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sexta-feira, 4 de outubro de 2024

A imagem do dia


O francês Jean-Pierre Beltoise no GP do Canadá de 1974, onde acabou não classificado. 

Antes da partida do GP dos Estados Unidos de 1974, uma notável ausência: Jean-Pierre Beltoise sofrera um acidente na sexta-feira do Grande Prémio e não iria participar no fim de semana derradeiro da temporada. Sem saber, o piloto, então com 37 anos, estava a correr a sua última corrida de uma carreira na Formula 1 que começara em 1967 e durante muito tempo foi considerada a maior esperança francesa, ao lado de gente como Henri Pescarolo, Johnny Servoz-Gavin e sobretudo, Francois Cevért, que era seu cunhado, porque Beltoise era casado com Jaqueline, irmã de Francois.

A temporada de 1974 tinha sido agridoce para ele. Na sua terceira temporada numa BRM que estava a tentar contrariar a sua decadência, com um 12 cilindros que perdia eficácia perante os Cosworth de 8 cilindros, a equipa tinha perdido o patrocínio da Marlboro, que foi para a McLaren, e viu a Motul, que deveria ser o seu substituto, a fugir por causa do primeiro choque petrolífero. Acabaria por regressar, mas após o inicio da temporada. 

Por essa altura, o velho chassis P180 era substituído pelo P201, desenhado por Mike Pilbeam, e logo na sua estreia, na África do Sul, deu um excelente segundo lugar para ele, depois de ter pontuado na corrida inicial, na Argentina. Mas mesmo numa tripla com pilotos franceses - Henri Pescarolo e Francois Migault - os resultados foram escassos, e na parte final da temporada, numa equipa em crescentes dificuldades financeiras, os franceses foram embora para dar lugar ao neozelandês Chris Amon.

Claro, isto não era por culpa dele. Apesar de nessa altura ele já ter 37 anos, as suas performances na Endurance, onde era piloto oficial da Matra, eram muito boas, especialmente numa equipa vencedora. Em Le Mans, por exemplo, correu ao lado do seu compatriota Jean-Pierre Jarier, e deram nas vistas, primeiro, a conseguirem a pole-position, e depois a andarem nos lugares da frente até desistirem, com nove horas de corrida. Mas em compensação, ambos ganharam nos 1000 km de Nurburgring, nas Seis Horas de Watkins Glen, nos 1000 km de Brands Hatch e na corrida de Paul Ricard, ajudando a Matra ser campeã da Endurance.  

Nas corridas americanas, apenas dois carros estavam inscritos. Ambos tiveram problemas em Mosport e acabaram não-classificados. Em Watkins Glen, esperavam em melhorar os resultados. Contudo, na sexta-feira, na sua primeira tentativa, Beltoise bateu forte e ficou ferido, sem grande gravidade, mas o suficiente para não poder participar na corrida americana. Em compensação, Amon conseguiu o 12º melhor tempo, para acabar em nono.

Beltoise tentou regressar à Formula 1 no final de 1975, quando concorreu com Jacques Laffite para o lugar na Ligier. Acabaria por ser preterido, e anos depois, Gerard Ducarouge, que iria ser o projetista dos carros, avisou de que ele precisaria de estar em forma, se quisesse o lugar. Apesar da carreira na Formula 1 ter sido fechada, ele correu na década seguinte, na Endurance e nos SuperTurismos franceses.

Acabaria por morrer em janeiro de 2015, no Senegal, vitima de um AVC, aos 77 anos. Hoje em dia, há duas ruas com o seu nome em França. 

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Cinco franceses que devem muito ao Mónaco

A França é a pioneira do automobilismo, mas em termos de Formula 1, e tem a sede da FIA, mas está fora do calendário desde 2008. O Mónaco, de uma certa maneira, é um substituto, e durante muito tempo, muitos olharam para o principado monegasco como uma espécie de "apêndice" da França, apesar da corrida existir desde 1929 e ter um estatuto especial dentro da categoria máxima do automobilismo. Por exemplo, é a única que pode ficar no calendário sempre que quiser, porque Bernie Ecclestone descobriu há que tempos que precisa do "glamour" monegasco que o outro lado...

Mas ao longo deste tempo todo - a Formula 1 não correu aqui entre 1951 e 54 - os franceses sempre tiveram uma relação especial com este circuito. A primeira vitória de um francês foi aqui, há 61 anos, e outros também subiram ao lugar mais alto do pódio. Eis cinco exemplos de pilotos que fizeram tocar "La Marseillase", muitos deles pela primeira... e única vez. "Vive la France!"


1 - Maurice Trintignant (1955 e 1958)


O francês Maurice Trintiganant (1917-2005) teve uma carreira bem longa, que durou entre 1950 e 1964, mas isso foi apenas uma parte do que fez, já que ela começou ainda antes, nos anos 30, interrompida pela II Guerra Mundial. Trintignant fez parte da primeira prova de automobilismo, após o final da guerra, em setembro de 1945, onde tirou o seu Bugatti escondido num celeiro durante o conflito. Como tinha acumulado dejetos de ratos, ele ficou com o apelido de "Le Petoulet"...

Contudo, as suas duas únicas vitórias na Formula 1 aconteceram no circuito do Mónaco. A primeira foi em 1955, e basicamente aproveitou os acidentes que aconteceram ao longo da corrida, desde a desistência dos todo-poderosos Mercedes, até à cena em que Alberto Ascari caiu à água, a bordo do seu Lancia-Ferrari. Nesse ano, Trintignant igualou a sua melhor classificação de sempre, ao ser quarto classificado.

Três anos depois, Trintignant corria pela Rob Walker Racing, que tinha os Cooper de motor traseiro. Os carros tinham conseguido uma sensacional vitória na corrida anterior, na Argentina, através de Stirling Moss, mas pensavam que era algo com mais sorte do que técnica. Trintignant provou que estavam enganados e ajudou, ao dar a segunda vitória consecutiva à Rob Walker, e convencer o resto do pelotão que os carros com motores traseiros eram o futuro.


2 - Jean-Pierre Beltoise (1972)


Curiosamente, depois da segunda vitória de Trintignant no Mónaco, a França ficou "à seca" durante treze anos. A morte prematura de Jean Behra, no ano seguinte, e a escassez de pilotos franceses, fizeram com que se passasse uma década sem presenças. A grande excepção foi Jean-Pierre Beltoise (1937-2015), que apareceu com a aventura da Matra, em 1967. Ao mesmo tempo que havia uma nova geração que aproveitava os incentivos para correr, como os Volant Shell, e o Troféu Gordini, Beltoise tornou-se na esperança francesa de vencer, ao lado de Johnny Servoz-Gavin, com motor Matra V12.

Contudo, ambos foram ultrapassados por um terceiro piloto, Francois Cevért, que deu à França a vitória que necessitava no final de 1971, quando corrida pela.. Tyrrell, que tinha feito uma aliança com a Matra em 1969 - e que deu o título a Jackie Stewart - mas que seguiu o seu caminho quando lhe pediram para abdicar do contrato com a Cosworth, no ano seguinte.

Beltoise teve, contudo, o seu dia quando em 1972, venceu debaixo de chuva o GP monegasco. Ao volante de um BRM - equipa que o acolheu nesse ano - conseguiu aguentar as investidas de Jacky Ickx e Emerson Fittipaldi, que eram bons na chuva, mas que aproveitou a estreiteza das ruas e a potência do motor BRM V12 para levar a melhor. Contudo, foi a única vitória de Beltoise e a última da equipa britânica na sua carreira.


3 - Patrick Depailler (1978)


Nascido na cidade de Clarmont-Ferrand, a carreira de Patrick Depailler (1944-1980) aconteceu essencialmente ao serviço da Tyrrell, onde se estreou em 1972, como terceiro piloto. Contudo, apesar de ter fama de ser um bom acertador de carros e ajudar sempre a desenvolver os carros, a vitória sempre lhe escapava das mãos. Umas vezes porque o seu companheiro de equipa era bem mais veloz - Jody Scheckter - outras vezes, era por puro azar, como tinha acontecido unas corridas antes, em Kyalami, quando foi batido na última volta por Ronnie Peterson.

Contudo, naquela temporada de 1978, com a Tyrrell a voltar às quatro rodas, com o modelo 008, Depailler teve um bom arranque, com três pódios. Na quinta prova do ano, em Monte Carlo, o francês largava no quinto posto da grelha, e aproveitou a colisão entre o "poleman" Carlos Reutemann e o McLaren de James Hunt para ficar com o segundo posto, atrás de Niki Lauda. John Watson liderava a corrida, mas depois falhou a travagem numa curva e perdeu o comando para Depailler.

Depois disto, o francês resistiu às pressões de Lauda no comando e acabou por vencer, na frente do Brabham de Lauda e do Wolf de Scheckter. Era a primeira vitória da Tyrrell desde o GP da Suécia de 1976, e claro, um Depailler feliz estava no pódio a comemorar uma vitória há muito alcançada. E mais: iria sair dali com o comando do campeonato. Mas na corrida seguinte, a Lotus mostrou o modelo 79 e tudo mudou... 


4 - Alain Prost (1984-86, 1988)


Alain Prost (n.1955) é outro francês múltiplo vencedor nas ruas do Principado, e não foi ali que conseguiu a sua primeira vitória na Formula 1, mas teve uma edição do qual o seu nome ficou intrinsecamente ligado a aquela pista, é que foi ali onde se decidiu um título mundial... e não foi a seu favor.

Em 1984, a chuva caiu persistentemente nas ruas do Principado, numa corrida onde alinhavam vinte carros para a corrida. Prost chegou rapidamente à liderança da corrida, enquanto que atrás, dois jovens pilotos, o brasileiro Ayrton Senna e o alemão Stefan Bellof, encantavam os espectadores presentes pelas suas performances na pista ao volante de carros inferiores à concorrência. Mas a chuva persistente fazia perigar a segurança, e o comissário de pista daquele ano, Jacky Ickx, decidiu parar a corrida na volta 32, por achar que era demasiado perigoso guiar naquelas condições. Por essa altura, Senna estava em cima de Prost - e chegou a ultrapassá-lo - mas a FIA declarou o francês como vencedor.

Contudo, como a corrida foi parada a meio, apenas foram dados metade dos pontos aos que terminaram a corrida. Se Prost venceu na frente de Senna e Bellof, os 4,5 pontos atribuidos ao francês seriam amargos no longo prazo: no final da temporada, o seu companheiro de equipa, o austríaco Niki Lauda, acabaria por vencer o campeonato com uma diferença de... meio ponto, graças ao segundo lugar conquistado no Estoril, a última prova do ano. Foi pena aquela corrida não ter chegado até ao fim...


5 - Olivier Panis (1996)


A edição de 1996 do GP do Mónaco fica na história por várias razões. Não só foi a corrida onde menos carros terminaram (oficialmente classificaram-se seis carros, mas apenas quatro cruzaram a meta), como também foi uma corrida onde se viu uma das maiores "zebras" da história da Formula 1: a vitória de Olivier Panis, a bordo de um Ligier-Mugen Honda.

Panis (n.1966), foi campeão da Formula 3000 em 1993 e estava na Formula 1 desde 1994, onde já tinha alcançado dois pódios na sua carreira.

Debaixo de alguma chuva, a corrida foi atribulada: Michael Schumacher desistiu logo na primeira volta, com um acidente na curva após o gancho do Loews, enquanto que Jacques Villeneuve e Damon Hill desistiram com problemas diferentes: o canadiano numa colisão com... Luca Badoer, o britânico devido a um problema de motor. O Benetton de Jean Alesi chegou a liderar a corrida, mas acabou por parar devido a problemas no seu carro.

No final, apenas quatro carros cruzaram a meta, com Panis na frente do McLaren de David Coulthard e o Sauber de Johnny Herbert. O Tyrrell de Mika Salo e o McLaren de Mika Hakkinen ainda se classificaram, mas desistiram cinco voltas antes do francês cruzar a meta, na sua primeira vitória, e a primeira da Ligier em quase 15 anos.  

Curiosamente, não só é a única vitória de Panis na Formula 1 - e claro, no Mónaco - como também é a última da Ligier e é também a última de um piloto francês nas ruas do Principado. Ou seja, por outras palavras, faz vinte anos que não se ouve a "Marselhesa" por ali...

domingo, 10 de janeiro de 2016

A imagem do dia (II)

Lembrando de Jean-Pierre Beltoise por hoje, o calendário calha de modo coincidente num 10 de janeiro, onde há precisamente 45 anos, em Buenos Aires, o piloto francês foi noticia pelas piores razões, quando o seu Matra chocou contra o Ferrari 512 de Ignazio Giunti, acabando com a morte do piloto italiano de 30 anos.

Empurrar um carro sem gasolina de um lado para o outro da pista não parece ser a melhor das táticas, mas como Beltoise estava à entrada das boxes, achou por bem tentar. Mas esse era um tempo onde a segurança não era a coisa mais fantástica do mundo, e as mortes no automobilismo eram frequentes. Contudo, todos sentiram que aquilo era evitável e a ideia de um homicídio negligente pairou nas cabeças de muitos. E ele sofreu por causa disso, quer na sua vida, quer na sua carreira.

E a imprensa, tal como foi na altura e tal como é hoje, gosta de sangue. No final desse ano, o seu cunhado, Francois Cevért, lembrou-se disso quando viu os poucos jornalistas que tinha à sua espera quando vinha com o troféu de vencedor do Grande Prémio dos Estados Unidos, a prova mais rica do ano (50 mil dólares para o vencedor, uma quantia bem gorda naqueles tempos...) "Esses jornalistas!" - começa por dizer à sua irmã Jacqueline - "quando Jean-Pierre voltou da Argentina depois do 'caso Giunti', estavam 300 jornalistas à espera dele no aeroporto. Eu venço uma corrida e não estão mais do que três ou quatro à minha espera. Decididamente, a imprensa adora os escândalos!", conclui.

A vida, quando quer ser injusta, mostra-se em todo o seu esplendor.

E demorou para que ele pudesse deixar para trás o que aconteceu nesse dia. Só em 1973, quando andava na BRM, é que pode ir a terras argentinas, e em 1974, no último ano da Formula 1, conseguiu pontuar, com um quinto posto.

A imagem do dia

Esta é a campa de Jean-Pierre Beltoise, morto há um ano. Aparentemente, este domingo houve a missa em sua homenagem, e a sua campa é - tenho as minhas suspeitas - no mesmo cemitério onde o seu cunhado, Francois Cevért, está enterrado. 

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A imagem do dia

Hoje passa exatamente um ano sobre o desaparecimento de Jean-Pierre Beltoise, piloto francês que correu entre 1967 e 1974 por marcas como a Matra e a BRM. Começando a carreira nas motos, pasosu para o automobilismo e tornou-se na esperança francesa para voltar a vencer corridas, desde Maurice Trintignant, no GP do Mónaco de 1958. Contudo, ele foi superado, meses antes, pelo seu compatriota Francois Cevért. Que era... seu cunhado.

 A imagem de hoje relata a sua única vitória na Formula 1, no GP do Mónaco de 1972, catorze anos depois da vitória de Trintignant. Mas também foi a última vitória da BRM na categoria máxima do automobilismo, corrida debaixo de uma chuva inclemente, onde ele conseguiu levar a melhor num circuito citadino e travado, como é Mónaco.

Mas a sua carreira não foi só este momento. Beltoise conseguiu oito pódios e quatro voltas mais rapidas, e em 1968 e 1969 foi o fiel escudeiro de Jackie Stewart na Matra, correndo com o motor Matra V12 enquanto que Stewart dominava com o Cosworth V8. Mas Beltoise não foi com eles quando em 1970, Ken Tyrrell decidiu ter a sua própria equipa. Irónicamente, o seu lugar, depois de algumas corridas com Johnny Servoz-Gavin, foi para Cevért, irmão da sua segunda mulher, Jacqueline.

A sua lealdade à Matra deu-lhe também muitas vitórias na Endurance e ajudou à chegada de uma nova geração de pilotos franceses, como Jean-Pierre Jabouille, Jacques Laffite ou Patrick Depailler, mas em 1971, a sua carreira parecia estar em perigo quando ele empurrou o seu Matra no meio da pista, causando uma colisão com o Ferrari 512 de Ignazio Giunti, causando a sua morte. A sua licença foi retirada e muitos pediram a sua cabeça, e isso afetou um pouco a sua capacidade de condução, recuperada no ano seguinte, na BRM. Até ao final de 1974, conseguiu maus um pódio, e foi o último a pontuar na marca, com um quinto lugar no GP da Bélgica, em Nivelles.

No final, ajudou no projeto da Ligier, em 1975-76 mas acabou por ser preterido por Jacques Laffite. Gerard Ducarouge, o projetista do primeiro carro da marca, disse anos depois que ele estava fora de forma e o avisou acerca disso, mas ele não deu importância ao assunto. Passada a história da Formula 1 (tinha 39 anos), decidiu envolver-se nos Turismos, correndo até finais da década de 80, altura em que os seus filhos também começaram a pensar em se envolver no automobilismo, onde tiveram carreira nos GT's e Turismos.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A foto do dia

A foto é de Marion Thouroude, que esteve presente nesta segunda-feira nas exéquias de Jean-Pierre Beltoise, morto há uma semana em Dakar, no Senegal. Na semana estupendamente agitada que correu em terras gaulesas, não se pode esquecer dos feitos de Beltoise, que andou pela Matra e BRM nos já distantes anos 60 e 70.

Segundo conta, todos os pesos pesados estiveram presentes, desde Jean Todt, o presidente da FIA, aos seus companheiros de equipa na Matra, como Jackie Stewart, Jean-Pierre Jabouille, Jacques Lafitte, Henri Pescarolo, Philippe Streiff, entre outros.

Aos poucos, é uma era que se acaba. Ars lunga, vita brevis.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Youtube Formula 1 Classic: Mónaco, 1972

Este filme descobri no blog do Flávio Gomes. É Mónaco, 1972, o palco da unica vitória de Jean-Pierre Beltoise na Formula 1, ao serviço da BRM. É preciso ver as circunstâncias dessa corrida na história. O circuito monegasco estava a passar por uma mutação que viria a resultar no circuito que todos nós conhecemos. Para terem uma ideia, foi a última vez em que a partida foi dada na zona do Porto, como acontecia nos anos 50. E foi a ultima vez em que o circuito fazia a volta na Curva do Gasómetro, antes de aparecer a secção que conhecemos, que inclui La Rascasse e a curva Anthony Nogués.

Neste filme aparecem os pilotos da época, para além de Beltoise, o vencedor: Andrea de Adamich, Francois Cevért, Mike Hailwood, Peter Gethin, Peter Revson, Brian Redman, até o atual chefão da Red Bull, Helmut Marko. Todos eles a falarem sobre como seria Mónaco debaixo de chuva. E claro, o duelo entre Jackie Stewart e Emerson Fittipaldi.

Vale a pena ver, pois é de um tempo que não volta mais.

A foto do dia

Andei a hesitar um pouco na foto para colocar nesta dia para homenagear Jean-Pierre Beltoise, morto hoje aos 77 anos, vitima de AVC quando passava férias no Senegal. Pensei nas fotos do Mónaco, em 1972, palco da sua unica vitória oficial, do qual tenho um álbum inteiro. Pensei nos seus tempos na Matra, onde entre 1966 e 1971, conseguiu seis dos seus oito pódios e três das suas quatro voltas mais rápidas. E posso dizer que, em termos pessoais, o Matra MS120 é dos carros que mais gosto.

Mas no final, fiquei com esta. E existem boas razões por trás dela. Os dois pilotos mais famosos de França tinham uma enorme afinidade entre eles por causa de uma mulher. Jacqueline era irmã de Francois e mulher de Jean-Pierre, depois de enviuvar da primeira mulher, morta num acidente de carro em 1965. Quando ambos começaram a ficar juntos, o irmão começava a correr nas categorias de acesso, após a sua vitória no Volant Shell, em 1966, batendo Patrick Depailler.

Em 1970, ambos estavam na Formula 1, e era neles que os olhos de França estavam postos. A Marselhesa não era tocada para honrar um piloto gaulês desde que Maurice Trintignant o fizera em 1958, no Mónaco. Guy Ligier e Jo Schlesser fizeram muito pouco para merecer destaque, mas desde meados da década passada que se fazia um esforço para "gaulizar" o pelotão, com as competições de pilotos, para além da aventura da Matra, um esforço de Jean Lagardére para elevar o nome gaulês no automobilismo internacional.

Toda a gente esperava que Beltoise conseguiria isso, especialmente quando teve o mesmo carro vencedor de Jackie Stewart, mas não conseguiu mais do que alguns pódios. Parecia não ter o instinto vencedor de alguns dos pilotos do pelotão desse tempo, como Jochen Rindt ou Jacky Ickx. Ou até Clay Regazzoni, que precisou de apenas algumas corridas em 1970 para ser vencedor.

Para piorar as coisas, as luta entre os dois acabou em 1971, quando Cevért venceu em Watkins Glen, numa corrida onde o seu cunhado correria pela última vez na Matra. Apesar de tudo, a amizade e o carinho permaneceu, e o respeito entre os dois era sólido. E pouco depois, Beltoise teve a vitória que merecia, no Mónaco, após uma corrida perfeita à chuva.

O trágico fim de Cevért, a 6 de outubro de 1973, teve carga dramática para Beltoise. Muitos não saberiam como iria lidar com uma tragédia tão repentina como violenta. Pensavam que iria colapsar com a emoção, e para piorar as coisas, Jacqueline estava grávida de Julien, o segundo filho de ambos (Anthony, o mais velho, tinha nascido em 1971) e perguntaram se iria guiar no dia seguinte. Se Stewart e a Tyrrell não guiaram em sinal de luto, já Jean-Pierre correu nessa corrida malfadada, para terminar na nona posição. Só ficou na Formula 1 por mais um ano, acabando por sair enquanto podia sair vivo.

Há uns tempos, contaram-me a história de que no cemitério de Vaudelnay, no Loire, há duas tumbas vazias ao lado da campa de Cevért. O guarda do cemitério diz que seriam para Beltoise e para Jacqueline. Não sei se a história é verdadeira, mas a acontecer, entendo. Afinal, trata-se de uma forte ligação que eles tinham e do qual só foi interrompida por uma morte precoce, mo auge das suas carreiras. Agora, presumo eu, deverão estar juntos.

Le Fin: Jean-Pierre Beltoise (1937-2015)

O antigo piloto francês Jean-Pierre Beltoise, que pilotou na Formula 1 entre 1966 e 1974 ao serviço da Matra e da BRM, morreu esta segunda-feira aos 77 anos em Dakar, no Senegal, onde passava férias. De acordo com Jean-Claude Moncet, Beltoise passava o Ano Novo na companhia da sua mulher naquele país africano quando sofreu dois AVC's.

Nascido a 26 de abril de 1937, em Paris, Beltoise começou a correr em motos, participando em pelo menos oito corridas do Mundial, em várias categorias (50cc, 125cc e 250cc) onde conseguiu um pódio em 1964, com um máquina Kreidler. Por essa altura, já guiava nos automóveis, com um carro da René Bonnet, e foio nesse ano que sofreu um acidente grave, nas 12 Horas de Reims, quando quebrou o braço esquerdo e algumas queimaduras no corpo. Contudo, no ano seguinte apostou no automobilismo, primeiro na Formula 3, e depois na Formula 2, ao serviço da Matra.

Em 1966, Beltoise teve o seu primeiro contacto com a Formula 1, na Alemanha, com um Matra de Formula 2, onde acabou no oitavo lugar. No ano seguinte, a equipa francesa começava a fazer aparições periódicas na categoria máxima do automobilismo, até que em 1968 aparece em força, ao lado de Jackie Stewart, numa equipa dirigida por Ken Tyrrell. Foi aí que conseguiu o seu primeiro pódio, na Holanda, e duas voltas mais rápidas, que lhe deram onze pontos e o nono lugar no campeonato. Nesse ano, totrna-se também campeão europeu de Formula 2.

Em 1969, se Jackie Stewart caminhava rumo ao seu primeiro título mundial, Beltoise conseguia a sua melhor classificação de sempre, com três pódios, o quinto lugar da geral e 21 pontos. mas ele o conseguiu com motor Cosworth, algo que a Matra não queria, pois tinha desenvolvido o seu próprio motor V12. Quando Tyrrell e Stewart decidiram seguir o seu rumo para construir a sua própria equipa, em 1970, Beltoise ficou, para guiar o modelo MS120, que lhe deu mais dois pódios e o nono lugar, com 16 pontos.

Por essa altura, também servia a Matra na Endurance, e foi ao serviço dela que passou por um dos momentos mais dificeis. Nos 1000 km de Buenos Aires, no inicio de 1971, Beltoise teve uma avaria no seu Matra quando decidiu empurrar o seu carro no meio da pista, rumo às boxes. Entretanto, surgiu o Ferrari de Ignazio Giunti, que bateu forte no seu carro e teve morte imediata. Culpado por negligência, sofreu nessa temporada, conseguindo apenas um ponto. No final dessa temporada, aceita o convite da BRM e vai correr para eles, a partir da temporada de 1972.

E foi nesse ano que conseguiu a sua vitória mais importante, a unica da sua carreira. Nas ruas do Mónaco, num fim de semana onde choveu imenso, deixando a pista totalmente ensopada, Beltoise teve uma corrida épica, batendo Jacky Ickx e Emerson Fittipaldi, naquela que viria a ser a últtima vitória da BRM na sua história na Formula 1. Poderia ter sido o primeiro francês a consegui-la desde Maurice Trintignant, em 1958, mas alguns meses antes... o seu cunhado antecipou-se. Francois Cevért, piloto da Tyrrell, (do qual Jean-Pierre era casado com uma das suas irmãs, Jacqueline)

Depois de um ano de 1973 sem nada de especial, a temporada de 1974 lhe deu o novo modelo P201 e o um segundo lugar em Kyalami, e iria ser o último da equipa. Com dez pontos e o 13º lugar, e aos 37 anos de idade, decidiu concentrar-se na Endurance (1974 foi o grande ano dele, com quatro vitórias) e no projeto da Ligier, que queria colocar um carro de Formula 1 em 1976. Andou a testar ao longo de 1975 com a máquina, que teria motor Matra, mas no momento decisivo, Guy Ligier deu uma chance a Jacques Laffite.

Pelo meio, Beltoise teve várias participações nas 24 horas de Le Mans, mas também teve vitórias noutras provas de Endurance, como nos 1000 km de Paris, em 1969, ao lado de Jack Brabham ou nos 1000 km de Buenos Aires de 1970 e de 1972, o primeiro ao lado de Henri Pescarolo e o segundo ao lado de Gérard Larrousse, e venceu a Volta Automobilistica a França, ao lado de Patrick Depailler e... Jean Todt.

Apesar de nunca ter ganho as 24 Horas de Le Mans, nunca andou longe dos lugares da frente, vencendo em algumas categorias, como o GTP, em 1976, e o sport de 2 litros três anos depois, com o Rondeau. Por essa altura, na segunda metade dos anos 70, quando a Matra decidiu abandonar a competição, andou nos Superturismos franceses, sendo campeão em 1976 e 1977, com um BMW, e continuou a carreira nos anos 80, com a Peugeot. Pelo meio, teve dois filhos, Anthony e Julien, e ambos seguiram as pisadas do seu pai e tio no automobililsmo, especialmente nos Turismos.

No final, as homenagens já começavam a aparecer em vida. Em 2011, uma rua nos arredores de Paris tinha recebido o nome de Beltoise, num tributo ao qual compareceu o próprio, acompanhado pela familia. E agora, faz parte da história. Ars lunga, vita brevis.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Jacqueline fala sobre o irmão Francois Cevért

Eu há algumas semanas falei sobre o projeto de filme que Hollywood quer fazer sobre a relação entre Jackie Stewart e Francois Cevért, que muitos descrevem como a melhor que existiu na história da Formula 1. A relação de mestre-discípulo, que durou de 1970 a 1973, deu à Tyrrell dois títulos de pilotos e um de Construtores, e terminou abruptamente a 6 de outubro daquele ano, quando o piloto francês de 29 anos morreu na qualificação do GP dos Estados Unidos, em Watkins Glen.

A Tati Navarro, que apesar da sua precocidade, é fã do piloto francês, mandou-me um link de um jornal escocês em que mostra uma entrevista feita a Jacqueline Beltoise, que tem a particularidade de ser a mulher de Jean Pierre Beltoise e irmã de Francois Cevért.

"Estou muito feliz por saber que vão fazer um filme sobre o Francois, o Jackie e a Helen. Li o argumento e está bem feito. Está um pouco 'glamourizado', mas enfim, é um filme de Hollywood. Contudo, não quero que haja qualquer ambiguidade sobre o acidente mortal de Francois", afirmou.

Sobre os eventos de Watkins Glen, Jacqueline disse que não estava lá nesse final de semana porque estava grávida do seu filho Julien, e sentia-se demasiado enjoada para assistir. “Jean-Pierre e Francois imploraram-me  para que viesse com eles. Eles foram passar férias ás Bahamas por duas semanas, mas não pude ir, só o cheiro a gasolina enjoava-me."

Se tivesse ido a Watkins Glen, eu teria cuidado dele durante os treinos. estava sempre com o meu irmão, para falar com ele ou para lhe dar uma bebida. Eramos muito próximos, e sem querer fazia-o perder tempo. Se estivesse or lá, isto não teria acontecido, porque quando um piloto está sozinho, não perde tempo", continuou.

Estava de volta a casa, em Neully quando me telefonaram de Watkins Glen. Jean-Pierre também pensou que que era o Jackie, quando viu os destroços do Tyrrell. Depois viu que era o Francois, e estava a caminhar para lá quando Jody Scheckter se aproximou e disse: 'Não vais lá, é horrivel'. Não consigo esquecer aquele dia horrivel," concluiu.

Quanto ao ator ideal, Jacqueline sorriu: “Espero que seja alto, atlético... e com um sorriso devastador".

Lendo a entrevista, posso dizer que é bom saber que o projeto pode avançar. Ainda não se sabe quem seria o ator ideal, mas ontem à noite coloquei a foto do ator irlandês Cillian Murphy, que tem precenças fantásticas com o piloto francês. Não sei se tem o sorriso desarmante de Cevért, mas não acham que é parecido com ele?    

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Os 75 anos de Jean-Pierre Beltoise

Quando Jean Behra morreu, a 1 de agosto de 1959, Maurice Trintignant apelou para  aparecessem mais talentos franceses no automobilismo, pois tirando ele, não havia mais ninguém. E Behra era a última grande esperança de uma vitória tricolor, pois Trintignant nessa altura já tinha 42 anos, e ele tinha sido o unico a fazer tocar "La Marseillese" por duas vezes, no Mónaco.

Quando foi a vez de Trintignant pendurar de vez o capacete, em 1964, parecia que era o deserto na Formula 1, mas nas categorias inferiores, começava-se a trabalhar nisso, graças a competições como o Volant Shell e o Volant Elf, e depois as iniciativas de marcas como a Matra e a Alpine, que depois será absorvida pela Renault, da mesma forma que tinha feito à Gordini, algum tempo antes.

Todo esse trabalho de base iria ter resultados a partir de meados dos anos 70, e a partir da segunda metade, iriam aparecer pilotos como Francois Cevért, Jean-Pierre Jarier, Jacques Laffite, Patrick Depailler, Didier Pironi, Patrick Tambay, Jacques Laffite, Jean-Pierre Jabouille, entre outros. Mas houve antes disso um piloto que por vezes sozinho, carregou a bandeira francesa nas pistas de corridas, e tornou-se na "grand espoir" do hexágono de vencer corridas, e depois, de vencer o campeonato do mundo: Jean-Pierre Beltoise. Entre 1967 e 1974, a bordo de máquinas da Matra e da BRM, deu o seu melhor e sobreviveu para contar a história.

Começou no inicio dos anos 60 no motociclismo, onde foi várias vezes campeão nacional em 125, 250, 350 e 500cc. Teve um acidente grave em Reims, que deu cabo do seu cotovelo, paralisando-o de uma forma. Beltoise pediu que ficasse de forma a poder conduzir automóveis. Ele decidiu seguir essa vertente em 1966 e cedo teve sucesso na Formula 3 e na Formula 2, aproveitando também o sucesso do programa da Matra. Foi assim que chegou à Formula 1, ainda em 1967, ao lado de outro francês talentoso, Johnny Servoz-Gavin.

Em 1968, a Matra tinha decidido atacar o título mundial, com a ajuda de um antigo lenhador inglês, Ken Tyrrell. Este tinha um piloto talentoso, o escocês Jackie Stewart, e motores Cosworth V8, que se tinham tornado no melhor do pelotão. Tyrrell e Jean-Luc Lagardére, patrão da Matra, combinaram que iriam usar esse motor para Stewart, enquanto que Beltoise ficaria com o motor francês. Dito e feito, e a Matra alcançava o seu título mundial no ano seguinte, com Stewart a dominar essa temporada. Mas no ano seguinte, Tyrrell não usou os motores Matra V12 que a marca queria usar, e seguiu a sua vida, com Stewart atrás.

Assim, Beltoise era o primeiro piloto da marca. Mas o sucesso na Formula 1 sempre fugiu a ele, por vários motivos: sorte, azar, talento da concorrência, os recursos demasiado espalhados na Formula 1 e na Endurance, pois Lagardére queria vencer também as 24 Horas de Le Mans. E tinha muitos bons pilotos, para além de Beltoise: Henri Pescarolo, Gerard Larrousse e os acima citados Jarier e Cevért. 

Entretanto, Beltoise sofrera uma tragédia pessoal, pois tinha perdido a sua primeira mulher em 1966, vitima de um acidente de viação. Conhecera e casara-se com Jacqueline, cujo irmão era um dos seus rivais nas pistas: Francois Cevért. Era curioso ver que as duas grandes esperanças francesas tinham uma ligação familiar a uni-los, e provavelmente uma vitória seria um assunto de família. E isso ficava acima de qualquer rivalidade de pista. 

O seu segundo momento infernal aconteceu em 1971, em Buenos Aires. Os 1000 km locais eram uma forma de comemorar o regresso da Argentina ao automobilismo mundial e tinham chamado muitos e excelentes pilotos. Beltoise estava ali, ao serviço da Matra, e mais ou menos a meio da corrida, o seu carro entra em pane seca. Em vez de abandonar o carro e dar o dia por terminado, decidiu empurrá-lo para as boxes e ver se recuperava alguma coisa. Só que o seu carro estava do outro lado da pista e decidiu atravessá-lo ao empurrão. E o tinha no meio da pista quando apareceu os Ferraris de Mike Parkes e Ignazio Giunti, com este último a bater em cheio no carro do francês, matando-o.

O caso causou rebuliço no meio, com muita gente, incluindo os pilotos, a desejaram que se lhe retirasse a licença de piloto, mas acabou por ver apenas suspensa por três meses. A sua temporada na Matra foi fortemente prejudicada, e a sua estrela empalideceu um pouco. Pior ficou quando o seu cunhado conseguiu aquilo que a França perseguia desde 1958: uma vitória na Formula 1, quando bateu Jackie Stewart na pista americana de Watkins Glen.

Mas após um momento mau, aparece sempre um momento bom. E isso aconteceu quando se transferiu para a BRM em 1972. A equipa estava cheia de dinheiro, graças ao patrocinio da Marlboro, e estava num bom momento, depois de duas vitórias no ano anterior. Esse momento de glória aconteceu num Mónaco debaixo de intensa chuva, onde conseguiu bater a concorrência, dando uma volta de avanço a quase toda a gente, menos o segundo classificado, Jacky Ickx. Fora no mesmo local onde Maurice Trintingnant tinha vencido, 14 anos antes, e claro, estava exultante por, enfim, fazer parte da galeria dos vencedores. E alguns meses depois, fazia parte da festa que a Matra fazia por vencer as 24 Horas de Le Mans, embora ele não pilotasse o carro vencedor.   

O seu terceiro momento infernal na sua carreira aconteceu a 6 de outubro de 1973, quando viu uma coluna de fumo e um carro totalmente destruído na berma de uma curva no circuito americano de Watkins Glen. Ao ver um Tyrrell, pensou que o piloto afetado tinha sido Jackie Stewart, que toda a gente pensava que iria abandonar a competição nessa corrida. Mas quando viu o carro de Stewart e do neozelandês Chris Amon, terceiro piloto da marca, encostados na berma, percebeu que o piloto morto era o seu cunhado. E ele tinha de telefonar para a França, no sentido de dar a má noticia à sua mulher. Pensou seriamente seguir a mesma decisão da Tyrrell, de se retirar para a corrida do dia seguinte, mas decidiu correr na mesma.

A página da Formula 1 fechou-se definitivamente no final de 1975, quando Guy Ligier decidiu desafiá-lo num "shoot out" em Paul Ricard, com o seu compatriota Jacques Laffite. No final do ano anterior, Beltoise decidira sair da BRM e fazer um ano sabático, ajudando Ligier no seu projeto da Formula 1. Desenvolvera arduamente chassis que viria a ser chamado de JS5, na esperança de um regresso aos circuitos em 1976. Contudo, nesse "shoot out", quem sai vencedor deste confronto é Laffite, que não era tão novo assim - seis anos de diferença - e tornou-se piloto titular em 1976. Beltoise seguiu a sua vida, correndo nos Turismos franceses até finais dos anos 80, com muito sucesso, diga-se.

Hoje em dia, goza uma velhice tranquila com Jacqueline, a sua mulher. Os seus filhos Anthony e Julien tentaram a sua sorte no automobilismo, como o seu pai e o seu tio, mas nunca chegaram muito longe. Beltoise aparece em algumas corridas históricas, mas de resto anda um pouco recluso. A sua mais recente aparição pública aconteceu em novembro, quando em Montlehry, foi inaugurada uma rua com o seu nome. Estava em forma e agradeceu a homenagem, pois apesar de ser feita em vida - algo que é sempre pouco habitual - demonstra que não foi esquecido no seu país. 

Ao menos isso. Joyeux Anniversarie, Jean-Pierre Beltoise!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Rua Jean-Pierre Beltoise, Montlhery, França

Normalmente, dar o nome de alguém a uma rua numa cidade qualquer, um pouco por todo o mundo, acontece quando a pessoa em questão está morta. E quando acontece o contrário, ou é uma manifestação de "lambe-botismo" ao ditador de ocasião, ou então a personagem merece mesmo uma homenagem em vida, pelas suas contribuições para o país, e porque não, para o mundo. E é essa ultima parte que vou falar disso, porque é raro. E essa raridade acontecveu neste final de semana, na vila francesa de Montlehry, nos arredores de Paris, quando a autarquia local decidiu homenagear Jean-Pierre Beltoise com o nome de uma rua.

Atualmente com 74 anos, Beltoise foi homenageado pelos seus contributos ao automobilismo francês, quer na Formula 1, quer na Endurance, ao serviço da Matra, e depois na BRM. Um placa de bronze com uma moto e um carro - simbolizando as suas carreiras em ambas as carreiras - foi colocada com a data do seu nascimento inscrita. E na cerimónia estiveram os familiares, como a sua mulher Jacqueline, ex-Cevért, e o seu filho Anthony Beltoise, que também teve uma carreira no automobilismo, e muitos dos que seguiram a sua carreira. A placa foi descerrada pela ministra do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, Nathalie Kosciusko-Morizet.

Bom saber que há excepções à regra...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Francois Cevért visto pelos mais próximos

Falar de Francois Cevért todos os dias 6 de outubro, para mim, não se torna um exercício de obsessão, não. Este tipo de exercício - que não é diferente dos que fazem o mesmo exercício todos os 1º de maio para recordar Ayrton Senna, por exemplo - faço-o para afirmar até que ponto admiro tal personagem e até que que ponto fico tocado pela sua história e carreira. Pela sua amizade e lealdade perante um dos melhores pilotos do seu tempo, que quis aprender tudo o que podia para poder ter a hipótese de ser campeão do mundo, e no preciso momento em que o seu mestre se prepara para sair de cena, ele tem um acidente e morre. E como nunca o vi correr ao vivo, resta-me ler a sua história e ouvir os seus testemunhos. E a cada ano que passa, ganho cada vez mais admiração pelo piloto e pela pessoa.

Ao longo dos anos escrevi e li muitas coisas sobre Cevért, um jovem moreno de olhos azuis, que nasceu na pior altura para nascer, numa Paris ocupada pelos nazis, onde o seu pai, judeu, joalheiro e membro da Resistência, decidiu que todos os seus filhos tivessem o nome da mãe.

Este ano, as efemérides coincidem com o 40º aniversário da sua única vitória no Grande Prémio dos Estados Unidos, no mesmo circuito de Watkins Glen que o iria matar dois anos mais tarde, num evento relativamente escondido pela triste coincidência de ter acontecido no primeiro dia da Guerra do Yom Kippur. Mas já li jornais da época que mostram fotos do seu acidente mortal, ou seja, mesmo com guerra, teve o seu devido relevo nas primeiras páginas.

Esta semana, dei por mim a ler um blogue que gosto de frequentar, o francês "Memoires des Stands". Esse blog tem a particularidade de recordar, sempre que podem, Francois Cevért e Jean-Pierre Beltoise, que curiosamente eram... cunhados. Beltoise, sete anos mais velho do que Cevért, era casado com Jacqueline Cevért-Beltoise, e ambos eram bons amigos e se admiravam mutuamente. Aliás, Beltoise foi o primeiro herói automobilistico de Cevért, e foi ele que lhe deu a oportunidade de participar no Volant Elf de 1966, prova que venceu, batendo outro futuro piloto de Formula 1 - de destino igualmente trágico - Patrick Depailler.

Em outubro de 71, logo após a sua vitória de Watkins Glen, vê a sua recepção e recorda os eventos de dez meses antes, na Argentina, quando o seu cunhado provoca - sem qualquer intenção, diga-se - o acidente mortal do italiano Ignazio Giunti. "Esses jornalistas!" - começa por dizer à sua irmã Jacqueline - "quando Jean-Pierre voltou da Argentina depois do 'caso Giunti', estavam 300 jornalistas à espera dele no aeroporto. Eu venço uma corrida e não estão mais do que três ou quatro à minha espera. Decididamente, a imprensa adora os escândalos!", conclui.

Beltoise, que todos pensavam que iria quebrar esse 'enguiço' ficou feliz pelo feito de Cevért. "Estou muito contente por ele." Mas depois desabafou: "Mas às vezes penso para mim mesmo que só consigo apanhar carros de m**** na Formula 1!" Sete meses depois, no Mónaco, iria redimir-se, ao conseguir estrear-se na galeria dos vencedores, no mesmo local onde Maurice Trintignant conseguira por duas vezes. Curiosamente, Beltoise e Cevért coincidirão numa coisa: só vencerão uma corrida nas suas carreiras.

Jean-Pierre Beltoise fala sobre a relação entre os dois, e sobretudo sobre Jackie Stewart, do qual ambos foram companheiros de equipa: "Fui muitas vezes levantar-lhe a moral, pois pensava que era incapaz de bater Stewart. Era genial, é certo, mas estava ao seu alcançe. Dizia-lhe que podia bater de igual para igual contra um dos melhores pilotos da sua época. Algum tempo depois, ele veio ter comigo e com a Jacqueline e nos disse: 'Stewart... sinto-me iluminado quando o observo!'

Em 1973, Cevért estava enamorado de uma aristocrata europeia, Cristina de Caraman. E nos dias anteriores a Watkins Glen, tinha dito à sua irmã que intenções de se casar com ela. Aliás, já tinha dado essa ideia na sua derradeira entrevista quando disse que "estou pronto para me casar!" e quando esteve de ferias nas Bermudas com Jackie Stewart e Ronnie Peterson, mandou-lhe uma carta a propôr-lhe em casamento. O destino não deixou que o enlaçe fosse concretizado.

No final de semana de Watkins Glen, Ken Tyrrell e Jackie Stewart conversaram sobre a retirada, e o "tio Ken" perguntou-lhe se deixaria Cevért ganhar essa corrida, como forma de recompensar a sua colaboração. Stewart estava relutante, pois não era do tipo de abdicar da vitória, mesmo que fosse a alguém que era seu companheiro e amigo: "Tyrrell me tinha pedido para que deixasse Cevért ganhar em Watkins Glen. Seria o meu derradeiro Grande Prémio, e era uma bonita maneira de passar o testemunho. Mas isso era terrivel para mim, e respondi a Ken: 'voltaremos a falar sobre isso domingo de amanhã'. Mas tal conversa acabou por não existir..."

A brutalidade do seu acidente mortal chocou o pelotão da Formula 1, naquele sábado ao meio-dia. Num dia em que se soube do recomeço das hostilidades no Médio Oriente, quando as tropas egípcias atravessaram o Canal do Suez, de surpresa, para atacar os israelitas, na América do Norte, a Formula 1 vivia o seu drama pessoal. Muitos pilotos não contiveram as lágrimas, desde os que chegaram ao local do acidente, como José Carlos Pace - que fazia anos nesse dia - até os que souberam depois e aguentaram o tempo suficiente para chegar às suas "motorhomes" para poderem derramar as suas lágrimas longe de câmaras e microfones.

E muitos olharam para Beltoise, que tinha sido dos últimos a chegar às boxes, e que teve de ser ajudado a sair do carro. Anos depois, conta as circunstâncias desse acidente: "Cheguei ao local do acidente mesmo depois de Scheckter ter parado. Pensei: 'Diabos, Scheckter fez de novo asneira e bateu em alguém'. Depois vi o Tyrrell e pensei logo: 'é Stewart. É a sua última corrida e teve este acidente!' Pensei que era o Jackie porque toda a gente sabia que aquela seria a sua última corrida."

"Passei pela zona do acidente sem olhar atentamente para os destroços ou para o carro, que tinha voado para além do guard-rail. Parei cerca de quarenta metros depois do local e fui para lá a pé. Depois vi Scheckter, que regressava do local com os braços no céu, como a dizer por gestos: 'é terrivel, não podemos fazer nada por ele'. Depois vi Stewart a parar, e por um momento, julguei que era Chris Amon [n.d.r: a Tyrrell tinha um terceiro carro para o neozelandês Chris Amon nas corridas americanas], mas logo a seguir, ele para atrás de Stewart. E só depois é que me apercebi que tinha sido Francois."

Beltoise é amparado por Gerard Crombac, o jornalista suiço e uma das lendas do "paddock" dessa era, e vai para a caravana da Goodyear no sentido de telefonar com a sua mulher - e irmã de Francois - para dar a terrivel noticia. No dia seguinte, Beltoise, depois de muito pensar e refletir, decide correr, ao contrário de Stewart e da Tyrrell, que em sinal de luto, não participam no Grande Prémio. Acaba a corrida no nono lugar.

Em jeito de conclusão, pode-se dizer que há sempre um motivo para que a cada seis de outubro se fale de Francois Cevért. Não de uma maneira chata, ou em forma de "viuvez" sentida como vejo muitas vezes por aí em relação a Senna ou de Gilles Villeneuve. É de forma a apresentar algo de novo sobre uma personagem que continua a ser fascinante, mesmo para alguém como eu, que nasceu depiois de ele morrer, e não deixa de olhar para tudo isto e ainda encontrar algo de novo. Talvez deva ser a melhor maneira que existe para continuar a recordar uma personagem, não?

quinta-feira, 31 de março de 2011

Youtube Motorsport classic: Quando a Formula 1 era uma guerra



Entre algumas coisas que tenho a mão e que preparo para amanhã, dei de caras com isto quando abria a página do Youtube. Trata-se de um documentário que passou este domingo na BBC Four britânica sobre os anos 60 e 70 da Formula 1 e das inumeras mortes que exisitram nesse tempo. De como era a mentalidade naquele tempo, e da luta que personagens como Jackie Stewart tiveram para mudar este tipo de coisas.

O documentário, de seu nome "Grand Prix - The Killer Years" mostra como eram as coisas 40 anos antes, pelo menos. Tem depoimentos de quase todos os sobreviventes dessa era. Digo bem: sobreviventes. Jacky Ickx, John Surtees, Tony Brooks, Emerson Fittipaldi, Jackie Oliver e Jean Pierre Beltoise, entre outros. E claro, Jackie Stewart.

Mas há outros depoimentos que merecem ser vistos. Jacqueline Beltoise, mulher de Jean-Pierre - e irmã de Francois Cevért - e Nina Rindt, a viúva de Jochen Rindt, falam nesse documentário, bem como dois organizadores de Grandes Prémios. René Bovy, o organizador do GP da Belgica em 1966, quando a pista de Spa-Framcochamps tinha 14 quilómetros e foi corrida à chuva, onde Stewart teve o tal acidente que mudou a sua mentalidade em relação à segurança nos circuitos, e Ben Huissman, que fazia parte da organização do GP da Holanda de 1973, a corrida onde Roger Williamson morre. Provavelmente a ultima vez que deixaram uma pessoa morrer. Inconscientemente, quero acreditar.

Um documentário que recomendo vivamente para que vejam. Coloco em cima a parte 1, mas as outras três partes podem ver aqui, aqui e aqui.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Sobre o acidente mortal de Ignazio Giunti

Estava a deixar escapar a efeméride, porque já escrevi sobre ela há algum tempo, por achar que as circunstâncias da sua morte eram demasiados chocantes para deixarem de ser esquecidas. Ao ler a história, fica-se com a sensação de que tudo isto poderia ter sido evitado, se as pessoas tivessem pensado melhor no calor da corrida.

Faz hoje quarenta anos que o italiano Ignazio Giunti morreu, vitima de um acidente nos 1000 km de Buenos Aires. Giunti morreu vitima de um choque com o Matra de Jean-Pierre Beltoise, quando o francês empurrava o seu carro no meio da pista para poder reabastecer o seu carro nas boxes, que ficavam mais adiante. Hoje em dia, se acontecesse a mesma coisa, muito provavelmente as autoridades locais teriam detido para interrogatório e a FIA teria tirado a sua Super Licença por tempo indeterminado, digamos assim. Aliás, na altura houve vozes a pedir que impedissem Beltoise de correr em provas, e durante algum tempo assim aconteceu. Mas ele voltou a correr por mais algum tempo, e o acidente de Giunti foi considerado como mais um nesses tempos onde as possibilidades de morrer em acidentes eram muito grandes.

Há precisamente três anos escrevi um post descrevendo as circunstâncias do seu acidente mortal. Em plena recta da meta, à frente de toda a gente, ver Beltoise a atravessar o seu carro era perigoso, e não sei se alguém assinalou devidamente o perigo que existia. Provavelmente sim, mas não foi suficiente para evitar o pior. Aliás, Giunti não teve hipóteses para se desviar do Matra porque estava mesmo detrás do outro Ferrari do veterano Mike Parkes. O britânico viu o carro e conseguiu desvirar-se a tempo, mas Giunti, demasiado colado a ele, não teve tempo.

Giunti tinha 29 anos. Com um dos desenhos mais excêntricos na altura - uma água azteca no seu capacete verde - era altamente considerado por Enzo Ferrari, e ele julgava que era um digno sucessor de Alberto Ascari ou de Lorenzo Bandini nos carros da Scuderia. Deu-lhe uma chance na Formula 1 no ano anterior, em quatro corridas, al lado do belga Jacky Ickx e do suiço Clay Regazzoni. A sua estreia correu-lhe bem, ao acabar no quarto posto no GP da Belgica. Nesse ano, venceu as 12 Horas de Sebring ao lado do seu compatriota Nino Vacarella e de Mario Andretti, batendo "in extremis" o Porsche 908 Barchetta guiado por Peter Revson e... Steve McQueen.

Muitos consideravam-no um piloto promissor, e de uma certa forma, este acidente mortal deixou um certo amargo de boca, pois fica-se com a ideia de que era um piloto promissor que teve demasiado pouco tempo para demonstrar o seu talento. E que o seu fim, nas circunstâncias que se conhecem, teria sido no mínimo evitável.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O piloto do dia - Patrick Depailler (1ª parte)

Os anos 60 e 70 foram para a França um dos mais prósperos em termos de automobilismo, pois apareceu uma fornada de pilotos dispostos a fazer florescer o quase deserto que tinha tornado o panorama no hexágono após o desaparecimento de Jean Behra e a retirada de Maurice Trintignant. Provas como o Troféu Gordini, o Volant Elf e outros ajudaram a aparecer uma série interminável de pilotos que povoaram as grelhas de partida a partir do final dos anos 60, inicio dos anos 70. Patrick Depailler, o homem do qual vos irei falar, era um deles.

Nascido em Clermont-Ferrand a 9 de Agosto de 1944, era filho de Marcel Depailler, um arquitecto e de Paule Depailler, uma doméstica. Patrick tinha duas irmãs mais velhas, e era tímido na escola, que se transformava quando se aventurava nas montanhas da sua região. Adorava o ar livre e o contacto com a Natureza, e a sensação de liberdade que providenciava, algo que ficou inculcado na sua personalidade. A paisagem onde crescera, o Puy du Dome, agreste e algo selvagem, combinado com a sua sede de liberdade, de praticar desportos ao ar livre, ajudava a isso.

Patrick Depailler não era um grande aluno, e por volta dos dez anos descobriu-se o porquê: tinha um defeito ocular, que o obrigou a usar óculos até que o problema fosse corrigido. Contudo, apesar de recuperar nas notas, nunca foi grande fã do estudo, mas incentivado pelos pais e pela irmã Chantal, foi até à universidade, tirando um curso de estomatologia. Contudo, apesar de ter a qualificação para exercer a profissão de dentista, nunca o praticou na sua vida. No final da adolescência, descobriu os motores, automóveis e motocicletas, através de vários eventos que aconteciam na sua região. Um deles, em 1956, viria a ser decisivo na sua vida: o circuito de Charade, nos arredores da sua cidade natal, que cedo ficou com a fama de “Nurburgring francês”. Depailler costumava andar pelo circuito, e o seu estilo exovertido, em claro contraste com a sua personalidade tímida, começou a dar nas vistas, e em 1962, depois de ter assistido ao GP de França de motociclismo na sua terra natal, o fez encarar seriamente a competição. fez enverdar por uma carreira no automobilismo no final da adolescência.

Nesse ano de 1962, começou a participar em competições de motociclismo, com uma Benelli de 50cc, onde o seu talento cedo se fez notar e chamou a atenção de um jovem rapaz que iria fazer a transição para os automóveis, chamado Jean-Pierre Beltoise. Ele ficara impressionado com o talento de Depailler e o encorajou a continuar a competir. Contudo, as coisas ficaram paradas durante um ano para que ele pudesse fazer o serviço militar, obrigatório naquela altura, e no final de Março de 1964, decidiu que iria dedicar-se ao automobilismo. Tinha lido um artigo na edição desse mês da revista Sport Auto, onde se falava da “Operation Jeunessse”, os planos para revitalizar o automobilismo francês, atraindo jovens talentos um pouco pelo país. Iria ser a Coupe dês Provinces, uma competição feita essencialmente em Lotus Sevens, com motor Ford de 1600 cc. Representando a província de Auvergne, depois de uma série de testes exigentes, foi logo segundo classificado sua primeira corrida, em Clermont-Ferrand. Os resultados foram bons, mas no final da época, Depailler via as portas ainda fechadas para o automobilismo. Algo desesperado, pediu a ajuda de Jean-Pierre Beltoise para que ele pudesse arranjar um lugar para progredir na sua carreira. Ele ajudou, oferecendo a ele uma Norton 500 Manx e na temporada de 1965, ele voltava ao motociclismo.

Os primeiros resultados não foram encorajadores, pois a moto costumava quebrar, mas a personalidade determinada de Depailler, que sempre lutava até onde podia, não passava despercebida. A meio da época, Beltoise pedira a Depailler para que guiasse a sua mota Bultaco, já que ele recuperava de uma lesão grave no seu braço, que o fez depois transferir-se para as quatro rodas. Algo que Depailler faria algum tempo depois, aconselhado pelo seu pai, que considerava o motociclismo muito mais perigoso do que o automobilismo.

Em meados de 1966, graças de novo a Beltoise, volta a tentar a sua sorte nos automóveis, no Volant Shell, uma série de provas que se realizavam na Escola de Pilotagem Winfield, no circuito de Magny-Cours. Este tipo de provas, estabelecida em 1962, visava encontrar talentos um pouco por toda a França, e o vencedor tinha como recompensa uma temporada na Formula 3 francesa, com as despesas totalmente pagas. Depailler cedo se evidenciou, sendo um dos sete escolhidos para a prova final. Os outros seis eram Pierre Marchesi, Ettiéne Vigoreux, Francois Gerbault, Patrick Champin, Jimmy Mieusset e… Francois Cevért.

O dia da prova final demonstrou uma competição a três entre Mieusset, Cevért e Depailler. O primeiro despistou-se na segunda volta, e o resto foi uma batalha entre os dois, com Cevért a ser declarado vencedor. Contudo, as suas performances foram suficientemente convincentes para que Beltoise, mais uma vez, convencesse Jean Redeleé, o homem por detrás da Alpine, para que o contratasse na sua equipa de Formula 3. Curiosamente, Redeleé tinha sido membro do júri no Volant Shell e após uma entrevista em Paris, deu-lhe um contrato de três anos como mecânico, piloto oficial e de testes para a equipa, baseada na cidade de Dieppe.

Antes de iniciar a sua nova vida como piloto da Alpine, em 1967, decidiu pedir à sua namorada de infância, Michelle, em casamento. Tal aconteceu em Junho desse ano, pouco depois da sua primeira participação nas 24 horas de Le Mans, ao lado de Gerard Larrousse no Alpine A210, e logo após estavam a morar no norte de França, ao pé da fábrica. Depailler corria quer na Formula 3, no modelo A330, quer na equipa de Turismos, no modelo A210, ao lado de pilotos como o veterano belga Mauro Bianchi, irmão de Lucien Bianchi e avô de Jules, actual piloto da GP2. A época não fora muito proveitosa, a parte de uma vitória em Monthlery, mas cedo tornou-se no piloto principal da equipa, acabando no quinto lugar dum campeonato dominado pelos Matra de Henri Pescarolo e Jean-Pierre Jassaud. Mas no final do ano conseguia a sua primeira vitória internacional, ao ganhar na sua classe nas 9 Horas de Kyalami, e ser quinto na geral.

Em 1968, a Alpine decidiu apostar nas corridas de GT e Protótipos, deixando apenas um carro para Depailler na Formula 3. Apesar do carro ter uma potência inferior aos dos Matra-Ford, o chassis era melhor a manobrar, especialmente nas curvas. Deu nas vistas, subindo ao pódio por algumas vezes, uma das quais no GP do Mónaco, onde foi segundo na primeira manga da corrida de Formula 3, retirando-se na segunda. No final da temporada, tinha acabado no sexto lugar da classificação.

Em 1969, decidiram apostar mais na Formula 3 e ajudar o seu jovem pupilo, alargando a equipa para dois elementos, contratando um jovem rapaz, com excelentes conhecimentos de mecânica (tinha um curso superior de engenharia mecânica) que tinha dado nas vistas no ano anterior com um Matra privado. Chamava-se Jean-Pierre Jabouille. Ao longo da temporada, as performances da Alpine e dos dois pilotos melhoraram significativamente, e Depailler chegou a vencer uma corrida em Monthléry, uma corrida em duas mangas. Mas isso aconteceu após uma decisão do júri, pois ele e o seu adversário tinham… acabado empatados em termos de tempo. E o seu adversário era… Jabouille. No final da temporada, Depailler acabara o campeonato no quarto lugar da classificação geral. Para além disso, correra também nos Turismos, com mais uma participação nas 24 horas de Le Mans, ao lado de Jabouille, no modelo A220, desistindo após a 18ª hora. Mas tiveram outros resultados de relevo como o sexto lugar nos 1000 km de Monza.

Em 1970, acabado o seu contrato com a Alpine, passou para a Formula 2 a bordo da equipa oficial da Pygmeé, que apoiado pela gigante petrolífera Elf, tinha feito uma equipa para quatro carros: ele, Jabouille, o seu mentor Beltoise e Patrick Dal Bo. Contudo, a temporada tinha sido um desastre, já que o chassis estava mal construído e nem sempre estava pronto para correr nas provas de Formula 2 europeia, contra carros como March, Matra, Tecno e outros. O melhor que conseguiu foi um nono lugar numa das mangas da corrida de Rouen.

Em compensação, nas provas de Turismo, ao volante da Matra, conseguiu performances credíveis ao volante do modelo MS650 nas 24 horas de Le Mans, com o australiano Tim Schenken, e no Tour de France Automobile, com o seu mentor Beltoise. Ambos foram navegados por um jovem rapaz de 25 anos chamado Jean Todt, que estava no inicio de uma longa carreira no automobilismo. Com Depailler a fazer uma parte do percurso, para depois entregar a Beltoise, acabaram a prova no primeiro lugar.

Em 1971, Depailler sai da Pygmeé e vai para a Tecno, continuando a contar com o apoio da Elf. Continua na Formula 2 e tem como companheiros o seu amigo Jabouille e Francois Cevért, que se tinha establecido como piloto da Tyrrell de Formula 1, uma equipa que tinha Jackie Stewart e contava com grande apoio da Elf e da Cosworth. Entretanto, a Alpine pedira a Depailler que voltasse a correr na sua equipa de Formula 3, na comapnhia de… Jabouille, e como tinha havido uma modificação na cilindrada dos motores, passando dos 1.0 para os 1.6 litros, investira pesado para conquistar o título. Apoiado pela Renault, contratou pessoas capazes como Bernard Dudot, para a parte mecânica, Marcel Hubert, para a parte aerodinâmica, e André de Cortanze, para o desenho do chassis, as esperanças eram altas. E não falharam.

Depailler acabou a primeira corrida do ano, em Monthlery, no terceiro lugar, atrás do March de James Hunt e do Alpine do seu companheiro de equipa, e a 25 de Abril desse ano, vence a prova de Pau em Formula 3, no mesmo dia em que consegue um meritório sexto posto na corrida de Formula 2. A vitória de Pau iria ser a primeira de seis no campeonato francês, que o fez ser coroado como campeão nacional, depois de quatro temporadas de tentativas ao serviço da Alpine. Isso veio em compensação com o razoável ano que teve na Formula 2, onde o melhor que conseguiu foi um quarto lugar na prova de Crystal Palace.

Em Outubro daquele ano, Depailler foi convidado para participar na E.R.Hall F3 Trophy Race, em Brands Hatch. O francês competiu contra outras promessas do automobilismo como James Hunt, Alan Jones, Roger Williamson, Jody Scheckter e Dave Walker. Depailler deu-se muito bem e venceu com categoria a prova, mas pouco depois os comissários decidiram desclassificá-lo, alegando que ele tinha efectuado uma ultrapassagem sob bandeiras amarelas. Foi uma tremenda desilusão, mas as suas performances foram mais do que suficientes para chamar a atenção de um britânico, John Coombs de seu nome, que tinha uma equipa com chassis March e motor Ford, apoiado pela Elf. Com a conjugação de esforços, Depailler alinhou na equipa na temporada de 1972, em conjunto com Jabouille e Cevert, quando este não tinha corridas de Formula 1 nos fins de semana competitivos.

(continua)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

GP Memória - França 1970

Duas semanas depois dos trágicos eventos de Zandvoort, a Formula 1 voltava a correr, desta vez para o GP de França, que seria disputado uma vez mais no circuito de Charade, nos arredores de Clermont-Ferrand, após uma tentativa para que este se realizasse no circuito de Albi, que falhou por falta de financiamento. Com Piers Courage morto, Frank Williams privava pela ausência, enquanto que John Surtees também não estava presente, pois estava a preparar a estreia do seu novo chassis, que levaria o seu nome, em Brands Hatch.

De resto, a lista de inscritos não tinha alterações: a Lotus corria com Jochen Rindt e John Miles, com um terceiro carro, inscrito como World Wide Racing, para o espanhol Alex Soler-Roig, enquanto que estavam mais dois Lotus, um da Rob Walker Racing, com o veterano Graham Hill ao volante, e outro privado, do americano Pete Lovely. A March tinha dois carros oficiais para Chris Amon e Jo Siffert, mais dois carros inscritos por Ken Tyrrell, para Jackie Stewart e Francois Cevért, e mais uma inscrição privada, para o sueco Ronnie Peterson.

A Ferrari tinha inscrito dois carros, para o belga Jacky Ickx e o italiano Ignazio Giunti, enquanto que na McLaren estavam três carros presentes em Charade: dois com motor Cosworth, para Denny Hulme, que regressava aqui à competição, depois do seu acidente em Indianápolis, e o americano Dan Gurney, que substituia o fundador Bruce McLaren, morto um mês antes, e um com motor Alfa Romeo, para o italiano Andrea de Adamich. Quem também corria com três carros era a BRM, que tinha o mexicano Pedro Rodriguez, o britânico Jackie Oliver e o canadiano George Eaton.

A Brabham tinha o alemão Rolf Stommelen, para além de, claro, Jack Brabham, e a Matra tinha em Charade dois pilotos que corriam em "casa": Jean-Pierre Beltoise e Henri Pescarolo. Para finalizar estava a inscrição privada do Bellasi pilotado pelo suiço Silvio Moser.

Apesar de Rindt não esconder que detestava Charade, pois fazia-o ficar doente devido à ondulação da pista, e para piorar as coisas, nos treinos levou com uma pedra no seu capacete. Para além disso, estava cada vez mais receoso e desgostoso com a Formula 1 no seu todo. Contudo, não deixou de ser profissional e conseguiu qualificar-se para a corrida, no sexto posto. A pole-position ficou nas mãos de Jacky Ickx, que demonstrava que o seu Ferrari estava a melhorar as suas prestações, tendo a seu lado o Matra de Beltoise. Na segunda fila estavam o March oficial de Chris Amon e o March de Jackie Stewart, inscrito por Ken Tyrrell, enquanto que na terceira estavam Jack Brabham e Jochen Rindt. O McLaren de Denny Hulme era o sétimo a partir, tendo a seu lado o segundo Matra de Henri Pescarolo. Para finalizar o "top ten", na quinta fila estavam o March de Ronnie Peterson e o BRM de Pedro Rodriguez.

Como estavam 23 pilotos em Charade, a organização francesa tinha decidido reduzir de antemão o numero de qualificados para vinte, e iriam haver pilotos que não participariam na corrida. Os Lotus de Soler-Roig e Lovely, mais o Bellasi de Moser, não iriam participar na corrida.

No "warm up" antes da corrida, o motor de Ickx começou a dar alguns problemas, mas estes não podiam ser resolvidos antes da corrida começar, portanto, quando o belga partiu, sabia que eram grandes as possibilidades de não chegar ao fim. Beltoise estava atrás dele, mas no final da 14ª volta, passa para a liderança, enquanto que Ickx via os seus piores receios confirmarem-se na 16ª volta, com o motor a encomendar a sua alma ao Criador.

Atrás do francês estava agora o March de Stewart, mas pouco depois, tinha problemas de ignição e atrasava-se nas boxes. Amon herdou o segundo posto, mas estava sob pressão de Rindt. O austriaco passou-o e ficou na segunda posição, tentando apanhar um Beltoise que parecia inalcançável.

Contudo, na 26ª volta, Beltoise sofre um furo lento no seu Matra, atrasando-se e inevitavelmente, apanhado por Rindt, que o ultrapassa antes de ir a "coxear" para as boxes, caindo para o fundo da tabela. Mais tarde teria problemas com a pressão da gasolina e desiste.

Quando o comissário francês mostra a bandeira de xadrez, Rindt vence pela terceira vez na temporada, segunda vez consecutiva, e era um líder cada vez mais incontestado, com 27 pontos, contra os 19 pontos que tinham Brabham e Stewart. Chris Amon e Jack Brabham subiram ao pódio, enquanto que Dennis Hulme foi o quarto, Henri Pescarolo salvou a honra da Matra ficando no quinto lugar e Dan Gurney fechou os lugares pontuáveis. Seria a última vez que faria isso na sua carreira.

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