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quinta-feira, março 31, 2011

Debate sobre nuclear

Hoje, na loja de história natural, às sete e meia da tarde. henrique pereira dos santos

terça-feira, março 22, 2011

Mais tributação sobre a energia sim, mas

Num artigo do Publico pode ler-se o seguinte: "Além disso, o Governo quer proceder, em 2013, à revisão da fiscalidade que incide sobre as formas de energia, de modo a estimular “comportamentos de utilização racional de energia, incentivando a eficiência energética e a redução de emissões”.

Há anos que alguns de nós andamos a dizer que a fiscalidade sobre a energia deve aumentar de modo a induzir comportamentos virtuosos sobre os consumidores mas se esta medida não for acompanhada de uma redução equivalente na fiscalidade sobre o trabalho terá apenas como resultado transferir mais dinheiro dos agentes económicos e sociais para o Estado. Se esse for o objetivo a medida anunciada irá no bom caminho mas se o objetivo for alterar alterar comportamentos dos consumidores e das empresas, induzindo mais eficiência energética e aumento do emprego, então será necessário completar a medida com uma reforma mais profunda da fiscalidade.

Na Austrália está-se neste momento a discutir uma taxa sobre o carbono e para responder às críticas da oposição o governo já apresentou como medida paralela a redução da pressão fiscal sobre as classes mais desfavorecidas. É uma medida positiva mas insuficiente pois as taxas sobre carbono e energia não devem ser encaradas como um novo instrumento para engordar mais os bolsos do Estado mas como um instrumento de regulação que permite influenciar os investimentos e comportamentos das pessoas.

Misturar objetivos não declarados de aumento da retenção fiscal com objetivos declarados de redistribuição da forma como esta é colectada dará sempre mau resultado. Primeiro, porque gera desconfiança sobre a bondade dos argumentos da reforma e oposição à mesma, logo compromete a sua viabilidade. Segundo, porque compromete os objetivos declarados da reforma pois uma sociedade mais pobre consumirá menos energia mas não criará mais emprego e riqueza. 

segunda-feira, março 21, 2011

Potencial económico da energia solar

"Solar power potential in countries around and near to Europe. The “economic potential” is the power that could be generated in suitable places where the direct normal irradiance is more than 2000 kWh/m2/y.

The “coastal potential” is the power that could be generated within 20 m (vertical) of sea level; such power is especially promising because of the potential combination with desalination.

For comparison, the total power required to give 125 kWh per day to 1 billion people is 46 000 TWh/y (5 200 GW). 6000 TWh/y (650 GW) is 16 kWh per day per person for 1 billion people."
 
(de MacKay 2008)

domingo, março 20, 2011

Energia solar

Quem defende a aposta nas energias renováveis, defende um "mix" de soluções e não uma solução única mas não deixa de ser interessante visualizar, no mapa, a área que seria necessária cobrir de paineis fotovoltaicos, no norte de África ou Arabia Saudita, Jordão e Iraque, para abastecer a Europa de energia eléctrica (1 bilhão de pessoas com consumo médio de 125 kWh/d).

Qualquer um dos quadrados amarelos, de 600 km x 600 km, teria a capacidade de abastecer de energia a Europa. Qualquer um dos quadrados vermelhos, de 145 km x 145 km, seria suficiente para abastecer o Reino Unido. (extraído de MacKay 2008).

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Ou o Estado é muito estúpido...

... ou o muito estúpido sou eu.
Espero que seja esta a hipótese verdadeira.
O Governo, na sequência dos fogos de 2003 e 2005 embarcou numa política errada de dizer que com umas centrais de biomassa resolvia o problema da gestão de combustiveis e, consequentemente, o problema dos fogos (mais uma bateria infinda de medidas, incluindo quilos de papel em planos inúteis, financiamentos não controlados em gabinetes florestais, sapadores a esmo sem grande controlo, enfim, um monte de recursos canalizados para as câmaras municipais que não têm nem floresta, nem vocação para a gerir, como se pode confirmar mesmo na parte final deste post).
É claro que as centrais ficaram a marinar, porque os matos são essencialmente ar e água, têm um poder calorífero relativamente baixo e a sua relação peso/ volume é bastante baixa, gerando custos de transporte brutais. Não foi por falta de se saber o que iria acontecer.
Agora o Governo, para resolver o problema, aumenta o incentivo (que vai ser pago pela economia em electricidade mais cara, valha ao menos isso que é um bom incentivo à sustentabilidade) e impõe um conjunto de regras para que esse incentivo possa ser recebido.
Vamos passar por cima da trafulhice que vai ser porque o sistema anti-fraude montado é maior que a fraude em si mesma, e vamos às obrigações.
A lógica era gerir os matos das explorações florestais, é isso que justifica (embora erradamente) o preço pago pela electricidade destas centrais. Esperar-se-ia então que as obrigações dissessem respeito a mínimos de matos no mix de combustiveis.
Isso seria num país normal, não aqui:
"o plano previsto na alínea b) do número anterior deve contemplar medidas de promoção de fontes de biomassa florestal que permitam atingir, no prazo de 10 anos, 30 % do abastecimento das necessidades de biomassa florestal da central, assumidas no âmbito dos concursos, incluindo, nomeadamente:
a) Biomassa florestal residual;
b) Agrícola e agro -industrial;
c) Biomassa oriunda de resíduos; e
d) A instalação de culturas energéticas dedicadas."
A obrigação não é ter trinta por cento dos combustiveis vindo destas fontes, a obrigação é ter um plano. O plano não precisa de prever o uso de trinta por cento dos combustiveis com esta origem, só precisa que no prazo de dez anos se atinja esse número. E a obrigação não é a de usar matos, pode ser essa, ou agrícola e agro-industrial (provavelmente para incluir as águas negras), a biomassa oriunda dos resíduos (que não precisa de incentivo, é racional) e, surpresa, culturas energéticas dedicadas.
O que é isso? "culturas florestais de rápido crescimento, cuja produção e respectiva silvicultura preveja rotações inferiores ou iguais a seis anos e cuja transformação industrial seja dedicada à produção de energia eléctrica ou térmica".
Ou seja, o que se pretendia que fosse uma política de gestão de combustiveis que desse sustentabilidade económica à exploração florestal, contribuindo para a gestão do fogo, é agora um incentivo à criação de áreas de elevada combustibilidade, como são estas culturas de elevada densidade.
Confesso que gostava de saber em quanto monta este incentivo para as dez centrais que se pretenderiam fazer. No fundo, quanto se vai poduzir e quanto é o sobrecusto por kW.
É que gostava de comparar isso com o que resultaria de aplicar o mesmo montante de incentivo na produção de cabras e ovelhas.
Aposto que a área de gestão de combustiveis seria muito maior, e os bens transacionáveis teriam um valor muito maior que a suposta poupança de energia.
Às vezes foge-me o pé para a chinela ao ver estas decisões e apetece-me retomar, com uma ligeira alteração, um velho slogan anarquista do PREC: as cabras ao poder, que os maridos já lá estão.
henrique pereira dos santos

quinta-feira, dezembro 16, 2010

"Global boom in resource spending"

O título deste post é a manchete do Financial Times de ontem.
Hoje o Público resolve publicar duas páginas sobre o preço da electricidade em Portugal, essencialmente batendo nos aumentos propostos pela ERSE e na tecla dos custos de interesse geral.
Estranhamente para mim, não aparece uma linha sobre o déficit tarifário, as suas origens e as suas consequências.
O mais interessante do artigo (confuso e em alguns aspectos bastante ínvio) é para mim o boneco com que ilustro este post. Se se reparar bem não há nenhuma relação directa entre o preço da electricidade e o desempenho económico de um país.
Não só a electricidade é uma pequena parte da factura energética, como é ainda uma parte menor dos custos de produção da enorme maioria das empresas.
Como ainda, o custo elevado de um factor de produção tende a produzir mais eficiência no seu uso, pelo que a incorporação global do custo energético por unidade de valor do produto tende a ser menor nos países onde o custo desse factor de produção é mais elevado.
Há no artigo do Público um comentário da ERSE as estes aumentos que de certa forma ilustra o que estou a dizer: a ERSE estima que os aumentos de agora possam pesar cerca de um euro e meio, em média, na factura eléctrica de cada família. Mas, em média, cada família pode diminuir a sua factura eléctrica em seis euros se usar mecanismos disponíveis, como as tarifas bi-horárias. Acrescento eu: não o faz porque não quer e não quer porque a factura eléctrica pesa pouco no seu orçamento familiar.
O que me traz à verdadeira questão ambiental em Portugal, no que diz respeito à energia: é bom lutar por preços transparentes e justos, claro, mas o fundamental é lutar por preços altos da energia (já agora, eléctrica ou não).
O movimento ambiental não deve ter medo de dizer alto e bom som que os preços elevados da energia (dentro de limites, mas podemos usar como padrão, o preço da Alemanha ou da Dinamarca), num país francamente ineficiente no uso da energia, é não só um poderoso instrumento de sustentabilidade ambiental, como de eficiência económica.
É aqui que entra o título deste post.
Quem ler o artigo do Financial Times que tem o título deste post não pode deixar de se espantar por andar tante gente em Portugal a fazer campanha contra aumentos de preços na energia exactamente quando as comodities (energia, açucar, trigo, minerais, incluindo petróleo) estão sob forte pressão de subida dos preços pelo aumento do consumo dos países emergentes e porque anos a fio de baixo investimento conduziram a um desfasamento entre procura e oferta.
Sendo expectável que o aumento de investimento nestes sectores, que motiva o artigo do Financial Times, tenderá a ajustar a oferta à procura, estabilizando e baixando os preços a médio prazo, a verdade é que é bom que nos habituemos a exigir eficiência na criação de riqueza em vez de exigir dos governos preços artificialmente baixos nos factores de produção.
Claro que é uma questão de economia, mas como se diz frequentemente no discurso ambientalista (mas incomparavelmente menos na sua prática) as questões ambientais são essencialmente questões de economia (ou é vice-versa, o discurso ambiental?).
henrique pereira dos santos

quinta-feira, dezembro 09, 2010

Gosto de poder dizer bem do movimento ambientalista

Gostei de ler esta notícia, depois de tanto tempo a criticar as opções do movimento ambientalista nesta matéria.
A contestação é dirigida a quem deve ser, o Governo e não nenhuma as empresas produtoras de electricidade que operam em Portugal e a base da crítica é a opção económica (se preferirmos, a sustentabilidade global do plano de barragens), em vez de inventarem pretextos como a biodiversidade (relevante aqui e ali, mas não determinante) e a linha do Tua.
Gostei de ver esta reorientação estratégica.
Até pode perder-se esta guerra (que é difícil) mas ao menos que se perca sem cedências à demagogia e mantendo os argumentos sérios que devem ser mantidos.
henrique pereira dos santos

terça-feira, outubro 26, 2010

80 dólares (II)

Tenho usado esta barreira dos 80 dólares para minha orientação.
Acredito (é fé mesmo, fundamentação racional, zero) que andará pelo limite da competitividade da energia eólica. Confio em quem me disse isso há uns tempos, mas não sei o suficiente para saber se assim é ou não.
É claro que é um valor mais que impreciso, tanto mais que a inflação terá comido parte do valor dos 80 dólares de então, mas também as melhorias de eficiência na produção de electricidade a partir do vento terão diminuído o limite da sua competitividade, sem apoio público, face às energias fósseis.
A coisa não deve estar muito longe visto que, tanto quanto sei, nos últimos leilões para atribuição de licenças de produção eólica, o preço médio por kW das eólicas andar a par do preço médio do mercado.
Mas convém notar que este preço do petróleo existe numa altura de crise económica em várias economias importantes, e também de abrandamento no crescimento de economias como a da China.
Vale a pena olhar para a figura que publico a ilustrar este post e que é do financial times do dia 19 de Outubro, publicada a ilustrar um artigo sobre o esforço de eficiência que a China está a fazer (o objectivo é a redução em 20% da intensidade energética, isto é, a energia gasta por cada unidade produzida). Vale a pena notar o aumento previsto do consumo, mesmo que os objectivos de eficiência energética sejam atingidos.
Eu não percebo nada de economia, vou lendo aqui e ali, ouço quem sabe mais que eu do assunto e por mais cauteloso que seja não consigo ver coisa diferente disto: se o petróleo está nos 80 dólares nestas circunstâncias, qual é a perspectiva face à uma hipotética recuperação económica na Europa, USA e Japão.
É nestas alturas que me lembro de há muitos anos estar no jardim da Gulbenkian, onde, não muito longe, estava uma mulher a falar para quem a queria ouvir, preocupada porque estávamos em Outubro e ela tinha deixado passar o Verão sem tomar banho, pelo que a perspectiva era agora esperar mais um ano pelo próximo banho.
De água fria, calculo eu.
henrique pereira dos santos

terça-feira, agosto 10, 2010

New York Times e a política energética Portuguesa

Vale a pena ler o que diz o New York Times sobre a política energética em Portugal. O truque é conseguir liderar a mudança mais do que sobreviver a ela. O tempo dirá se a política actual deu os seus frutos mas é fundamental que a aposta nas energias renováveis seja de continuidade. Nada pior do que uma política de fundo ser interrompida para novas aventuras de sentido oposto. Infelizmente, em Portugal, somos pródigos em começar tudo de novo cada vez que mudam os responsáveis.

quinta-feira, julho 22, 2010

Já podemos mudar de mau da fita

A China, mesmo com um consumo per capita de um terço do da OCDE, passou a ser o maior consumidor de energia, acima portanto dos Estados Unidos.
henrique pereira dos santos

sexta-feira, julho 02, 2010

A UICN também deve estar comprada pela BP

Barcos camaroeiros na Louisiana
Li ontem no Finantial Times uma página quase inteira sobre os efeitos do derrame da BP (noutros lados li sobre outros derrames, incluindo o que se passa no delta do Níger, mas naquele caso, embora toda a indústria petrolífera que lá actua fosse criticada, a SHELL era o bombo da festa).
E o que li?
Entre outras coisas o responsável pelo programa marinho da UICN dizer isto: "The fact that we're not fishing is probably going to be more beneficial to the animals than the oil is there [and will be harmfull]".
O parágrafo seguinte confirma, através de outro conservacionista, "The fish themselves will recover, no question" agrees Kerry St. Pe, who for 25 years worked as south-east Louisiana's oil spill response co-ordinator and is now director of a conservation programme for te state's estuaries".
...
"Jerald Horst, a retired professor and author of books on the regions's fish and co-author of the Louisiana Seafood Bible, blamed environmental groups with an anti-off-shore drilling agenda for exaggerating the environmental effects of the spill. "None of the experts I know in Louisiana are making the overwrought claims", he said.
Estes três senhores näo säo a bíblia (que aliás fala mais do deserto que do mar) e podem perfeitamente estar errados.
Mas acho que têm curriculum suficiente para que se perceba que em matérias de conservaçäo, sobretudo quando à mistura estäo grandes empresas, tanto é necessária cautela em filtrar a informaçäo que vem das empresas, como é necessária cautela em embarcar nos discursos catastrofistas dos profissionais da crítica demasiado fácil.
henrique pereira dos santos

quinta-feira, julho 01, 2010

Da coerência na agenda ambiental

António Elói, com razão, manifesta-se, na lista de discussão ambio, estarrecido com esta notícia.
Poder-se-ia acrescentar também esta.
O caso não é para menos.
Para se perceber bem a pobreza franciscana da agenda energética em que o movimento ambientalista está afogado pode ler-se este post e respectivos comentários, ou então, reparar como nove associações se põem de acordo para criticar um fundo de conservação de uma empresa de produção de electricidade e, ao mesmo tempo, estão virtualmente caladas perante este valente embuste do carro eléctrico como medida ambiental, que tem como consequência colocar pressão para o aumento da produção de electricidade por parte das empresas criticadas .
Como medida de desenvolvimento industrial e tecnológico não discuto muito (tenho opinião mas fugiria das preocupações centrais deste blog) mas não tenho a menor dúvida que não é uma medida ambiental de mobilidade urbana.
Medidas ambientais de mobilidade urbana são aumentar o custo de trazer automóveis (eléctricos ou não) para as cidades e baixar o custo, melhorando o serviço, dos transportes públicos (que aliás em Lisboa são bastante razoáveis, digo que os uso bastante, embora reconhecendo que a minha opinião está condicionada pelo facto de viver no meio de Lisboa, facto pelo qual pago bastante, quer no momento da compra ou aluguer da casa, quer nos impostos que pago por viver em casas mais valorizadas).
henrique pereira dos santos

quarta-feira, junho 23, 2010

Derrames de petróleo e recuperação de sistemas

Cerca de 21 anos depois do desastre do Exxon Valdez, o balanço feito (obrigado José M. Sousa pelo link, que é um dos que eu tinha indicado como úteis para a discussão dos efeitos dos derrames de petróleo) é o seguinte:
Recovering: Recovering resources are demonstrating substantive progress toward recovery objectives, but are still adversely affected by residual impacts of the spill or are currently being exposed to lingering oil. The amount of progress and time needed to attain full recovery varies depending on the species.
Barrow's Goldeneyes
Black Oystercatchers
Clams
Designated Wilderness Areas
Harlequin Ducks
Intertidal Communities
Killer Whales
Mussels
Sea Otters
Sediments
Not Recovering: Resources that are Not Recovering continue to show little or no clear improvement from injuries stemming from the oil spill. Recovery objectives have not been met.
Pacific Herring
Pigeon Guillemots
Human Services: Human services that rely on natural resources were also injured by the oil spill and can thus be placed in one of the above categories. Because the recovery status of injured services is inextricably linked to the state of the resource on which it depends, full recovery of the spill area cannot occur until both resources and services are restored.
Commercial Fishing
Passive Use
Recreation and Tourism
Subsistence
Very Likely Recovered: While there has been limited scientific research on the recovery status of these resources in recent years, prior studies suggest that there had been substantial progress toward recovery in the decade following the spill. In addition so much time has passed since any indications of some spill injury, including exposure to oil, it is unlikely that there are any residual effects of the spill.
Cutthroat Trout
Rockfish
Subtidal Communities
Recovered: Recovery objectives have been met, and the current condition of the resource is not related to residual effects of the oil spill.
Archaeological Resources
Bald Eagles
Common Loons
Common Murres
Cormorants
Dolly Varden
Harbor Seals
Pink Salmon
River Otters
Sockeye Salmon
Recovery Unknown: For resources in the unknown category, data on life history or the extent of injury from the spill is limited. Moreover, given the length of time since the spill, it is unclear if new or further research will provide information that will help in comprehensively assessing the original injury or determining the residual effects of the spill such that a better evaluation of recovery can occur.
Kittlitz's Murrelets
Marbled Murrelets

Discutir com este tipo de informação é muito diferente de discutir como se um derrame de petróleo fosse o fim do mundo.
É um desastre, em grande parte recuperável.
Comparar os efeitos de um derrame de larga escala ao fim de vinte anos com outras ameaças ambientais (por exemplo, os efeitos do desastre de Chernobyll) é um exercício muito útil.
Adoptar o princípio do poluidor pagador também é um princípio muito saudável.
Avaliar o que resulta da assumpção de riscos razoáveis ou o que resulta de negligência é muito conveniente.
Confundir as actividades legais de empresas que produzem serviços e bens que o mercado pede com actividades ilegítimas, imorais, criminosas e etc., é simplesmente confundir a nuvem com Juno.
henrique pereira dos santos

segunda-feira, maio 17, 2010

Barão de S. João

Roubei a fotografia à Almargem
Leio no Público que terá sido ontem inaugurado o Parque Eólico de Barão de S. João.
Cruzei-me em várias ocasiões com este projecto, sempre na posição de quem tinha a responsabilidade de salvaguardar os interesses da conservação no processo de licenciamento. A primeira vez que tomei contacto com o processo já ele tinha uma longa história, com algumas asneiras evidentes por parte de conservacionistas que acham que as suas opiniões devem ser acatadas por direito divino e não por traduzirem, de forma fundamentada, o que está escrito na lei.
É um exemplo bastante bom dos projectos em que tive tantas discussões com os promotores, licenciadores e etc., que apoiavam o projecto, como com os meus colegas da conservação que entendiam que o projecto deveria ser liminarmente chumbado. Tem a particularidade desta situação ter sido ilustrada por um email tresmalhado de um dos consultores do promotor ter vindo parar inadvertidamente à minha caixa de correio pedindo a técnicos do ICNB que chumbassem o projecto, ao mesmo tempo que se assinavam estudos que diziam o contrário.
Mas não é sobre miséria moral que quero fazer um post, é mesmo sobre como foi construída a decisão.
O projecto foi inicialmente contestado liminarmente pelos conservacionistas pois localiza-se no principal corredor migratório conhecido em Portugal, o que certamente implicaria impactos muito grandes para a avifauna que usa aquele corredor.
Duas questões se levantaram contestando esta ideia base: 1) em concreto qual é a dimensão e configuração do dito corredor?; 2) outros parques eólicos já existentes no dito corredor estavam a ser monitorizados e os resultados não confirmavam a ideia de elevada mortalidade de espécies protegidas migradoras (nem de outras, diga-se em abono da verdade).
Como é costume em conservação, uma outra questão foi levantada: um casal de águia de bonnelli andaria por ali e aquele era potencial sítio de nidificação qualquer dia (é frequente quando aparece um projecto de que alguns conservacionistas não gostam para um sítio qualquer aparecer também informação de conservação que justificaria o chumbo imediato do projecto com base no princípio da precaução).
Com a pressão conhecida (e legítima) para a produção de energias renováveis, qualquer dificuldade no licenciamento deste tipo de projectos tinha como consequência eu ouvir o que Maomé não disse do toucinho (diga-se em abono da verdade, mais dos diferentes organismos do Estado e tutela política que propriamento dos promotores, de maneira geral muito mais razoáveis e racionais que os caniches de que a administração pública está cheia, sempre a abanar a cauda à voz do dono).
O resultado foi o chumbo do projecto tal como estava previsto e naquele momento, embora com reconhecimento de que a decisão poderia ser revista se a informação sobre a águia de bonelli fosse mais consistente (o princípio da decisão era de que na dúvida é preciso tratar o risco como um facto) e a informaçaõ sobre a migração fosse também mais consistente, permitindo assim discutir o risco de forma mais racional.
Como disse lá ouvi o costume (para alguns dos que me lêem neste blog pode parecer estranho, mas eu era considerado um perigoso radical conservacionista em alguns meios, ao mesmo tempo que noutros meios, o que se reconhecerá mais facilmente, um perigoso vendido aos interesses).
O projecto fica suspenso enquanto durante um ano se estuda a bonelli, mais a migração, mais se refina a informação sobre a mortalidade nos parques eólicos existentes.
Sobre a bonelli a coisa ficou mais ou menos resolvida (a espécie está em expansão na zona, não há grande notícia de afectação por infra-estruturas, os factores de ameaça são conhecidos e é, portanto, possível desenhar medidas compensatórias de modo a compensar o risco diminuindo os factores de ameaça da espécie).
Sobre a monitorização dos parques eólicos existentes confirma-se a informação de que não há grande mortalidade, a que há não é de espécies protegidas em migração e que grande parte do que se sabe indicia que um maior afastamento dos aerogeradores (deixando um sim, outro não, na proposta) resolve uma das causas de mortalidade identificada: ao detectar um aerogerador as aves desviam-se de forma brusca e vão morrer no aerogerador do lado. Mais, a monitorização, com um Estado sempre desconfiado, foi feita com duas metodologias sobrepostas, uma pelo promotor e outra pelo Estado, com a participação da SPEA, penso eu, sendo que os resultados mais favoráveis à conservação, e mais desfavoráveis para o promotor, são os do estudo do promotor.
Sobre a migração um acompanhamento aturado permite perceber que a grande maioria das aves voam a alturas que não interferem com os aerogeradores (ou dizendo melhor, os aerogeradores estão colocados a alturas que não interferem com o vôo), sendo muito reduzidas as probabilidades de interacção entre o parque eólico e a migração.
Ainda assim, o risco existe.
E chegamos ao ponto mais interessante deste projecto: a medida de minimização duríssima e complexa, que acabámos por impôr, procurando desenhá-la em todos os pormenores que permitissem a fiscalização pelo Estado do seu cumprimento. A medida não foi desenhada pela administração, foram sim definidos os seus parâmetros, de forma clara, racional e fundamentada em razões de conservação, de necessidade de transparência e capacidade de fiscalização. Foram ainda sugeridas as tecnologias com base em radar para a sua aplicação. O resto foi feito pelos consultores.
Definiu-se um perímetro na envolvente alargada do parque eólico, e impôs-se que se um número mínimo de aves de espécies definidas (foi aí que eu percebi as fragilidades do livro vermelho, ao notar que as espécies ameaçadas, que era o primeiro critério que nos pareceu lógico, incluíam espécies abundantes e vulgares, o que me levou a ir estudar por que razão eram consideradas ameaçadas, estudo esse que achei muito instrutivo, não tanto em matérias de conservação mas especialmente em matérias relacionadas com a psicologia de grupo) entrassem no perímetro os aerogeradores tivessem de ser imediatamente parados.
Caiu o Carmo e a Trindade, quer por parte do conservacionistas que desde o primeiro momento (e penso que ainda hoje) acham que o parque eólico não deveria ser autorizado naquele sítio, quer por parte dos promotores e seus "facilitadores" na administração, para quem a medida implicaria a inviabilidade do parque eólico.
Leio hoje no Público que o parque foi ontem inaugurado e inclui tecnologias portuguesas inspiradas na NASA para dar cumprimento a esta medida.
Dentro de dois anos, graças às fortes obrigações dos promotores em matéria de monitorização, teremos uma ideia se foi uma boa ou má decisão autorizar este parque eólico.
Eu não sei, sei apenas que aprendi muito em processos deste tipo, quando procurei levar a conciliação da conservação e da actividade económica ao limite do possível, especialmente quando os projectos tinham outros benefícios ambientais inquestionáveis.
E arranjei mais inimigos do que alguma vez pensei ser possível. De um lado e do outro das barricadas, como acontece a qualquer mestiço.
Mas também é verdade que para além de dormir hoje muito descansado, há uns quantos que concordando ou discordando do que digo, demonstram um respeito confortável para comigo.
Thanks a lot, para estes.
henrique pereira dos santos

sábado, maio 15, 2010

Paciência de santo

Tretas publica o gráfico acima que construiu a partir dos dados de produção de energia de origem eólica do primeiro trimestre deste ano porque na lista Ambio eu disse que tenho ouvido muitas vezes o argumento de que há mais vento à noite mas gostava de ver os números para ter uma noção do que isso significa (no eixo dos xx estão as horas, no dos yy a produção eólica).
Tretas consegue no post que faz a propósito de uma pergunta tão simples dizer meia dúzia de coisas que demonstram a necessidade de uma visita urgente ao psiquiatra para resolver os seus fantasmas:
"Na lista de correio electrónica ambio, de acesso restrito...Lá porque é restrita, não quer dizer que o Ecotretas não veja!"
A lista a que se refere o tretas é a que está referida na entrada deste blog (do qual é aliás a origem) e qualquer pessoa se pode inscrever nela. Mas o tretas quer dar a ideia de que há umas coisas que se discutem pela calada. Vindo de um pessoa que se esconde no anonimato e não permite comentários no seu blog parece apontar para a verdadeira identidade do tretas: a maluquinha de arroios.
"peguei nos dados publicamente disponíveis... e produzi o gráfico ao lado, em menos de 5 minutos"
Acontece que o tretas sabe que os dados estão disponiveis em formatos pouco fáceis de usar e que ir buscar esses dados demora muito mais que cinco minutos (o tretas faz o gráfico em cinco minutos proque noutra altura já foi buscar os dados e os tratou, calculo que bem, mas ele não explica o que fez com os dados). Pretende passar a ideia de que eu não faço o gráfico porque quero torcer a informação. Não, eu não faço o gráfico porque coligir esses dados me leva muito tempo e o seu significado é bastante restrito (uma vez mais, o tempo é muito variável e portanto seria bom ter normais climatológicas em vez de dados de períodos aleatórios e neste caso reconhecidamente anormais). Não quero dizer que o gráfico não tenha significado, quero apenas dizer que a sua produção tem para mim um custo demasiado elevado para o benefício que possa tirar dele.
"Ele mostra como no primeiro trimestre existiu sobretudo produção de energia eólica durante a madrugada, o que serviu sobretudo para exportá-la a custo zero, ou valores próximos. Quando ela era realmente necessária, o vento inconvenientemente eclipsou-se!"
É nesta frase final que o tretas mostra em todo o seu esplendor a forma como esta discussão está completamente transformada num benfica x sporting em que cada um diz o que lhe apetece, com base em meias verdades.
Note-se que o que o gráfico mostra é que há mais produção eólica num período bastante alargado, sensivelmente entre as oito da noite e as nove da manhã, com um período de produção intermédia das seis às oito da tarde e outro entre as nove e as onze da manhã. Mais ou menos do meio dia às seis há uma produção ainda apreciável mas bastante menor.
O diagrama de consumo mostra uma utilização maior entre as nove da manhã e as onze da noite. Ou seja, há um desencontro entre produção e necessidade que está longe de ser absoluto e que tem horas de sobreposição apreciáveis.
Só que o tretas aproveita para considerar todo o período de elevada produção como se fosse para exportar a custo zero, com base em três semanas de chuva anormal. Típica esperteza saloia de pegar em duas verdades e juntá-las de forma mentirosa (é verdade que o período de maior produção é de madrugada, é verdade que há alguns períodos de exportação a custo zero, é inegavelmente mentira que essa produção serviu sobretudo para exportação a custo zero ou perto disso).
Para além de ser um entusiamo pueril com a argumentação dizer que o vento se eclipsou quando era preciso, o que o gráfico desmente.
Em qualquer caso obrigado pelo gráfico que responde à minha pergunta parcialmente (preciso agora de ver se encontro normais climatológicas com intensidades horárias de vento) e fico assim com ideia da ordem de grandeza do tal problema da produção eólica nocturna.
Ideia essa que me deixa bem mais descansado. Pensei que a situação fosse mais acentuada. E não é o facto do tretas começar o gráfico cá em cima (em vez do zero no eixo dos yy) para graficamente parecer que se passa do simples para o dobro que me vai deixar preocupado. Parece-me que com uma produção de 85% do pior período horário face ao melhor período de produção é completamente ridículo o argumento que tem sido usado (que a produção é para exportar a preço zero e quando é preciso não há produção eólica).
Tretas, aqui procura-se informação e não impôr uma agenda, como no teu blog.
Adenda Aqui fica o gráfico começando no zero de produção e não nos 95000 como faz o excel automaticamente. Os meus valores são aproximados e por leitura do gráfico do tretas, pode haver pequenas discrepâncias.

henrique pereira dos santos

segunda-feira, maio 03, 2010

Números e contas

Continuando a explicar ao tretas (um anónimo que tem o desplante de no seu blog, onde não se admitem comentários, insinuar que o que eu escrevo e assino é feito por outros) mas sobretudo aos que possam fazer uma leitura apressada de números, a diferença entre produzir números e descrever realidades recorrendo a números.
Diz o tretas que como não contestei nenhum dos números que apresentou (em rigor contestei um porque escrevi asneiras) quer isso dizer que tem toda a razão quando diz que dois terços da energia potencial de Alqueva foi por água abaixo e poderia ter sido aproveitada energeticamente.
Como se vê nos gráficos deste post, em seis dias de Janeiro e 27 dias do meio de Fevereiro a meio de Março Alqueva esteja a fazer descargas não turbinadas. Diz o tretas que isso se deve ao facto de terem andando a fazer bombagens antes para a fotografia. Se não fosse assim poder-se-ia ter armazenado a água que caiu e turbinar mais tarde.
O tretas esquece-se que a função de alqueva é armazenar água para rega, portanto, e bem, a sua gestão visa garantir o máximo de aprovisionamento no fim da época das chuvas, tanto mais que nunca se sabe quando virão anos de seca.
O que aconteceu este ano é que alqueva estava cheia desde o princípio de Janeiro, em consequência de um ano anormalmente húmido.
Nos tais seis dias de Janeiro os caudais afluentes ultrapassaram a capacidade de turbinagem dos dois grupos de alqueva sempre, e a central funcionou quase sempre acima dos 90%.
No dia 15 de Janeiro, um desses dias, o gráfico do preço marginal horário (espero não estar a dizer nenhuma asneira) era este:

Portugal esteve a exportar quase sempre, a preço zero as primeiras horas do dia, a um preço médio grande parte do dia, e a um preço catita durante três horas.
Mas no fim de Fevereiro, a meio do período das descargas, o gráfico já era este:

Nesse dia 28 de Fevereiro (e durante uns dias a coisa andava igual), um Domingo, a produção continua elevada (praticamente no máximo para a grande hídrica, com excepção de três ou quatro barragens).

O tretas dirá que se não houvesse também produção de eólicas deixava de haver o excesso que leva ao preço marginal zero. E que se não houvesse bombaem havia capacidade de encaixe na albufeira.

Realmente em parte isto é verdade, se naquele momento parassem as eólicas não havia tanto excesso de produção. Mas também não havia mais produção hídrica que já estava quase no máximo. Deixemos de lado o facto deste argumento ser também válido para todas as outras formas de energia e verifiquemos se é razoável admitir que esta é uma situação frequente em Alqueva.

Caudais acima de 2000m3/s em Alqueva são claramente excepcionais (não chegam à cheia milenar, suponho, mas são claramente excepcionais. E portanto a albufeira, que tem como função principal armazenar água para rega, não pode ser mantida a cotas muito baixas à espera de poder encaixar caudais destes: praticamente durante três semanas o caudal afluente esteve acima dos 1000 m3/s, quando no Verão anda pelos 5 a 10m3/s muitos dias. Repare-se que só as descargas que foram feitas correspondem a um valor próximo do volume útil da albufeira, o que demonstra que o a albufeira estava vazia ou nunca haveria capacidade de encaixe para os caudais afluentes.

O que evidentemente quer dizer que nunca seria possível aproveitar para a produção de electricidade estas descargas, com ou sem renováveis a trabalhar.

Sendo que, na hipótese de não haver eólicas, esta água continuaria a não ser turbinada e no resto do ano (e em todo o ano em muitos outros em que não se verificam estas condições excepcionais), alqueva tem caudais ridículos e, consequentemente, uma capacidade de produção muitíssimo limitada.

Refaremos as contas com um trimestre seco lá mais para diante, se valer a pena.

Os números do tretas até podem estar certos (não os verifiquei todos), não querem é dizer nada.

henrique pereira dos santos

domingo, maio 02, 2010

Contas, linguagem e realidade

Passo o tempo a mudar de ideias.
Achei que não respondia mais ao tretas mas a ideia que existe na cabeça de eventuais leitores de quem faz contas sabe e quem não faz não sabe leva-me a retomar a discussão sobre as enormidades que o tretas resolveu inventar com base em contas absurdas e sem nexo.
E leva-me a retomar a discussão porque é um excelente exemplo igual a muitos outros de manipulação de números sem significado, uma das técnicas mais usadas para distorcer a realidade quando os objectivos são arrebanhar prosélitos e não pensar sobre a realidade.
É o que tem feito uma boa parte dos negacionistas climáticos (como mais ou menos sofisticação), é o que têm feito os impulsionadores do manifesto por uma nova energia (não confundir com alguns dos seus subscritores enganados pela sua boa fé e fascínio por números que não analisaram e com que não estão familiarizados) e por isso vale a pena desmontar este exemplo evidente de manipulação sem pés na cabeça, mas aparentemente muito credível por estar cheio de números, contas e gráficos.
Convém lembrar que os números, como as palavras, os sons, as imagens, são apenas uma linguagem e como qualquer linguagem tanto servem para dizer asneiras como coisas de génio. A estúpida frase de que os números não enganam pretende negar este facto mas é apenas uma demonstração de como com palavras certas se podem dizer coisas erradas. Como com qualquer linguagem.
Recordemos o argumento do tretas:
"Segundo os dados da REN, durante o primeiro trimestre de 2010 foram gastos em bombagem no Alqueva, 33.995 GWh. No mesmo período, foram efectuadas descargas de 2769.83 hm3. Estes valores são um grande avanço sobre os dados que havia aqui relatado a 27 de Fevereiro. Para que o HPS tenha uma noção destes números, as descargas representam dois terços (2769.83/4150 => 66.743%) da capacidade de armazenamento total do Alqueva! E os 33.995 GWh gastos em bombagem dão para abastecer energia suficiente para 11300 famílias durante um ano completo, o equivalente a quase 4 meses e meio de produção da central solar da Amareleja!Quanta energia potencial se perdeu dá uma conta ainda maior! É que enquanto esteve a bombar, o Alqueva não esteve a turbinar! Portanto, para além dos 34GWh perdidos em bombagem, o Alqueva podia ter estado verdadeiramente a produzir energia!!! Quanta energia se poderia ter produzido com 2769.83 hm3 é uma conta apenas um pouquinho mais complexa. Cada um dos dois grupos do Alqueva turbina 200m3/s, pelo que o valor dos 2769.83 hm3 daria para turbinar mais de 80 dias sem parar! Como o Alqueva consegue produzir mais de 5500MWh num único dia (ver dados de eg. 3 de Março de 2010), perderam-se 440.8 GWh pelo rio abaixo!!! Somando este valor ao do desperdício de bombagem, a energia potencial perdida é de cerca de 5 anos de produção da central solar da Amareleja... Mas o HPS pode argumentar que nem toda a energia potencial seria aproveitada, porque não há tantos dias num trimestre. Resumindo, o valor real mais concreto é de um desperdício de produção de cerca de 200 GWh (entre o máximo teórico para o trimestre e o efectivamente produzido no primeiro trimestre), a que se deve somar os tais 34 GWh desperdiçados na bombagem. Ora isso dá para quase dois dias de consumo de energia eléctrica em Portugal!"
A quantidade de asneiras é assombrosa e por isso vou precisar de algum espaço para as desmontar.
Socorro-me de alguns gráficos com comentários para facilitar.

Neste gráfico vemos como as descargas (a encarnado) não coincidem com a bombagem, como é evidente para quem partir do princípio de que as coisas feitas pelos outros se baseiam em decisões tão razoáveis como as nossas.
A bombagem é uma operação de optimização económica da exploração de barragens, não é uma operação de optimização da produção de energia (a segunda lei da termodinâmica explica por que razão há sempre perdas entre cada transformação energética. A quantidade de energia produzida na turbinagem é sempre menor que a energia necessária para elevar a quantidade de água a turbinar, pelo que a racionalidade desta operação é apenas económica: se o preço de cada unidade de energia for suficientemente diferente, pode compensar gastar mais energia a baixo custo para produzir energia de elevado valor).
Essa é a razão pela qual a racionalidade da bombagem não se mede em médias trimestrais mas hora a hora, nas condições concretas do mercado em cada dia do ano. E o que este gráfico mostra é o que é razoável: ninguém faz bombagem quando está a despejar água em descargas não turbinadas.
No fundo é o que este gráfico traduz, ao comparar a percentagem de utilização das turbinas de alqueva (a encarnado) com a bombagem. E o que vemos é que se as turbinas estão a ser usadas em percentagens elevadas, não há bombagem.

Neste gráfico, que relaciona a produção (a azul) com as descargas (a encarnado), o que verificamos é que as descargas apenas ocorrem porque não há mais capacidade de produção. Nessa circunstâncias, uma de duas coisas acontecem: ou se armazena, quando há capacidade para isso, ou se descarrega quando a albufeira já não tem mais capacidade de encaixe (que era o que acontecia em Alqueva desde o princípio do ano).

É o que está expresso neste gráfico, onde vemos um primeiro aumento de caudal (a verde) no início do ano, que não se traduz em nenhuma descarga (a encarnado) mas sim no aumento de percentagem de armazenamento na albufeira (a azul), mas a partir daí é evidente que havendo aumentos de caudal muito importantes é forçoso haver descargas. Para se ter uma ideia, convém ter a noção de que os caudais mínimos neste trimestre foram da ordem dos 30 m3/s, o mais vulgares na ordem dos 60 a 70m3/s e o caudal máximo passou dos 2000 m3/s. No Verão o caudal pode andar no 5 m3/s com frequência. A capacidade de turbinagem máxima em Alqueva é de 400 m3/s.

Para discutir a política energética e a racionalidade económica dos investimentos convém ter uma ideia da probabilidade de ocorrerem estes níveis de caudais afluentes (ou seja, com que clima lidamos) e não faz o menor sentido usar situações pontuais (isto é, condições meteorológicas concretas) para retirar conclusões gerais.

Ou seja, pretender que as descargas de Alqueva se devem ao excesso de eólicas e bombagens e não ao caudal afluente deste ano, e pretender com base em valores totais do trimestre que é lógico preparar Alqueva para turbinar 2000m3/ s (caudal que acontece em alguns poucos dias de alguns anos) tendo-se desperdiçado neste trimstre dois terços da energia disponível em Alqueva, pode ser embrulhado nas contas mais sofisticadas que se quiser que continua a ser uma estupidez tão grande como quando não se embrulha essa argumentação num único número.

Adenda: nem tinha reparado, mas uma asneira dita com muita convicção tem muita força. O tretas compara caudais (isto é, fluxos, ou volumes por unidade de tempo) com volumes para concluir que as descargas são dois terços da capacidade de alqueva. Só que para obter volumes teria sido necessário ao tretas verificar que precisava de multiplicar o caudal pelo número de segundos em que ocorre.

Adenda 2: a soma de caudais que o tretas faz para medir a energia desperdiçada em Alqueva é um excelente exemplo de operação aritmeticamente mas certa sem o menor significado físico. Se eu quiser encher a minha banheira e tiver duas torneiras abertas a debitar 2litros por segundo (se quiserem podem pôr 2m3, o que serão 2 mil litros) eu posso somar os caudais e dizer que a banheira está a ser cheia a 4 litros por segundo, porque as duas torneiras estão abertas ao mesmo tempo. No entanto se a banheira for enorme e eu tiver dois dias com uma torneira aberta, e souber que em cada dia o caudal foi de dois litros por segundo, não posso somar o caudal dos dois dias e dizer que a banheira nesses dois dias foi cheia a 4 litros por segundo, já que na verdade ela foi cheia durante dois dias a 2 litros por segundo. Se é verdade que o volume duplicou, também é verdade que o tempo que demorou a passar também duplicou e portanto o volume sobre o tempo manteve-se o mesmo.

Chegados a este ponto fico sempre na dúvida sobre se estamos perante uma ignorância do tamanho do mundo (eu já fiz muitos erros básicos deste tipo pela vida fora e tenciono fazer mais alguns) ou se é mesmo má-fé. Eu inclino-me para a ignorância: não só tenho uma opinião de princípio favorável às pessoas, como a má-fé tinha de vir associada a uma estupidez enorme para se acreditar que a asneira passava sem que ninguém reparasse.

Adenda 3: o tretas protestou com as duas adendas anteriores e tem razão, a asneira foi minha. Por qualquer razão pensei pensei que as descargas tivessem apresentadas em caudais e na verdade estão em volume hm3. Por isso não se aplicam as adendas. Aplica-se só o post.

henrique pereira dos santos

quinta-feira, abril 29, 2010

Por interposta pessoa

Dizem-me que o tretas tem invadido caixas de correio alheias com mails sobre a nossa troca de argumentos em matéria de custos de produção de energia.
Acontece que verifico que tretas não quer ouvir, nem quer explicar para que servem algumas contas que faz, das quais tira conclusões estapafúrdias como a da energia perdida de Alqueva.
Acaba aqui a minha discussão sobre o assunto com o tretas: é que eu acho que direito à asneira é sagrado (máxima que o professor Osório praticava e explicitava vezes sem fim) mas eu não tenho de participar nos rituais.
E termino transcrevendo um mail que me chegou à caixa de correio.
"Confesso que tenho dificuldade de entender qual a relevância do valor da energia perdida pelas comportas do Alqueva. Essa energia seria sempre perdida, independentemente de haver renováveis ou não. O Alqueva terá estado naturalmente a turbinar à potência máxima durante todo o período de excesso de caudal (suponho eu) sem bombar. Não faria qualquer sentido ... bombar energia para abrir comportas em vez de utilizar esse caudal em excesso. Alterar os ciclos só desgasta as máquinas e nem todas as horas do vazio tiveram custo zero. Seria economicamente mais interessante turbinar a preço ligeiramente superior a zero com água que seria desperdiçada, do que bombar energia a preço muito barato, mas com algum custo, quando em ponta existe água em excesso a preço zero. Ligar a bombagem ao aumento das descargas é passar um atestado de irracionalidade aos algoritmos de despacho.
Em boa verdade, só se poderia ter evitado esse desperdício que referem com mais potência em Alqueva. Mesmo que não existisse um único MW de eólica em todo o país.
Veja-se o dia 26 de Fevereiro ou outros em que se verificaram descargas em Alqueva. Nesse dia não houve qualquer bombagem e Alqueva funcionou a 87%, próximo do máximo.
A bombagem verificada no período ocorreu em dias sem descarga aproveitando energia muito barata e colocando-a em horas de ponta onde tinha valor económico, evitando o desperdício de energia e a sua exportação a preços muito baixos.
A bombagem evitou que desperdiçássemos energia no vazio e não o contrário conforme referido.
Os investimentos em termos de potência para efeitos de bombagem, estão também a criar maior capacidade de aproveitar o caudal em períodos extremos de hidraulicidade. E com racionalidade económica.
A dedução lógica deveria ser: devíamos ter mais bombagem!
Mas atenção que em termos económicos não faz sentido aproveitar esta água em excesso. Não podemos dimensionar as nossas barragens e as suas potências para a cheia milenar. O investimento ficaria lá à espera e só seria aproveitado de 1000 em 1000 anos. A descarga e o desperdício em anos atípicos de hidraulicidade é uma inevitabilidade. Não tem a ver com excesso de energia no sistema, mas com excesso de caudal para as condutas e turbinas instaladas e de volume para os reservatórios existentes.
Confesso que não percebo o raciocínio deturpado e irracional destas almas.
Há certas “tretas” sem relevância que às vezes não merecem que se lhes dê muita importância."

Simples e claro.
henrique pereira dos santos

terça-feira, abril 27, 2010

Pois canté!

Devo estar muito velho.
A enorme maioria das pessoas que conheço e que sabem o significado da expressão que uso no título do post conhecem-na apenas do excelente disco do Grupo de Acção Cultural Vozes na Luta, um dos melhores disco de música portuguesa que conheço (podem dar aqui um salto, sobretudo os mais novos). Entretanto uma notícia de ontem diz que os discos vão ser reeditados em CD. Um grande abraço a quem o fizer, só num país de tontos seria possível estes discos ficarem eternamente proscritos da rádio.
Mas de facto eu ainda ouvi usar a expressão em conversas correntes, da mesma forma que ainda conheci bastante gente que distinguia o ch do x apesar de serem analfabetos que nunca aprenderam a ler nada (Intchada morreu a tua avó, respondiam, quando um urbanita resolvia dizer entchada por ouvir dizer satchola). Hoje penso que já é difícil ouvir usar pois canté e distinguir na fala o ch do x.
Ouço com alguma frequência o dito disco, que me fez lembrar a história da água de Alqueva que o Ecotretas conta para justificar a irracionalidade da bombagem nas barragens.
Foi quando o José Mário Branco, num evidente tom de troça, mas sempre com a qualidade inultrapassável que o caracteriza, canta (a partir de certa altura ajudado pelo coro):
"tanta propaganda na telefonia
a falar da grande crise da energia
com tanto desempregado quem diria
fala o aldrabão
e ri-se o patrão
isto inté que há-de mudar um dia
pois canté!"
Não que eu esteja a chamar aldrabão ao Ecotretas (hesitei em transcrever essa parte) mas pelo mesma lógica de raciocínio do GAC em 1975: como pode haver crise de energia se há tanto desempregado. Ou na versão moderna, para quê fazer eólicas se a água de Alqueva é despejada sem ser turbinada.
Diz o Ecotretas que dois terços da água de Alqueva foi desperdiçada (ver aqui).
Comecemos por uns dados simples:
no primeiro trimestre de 2010 a energia usada em bombagem em barragens foi de 94 GWh. Acontece que no mesmo período de 2009 foram usados 148GWh, isto é, bastante mais. Nos mesmos períodos a energia eólica produzida foi de 2,8 TWh em 2010 e 1,7 TWh em 2009. Ou seja, apesar de uma produção eólica muito maior, houve muito menos bombagem no primeiro trimestre de 2010 em relação a 2009.
Poder-se-á argumentar que isso se deve ao facto das albufeiras estarem cheias e por isso não ser razoável bombar, o que justificaria a exportação a preço zero da energia produzida a mais, que o distribuidor está obrigado a comprar aos produtores eólicos mesmo que não tenha mercado para essa energia. Mas o que não se pode dizer é que a bombagem é feita porque há eólica a mais, porque parece evidente a falta de nexo de causalidade entre a produção eólica e a necessidade de bombagem (a fantástica teoria de Pinto de Sá sobre a coincidência entre chuva e vento está mais relacionado com bobagens que com bombagens).
Em qualquer caso parece-me fantasioso argumentar com a energia potencial não turbinada em Alqueva porque todos sabemos que ninguém dimensiona os equipamentos para turbinar caudais que são excepcionalmente elevados, seria completamente irracional porque implicaria usar essa potência num número ínfimo de dias, sendo pois impossível de obter retorno para o investimento.
A lógica da turbinagem não tem nada com a dimensão física da energia produzida (não vale a pena discutir em Wh) mas sim com a dimensão económica da coisa (ou seja, só faz sentido discutir em euros).
Comprar energia barata em horas de vazio para produzir menos energia, mas nas horas de maior consumo, faz sentido se o aumento de preço compensar a diminuição da quantidade física.
Parece-me um conceito rudimentar o mercado da energia que até um ignorante como eu é capaz de perceber e explicar.
É por isso que não entendo por que razão o Ecotretas, sempre preocupado com a dimensão económica do mercado da energia (e bem) de repente resolve discutir esta questão evitando discutir a sua racionalidade económica.
Parece o actual governo a discutir as renováveis apenas nos aspectos físicos ou na diminuição das importações, esquecendo-se de discutir os aspectos económicos associados aos preços, a uma política incompreensível de intervenção administrativa no preço e esquecendo a coluna dos custos em que incorremos para ter a poupança que é referida como um bem em si.
Eu, que não tenho biblioteca, continuo convencido de que ganhávamos todos em introduzir racionalidade na discussão em vez de querermos esmagar o adversário para facilitar a dominância deste ou daquele modelo de produção de electricidade.
Entre outras razões porque o problema da electricidade é um problema relativamente menor na política energética do país.
Adenda: a bombagem, ao repôr energia potencial no sistema a partir das horas de vazio, permite que a potência instalada para responder aos picos possa ser menor, aspecto que não sei se será despiciendo do ponto de vista económico e ambiental
henrique pereira dos santos

sexta-feira, abril 23, 2010

Tretas


Ecotretas, nos comentários a este post, traz dois argumentos para a discussão da racionalidade da produção de electricidade (que é uma pequena parte da discussão da política energética).
O primeiro argumento pode ser visto aqui e no essencial diz que a venda de electricidade a Espanha a custo zero não é pontual, mas pelo contrário, é frequente. Para o fundamentar apresenta quatro dias seguidos em que isso aconteceu: 3, 4, 5 e 6 de Abril.
Essse argumento merece alguns comentários:
O primeiro é o que de estamos ainda a falar de situações pontuais, continuo a não ver uma avaliação concreta e alargada de quantas horas e, sobretudo, que custo tem esta situação para o sistema eléctrico;
O segundo é a afirmação de que isso resulta do facto de não se poder parar as eólicas (que mantêm o preço de entrega na rede mesmo nestas circunstâncias), quando na verdade isso resulta também da produção base térmica e hidraulica. A primeira não pode ser desligada, a segunda pode, quando o caudal dos rios o permite, o que não tem acontecido este ano, excepcionalmente;
O terceiro resulta do que é dito no anterior sobre a produção hídrica: o que se está a verificar não pode ser avaliado apenas num ano excepcionalmente húmido em que as albufeiras estão muito acima da média do seu enchimento, mas no conjunto dos anos onde habitualmente há capacidade de encaixe que este ano, excepcionalmente, repito, existe apenas de forma muito limitada;
O quarto é que a análise que é feita não é uma análise económica séria, porque omite o facto de que quaisquer que sejam as fontes de energia usadas, é precisa uma capacidade instalada muito superior às necessidades de consumo das horas de vazio (que é quando ocorrem estas entragas de energia a preço zero, valendo a pena lembrar que o camarada tretas escolhe um fim de semana para fazer a análise), pelo que em quaisquer fontes de energia há custos associados à não produção de energia, que podem ser integrados na tarifa paga (como acontece nas outras fontes de energia) ou podem ser pagos com garantia de compra (como acontece nos eólicos). O que não há, seguramente, é almoços de borla, portanto é preciso, para todas as fontes de energia, ser claro na contabilidade;
O quinto, e mais relevante, é que não é feito o balanço de perdas e ganhos, porque seria preciso saber que custos teríamos nós para comprar ou produzir energia em horas de cheio, para perceber em concreto quanto é o sobrecusto das renováveis e se isso é aceitável.
Ora nada disso tem vindo a ser feito, tem-se apenas brandido o fantasma das horas que são pagas às eólicas e oferecidas aos espanhóis (e não estou aqui a falar no facto da península energeticamente ser uma ilha, e não uma península, porque a França e os seus problemas decorrentes da falta de flexibilidade do seu nuclear, nos impedir de ter um mercado de elctricidade bem mais aberto e dinâmico, tanto quanto me parece mas percebo pouco do assunto).
Contas gerais em vez de factos pontuais ajudariam bastante.
O segundo argumento é o de que se está a bombar para depois abrir comportas em Alqueva.
É um argumento ainda mais extraordinário que pressupõe que as barragens deveriam ser equipadas com potências preparadas para turbinar caudais com períodos de retorno alargados, como são os que actualmente enchem Alqueva. E esquece na bombagem a questão não é bem de energia (o que se produz bombando é sempre muito menos que o que se gasta a bombar) mas de economia (compra-se a preço de vazio para bombar, vende-se a preço de cheio, e a diferença de preço por unidade compensa largamente o défice energético negativo). Ou seja, este argumento, se analisado do ponto de vista económico, é totalmente diferente do que parece se analisado do ponto de vista da energia material envolvida.
E os argumentistas sabem disso muito bem.
A primeira pergunta é pois a seguinte: por que razão nuns argumentos usam unidades físicas (energia gasta e consumida) e noutros argumentos usam unidades económicas (custos e proveitos)?
A segunda pergunta é ainda a seguinte: por que razão se extrapolam conclusões gerais de dias particulares em vez de analisar os dados gerais?
henrique pereira dos santos