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domingo, 11 de dezembro de 2016

luz

Os exames, análises e consultas parecem multiplicar-se. Ouve-se música, bebe-se uma bebida preferida, faz-se os trabalhos onde se consegue, busca-se a luz nas salas de espera, nos transportes e entrega-se a viagem ao Deus sábio, que conhece o fim antes mesmo do início. Nele esperamos.






terça-feira, 8 de março de 2016

Isto podia ser uma novela mexicana.


 
Há coisas que me obrigam a parar de uma forma muito específica. Ter um bebé e ter filhos doentes. Nenhuma relação entre elas, mas são as coisas que de uma forma mais natural me têm forçado a abrandar, se é que não há já aqui uma contradição, no facto de naturalmente ser forçada.
O filho mais velho esteve internado com uma miosite viral. Já está em casa há uns dias. "O que é isso?", perguntarão alguns. Consiste numa doença em que um vírus ataca os músculos. No caso do Samuel foram os músculos das pernas os escolhidos, deixando-o sem conseguir andar.
O relógio no hospital anda de maneira diferente. Não gira certinho e não corre. Bate ao ritmo da espera, dos resultados, das reações, dos enfermeiros que nos acordam de noite, do choro dos bebés, do sorrisos de outros pais, das palavras doces das auxiliares e da esperança. Estar num hospital sem confiar em Deus deverá ser uma coisa terrível. Ter um filho no hospital e não possuir a segurança que ele está nas mãos do Deus soberano e não de humanos limitados deverá ser angustiante.
As horas dentro do quarto de um hospital podem ser revestidas de uma tranquilidade muito especial. Melhor, de uma tranquilidade sobrenatural. É o que acontece quando a nossa confiança está assente no Criador. Podemos sentir paz em meio à maior incerteza ou à escuridão dos minutos seguintes. Não precisamos avançar nem saber, apenas aguardar, quietos. E isto parece loucura para tantos.
Ter um filho internado, permite-me sempre ter um tempo muito especial com ele. Acordarmos e adormecermos juntos. Conversamos, desvendamos sentimentos e olhares, partilhamos orações em sussurros, percebemos receios, abraçamos, rimos de tolices, enfrentamos desafios, olhamos a vista que a janela nos oferece, confiamos no Pai Celestial. Amar cada minuto que passamos e crescemos juntos. Creio que  estes momentos partilhados marcarão a vida de mãe e filho de uma forma muito específica e aprofundam laços. O amanhecer e o deitar de um dia atrás do outro e a certeza de que estamos ali, junto deles e que há um Pai fiel que está a cuidar de cada detalhe. Somos também relembrados de pais que vivem literalmente no hospital com os seus filhos, que renovam a sua esperança diariamente.
O carinho que temos sentido foi mais do que aquele que poderíamos esperar. Gratos pelas orações, telefonemas, mensagens, postais, preocupação e surpresa de colegas, apoio dos professores, pelos amigos que passaram só para nos abraçar e os que vieram para me ajudar, pelos familiares que ajudaram com os manos do Samuel, pelos doces caseiros feitos com carinho, os livros, os vídeos e fotografias de amigos de palmo e meio e tanto mais. E depois há os amigos que perguntam "E tu, como é que estás?" Ah...recebam o meu abraço mais sentido.
 

 
Ter só um filho doente não foi suficiente. Após a chegada a casa, o mano Jónatas ganhou uma inflamação nas placas de crescimento que o deixou também sem andar, pois não conseguia colocar o pé direito no chão, devido às dores. Isto tinha que animar mais um bocadinho e, de preferência, com algo pouco usual. Vamos ver se consegue escapar ao gesso. Tem melhorado e piorado.
Entretanto, como ter dois filhos em casa, após noitinhas sem dormir no hospital ainda não era o ideal, juntou-se mais um. Numa bela tarde em que vou buscar o mais novo à escola, na altura, o único que tinha deixado a andar sem qualquer problema, avisto do portão um menino a vir na minha direção a coxear. "Não, não, não! Aquele não é o meu filho!" Mas era. Toca de arranjar boleia para podermos chegar a casa. Hospital novamente. Apanhar pela terceira vez a mesma médica, que já não sabia muito bem se nos sorria ou se nos olhava desconfiada. Joelho apenas magoado, duas semanas sem fazer exercício físico.
Manter estes rapazes quietos é a mais difícil das receitas, mas, por alguma razão, foi a que nos calhou. As canadianas têm tido uma rodagem estonteante nos últimos tempos.
"Não salta!", "Descansa esse pé!", "Não jogues à bola na escola!" "Não corras!", "Anda mais devagar!" São frases contrárias a ser criança, mas, por vezes, necessárias. Estes meninos estão a aprender acerca da paciência e que nem sempre podemos fazer aquilo que mais gostamos, mas que, ainda assim, Deus é bom. Eu, aprendo com eles e vejo Deus a renovar-me as forças a cada dia.
 
 

quarta-feira, 2 de março de 2016

há uma solidão que é bonita.

 
 
 

 
Nos momentos em que os amigos iam embora e tudo acalmava, ficava o silêncio. Uma quietude serena. E na minha mente ecoava o hino:
 
Mestre, chegou a bonança! Em paz vejo o céu e o mar.
O meu coração goza calma, que não poderá findar.
Fica ao meu lado, bom Mestre, Dono da terra e céu.
E Contigo eu irei bem seguro ao porto, destino meu.
... Pois todos ouvem o Meu mandar: Sossegai! Sossegai!
Convosco estou para vos salvar. Paz! Paz gozai!”

 


terça-feira, 1 de março de 2016

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

estadias diferentes



Chama-se miosite o que nos mantém aqui. É um exercício à paciência.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

um malmequer para quem quero bem.


Na semana passada encontrei o primeiro malmequer deste ano. Estou sempre em pulgas quando chega esta altura do ano para ver os malmequeres e as papoilas começarem a aparecer. Apanhei-o e levei-o ao filho que estava doente em casa. Por sinal, o filho que passa a vida a dar-me flores.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

vírus à solta cá em casa. mantenham-se longe!







Desde domingo que um vírus manhoso anda por cá. Insistente, meio discreto em alguns momentos, intenso noutras horas. A cafeína tem sido minha amiga nas noites de vigília. Ontem, ao fim do dia, fui apanhada também. Se há coisa que custa é estar doente quando os filhos também estão. Estamos juntos, um minuto de cada vez. Entre pinturas, leituras e filmes, sabe sempre bem ir lá fora ao final do dia e ver a vida a acontecer lá fora. Respiro pausadamente e sinto o ar fresco com o Flippy sempre atrás de mim. Espreito pelas janelas e penso no tanto que aconteceu dentro de portas num só dia. A mesa com pingos de tinta, a louça por lavar, os livros e construções de lego espalhadas pela casa, as camas desarrumadas. Vestígios de vida que pulsa lá dentro. Abraço tudo.




terça-feira, 29 de dezembro de 2015

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

como é que se ensina um filho a esperar?


 
 
Este menino é paciente e isso também facilita a tarefa, é verdade. Porém, esperar é mais do que aguardar, sem nada fazer. É aguardar, em paz, recebendo o que Deus está a fazer e abraçando o que está por vir, seja o desfecho qual for. O filho de 9 anos enfrenta a incerteza de poder ou não jogar à bola novamente, uma das cosias que mais gosta de fazer e, deixem-me acrescentar, para a qual tem jeito. Há momentos em que vejo os olhos dele tristes, mas na maioria das vezes está alegre e confiante, tranquilo, mesmo quando vê os manos saírem equipados para os treinos ou quando grita da bancada pelo irmão mais velho, em campo. Esta espera é minha também e dou por mim a tentar mostra-lhe como funciona esta coisa de se esperar e de manter um coração agradecido em todo o tempo. Interessante enfrentarmos isto durante o advento, que é acerca disto mesmo, espera e gratidão. Por muito que me esforce e fale com ele e o faça sentir que a espera não é só dele, é nossa, daqueles que o amamos, sei que O melhor a ensinar-lhe acerca é o próprio Deus, que vai moldando o seu pequeno coração, dia a dia, fazendo-o perceber coisas que não se vêem com os olhos. Porque Deus trata cada um na medida certa. Esta é a nossa certeza e segurança. Deus é bom, aconteça o que acontecer.
 



sexta-feira, 5 de junho de 2015

mais além.



A amigdalite passou cá por casa. Duas vezes. Ainda não descartei a hipótese de a ver uma terceira vez. Visitou o Samuel e o Marcos. No primeiro instalou-se à grande e levou o gaiato a temperaturas elevadas. O Marcos teve uma visita mais modesta, mas levou a primeira injeção de penicilina, coisa que não deverá esquecer tão rápido.
Ter os filhos doentes obriga-me a abrandar, especialmente se o marido estiver fora, em trabalho, como foi o caso. Há mais para fazer, por um lado, mais cansaço também, mas existe um sentido de urgência diferente. Acho mesmo que Deus usará estes momentos para isso mesmo. Há as noites mal dormidas ou até em branco, mas há um abrandamento forçado. Às vezes sento-me só para olhar para eles. Para contar uma história ou manter-lhes uma toalha molhada na testa. Nos últimos dias visualizámos filmagens antigas, daquelas guardadas em cassetes. Revimos o brilho doce e espanto nos olhinhos do Sammy e Jojó ao verem o mano Marcos pela primeira vez na maternidade. Impagável! Recordámos momentos vários com amigos, músicas, acampamentos, festas, surpresas, sobrinhos pequenos, fofos, fofos. Tantos momentos de profunda alegria! E pensar que tudo isto é só um fraco aperitivo do que nos espera no céu! Só é possível apreender tal possibilidade porque sabemos que então teremos um corpo livre de pecado. Melhor do que Deus já deu? Sim, infinitamente melhor! Deus tem feito tanto em nós, nos outros e à nossa volta, ao longo dos anos! Os Seus caminhos são sempre sábios, ainda que misteriosos e insondáveis.

 
O tempo avança veloz e não há como faze-lo parar. Há coisas que não voltam, que tiveram o seu tempo próprio. Há amigos que já não estão connosco. Nada do que julgámos um dia ser firme o é na realidade. Firmeza é achada Num só. E vez após vez Deus me ensina, com aquela paciência que só Ele possuiu, a confiar e depender dEle. Apenas dEle. É uma luta constante. Os cenários, circunstâncias e pessoas mudam, ora de forma mais lenta, ora mais repentinamente. Só Cristo permanece. Só Cristo não vai embora. Esta é uma lição que continuo a precisar que Ele me lembre, incessantemente. A alegria está nEle. A constância para cada dia também.  E é na medida em que outros e eu falho e o chão me falta que melhor aprendo esta verdade. Que mais me achego a Ele como fonte única de satisfação e segurança. Deus abana o meu mundo certo para que eu me firme mais nEle. E a paz vem. Com ela chega também a visão do tanto que Deus tem dado e de tantos que tem trazido até nós nos últimos anos e da bênção que tal tem sido. A novidade pode ser uma coisa boa. E depois penso e constato que para além de paciente, Deus é misericordioso, pois ainda assim, conto amigos que estão lá desde sempre e continuam por perto. Deus mostra-nos sempre mais do que a dor que sentimos.