passar a incorporar água do rio Douro. Toda a poluição que vem pelo Douro abaixo vai passar a ser bombeada para cima, para o rio Tua. Porque é que nenhum ecologista ainda falou nestes problemas? Porquê?

quarta-feira, 7 de março de 2012

A negociata das eólicas

As Verdades Incovenientes associadas aos interesses obscuros que manietam o movimento verde, têm permanecido obscurecidas e ocultas, longe dos olhares e ouvidos da população em geral. Tudo com a conivência dos Media, mais interessados em receber a publicidade desses grandes interesses, que assim conseguem manter a lealdade à Causa, dos meios de comunicação social. Mas neste navio em marcha, começam a surgir brechas, um pouco por todo o lado. Mesmo na Imprensa, como é o caso deste artigo de opinião, particularmente duro, do Eng. Francisco Gouveia, no Notícias do Douro. Veja-se o enquadramento inicial (todos os realces da minha responsabilidade):

Um dia destes, as nossas serras levantam voo de tanta ventoinha que lá andam a pôr!
São as eólicas, um tipo de energia renovável que tem por detrás poderosos interesses do grande “lobi verde”, um bando de oportunistas que se encostou ao movimento ambientalista, e quer transformar uma solução saudável em mais um modo de assaltar o erário público.
Lobi que de verde não tem nada, a não ser a cor do dinheiro
com que enchem os bolsos à nossa custa!

O artigo prossegue com uma excelente identificação donde está o problema. Note-se a correcta separação da EDP e da "gente das eólicas":

O movimento sério a que me refiro, é o movimento ambientalista, também conhecido por “verde”, que segue valores de proteção patrimonial e de não degradação do meio ambiente, que todos devemos respeitar se queremos um planeta onde se possa viver amanhã. Os tais “sempre alguém”, são os oportunistas do costume, que em tudo encontram maneira de fabricar capital, de preferência à custa do erário público, onde ele “pinga” com mais certeza e segurança. E é esta gente das eólicas que, colando-se ao movimento ambientalista como a lapa ao rochedo, nos quer continuar a atirar areia para os olhos e a viver à custa dos 30 e tal% que arrecadam na fatura que a EDP nos cobra.

Francisco Gouveia aborda outros temas interessantes, como a da obsolescência eólica, que temos abordado pouco (eg. aqui e aqui), mas da qual prometo voltar à carga:

Em abono da verdade, a indústria eólica é de rentabilidade muito duvidosa. Ou seja: se atendermos só ao custo do material e da sua instalação (já não contando com alugueres de terrenos, custos de manutenção, transporte, etc.) e à rentabilidade, descobre-se isto: quando passar o período de amortização do investimento e as eólicas começarem a dar dinheiro ao investidor, este depara-se com o seguinte problema: tem que investir novamente porque parte do material componente das turbinas, pás, engrenagens, etc., já se degradou e tem que ser substituído.
Este é o primeiro grande problema. Motivo pelo qual não há nenhuma empresa que se arrisque a investir dinheiro nesta indústria, sem ter a garantia de que o Estado lhe proporcionará uma “renda” (no nosso caso ela vem na fatura da EDP). São os tais “direitos adquiridos” de que tanto falam os empresários das eólicas. Porque eles sabem que se não receberem este subsídio do Estado, o investimento não é rentável. No fundo, estamos a falar de privados que pretendem ser compensados pelo Estado dos prejuízos, em nome do ambientalismo a que se colaram e para o qual se estão marimbando.

Francisco Gouveia evidencia parte do problema económico. Só tem um pequeno problema: é que o consumidor/contribuinte paga mais que duas vezes:

As eólicas produzem energia dependente do vento, e, como tal, não é contínua estando dependente de haver ou não vento, e da velocidade deste. Há necessidade de a armazenar. É o que as barragens também fazem. Armazenam a energia elétrica das eólicas. Mas como nós subsidiamos as eólicas, estas vendem-na a preço baixo à EDP. E esta, depois, vende-a aos consumidores a um preço altíssimo (ao preço que quiser porque é monopolista). Então, o consumidor paga a eletricidade duas vezes: a primeira através do subsídio que o Estado concede às eólicas e que resulta dos nossos impostos, para depois a irmos pagar novamente, e mais cara, na fatura da EDP!

Francisco Gouveia continua a evidenciar as Verdades Inconvenientes que as "lapas" não querem que se saiba. São precisas mais pessoas como Francisco Gouveia:

Por isso investir nas eólicas é tão rentável, sem riscos, pois a cobertura destes riscos é garantida pelo Estado. Por isso, desde que o atual Governo decidiu recentemente não subsidiar a instalação de mais eólicas, todos os processos para novas licenças, pararam! Vejam o que eu disse a princípio sobre a rentabilidade das eólicas!

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Os equívocos de Joanaz de Melo

João Joanaz de Melo é uma referência habitual no blog. Pelas mais más razões. Asneiras atrás de asneiras são a garantia de que tem aqui um lugar de destaque! Hoje, foi no Expresso, que o Joãozinho deu lugar à sua verborreia habitual. O problema começa logo pelo título "Um equívoco impingido à sociedade portuguesa pela EDP - O mito do hidroelétrico". Ele devia saber que as barragens do PNBEPH, às quais se refere no seu texto, não são um exclusivo da EDP, sendo igualmente de destacar a Iberdrola, e em menor grau a Endesa... O Joãozinho começa com:

Parece óbvio que a energia hídrica é renovável e deve ser explorada ao limite. Óbvio, mas falso - como a crença ancestral de que a Terra é plana. O mito do potencial hidroeléctrico foi impingido à sociedade portuguesa pela propaganda da EDP, com a cumplicidade do Governo. Infelizmente, vale tudo nos negócios e na política. Preocupante é que fazedores de opinião supostamente bem informados e não alinhados façam eco deste mito, como vimos em artigos recentes de António Costa Silva ou Nicolau Santos. A causa desta crença vulgarizada parece residir em quatro equívocos.

É a estratégia habitual do argumento estúpido: a Terra não é plana, mas o que eu digo é verdadeiro! E vai prová-lo, porque há quatro equívocos? Aposto que daqui a uma semana, tal é o seu hábito, vai haver mais equívocos!

O primeiro equívoco é a diferença entre potência e energia. Numa central eléctrica, a electricidade gerada (GWh/ano) é igual à potência (GW) vezes o tempo de operação (h/ano). As nove grandes barragens propostas, com uma potência de 2,5 GW e uma produtibilidade de 1700 GWh/ano, seriam usadas apenas 680 h/ano (8% do tempo). Isto representa um acréscimo de 48% da potência hidroeléctrica instalada (parece muito), mas apenas 19% da produção hídrica, 3% da procura de electricidade e uns míseros 0,5% da energia primária do país.

O primeiro equívoco do Joãozinho é que ele deveria estar-se a referir neste parágrafo às eólicas. Aquelas coisas que têm muita potência, mas só rodam de vez em quando, e quando o fazem é maioritariamente à noite e de madrugada. Ao menos, as barragens podem ser postas a rodar quando precisamos da energia... E quanto às míseras percentagens, ele não nos diz qual a mísera percentagem que produzem as milhares de ventoinhas plantadas no topo dos montes. Sim Joãozinho, porque estás a falar de energia primária!

O segundo equívoco é a diferença entre potencial teórico e recurso utilizável. Só são relevantes os recursos economicamente exploráveis. Ora, o custo do kWh das novas barragens será altíssimo: duas vezes mais caro do que o atual custo médio de produção; cinco vezes mais do que se reforçar a potência em barragens existentes; 12 vezes mais do que o uso eficiente da energia. O potencial de poupança rentável é pelo menos dez vezes superior à capacidade das novas barragens. Por outras palavras, o Programa Nacional de Barragens é uma fraude - um favorecimento das grandes empresas da eletricidade, da construção e da banca, à custa dos consumidores/contribuintes e do tecido económico.

Aqui já o Joãozinho está verdadeiramente enterrado. Como se sabe, as novas barragens são precisas por causa do excesso de eólicas. O custo das eólicas é o que nós sabemos. Ora se a este custo somarmos os custos altíssimos que o Joãozinho refere, vejam como fica o custo final das eólicas: uma barbaridade! Se o PNBEPH é uma fraude, é porque a energia eólica é uma TRIPLA FRAUDE em Portugal!

O terceiro equívoco é a bombagem. Até certo ponto, é um método interessante de armazenar energia (de origem eólica). Acontece que bastariam 1,5 a 2 GW de bombagem. Ora, entre a potência operacional e as obras de reequipamento em curso já temos 2,5GW - de onde, para este efeito, não precisamos de nenhuma barragem nova.

O que é um método interessante para justificar as eólicas do Joãozinho, é na verdade um desperdício gigantesco! É um aspecto muito conhecido. E as contas que o Joãozinho faz era tendo em conta valores anteriores de potência eólica; o problema é que estas reproduziram-se muito para além do que já estava previsto, e já começam até a crescer em alto-mar...

O quarto equívoco é a 'energia renovável'. A água será renovável, mas o território afetado pelas barragens e albufeiras não é: perda de valores sócioculturais, degradação da qualidade da água e do potencial turístico, destruição dos solos, das paisagens e dos ecossistemas. Exemplos trágicos incluem a iminente destruição do vale e linha do Tua, com a provável perda da classificação do Douro Vinhateiro como património mundial.

E então Joãozinho? O que é o território do topo dos montes? O que dizer da destruição que aí foi levada a cabo, quer em termos ambientais, quer paisagísticos? Quanto à linha do Tua, já sabemos como funciona, e para que serve...

Em resumo, a Terra é redonda e o potencial hidroelétrico de Portugal é um mito: novas grandes barragens produziriam uma quantidade insignificante de eletricidade, caríssima e com impactes inaceitáveis.

Enfim, em resumo, o Joãozinho tem uma cabeça oca! Só para terem uma ideia da parvoíce dos equívocos dele, substituam no texto as barragens pelas eólicas, e vejam como os equívocos são tal e qual!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Apeadeiros e Estações inundadas pela barragem do Tua

Uma das questões frequentes que envolve a construção da barragem de Foz Tua (recentemente abordada aqui), é a submersão de cerca de 16 Km de linha férrea da linha do Tua (ver alguns dados da linha aqui). Tal vai provocar o encerramento de 5 apeadeiros/estações, o que parece uma tragédia. Mas quem já passou por lá sabe que aquelas paragens não servem a absolutamente ninguém! Para o provar, vamos analisá-las uma a uma.

A primeira a partir da foz do Tua é o apeadeiro de Tralhariz. Como se pode ver no Google Maps, não há absolutamente nada por perto! Não há estrada ou caminho que chegue ao apeadeiro, com a aldeia mais próxima a bem mais de um quilómetro a caminhar! As imagens disponíveis na Internet confirmam o desinteresse absoluto do apeadeiro, como podem ver na imagem seguinte, retirada daqui:


A seguir vem Castanheiro. Podem confirmar outra vez no Google Maps como não há vivalma próxima. Mas chega lá um caminho de cabras. As imagens voltam a confirmar o evidente, como podem ver abaixo, retirado deste site com muitas fotos da linha do Tua:


Depois de Castanheiro, segue-se a estação de Santa Luzia. Esta é uma das mais emblemáticas de todas! Como podem ver no Google Maps, o nome que o Google dá à estação (São Lourenço) está errado. Aliás, o Google sugere que há uma estrada que atravessa o Tua, mas desenganem-se: não há lá nada desde finais de 2002... Nessa altura caiu uma ponte que havia sido construída em 1985. O que há é uma aldeia do outro lado do rio, Amieiro, de onde dantes era possível atravessar o Tua com um teleférico... Na primeira imagem abaixo podemos ver a estação do outro lado do rio Tua, e na segunda os cabos do teleférico, ambas retiradas deste site:


A seguir é o apeadeiro de São Lourenço. No Google Maps vemos que não há muito mais que uma dúzia de habitações, algumas numas ruínas evidentes. O apeadeiro foi demolido em 1995, conforme a imagem abaixo demonstra (retirada daqui), mas entretanto reconstruído:


O último dos apeadeiros a ser inundado pela barragem de Foz Tua é o do Tralhão. Mais uma vez, no Google Maps, não se vislumbra uma habitação próxima! Descobrir uma fotografia do sítio é igualmente difícil, mas neste site, descobri a foto abaixo:


Enfim, estão todos a ver o enorme interesse, para as populações, dos apeadeiros e estações, que vão ser inundadas pela barragem do Tua?

sábado, 14 de janeiro de 2012

Mais dados sobre a Linha do Tua

Depois do nosso último post sobre a barragem/linha do Tua, recebi mais um conjunto de mensagens, a maioria delas implicando com os meus conhecimentos da realidade da linha do Tua. Todavia, hoje em dia, é fácil perceber o que está a acontecer através da Internet. E apesar dos dados serem filtrados, muitas vezes pelas entidades locais, a Verdade vem sempre à tona...

O nosso conhecido Daniel Conde não gosta de revelar os verdadeiros dados sobre a linha do Tua e o Metro de Mirandela, do qual é funcionário. Mas ele é o editor do Blogue oficial do Metro de Mirandela. Aí se confirma como o Metro de Mirandela é essencialmente um transporte para alunos:

No último ano lectivo, o Metro de Mirandela serviu com orgulho como transportadora para dezenas de milhares de estudantes, tanto no eixo Tua - Mirandela, como no eixo Mirandela - Carvalhais.

Para aqueles que dizem que o transporte ferroviário é mais amigo do ambiente, pensem igualmente duas vezes! As locomotivas utilizadas no Metro de Mirandela são a diesel, e portanto nada mais eficientes que um simples autocarro!

Igualmente interessante é olhar para os horários da linha do Tua, no site da CP. Note-se que tipo de serviço a CP presta (realces da minha responsabilidade):

A - Os percursos Tua - Cachão - Tua e Ribeirinha - Cachão - Ribeirinha são efectuados por táxi.
As paragens em Brunheda, Abreiro e Vilarinho efectuam-se no cruzamento da Estrada Nacional para a estação.
As paragens em Castanheiro, São Lourenço, Tralhão, Codeçais e Ribeirinha efectuam-se respectivamente em Castanheiro do Norte, Pombal, Pinhal do Norte, Codeçais e Ribeirinha.

O percurso entre o Porto e Mirandela leva 5 horas e meia durante o dia, e 5 horas à noite! No sentido contrário o tempo é ligeiramente inferior. Comparem com os tempos de autocarro: cerca de duas horas e meia, mas de apenas duas horas para os directos! Com muitos mais horários! Mas quem é que no seu perfeito juízo vai do Porto para Mirandela de comboio/taxi, sabendo que vai demorar o dobro do tempo, mais de duas horas a mais???

E quanto é que custa a viagem de taxi? É só consultar a tabela de preços da CP, para perceber que o custo é de menos de 5 euros entre a estação do Tua e Mirandela! São mais de 60 quilómetros! Quem me dera que a CP tivesse um serviço público a minha casa! Mas quanto custa à CP esta brincadeira do taxi? Segundo a reportagem seguinte da RTP, a brincadeira ficava em 10500 euros/mês há um ano atrás, e ainda se explica como viajar de borla:



Adicionalmente, a segurança da linha ainda funcional deixa igualmente muito a desejar. Há um ano atrás, um acidente entre uma automotora e um automóvel chamou a atenção para os problemas constantes da sinalização, com um morador a exagerar um pouco, dizendo que "isto demora muito tempo, às vezes estamos aqui parados às duas e três horas".

Quanto mais se escava neste problema, mais se percebe que os defensores da linha do Tua, tal como está, não vivem neste Planeta! Pelo meio, continuam-se com ameaças vãs. Por isso, continuaremos a expor as evidências daquilo que está verdadeiramente em causa, por via da barragem de Foz-Tua.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Uma mentira cem vezes dita, torna-se verdade

Um leitor enviou-me a digitalização de um artigo que saiu na passada terça-feira no Público. O artigo está disponível, em parte, neste artigo da edição online. A estratégia do alarmista Público, e neste caso do jornalista Aníbal Rodrigues, parece consistir na perpetuação das mentiras da GEOTA e companhia, e que já desmascaramos repetidamente neste blog, nomeadamente nos seguintes posts: (1), (2) e (3).

O essencial do artigo online é uma crítica, novamente, à garantia de potência. Culpa-se as hidroeléctricas, mas esquece-se convenientemente que este esquema existe por causa do excesso de eólicas. A leitura das páginas interiores do jornal é ainda mais triste. Valha-nos o facto de que há três parágrafos com a opinião de Pinto de Sá... Nalguns casos referencia o programa do Biosfera, que abordamos há dois meses e meio atrás, neste post. É muito triste ver este tipo de jornalismo requentado, mas por aqui se percebem várias coisas, nomeadamente a redução de tiragem deste jornal, e o despedimento dos seus trabalhadores. Como é evidente por este artigo, não será que eles merecem?

Esta é, aliás, uma sequência ao melhor estilo de Joseph Goebels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler, que proferiu a célebre frase "uma mentira cem vezes dita, torna-se verdade". Na verdade, os jornalistas ambientais enveredaram pela pior das estratégias, que é a da sujeição à Religião Verde. No mesmo dia 27 saiu a notícia de que um dos mais notórios correspondentes ambientais da BBC, Roger Harrabin, também anda a toque de caixa, neste caso dos pseudo-cientistas do Climategate...

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Bemposta a amarelo

Um leitor enviou-me um link para uma notícia passada na SIC, e que refere como a EDP pintou parte da barragem de Bemposta, perto de Mogadouro, de amarelo-choque. Quando vi o vídeo nem podia acreditar! Já aqui até tinha defendido que podia ser interessante pintar as barragens, mas nunca me passou pela cabeça que a EDP já estava a avançar neste domínio, sobretudo quando aquele amarelo destoa de absolutamente tudo! É claro que os ambientalistas também acordaram depois para o problema (estão a sonhar em permanência e quase exclusividade com o CO2), pelo que tem que ser a população a lutar...

Para além do choque visual, os consumidores foram extorquidos em mais 150 000 euros, para felicidade do artista plástico Pedro Cabrita Reis! Um acto de verdadeira loucura, ou então de previsão da venda da participação da EDP aos amarelos, mas que parece que vai ter mais sequências! É claro que a EDP vai ter que voltar atrás e pintar aquilo de forma mais correcta, pelo que o Pedro terá nova oportunidade de pintar aquilo, com mais uma extorsão aos consumidores?

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Contas das novas barragens

Nos últimos meses tenho dedicado algum do tempo reservado ao blog a desmontar as contas das várias organizações ambientalistas (GEOTA, FAPAS, LPN, Quercus, CEAI, Aldeia, COAGRET, Flamingo, SPEA, MCLT) sobre o PNBEPH. Já observei como eles têm vindo a inflacionar o bicho papão dos custos, que começou (tanto quanto eu sei) em 7000 milhões de euros há um ano atrás, e que já vai quase no triplo.

Desse valor, a parte da potência garantida já foi completamente desmontada: em vez dos 3400 milhões previstos pelos ambientalistas, o custo actual é 0. ZERO! Erro pequeno. É claro que, como aliás afirmo no artigo do link anterior, se o Governo entender mudar isso no futuro, atribuindo-lhes a garantia de potência (que recorde-se não está garantida, passe o pleonasmo), essas contas poderão ser alteradas.

Mas o resto dos milhares de milhões continuava a ser uma incógnita... Aliás, em nenhum documento publicamente disponível, as organizações ambientalistas explicavam como chegaram aos números, que crescem à vontade do freguês. Compreende-se: cada vez que chutam um número, topa-se o seu analfabetismo! Mas numa troca de emails com alguns dos compadres do Daniel Conde, a propósito da barragem do Tua, topei que este peão havia dado com a língua nos dentes, ou melhor no Facebook. Desta página, de 13 de Outubro, retiram-se as seguintes contas, explicadinhas de forma simples:

Ora bem, segundo percebi das contas - que aqui se publicam a pedido de algumas pessoas - a dezena e meia de milhares de milhões de euros de encargos com o PNB vêm de duas componentes:

1 - A remuneração da electricidade produzida, a € 110 p...or cada MW (preço médio de venda à rede), e esperando-se uma produtividade de 1676 GW/h por ano, dá 184 milhões de euros por ano;

2 - A remuneração da potência (perceberam a marosca da potência instalada na peça?), é paga a 20 mil euros por MW por ano, estando prevista uma potência instalada de 2453 MW, o que dá uma soma anual de 49 milhões de euros;

3 - Tudo somado dá uma autêntica renda do Estado (o Estado somos nós, entenda-se) de 233 milhões de euros por ano, o que ao cabo dos horizontes de concessão de 65 anos destas barragens, dá a soma de mais de 15 mil milhões de euros, que TODOS, repito, TODOS teremos de pagar.

Mas nada temam: o lucro esperado das concessionárias é de cerca de 8 mil milhões de euros. Tipo a Ponte Vasco da Gama, que se "pagaria por ela própria" enquanto PPP, mas que já arrecadou uns generosos milhões do Estado.

Mas isso são outras coisas...

Fiquei banzado! Então eles consideraram um custo da barragem o preço da energia que ela vai produzir? Ainda por cima referenciado a um custo próximo do pago pelo consumidor??? E tudo isto é uma renda do Estado, porque o Estado somos nós??? É claro que todos vamos pagar o custo da energia. Mas se não for o MWh da futura barragem do Foz-Tua, será o MWh da central nuclear de Almaraz, ou então das magníficas “ventoinhas” por tudo quanto é monte e linha de horizonte deste País!

Neste jogo de xadrez, as declarações do peão serão provavelmente sacrificadas. Mas isso não ilibirá a Geota e companhia de explicarem verdeiramente as suas contas, o que nunca fizeram! Como esta discussão foi a que me expulsou do Facebook, preservam-se as afirmações do peão, na imagem acima, antes que sejam destruídas pela Religião Verde...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Barragem do Tua

As discussões à volta da barragem do Tua estão ao rubro. Os ecologistas propagam cada vez mais mentiras, mas pasme-se! Em vez de corrigirem as suas contas, estão a inflacioná-las! Estes tretas não têm perdão, como já evidenciei no passado: Há um ano, em Dezembro de 2010, anunciavam um custo de 7000 milhões de euros. Em Abril de 2011, subiram a parada para 15 mil milhões. Em Agosto de 2011 subiram a parada para 16 mil milhões. Agora, falam em valores entre os 16 mil e 20 mil milhões... A inflação só vai parar quando conseguirem parar o processo de construção, ou então forem completamente desmascarados pelos Media, que teimam em não querer sequer equacionar as contas...

Há uns dias, 20 ecologistas da treta fizeram uma manifestação em Lisboa, para propagandear estas mentiras. No feriado de 1 de Dezembro, também uma multidão de 20 pessoas se manifestou pela linha do Tua. Entre os 20 palhaços incluíam-se o pretendente ao trono, duque de Bragança, o aldrabão João Joanaz de Melo, e o pobre coitado Daniel Conde, cujas prestações podem ver no seguinte vídeo (vejam especialmente a partir do minuto 3:24, e a ligação ao TGV espanhol):



Daniel Conde avança com um número de 70000 passageiros em 2010, mas rapidamente depressa percebemos que a maioria devem ser alunos da escola, os quais provavelmente prefeririam um autocaro bem mais rápido. Como dizia o Ministro dos Transportes anterior, quase mais vale dar um carro a cada um dos passageiros, o que os alunos não veriam certamente com mau grado...

Agora, vem-se com a ameaça da UNESCO, entretanto já desmentida. Faz-me lembrar a treta dos rabiscos de Foz-Coa. Mas como é preciso alarmar ainda mais, e como a recente estupidez da comparação com os Budas de Bamiyan não resultou, isto não irá parar! Mas há outras visões muito interessantes, e dessas, a de pintar a barragem parece-me uma das mais interessantes... Aposto que seria um boa razão para ver uma pintura gigante ao vivo, e talvez trouxesse mais turistas que a própria Linha do Tua!!!

sábado, 26 de novembro de 2011

A antiga barragem do Lindoso

Uma das coisas que me faz confusão hoje em dia, é a rapidez com que a História é apagada. Como os leitores sabem, sou um grande adepto de tudo o que a História passada nos tem para contar, e é por isso que, por exemplo, a variabilidade climática actual não é, para mim, nada de especial, quando comparada com eventos climáticos dos últimos séculos/milénios.

No início deste mês, tropecei neste documento da REN, e observei alguma da História das primeiras barragens portuguesas. De todas elas, a que mais me marcou foi a da Barragem do Lindoso, entretanto substituída pela barragem do Alto Lindoso, uma das barragens de referência em Portugal. Fiz umas pequenas pesquisas na Internet, e o melhor que consegui foi obter alguma informação sobre a central hidroeléctrica, vários quilómetros a jusante. Procurei mais, e nada???

Decidido a encontrar algo que desapareceu há pouco mais de 20 anos, encontrei finalmente esta referência, Lima Internacional: Paisagens e Espaços de Fronteira, tese de Doutoramento de Elza Carvalho, na Universidade do Minho. Deste documento retirei a imagem que coloquei no post anterior, e que abaixo está enquadrada com uma imagem da actual barragem. As duas foram calibradas pelo topo dos montes distantes, sendo ligeiramente distintas na parte frontal, pelo facto das fotografias não terem sido tiradas exactamente do mesmo local:


Três leitores foram capazes de a identificar. O primeiro preferiu ficar anónimo, tendo sido ainda identificadas por Pedro Pais e Jorge Pacheco de Oliveira. Em comum, nenhum dos três a afirmou ter conhecido, sendo que um dos três leitores referiu tê-la identificado pelo estilo de terreno.

A história do encouramento do Lindoso remonta ainda aos tempos da Monarquia, quando Justino Antunes Guimarães e Jesús Palacios Ramilo, apresentaram em 11 de Maio de 1905 o anteprojecto para a exploração hidráulica do salto de Lindoso. Em 1907, D. Carlos I autorgou a concessão do aproveitamento hidroeléctrico, através do alvará de concessão do Aproveitamento hidroeléctrico no rio Lima, de 14-2-1907, publicado no Diário do Governo nº 40 de 20-2-1907. O alvará autorizava a derivação de um caudal de 7000 litros/segundo, por um período de 99 anos, com uma exigência de que as obras começassem num período de um ano, e que fosse terminada em quatro anos. A concessão foi transmitida à Sociedade Anónima Electro del Lima no ano seguinte, constituída em Madrid a 19 de Maio de 1908.

O projecto inicial previa a instalação de 14000 cavalos em 7 grupos, cuja potência alcançaria os 12000 cavalos durante 10 meses, e somente 4510 cavalos no Verão. A represa teria uma altura de apenas 5.8 metros, e o canal de derivação prolongar-se-ía por 420 metros. As obras começaram a 16 de Setembro de 1908, mas dificuldades várias, incluindo a morte de um dos accionistas iniciais, retardaram a construção. A construção do canal de derivação (início visível do lado esquerdo do rio, nesta e noutra foto), entretanto prolongado, resultou em diversos problemas com a população, sobretudo devido a questões de nascentes de água, um tema "quente" na altura. A Primeira Guerra Mundial trouxe dificuldades óbvias, embora trabalhassem na altura entre 500 e 1000 trabalhadores nas obras. Em 2 de Abril de 1921 deram-se por concluídas as obras, com a instalação dos geradores Escher Wyss da General Electric, com uma potência de 8750 kVA, na central hidroeléctrica, cuja imagem é visível abaixo, retirada daqui. Em 10 de Abril de 1922 a energia chega finalmente à central do Freixo, no Porto.


Entre 1923 e 1924 a barragem foi sobrelevada, da altura de 5 metros para uma altura de 22.5 metros. Tal permitiu a constituição de uma albufeira de 750 000 m3, 0.2% do volume máximo da actual barragem do Alto Lindoso. O progressivo aumento do consumo da electricidade obrigou a aumentos sucessivos do canal, das linhas, e da própria central hidroeléctrica e da câmara de carga (visível abaixo, foto retirada daqui), contribuindo para um significativo desenvolvimento local, na localidade de Paradamonte, que distinguia a aldeia de todas as outras em redor. Tais ampliações terminaram em 1951, quando foi montado o último grupo gerador, de 40 000 kVA, que permitiu alcançar uma potência de 92 500 kVA. Algumas imagens dos geradores antigos estão disponíveis aqui, sendo ainda este percurso de geocaching uma referência interessante.


No final da década de 1980 iniciou-se a construção da barragem do Alto Lindoso, que obrigou à destruição da antiga barragem. Algumas imagens dessa ocasião estão disponíveis nos seguintes links: [1] [2] [3]. Na imagem seguinte podemos vê-la ainda, já com as obras necessárias à construção da barragem do Alto Lindoso.


Esta página manter-se-á aberta a edição, por forma a documentar outra informação que entretanto venha a recolher. Se o leitor tiver acesso a mais informação, faça o favor de a enviar. Em particular, uma imagem próxima da barragem seria muito interessante. Mais formidável seria uma imagem da barragem numa situação de cheia, mas creio que isso já é pedir de mais! Ainda assim, o objectivo é tentar manter viva uma recordação histórica que se perdeu há pouco mais de 20 anos...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Hidroelectricidade em Portugal

De vez em quando tropeço em documentos que são verdadeiramente interessantes. Este chama-se Hidroelectricidade em Portugal e foi publicado pela REN em 2002. O documento tem algumas pérolas, nomeadamente a vertente histórica, incluindo a fase inicial da produção de hidroelectricidade em Portugal, e que o documento encaixa entre o final do século XIX e 1930. O documento tem algumas imagens de centros produtores que hoje já não existem, ou que estão escondidos por esse Portugal fora, quase autênticos monumentos históricos. A da imagem não está incluída, ficando aqui o desafio ao leitor para a tentar identificar (clique para ver melhor)! A quem a identificar será dada uma menção honrosa, por parte do Ecotretas, num post subsequente.

O documento revela ainda aspectos como o da importância do aproveitamento do sistema do Douro, ou como fazer a expansão da componente hidroeléctrica do sistema electroprodutor a longo prazo. Um documento de consulta importante, especialmente num momento em que muita gente fala do assunto, mas não entende, ou não quer entender, a sua importância.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

As contas da GEOTA e do PNBEPH

Várias organizações ambientalistas (GEOTA, FAPAS, LPN, Quercus, CEAI, Aldeia, COAGRET, Flamingo, SPEA, MCLT) têm vindo a lutar contra o PNBEPH (Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico). Segundo a sua argumentação, as novas barragens vão custar 16 mil milhões nos próximos 75 anos. Uma das parcelas desse custo será a garantia de potência, sendo que uma das versões mais recentes do documento explica parte das contas:

The incentive for electric power availability alone will cost the State 3 400 M€ over the concession horizon, virtually covering initial investment cost. Just in the first 15 years the subsidy will amount 736 M€, far above the concession dues paid by the electric companies. In short, the infamous argument that dams were a “private investment” is a fraud.

As contas para se chegar aos 3400 M€ são relativamente simples. Primeiro, foram contabilizados 2453MW de potência instalada nas novas centrais. Depois, foi considerado o valor de 20000€/MW, previsto na Portaria n.º 765/2010, de 20 de Agosto. Finalmente, multiplicando por 70 anos (valor médio de 65 e 75 anos) obtém-se o valor de 3434.2 milhões de euros.

A garantia de potência surge no Decreto Lei 264/2007, de 24 de Julho, o qual, no seu artigo 4º, adita o artigo 33º do Decreto Lei 172/2006, de 23 de Agosto. A referida Portaria n.º 765/2010 estabelece pois o regime dos serviços de garantia de potência, especificando os termos e condições da sua prestação, as entidades que podem participar na qualidade de prestadoras desses serviços e o respectivo regime de retribuição.

Particularmente importante neste contexto é saber quem são as entidades que podem participar. Tal é definido no artigo 10º, que define os centros electroprodutores abrangidos.

No nº 1 define-se que estão incluídos os centros "que disponham de uma potência instalada igual ou superior a 50 MW que tenham entrado em funcionamento industrial há menos de 10 anos e que não estejam sujeitos ao regime dos CMEC". Como é evidente, as barragens do PNBEPH não se incluem aqui, pois manifestamente não entraram ainda em funcionamento.

No nº 2 define-se que o "incentivo ao investimento é igualmente aplicável aos aumentos de capacidade instalada com potência reversível resultantes do reforço de potência de centros electroprodutores hídricos, cuja entrada em funcionamento industrial ocorra após a entrada em vigor da presente portaria, ainda que a entrada em funcionamento das instalações originais tenha ocorrido antes do período previsto no número anterior e mesmo que as instalações originais estejam sujeitas ao regime dos CMEC". Este número aplica-se que nem uma luva aos aumentos de potência que a EDP está a levar a cabo em Alqueva II (260MW), Venda Nova III (746MW), Salamonde II (207MW), e Paradela II (318MWh). Os aumentos de potência nas barragens do Douro, Miranda II (194MWh), Picote II (246MWh) e Bemposta II (191MWh), dado não serem reversíveis, não se enquadram. Também aqui, as barragens do PNBEPH não se incluem, pois o conceito de instalações originais nem sequer existe em nenhuma delas.

No nº 3, prevê-se que o Governo possa aplicar o regime de incentivo a novos projectos. Finalmente, no nº 4 do mesmo artigo 10º define-se que "compete ao membro do Governo responsável pela área de energia fixar, em cada caso, o montante, o prazo e a data a partir da qual o titular do centro electroprodutor beneficia do incentivo ao investimento". Tanto quanto se sabe, isso não foi feito para as barragens do PNBEPH.

Nestas circunstâncias, é portanto incorrecto dizer que as barragens do PNBEPH terão um custo de 3400 milhões, embora se possa admitir que no futuro tal possa acontecer, de acordo com o que está previsto no nº 3, do artigo 10º. Tal é revelado também por documento do próprio INAG.

Mas mesmo que assim não fosse, as contas da Geota e companhia continuariam engatadas, porque segundo o nº 3, do artigo 11º, a "remuneração correspondente ao incentivo ao investimento para centros electroprodutores que iniciem o seu funcionamento industrial a partir de 1 de Janeiro de 2011 é atribuída durante 10 anos, contados a partir da data de início do respectivo funcionamento industrial". E no nº 4, do mesmo artigo 11º, fazem-se limites adicionais de 10 anos:

a) Para as instalações industriais que tenham entrado em funcionamento industrial após 1 de Julho de 2007, por um período de 10 anos a partir de 1 de Janeiro de 2011;
b) Para as instalações industriais que tenham entrado em funcionamento industrial em data anterior a 1 de Julho de 2007, a partir de 1 de Janeiro de 2011 e até 1 de Julho de 2017.

O que fica confirmado pela leitura da Portaria n.º 765/2010, é que os actuais aumentos de potência em curso nas barragens da EDP, vão beneficiar da garantia de potência. Contas que a GEOTA não faz, sendo que aliás prefere os aumentos de potência em curso, em detrimento das PNBEPH, como é visível num recente episódio do Biosfera. Os reforços de potência acima referidos totalizam 1531 MW, sendo que estes reforços custarão por ano cerca de 30.6 milhões de euros, quando estiverem em funcionamento, e a manter-se o valor actual de 20000€/MW.

Neste momento, segundo este documento da ERSE, na página 54 verificamos que apenas a barragem do Alqueva recebeu uma garantia de potência em 2011, cabendo o resto à produção termo-eléctrica. A partir de 2012, as contas vão ficar todavia mais complexas, conforme este outro documento da ERSE. O que interessa referir, e isso a GEOTA e as restantes organizações ambientais não o referem, é que as novas barragens, e a garantia de potência, só existem porque há energia eólica a mais e a más horas...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Resposta ao Movimento anti-hidroeléctricas

Henrique Sousa fez uma análise muito interessante ao Memorandum, que várias organizações ambientalistas portuguesas enviaram à Troika. Embora não concorde a 100% com tudo o que diz, recomendo a leitura integral dos seus sete posts:

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

As barragens da Biosfera - Parte I

O programa da RTP2, Biosfera, dedicou grande parte da emissão da passada terça-feira às novas barragens que se estão a construir em Portugal, como podem ver no vídeo do fundo deste post. Para quem não sabe, o Biosfera é o programa de referência da Religião Verde em Portugal, mas ultimamente tem-se revelado muito mais realista (como foi o caso deste exemplo), apesar de continuar a dar voz a clérigos líricos da Religião. Ainda assim, os fanáticos da Religião estão furiosos. Vejam os seguintes exemplos, retirados da lista ambio, vociferados por um tal "Antonio Eloy":

Date: Wed, 12 Oct 2011 23:06:53 +0100
E penso que talvez não volte a ver este programa dito de ambiente chamado Bioesfera.
Ver um propagandista da nuclear (o Pinto de Sá) ser o polo central de um chorrilho de disparates e indirecta promoção dos que minam o desenvolvimento de energias renováveis, com um discurso sobre custos sem um mínimo de credibilidade, que é comprado acefalamente pela menina apresentadora (e sobre as barragens o João Joanaz talvez convertido no nuclearista/ecologista também diz umas insanidades), além do discursos sobre comboios ser uma mera elocubração de ficção cientifica.
Julgo que o facto do Bernardino Guimarães ter sido despedido leva este programa ao charco.
Talvez alguma ebergia lhe reste para acabar de vez.
Eu desde logo não mais o verei.
Saudações
António Eloy

Quando uma colega lhe tenta meter algum juízo na cabecinha, o disparate do António continua:

Date: Wed, 12 Oct 2011 23:42:43 +0100
pois não vi argumento nenhum, a não ser uns disparates no ar.
Talvez o facto do Bernardino ter sido despedido tenha conduzido este programa a acefalia.
Não há um único dado que bata certo, o Pinto de Sá (e o passado fala por ele que até bufa) faz umas contas de merceeiro que nem sequer batem certas e a menina assume-as logo de entrada (por os dados serem incompletos e manipulados).
O Joao, infelizmente tropeça no seu proprio enredo, e o rapaz que fala de comboios não sabe o que diz... mas a ficçao cientifica é linda, aqueles bonecos adoráveis
Mas assim não vão a lado nenhum, ou melhor talvez consigam construir as tais três centrais nucleares....
Já não será no meu tempo.
António Eloy

E o disparate continuou hoje de manhã, e provavelmente não vai ficar por aqui:

Date: Thu, 13 Oct 2011 11:07:15 +0100
Basta, basta não considerar os custos marginais para estar tudo errado. E se acrescentar os custos do CO2 ainda mais.
Mas desde logo como viu, ou não reparou quando ele faz a média dos custos da produção em regime especial está a cometer um, mais um erro e manipulação grosseira, além de que considera na linha de textos do meu amigo, pessoa credivel e de merito , Jesus Ferreira esclarecido por mim no último nº do Instalador, custos exagerados para o Kw/h eolico.
Se aumentar 3 centimos altera logo tudo.
Mas o programa é feito para denegrir as energias renováveis, sem qualquer contraditório ( o joão manifestamente está noutra) e acumulando erros, manipulações e tontadas.
Case close.
Façam um programa a sério, e voltem a contratar o Belarmino!
António Eloy

O António e o restante clérigo está zangado porque o Prof. Pinto de Sá foi lá dizer umas verdades inconvenientes. Aliás, algumas das verdades que ele disse foram censuradas, conforme o seu post de hoje revela. Mas, enfim, já foi uma grande lança em África, porque do resto até mete dó! Tudo o resto foi realmente muito mau!

Cerca do minuto 1:00, aparece Joanaz de Melo, em representação da GEOTA, a acenar com um custo de 16 mil milhões. Ena! Pensei que a última vez que ouvira falar de custos das novas barragens, que era um valor inferior. Fui procurar, e tinha efectivamente razão! Há menos de um ano, em Dezembro de 2010, as principais organizações ambientalistas (GEOTA, Quercus, SPEA e outras que tal) anunciavam um custo de 7000 milhões de euros. Tudo muito bem publicitado. Fast-forward para Abril de 2011, e o custo dos ambientalistas já ía em 15 mil milhões. Mais uns meses depois, em Agosto de 2011, as contas já iam em 16 mil milhões!

Olhando brevemente para os documentos, percebemos que eles fizeram as contas a custos de 75 anos! Mas eu também sei fazer contas muito rápidas. Embora saibamos que os custos das renováveis estão a disparar, utilizando os valores do sobrecusto das renováveis de 2010, que foram de 640 milhões de euros, as renováveis no mesmo período custariam 48 mil milhões, ou seja três vezes mais que as barragens! E nem sequer estou a pensar calcular que seria necessário substituí-las aí umas três vezes durante esse período...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Budas do Tua

É típico daqueles que não são ouvidos, gritarem "Lobo" cada vez mais alto. Foi isso que me fez lembrar este comunicado da Quercus, do mês passado, relativamente à barragem do Tua, que me foi enviada por um leitor. Os talibans verdes do Núcleo Regional de Vila Real e Viseu, entenderam por bem fazer a seguinte comparação (realces da minha responsabilidade):

A destruição do Vale do Tua, do rio, da paisagem, da linha centenária, da identidade da região a que se junta ainda o património classificado pela UNESCO, é no seu conjunto semelhante ao que aconteceu em Março de 2001 às estátuas dos Buda de Baiyman, património da Humanidade igualmente destruído.

Estes idiotas não parecem sequer muito cultos. Os Budas são de Bamiyan (eu também não sabia soletrar, mas ao menos fui verificar...), e a observação dos detalhes no site da UNESCO, revela que a comparação com o Alto Douro (ou uma pequena parte do Alto Douro) é ridícula. Entretanto, Os Verdes também já pegaram no assunto...

Aliás, o problema da Quercus prende-se mais com a foz do rio Tua, uma paisagem nada representativa da protegida pela UNESCO. E que nada tem a ver com a beleza dos socalcos do Douro! O que aqueles terroristas da Quercus e de Os Verdes deveriam dizer é outra coisa! É que as barragens do Tua e outras só foram construídas por causa do excesso de energia eólica. Que poluem a paisagem do topo das nossas serras. Uma paisagem que os ecologistas um dia quererão classificar?