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Sunday, July 07, 2024

O PRINCÍPIO DA INCERTEZA

Vale muito a pena ir até lá.
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Ainda que me pareça um tanto forçado meter o Princípio da Incerteza de Heisensberg neste drama quotidiano.
 
Já me parece pertinente recordar, a propósito das eleições de hoje em França, o princípio de grande incerteza, no sentido de início de uma era de grande incerteza na França, na Europa, e, muito provavelmente no mundo já tão incerto.*
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* Escrito ainda sem conhecimento dos resultados que a esta hora. 21:15, estão a ser avançados a partir de sondagens à boca das urnas e que atribuem o melhor resultado para a Frente de Esquerda, relegando a União Nacional para a terceira posição. Macron verá a sua capacidade de intervenção muito reduzida, reforçando-se o poder do parlamento.  
 
 
 
por cento e vinte cinco mil milhões de euros

Monday, December 18, 2023

TEMPESTADE AINDA

 

TEMPESTADE AINDA

TEATRO ABERTO 

"Tudo se passa na paisagem montanhosa de Caríntia, na Áustria meridional, na região dominada pela língua alemã onde o escritor nasceu, em dezembro de 1942, e no tempo em que nasceu, em pleno conflito mundial, sob domínio das forças de Hitler. Handke toma por referência a família, vinda da minoria eslovena – os avós maternos, a mãe e os irmãos desta -, convoca-os, entre realidade e ficção, entre figuras reais e imaginadas, para que falem da opressão nazi e dessa verdade.
A proibição de falarem a língua materna, o esloveno, a obrigação de os homens partirem para a guerra em defesa da Alemanha de Hitler, e a resistência à anexação nazi ocorrida em 1938, feita a partir das montanhas pelas brigadas de ‘partisans’, estabelecem a ação de cada um dos cinco atos da tragédia.
“Tempestade ainda” é “uma tempestade contra a história, contra a história como ideia de progresso”, disse Peter Handke ao jornal Die Zeit, em novembro de 2010, quando concluiu a obra.
Ao misturar factos com recordações e ficção, o escritor, que foi Prémio Nobel da Literatura em 2019, homenageia os seus ascendentes, carregando para o palco acontecimentos que foram esquecidos ou ofuscados pelos livros de História, como afirmou à Lusa o encenador João Lourenço, no final de um ensaio de imprensa de “Tempestade ainda”.
Publicada em setembro de 2010 e estreada em agosto do ano seguinte, no Festival de Salzburgo, a peça põe em palco duas famílias: uma eslovena que colabora com os alemães e outra que se opõe a eles.
Em “Tempestade ainda”, dois irmãos da mãe de Handke, o cronista da peça, partem para a guerra com uniforme nazi e morrem na frente, enquanto ela engravida de um alemão, com quem depois vem a casar e que adota o autor. Na ficção, outros dois irmãos juntam-se à resistência.
Para João Lourenço, Peter Handke mostra todo o seu amor pela controvérsia vivida na região da Caríntia pelos seus habitantes, que foram “os únicos austríacos a revoltarem-se contra o Terceiro Reich”.
A atitude britânica, assente no modelo do imperialismo inglês, também não passa incólume. Quando as tropas aliadas chegaram à região, na última fase do conflito, os britânicos “portaram-se pior do que nas suas ex-colónias”, escreve o autor.
O título “Tempestade ainda” (“Immer noch Sturm”, no original) tem origem na didascália (indicação) “Storm still” usada por Shakespeare na abertura da segunda cena do terceiro ato de “Rei Lear”, uma peça de que Handke traduziu sequências para a produção do encenador e realizador suíço Luc Bondy, estreada em Viena em 2007.
João Lourenço e Vera San Payo de Lemos, responsável pela dramaturgia de “Tempestade ainda”, queriam fazer uma peça do escritor austríaco, assumir o desafio que mostrasse “a beleza e poesia da linguagem de Handke, a história dele e por que motivo vai às origens”.
“Éramos para fazer isto há dois ou três anos e acabámos por não fazer. E hoje, infelizmente, com todas as guerras, a Segunda Guerra Mundial torna-se muito atual”, fundamentou o encenador.
Para João Lourenço trata-se de um “reencontro feliz” com um autor cuja escrita e produção para cinema foi acompanhando sempre, mas no qual não voltou a tocar desde que, em 1972, encenado por Fernando Gusmão, interpretara “Insulto ao público”, com Rui Mendes, Irene Cruz, José Morais e Castro e José Messias. Foi no antigo Grupo 4, companhia que viria a estar na base do Novo Grupo – Teatro Aberto, em 1982.
Ao ler esta tragédia – que Peter Handke configura em tragédia, onde não faltam sequer os clássicos cinco atos deste género dramático –, João Lourenço resolveu voltar ao autor que, ao longo de toda a obra, tem abordado a figura da mãe.
“A mãe de Handke, uma atriz amadora da Caríntia, está em toda a obra do escritor, assim como vai estar no palco, pois ele convoca-a ao longo da peça, dialogando sempre com ela, incluindo quando ela ainda o traz na barriga”, sublinhou o encenador.
A cadeia de acontecimentos associados ao passado de Handke surge em obras iniciais, como “Wunschloses Unglück” (“Infortúnio indesejável”, em tradução livre), de 1972, em que aborda o suicídio da mãe, ocorrido no ano anterior.
Em 1986, retomou a história da família em “A Repetição” (título da edição brasileira), ligando-a pela primeira vez ao movimento de resistência eslovena, no sul da Áustria, “drama real” que retoma em 1997, em “Zurüstungen für die Unsterblichkeit” (“Ligações à imortalidade”, em tradução livre) e em “A noite do Morava”, de 2008, romance publicado há dois anos em Portugal pela Relógio d’Água, passado num cenário posterior a uma imaginada nova guerra mundial.
“A minha mãe sempre me falou muito sobre os mortos, sobre os irmãos que ela amava e que morreram na guerra”, disse Handke ao jornal Die Zeit, na entrevista de novembro de 2010. “A vida dos mortos sempre me absorveu. O meu primeiro romance, ‘Die Hornissen’ [“As vespas”, em tradução livre], é baseado numa história que ela me contou.”
A crítica internacional vê na abordagem das origens eslovenas de Handke, e na experiência de guerra da família, uma ligação às suas posições controversas e contestadas sobre os Balcãs e a desintegração da antiga Jugoslávia.
“Talvez possam ser vagamente explicadas, se não perdoadas, como parte da necessidade de Handke de ser inconveniente e errado, aquele impulso de descobrir o ninho de vespas e de ser picado”, escreveu o autor irlandês Hugo Hamilton, no jornal britânico The Guardian, quando da atribuição do Nobel da Literatura ao escritor austríaco, em 2019.
“Tempestade ainda” tem versão dramatúrgica de João Lourenço e Vera San Payo de Lemos, que também são responsáveis pela encenação e dramaturgia, respetivamente."

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Sunday, September 24, 2023

UM HOMEM INOFENSIVO


UM HOMEM INOFENSIVO

"Renato acorda a meio da noite e sente a presença de um estranho em casa. O estranho é Rui, um homem que diz ter entrado apenas para sentir o silêncio da casa. Renato procura decifrar os verdadeiros motivos da vinda de Rui a sua casa. Não pode ter aparecido só para conviver com o silêncio, pois o que tem o silêncio de tão especial?"

Um texto que nos confronta com as contradições dos valores morais.
A inveja, é condenável?
E a vingança?
E etc.?

UM HOMEM INOFENSIVO é um espectáculo motivante. 

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Monday, April 17, 2023

O FILHO


O FILHO, de Florian Zeller,

(também autor, entre outras obras, de O PAI), no Teatro Aberto, é uma reflexão sobre a situação extrema a que conduzem os conflitos de "os meus direitos".

- Não tenho direito à minha felicidade?

- Tens. E eu não tenho?

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Sunday, October 30, 2022

CASA CHEIA EM DIA DA ESTREIA

 

- Está cheia a sala;

- Chegámos mesmo na melhor altura, disseram-nos na bilheteira; de quatro desistências, à  última hora nos quatro melhores lugares.  

- É tão raro entrar numa sala de teatro, já não digo cheia, mas composta ... Gosto mais de um teatro  quando vejo a sala cheia.

- Também eu. 

- Mas, reparem, em quem vem a entrar ... é o ...

- Pois é. Este aqui em frente... é o ... aquele ali na primeira fila, estás a ver?

- É o ...

- Hum! a sala está cheia de gente conhecida. 

- Que não nos conhece!

- Quem terão sido os ilustres convidados ausentes que nos proporcionaram estes lugares?

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Mais um bom espectáculo do Teatro Aberto.  ****

 

Saturday, April 30, 2022

OS FILHOS

 


No Teatro Aberto

The Children, de Lucy Kirkwood, estreou em Londres em 2016 e na Broadway  em 2017.
A explosão da central nuclear de Fukushima serviu de inspiração para esta metáfora dos comportamentos no perímetro radioactivo.

Se a dramaturga britânica escrevesse hoje, quando os dias se ensombram com a ameaça de uma guerra nuclear, que muito provavelmente, seria a última, o enredo seria outro.
 
Se explosão de uma central nuclear tem consequências aterrorizadoras, os bombardeamentos de  Nagazaki e Hiroshima foram uma amostra das consequências arrasadoras de uma eventual guerra nuclear global.

Friday, April 15, 2022

EUNICE

 

Eunice partiu, não disse para onde.
Talvez porque não soubesse ou não tivesse a certeza.
Não disse, nem precisava dizer porque ficou connosco, com aqueles que tiveram o privilégio de a ver em palco e de sentir as emoções que de forma tão sublime nos transmitia. 
Obrigado Eunice!

O Teatro não morreu com a morte de Eunice porque o teatro é imorredouro, mas transfigura-se com o tempo e perde público solicitado por outros meios mais apelativos às exigências das medianias.
Mas já não é, nunca mais será a arte maior de comunhão íntima de emoções de que Eunice foi, entre nós, a mais esplendorosa e incomparável intérprete.
 
 Correl. - Eunice


Wednesday, February 19, 2020

O RAPTO (FRUSTRADO) DE NETO DE MOURA


Tiago Rodrigues foi Prémio Pessoa em 2019.

Não é um desconhecido, não é, certamente, um imaturo irresponsável.
Ontem ouvi J M Júdice, no seu espaço televisivo da Sic Notícias, acoimá-lo "grunho", o mesmo é dizer porco, grosseiro, colocando-o no mesmo o patamar de"grunhice"daqueles que no estádio de Guimarães no fim-de-semana se afirmaram racistas num jogo de futebol em que participava pelo menos um jogador (Marega) não branco, que, reagindo aos insultos, saiu do campo.

E porquê?
Porque Tiago Rodrigues escreveu um texto satírico para ser levado à cena no D. Maria II anunciado no site do teatro nacional como "O Rapto de Neto de Moura".
O sindicato dos juízes considerou que o texto era bullying, e o encenador recuou. Agora será "Catarina e a Beleza de Matar Fascistas"
O acontecimento vem contado, p.e, aqui, não vou resumir. Convém ler tudo.

A Tiago Rodrigues, Prémio Pessoa, faltou a firmeza de carácter que Marega demonstrou quando se viu ameaçado pelos "grunhos".
E a peça saiu-lhe ao contrário.

Monday, December 02, 2019

PURGATÓRIO

Esteve no D. Maria II.
Mais uma excelente encenação de "O Bando".

Com um pequeno senão: O facto de não serem projectadas na tela lateral as palavras do coro para melhor entendimento dos ouvidos menos afinados. Na mesma tela onde projectavam imagens da actualidade, dispensáveis porque a obra de Dante é sempre actual.


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Tuesday, November 05, 2019

JUVENTUDE NEURÓTICA





O autor, austríaco, desta peça de teatro em cena no Teatro AbertoFerdinand Bruckner ( Sófia 1891 - Berlim 1958 ) situou este seu trabalho sugerido pela instabilidade psicológica da juventude vienense percepcionada pelo autor nos anos 20 do século passado. A peça foi publicada em 1929, a acção decorre em 1923, e encena uma epidemia moral que atingia a juventude burguesa daquele tempo em Viena e se alastrava pela Europa no pós-primeira guerra mundial.
Resumidamente, há um grupo de estudantes de medicina, três rapazes, três raparigas e uma jovem e inocente empregada do grupo. Um dos estudantes é dominador e regozija-se a destruir as relações entre eles: corrompe a inocente empregada, anima as tendências suicidas da bissexual aristocrática, e acaba por  voltar-se para quem antes repudiou ostensivamente.
É nesta amostra de neurose colectiva da juventude que Bruckner sugere a emergência do fascismo, e nova guerra, duas décadas depois.

Sugere a reposição desta peça publicada há noventa anos a recidiva de uma situação patológica moral com sintomas semelhantes nos dias de hoje, augurando idênticas consequências? É essa a implícita  explicação desta e de outras reposições recentes da peça.

Relativamente ao trabalho em cena no Teatro Aberto, considero, mais uma vez a propósito das mais recentes representações do TA, que a projecção de vídeos desvaloriza a arte do teatro, o cenário, de tão exagerado em dimensões e iluminações, desvia a atenção dos espectadores da expressividade dos actores. E o guarda roupa é um excesso: em gosto, porque Tenente é um bom estilista, em quantidade porque uma peça de teatro não é um desfile de moda. Ainda que um desfile de moda tenha o seu lado teatral.

Monday, June 17, 2019

GOLPADA







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Quando este país se encontra atolado num pântano de grandes golpadas, onde se movem crocodilos-golpistas, sem ofensa para os répteis, o Teatro Aberto leva a cena uma golpada infantil.  

Tuesday, April 10, 2018

IVONE E A CABRA*



Há dias fomos com uns amigos assistir no "Teatro do Bairro" a "Ivone, Princesa de Borgonha".
Nunca tínhamos ido ali, nem sabíamos da existência daquele espaço  criado para artes do espectáculo
no rés-do-cão (um bar) e cave (sala de teatro) de um imóvel recuperado na Rua Luz Soriano, ao Bairro Alto.

O espaço é esteticamente agradável, o palco é uma adaptação imposta pela presença inamovível de duas colunas das que suportam o edifício recuperado. Não será pelas tais colunas que os desempenhos nos espectáculos que ali se realizam perderão aplausos do público se o merecerem. Mas tenho dúvidas se a licença de utilização daquela cave para aqueles fins teve vistoria não complacente dos bombeiros.
Continuo a pensar que se o teatro se arrasta atrás de subsídios públicos e de entradas gratuitas, em muitos casos mas não em todos, louváveis, o alheamento generalizado pelas artes cénicas não é atribuível à falta de espaços adequados mas à falta de pedagogia que o teatro deveria merecer a partir desde o ensino pré-primário até ao universitário. O teatro é a melhor forma de ler, compreender e expor, qualidades negligenciadas por muitos licenciados e doutores.
Espaços desaproveitados há vários, não é por falta de investimento público que o teatro passou a ser um espectáculo geralmente mal amado pelo público. 

No fim do espectáculo perguntaram-me:
Gostaste?
Gostei, respondi na altura. Dias depois, outros amigos, por sugestão dos primeiros, foram ver o "Ivone ...". Não gostaram.
E eu? Tinha gostado?
É um divertimento, divertiu-me, respondi.

Ontem, para desanuviamento de algumas apoquentações, recordei-me de "A Cabra ou Quem é Sylvia" de Edward Albee quando repensava a minha avaliação a quente da "Ivone, Princesa de Borgonha". O autor desta, Witold Gombrowicz, um polaco, publicou-a em 1938. Edward Albee, foi premiado em 2000 pela "Cabra ou Quem é Sylvia".

Por que é que trouxe estes dados para aqui?
Por que, pela minha leitura comparada destas duas obras, aparentemente tão diferentes, há um traço comum que as une. Quero eu dizer com isto que Albee se inspirou na obra de Gombrowicz porque, em meu entender, em cada uma delas os principais protagonistas são uma cabra e na outra uma mulher feia, mal vestida, que quase nunca fala?
De modo algum.
O tema comum é o bode expiatório, aquele que tem de ser sacrificado para que volte à  superfície a harmonia na sociedade presa a raízes contraditórias. E esse já vem de lá tão de trás, detrás até dos tempos bíblicos. O homem anda a contar as mesmas histórias há milénios, que apenas se distinguem na forma como são contadas. Porque no homem, no sapiens, pouco se mudou, se mudou alguma coisa.

Quanto ao desempenho dos actores, em "A Cabra ou Quem é Sylvia", que vimos no Teatro da Comuna, (em 2004?) recordo-me do excelente desempenho de Carlos Paulo. Em "Ivone, Princesa de Borgonha" apreciei sobretudo o desempenho da actriz que quase não fala, e de que não sei o nome.

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*Esta expressão significa aquele que suporta a culpa de actos que não praticou, ou que é responsabilizado por procedimentos de outros.
Dicionário de Expressões Correntes, de Orlando Neves, edição da Editorial Notícias, diz que «a origem é de natureza religiosa». Acrescenta, ainda, que «Em quase todos os credos, o bode tem um importante papel. Por exemplo, entre os Egípcios era venerado como princípio de toda a fecundidade. Nos Evangelhos é símbolo dos maus e dos réprobos. Expiar é acalmar Deus, oferecendo-lhe um gesto cultual de reparação e exprimindo-lhe um desejo de ficar limpo do mal feito. No Antigo Testamento, no Levítico (16), encontra-se, referida a Aarão, a cerimónia que deveria efectuar-se no "Dia da Expiação" (Yom Kippur). Um bode recebia como carga simbólica as iniquidades do povo judeu e era conduzido ao deserto para aí despejar todos os pecados e depois morrer.» - c/p aqui

Sunday, March 25, 2018

UM DIA UMA VIDA



Esteve até hoje em cena no Teatro Aberto.

"Um dia uma vida é um espectáculo nascido a partir de um poema (de Ruy Belo) em que o sujeito poético, que não dormiu, observa  o dia a amanhecer, a crescer, a passar, a fenecer, voltando a anoitecer. Essa voz dá-nos conta das transformações da natureza e da população, das mudanças do próprio sujeito que fala, à medida que o tempo passa, "irrefragável", incontido".
Um dia que pode bem ser uma vida inteira  - resumida, vista de longe por quem acabou de passar.

Marta Dias, Dramaturgia e encenação

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Monday, February 12, 2018

NEM PEIXE NEM CARNE



Uma mistura de sabor desagradável para quem goste de teatro e de cinema

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Wednesday, August 23, 2017

OTHELLO


Direcção excelente.
Excelente desempenho dos actores.
Cenário minimalista.
Um espectáculo inesquecível.

Quando a erupção do racismo precipita convulsões sociais nos EUA, que o presidente não tenta apagar mas, pelo contrário, inflama, Othello é um rebate em verão escaldante.

Friday, July 07, 2017

ALICE NO PAÍS DAS TIAS


Em cena no Teatro Aberto.

Vá ver e verá que valeu a pena.
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Mas, se for de carro, prepare-se para pagar taxa de estacionamento de Zona Vermelha.
É inconcebível, mas é verdade.
Debatendo-se o teatro com muita dificuldade para cativar o interesse dos portugueses em geral, a decisão do município lisboeta é lamentável. Porque coloca a zona circundante ao Teatro Aberto passível de taxa máxima de parqueamento até à uma da manhã, porque limita o estacionamento a duas horas.
Se o espectáculo tem uma duração superior a duas horas, e é o caso, têm os espectadores que sair do teatro para introduzir mais moedas que permitam prolongar o estacionamento para além das duas horas consentidas. 
Acresce que, segundo o que se lê no programa, o Teatro Aberto é apoiado financeiramente pelo município.


Wednesday, January 11, 2017

O PAI


Em cena no Teatro Aberto.
Solicitada por um actor veterano ao autor, um ainda jovem, mas já muito aplaudido, dramaturgo francês,  "O Pai" é uma obra que obriga a um desempenho esgotante do protagonista.
João Perry responde ao  desafio, com uma interpretação notável, de uma obra construída a pensar num actor, centrada num tema - Alzheimer e as relações familiares - que não suscita reflexão porque se fica pasmado perante a inevitabilidade da tragédia das saídas conhecidas. 
Pela admirável interpretação de João Perry, ****

Friday, December 16, 2016

O TRIUNFO DAS PIPOCAS


Ontem, ao fim da tarde, o trânsito arrastava-se pela Avenida Liberdade acima. É difícil perceber as vantagens das alterações introduzidas na rotunda do Marquês. 
Em frente do Cinema São Jorge, desfilaram na nossa memória as sessões de cinema, à tarde ou à noite, a ida ao cinema era mais do que isso, era uma oportunidade de convivência com amigos e conhecidos. Hoje, as salas de cinema são buracos, de assistência geralmente escassa e ensimesmada na ingestão de pipocas em multi sessões contínuas. 
- O que é que há agora no São Jorge?
Batemos a esta porta e ficámos a saber que, amanhã 17, há, para quem goste, o MEEDOOL, uma reunião de YouTubers. A entrada é barata: cinco paus. 
E mais não haverá até ao fim do ano.
Em 2017, ainda ninguém sabe o que irá acontecer, esclareceu-nos a bilheteira. O São Jorge não tem programação, anda à deriva. Pode acontecer um festival de cinema, da vodafone ou outro fone qualquer, um concerto, um não sei que mais, mas mais não sabia quem agora está a vender bilhetes para o MEETDOOL.  
O São Jorge é propriedade do município, adquirido no tempo em que o sr. João Soares, fugaz ministro da Cultura do actual governo, era presidente do município por promoção do titular à presidência da República. 
A sobrevivência do São Jorge está garantida, custe o que custar, mesmo que agora sirva para pouco ou quase nada.



Hoje, a Antena 1 informa-nos que Luís Miguel Cintra anunciou o encerramento definitivo da Cornucópia,  no próximo sábado, após 43 anos de actividade, "por respeito com o público"
Há dias, - vd. aqui - informava João Lourenço os espectadores do Teatro Aberto que a Câmara (Emel) tinha passado a tarifário vermelho a zona de estacionamento junto ao teatro que dirige há muitos anos.


Nunca defendi que o teatro, enquanto arte cultural, deva depender de subsídios mas de contratos de prestação de serviços com objectivos a atingir e retribuições adequadas. O que também sempre tenho defendido, e defendo, neste canto escondido, é a obrigação das estações de rádio e televisão do Estado promoverem eficazmente ( e eles têm obrigação de saber como isso se faz) as actividades culturais e, nomeadamente, as das companhias de teatro com objectivos contratados com o ministério da Cultura.

Lê-se aqui : "A arte e a cultura estão no coração de Lisboa. Descubra tudo o que o Cinema São Jorge tem para lhe oferecer, com uma programação variada."
Não é verdade!
Uma inverdade que custa o que faltou na Cornucópia, por exemplo.

Wednesday, December 14, 2016

OBRAR E ANDAR EM LISBOA

"Leilani Farha é Relatora Especial da Organização das Nações Unidas (ONU) e esteve em Portugal com a missão de avaliar o impacto das medidas de austeridade nas populações vulneráveis. Foi às “ilhas” do Porto, ao bairro 6 de Maio (Amadora) ou ao bairro da Torre (Loures) “onde não há luz há dois meses” e onde “a comunidade cigana também não tem água”, conta. “Vivem no escuro. E estava tão escuro. Vivem com lixo ao lado. São condições muito, muito duras”, confessa a também directora-executiva da ONG Canada without Poverty." - aqui

Não houve, seguramente, intenção irónica na quase coincidência da publicação, ontem, da entrevista do Público a Leilani Farha - "Relatora da ONU sobre habitação em Portugal: “Algumas das condições que vi são deploráveis” - e a notícia que correu mundo no mesmo dia do juramento de António Guterres como Secretário-Geral das Nações Unidas a partir de do próximo 1 de Janeiro. Nem a exposição de uma vergonha empalidece minimamente o esplendor da outra. Mas o contraste evidencia-se.

Lisboa está há largos meses enredada em obras que, pelos vistos, muitos aplaudem, a maioria resigna-se e outros, entre os quais me incluo, considera, na sua maior parte uma campanha para sustentar uma política de fachada. Reduziram faixas de rodagem no eixo central da cidade para encaixar canteiros de relva ou heras que a secura do verão e as limitações do orçamento acabarão por impor o que impõem a outros espaços mal mantidos e, não raramente, mal limpos. É a política nacional de obrar de andar. Mas obrar onde obrar enche o olho porque as mazelas nas zonas marginais varre-as a vereação, esta e as outras, para debaixo da câmara.

Estamos a cerca de um ano das próximas eleições municipais e a eleição do actual presidente parece tacitamente aceite pelos partidos da oposição, um porque ainda não tem candidato, outro porque, sem coligação a candidata concorre para o concurso dos outdoors. 

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Do Teatro Aberto, uma obra construída pela C M Lisboa, acabo de receber uma informação que revolta quem gosta das artes do teatro. Transcrevo:

"Informamos os nossos espectadores que a zona de estacionamento 023, onde está o edifício do Teatro Aberto, mudou de horário e tarifário passando a zona vermelha paga até às 01 h do dia seguinte. Estamos a trabalhar para reverter esta decisão que sabemos de grande transtorno para os nossos espectadores. Contudo, não podíamos deixar de chamar a atenção para esta alteração inesperada que esperamos ver anulada com a maior brevidade"

São poucos os portugueses que gostam de teatro. É lamentável, mas é verdade.
São poucos os votos.
Serão tão aliciantes as receitas que a Câmara espera cobrar naquela reduzida zona vermelha?