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Saturday, September 25, 2021

GOLPES AUTÁRQUICOS

Há muitos. Este, é apenas um exemplo:

Golpe em Idanha-a-Nova da mulher de ex-autarca

Médica anestesista reformada e casada com Joaquim Morão, um histórico autarca e membro da Comissão Política Nacional do PS, conseguiu 16 hectares de terras do Estado destinadas, em primeiro lugar, a jovens agricultores. Recebeu mais de 63 mil euros em subsídios e seis anos depois o terreno está praticamente abandonado.

Monday, September 13, 2021

O BUSTO

 

Tinha confirmado estar no almoço com uns velhos amigos, mas atrasei-me com a demora de um interrogatório da polícia. Saí de lá arguido.

Sou, ou estou, deve dar no mesmo, arguido num processo crime de roubo. Sou acusado de ser autor material ou moral do roubo de uma escultura, um busto, um bem público, assente em pedestal de pedra com identificação do esculpido, segundo relatório da polícia nos autos. 

Quem é ou quem foi o homenageado?

Perguntei a residentes no lugar antes da ocorrência do roubo de que sou acusado; ninguém soube dizer.

Não estranhei, pela figura exposta se adivinhava que foi pessoa de finais do século dezoito, começos do dezanove. Quando morreu, mesmo que tenha morrido velho, ainda não tinha nascido, à excepção de um ou outro teimoso resistente, quase toda a gente, que é pouca, hoje residente na localidade.

Cara redonda, olhos decididos, bigode farto, grisalho, habitual nas elites  daquele tempo, calvo, sobram-lhe cortados curtos os cabelos brancos que rodeiam a calvície. Ombros largos, a gravata sobressai no peito, sobre a camisa, entre as bandas subidas do casaco apertado, de bom corte.

Quem foi, quem não foi, se lesse a inscrição no pedestal ficaria a saber que o homem vivera mais de noventa anos, nascera na sede do concelho, fora ministro dos três últimos governos que precederam a ditadura, durante cerca de nove meses.

E, localmente, o que fizera o homem para merecer busto, plantado ali num sítio onde só o raro trânsito automóvel passa apressado porque apeado ninguém tem motivos para passar por lá?

Era, disse-me um vogal da junta local, há mais de cem anos, proprietário de largos hectares de pinhal onde, de uma fonte, jorrava água virtuosa. Viu o feliz contemplado pela mãe natureza oportunidade para um empreendimento de engarrafar e vender o líquido. Terá ganho muito dinheiro? Talvez. Mas o negócio da água não se terá sustentado muito tempo porque há setenta anos, garantem os sobreviventes, ou a fonte se terá esgotado, hipótese possível porque os lençóis de água capricham por vezes em mudar de cama, ou o negócio tornou-se desinteressante, e já, então, ninguém sabia quem era o homem nem bebia a sua água engarrafada.

Quanto ao sítio deserto, disse o vogal da junta, tinha sido escolhido por ser ali que começava o limite da sua propriedade. Simbolicamente, o homenageado terá sido instalado junto a um imaginário portão, quase cem anos depois de entrar para um governo, que ameaçava cair em qualquer momento,  como anfitrião de quem entrar no pinhal, que ninguém sabe, e muito menos o busto, a quem a propriedade pertence agora.

Parece-lhe bem que a junta tenha gasto uns largos milhares do orçamento para colocar lá aquele despropósito? 
Muitos apoiaram a obra do autarca, muitos ignoraram, poucos contestaram e discutiram, defendendo ou atacando, em privado,  o busto.
Desaparecido o busto, quem antes batera palmas no descerramento com a presença do presidente da câmara e outras individualidades paroquiais,  ria-se depois com o facto rocambolesco do roubo de uma coisa que, afinal, não lhes interessava minimamente. 
Quando cheguei para o almoço, já os meus compinchas tinham entrado na sobremesa.

Desculpem o atraso, fui chamado à polícia, acusam-me de ser autor material ou moral do furto do busto; saí de lá constituído arguido.

(Gargalhada geral)

Nenhum de nós acredita que tenhas sido capaz de ter roubado aquilo; mas foi bem roubado, penso eu.

Pensas tu porque não valorizas o investimento cultural; o capitalismo não valoriza o investimento público, sobretudo na cultura, se não vê escorrer-lhe lucro para o bolso.

Fala o apoiante do autarca...

Com muita honra.

... com ligação directa ao presidente da câmara, com ligação directa ao chefe do governo; é assim que se consomem os dinheiros públicos, em obras de oh pacóvio olha o balão; como o dinheiro não lhes sai directamente dos bolsos, qualquer obra, mesmo que seja obra de caca, merece palmas dos tansos.

Fala a dor de cotovelo; se a obra tivesse sido feita por autarca do teu partido, seria boa e prestigiante para a freguesia.

Prestigiante? Mas que prestígio traz um busto de um fulano que ninguém sabe quem foi, que já desapareceu há quase meio século sem cá deixar rasto, colocado num sítio por onde ninguém passa?

É um símbolo cultural; nós defendemos o investimento na cultura.

Nós também, mas nós sabemos como se deve investir na cultura; e sabemos que o investimento no busto foi um investimento do autarca nele mesmo, querendo passar sub-liminarmente a mensagem de que a autarquia investe na cultura; é um logro!

Nós, o que vemos no busto é uma disfarçada homenagem ao capitalismo; contribuiu a riqueza do latifundiário para o desenvolvimento económico da região, para a melhoria das condições de vida das pessoas que aqui viviam na altura? estou informado que naquele tempo todos os terrenos nas imediações do pinhal pertenciam a pequenos proprietários, eram hortas onde cultivavam milho, centeio, batata, feijão, nabo, cenoura, couve, alface, toda a espécie de legumes porque o terreno era fértil nas várzeas, onde corria e ainda correm ribeiros; nas encostas havia vinhedos e pomares; hoje o que há à volta, num diâmetro de quilómetros, do sítio onde meteram o busto do político ricalhaço? silvas, mato, a dominar tudo por abandono daqueles que foram obrigados a emigrar; onde antes se via  gente a criar riqueza hoje não se vê ninguém.

Fala o comunista que continua a ver capitalismo monopolista em todo o lado; até aqui, onde a propriedade, mesmo a maior, nunca teve tamanho suficiente para enriquecer ninguém; e a água, pelos vistos, sumiu-se do mesmo modo que apareceu.

Já cá faltava o anti-comunismo primário; quando é que esta gente é capaz de ver o mundo com olhos de ver  e perceber que o liberalismo económico só tem conduzido ao crescimento galopante da desigualdade em todo o mundo? às alterações climáticas que estão a destruir o planeta; o do busto fez, no seu tempo, parte da elite que manteve este país ignorante durante décadas.

Estás confundido; o homem não foi ministro durante a ditadura; era ministro quando os militares fizeram o golpe do vinte oito de maio; ainda assim, sobreviveu dois dias como ministro; foi um sobrevivente da primeira república; deve ser esse o mérito que mereceu o busto.

Só agora? 
 
Mais vale tarde que nunca.
 
Mais valia nunca do que agora; se, durante dezenas de anos, gerações seguidas não se lembraram do indivíduo, esqueceram-se completamente dele, porque carga de água, ocorreu a este autarca gastar dinheiro com obra despropositada? só há uma resposta, óbvia: esta e outras obras sem mérito cultural ou económico, servem para os autarcas distraírem os basbaques e caçar-lhe os votos enquanto os mantém de boca aberta: dinheiro em mãos da ignorância não serve a cultura mas a ganância de poder a todo custo;
 
Ele foi um dos lançaram o país na bancarrota, depois de quarenta e cinco governos em dezasseis anos de bagunça, que conduziram à ditadura; um tipo destes merece um  busto, aqui, onde, que se saiba, nunca fez nada para além de só tirar proveito próprio das suas terras a vender água engarrafada?

Isso são águas passadas, passe o trocadilho; o que mais importa agora é saber como se permite um autarca, que por ignorância ou vaidade cega derrete milhares num busto, como se esses dinheiros não fizessem falta em investimentos realmente importantes para a população desta terra; o que lá vai, lá vai, se há alguma coisa a aprender com o passado é a lição de que a má política no uso dos dinheiros públicos corrói a democracia ...

Continua a corromper ...

... tentar passar ideia de que uma homenagem, despropositada no tempo e no espaço, a um ministro da primeira república numa terra onde poucas vezes terá posto os pés, é um acto de serviço à cultura é uma desavergonhada burla.

Para quem desvaloriza a cultura, qualquer investimento cultural é um desperdício com intuitos demagógicos.

Nós também queremos que o investimento na cultura seja reforçado mas concordamos que este investimento não valoriza a cultura desta freguesia; há muitos investimentos à espera de verbas que, esses sim, podem contribuir para a valorização das populações; não se valoriza a cultura com homenagens a quem não serviu o povo, para além de ter sido irrelevante a sua intervenção política há quase um século; trata-se do investimento numa obra, a todos os títulos, despropositada; esta aldeia, …

Agora é vila.

... agora é vila mas é menos vila que antes; noutros tempos …

Queremos falar do passado ou do futuro?

... falamos do presente; esta vila é sobretudo um dormitório dos que trabalham fora dos seus limites; há casas desertas há anos, e as ruas são de travessia automóvel da freguesia; não há agricultura mas também não há indústria, há escolas mas os professores residem na sede do concelho e o mesmo acontece com os médicos do posto de saúde; a população residente decresceu, as actividades culturais locais estão em extinção; e, no meio deste contexto, de que se lembra a junta? encomendar um busto a um escultor e a peanha a um canteiro para celebrar um fulano que cá não deixou nem rasto.

Devemos apoiar os artistas, os artistas plásticos; o mesmo é dizer que devemos apoiar a cultura.

Não para a concepção e execução de um busto que nada diz ao povo desta terra.

Diz, diz;

Diz nada; o povo bate palmas se vê bater palmas, desde que não lhe peçam dinheiro para isso.

Pedir, não pedem, tiram-lho sem que ele se aperceba; tiram-lhe em impostos e taxas em número incalculável...

Incalculável, porquê? é só contar, não?

... experimenta contar e diz-me quando souberes;

Mas, afinal, que fizeste tu para te chamarem à polícia e te constituírem arguido por suposto larápio do busto? foste apanhado em flagrante delito?

(Gargalhada geral)

Há meses encontrei o Valter, que insiste em tornar o seu semanário, o único do concelho, mais interventivo e menos paroquial; é uma aposta perdida mas ele insiste; quando o jornal noticiava nascimentos, casamentos, funerais e chegadas de emigrantes nas férias, o jornal vendia-se, até muito no estrangeiro, assinado pelos emigrantes; foi chão que deu uvas, disse-me ele, e quis dar uma volta ao jornal; convidou gente dos partidos, alguns dos quais, que muito respeito, se sentam aqui à volta desta mesa, e o jornal tornou-se campo de lutas ideológica; com cada qual a opinar para o seu lado, as assinaturas caíram redondamente, ninguém quer ler jornal que dê guarida a baboseiras de políticos de outros quadrantes, palavras do Valter; convidou-me para, também palavras dele, temperar o ambiente, com perspectivas menos radicalizadas para recuperar alguns leitores moderados, que também há, não é verdade? perante a insistência do Valter de manter o jornal mesmo continuando a perder dinheiro porque a publicidade também convive mal com disputas partidárias, passei a enviar pequenos comentários, o mais apartidários possível; e o que é que o eu enviei, e foi publicado há uma semana, que provocou engulhos ao presidente da junta para me denunciar como muito provável autor material do furto ou, pelo menos, autor moral? simplesmente mais ou menos isto: o busto descerrado há quinze dias no casal dos cágados motivou polémica e eu não poderia ignorar isso; e escrevi ...

... escrevi notícia da colocação em local quase deserto de uma escultura a homenagear quem tinha sido, há quase um século, ministro de três governos durante quase nove meses, sendo dono, na altura, de relativamente extensa mancha florestal, onde durante alguns anos engarrafou água nascida nos seus terrenos, provavelmente por nela existir alguma virtude que, no entanto, lamentavelmente se esgotou cedo.

Como a escultura, um busto, foi colocada em local distante da área residencial da vila, parece-nos, alertava eu, que a probabilidade de a obra vir a ser vandalizada e até derrubada, ser elevada.

Por estas razões, afigurava-se-nos recomendar à junta a vedação do espaço com rede de arame farpado suficientemente alta para desanimar possíveis tentações de vandalização da obra.

Foi só isto; o comentário saiu no jornal na quinta-feira, o roubo foi praticado na noite de domingo para segunda; às oito da manhã de hoje tinha a polícia a bater-me à porta, levaram-me para a esquadra para interrogatório. Saí de lá meia hora antes de chegar aqui, com intimação de me a apresentar amanhã no tribunal para ser ouvido por um juiz;  atribuem-me a autoria material ou pelo menos a autoria moral do furto por tornar pública uma ideia que, de outro modo, não ocorreria a mais ninguém. 
Só a mim, uma mente perversa.

 

Monday, July 13, 2020

SINTRA DESERTA


Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra,

Enviei no dia 18 do mês passado uma mensagem via e-mail com alguns reparos acerca de um passeio que demos naquele dia, eu e minha mulher, com máscara, no Parque da Liberdade.

Além do mais, referi naquele e-mail que dois homens envolvidos em trabalhos de manutenção do referido parque não usavam máscara e varriam o chão sem se preocuparem com a poeira que lançavam na nossa direcção. Fizemos sinal, pararam, e ficaram especados a olhar para nós como se no parque tivessem entrado dois extraterrestres.

Entretanto, há cerca de duas semanas, recebi na caixa de correio um envelope com indicação de ter sido remetido pela Câmara de Sintra contendo cinco máscaras cirúrgicas.

Hoje voltámos ao Parque da Liberdade, vimos no parque a uma distância de segurança apenas uma senhora com quatro crianças e dois funcionários da manutenção. Um carregava uma mangueira de rega, não usava máscara, parou a olhar para nós como se os extraterrestres tivessem voltado ao parque.
Mais adiante ultrapassou-nos, sem máscara, um indivíduo, que nos pareceu ser o capataz.

Numa das entradas fotografámos, fotografia em anexo, um aviso da C M de Sintra recomendando, além do mais, o uso de máscaras e a distância de 2 metros. Nenhuma destas recomendações estava a ser observada pelos funcionários da Câmara durante a nossa primeira visita nem nesta segunda.

Estão isentos do cumprimento das recomendações os funcionários da Câmara ou não há verba para comprar máscaras nem tempo para formação dos profissionais? Enganaram-se os serviços da Câmara quando me enviaram as cinco máscaras que deveriam ter sido entregues a funcionários a trabalhar em locais públicos?

Encontrámos, novamente, deserto, o centro da nossa cidade, reflexo da péssima imagem que estamos a dar ao mundo, até no Parque da Liberdade.

Com os nossos melhores cumprimentos,


---
Act.

Acusamos a receção do presente email, o qual mereceu a nossa melhor atenção.

Face ao seu conteúdo, informa-se V.Exa. que o mesmo foi remetido para o Departamento de Obras Municipais e Intervenção no Espaço Público, para diligências.


Com os melhores cumprimentos,

Alexandra Carvalho
(Assistente Técnica)
Gabinete de Apoio ao Munícipe

Sunday, December 10, 2017

NO PAÍS DOS BOYS

"Câmara de Lisboa vai ter 124 assessores e secretárias para apoiar 17 vereadores e já começou a assinar contratos. Alguns eram candidatos autárquicos que não foram eleitos." 

Vi esta notícia referida aqui.
O abuso que governantes centrais e locais fazem de dinheiros públicos para emprego de correlegionários, amigos, familiares e coniventes vem de longe. Como em outros aspectos da vida pública, a imoralidade anda de mãos dadas com a conivência das conveniências e a par da falta de exigência de civismo colectivo. Que vingam com um generalizado encolher de ombros e a conclusão adquirida como inamovível de que "todos fazem o mesmo".

Se a notícia tem fundamento, que posição tomaram ou vão tomar os vereadores da oposição na Câmara de Lisboa? Calam-se todos? 
É o mais provável: O PSD/PPD e o CDS porque, também eles, têm clientelas partidárias e interesses particulares envolventes à espera de oportunidades futuras , o PCP porque, para os comunistas, quanto mais gente mamar  do Orçamento mais se engrandece o Estado.
E o BE é outra vez parte do governo camarário em Lisboa.

Valha-nos Centeno, presidente do Eurogrupo, agora atado de pés e mãos aos limites impostos de fora. 
A nossa independência, e o que é isso?, é um perigo. 

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Correl. -
A redução da dívida é absolutamente fundamental (Público - 10/12/2017)
O calcanhar de Centeno  (26/8/2017)
O calcanhar de Centeno - 2 (1/9/2017)

Sunday, October 15, 2017

LISBOA, AMOR AO PASSADO


Alguns povos de Espanha podem não se sentir confortavelmente sob a mesma bandeira mas nunca senti da parte daqueles com quem contactei, ocasionalmente ou por razões profissionais, algum resquício de chauvinismo relativamente a Portugal. Mas conheci, e conheço muitos portugueses, que continuam a sentenciar que "de Espanha nem bom vento nem bom casamento". 

Habituei-me desde muito jovem ao convívio com espanhóis que nos meses de Agosto e Setembro desciam de Salamanca, Castelo Rodrigo, Zamora, e de outras paragens de Castela, para a praia que noutros tempos foi reclamada "a rainha". E sempre me perguntei se, visto à distância de mais de três séculos, em 1640 não se redobrou o isolamento de Portugal relativamente ao centro da Europa, onde se desenrolava o progresso o cultural e económico. Não pode rebobinar-se a história mas podem avaliar-se as consequências das circunstâncias que nos conduziram por um caminho e não pelo outro. 

Alguns anos antes dos acontecimentos, que fizeram evoluir Portugal e Espanha para regimes democráticos e, posteriormente, com a entrada na União Europeia, para a eliminação das fronteiras fiscais entre os dois países, a raia era, de um lado e doutro, a faixa mais deprimida económica e culturalmente da Península Ibérica. Do estrangulamento das comunicações provocado pela barreira fronteiriça continuam ainda hoje os povos do interior a sentir-lhe os efeitos porque não se desobstruem em três décadas as bloqueios com séculos. 

A propósito registo um artigo - Lisboa, amor al pasado - publicado anteontem no "El País", um jornal onde, com alguma frequência, se podem ler notícias, comentários, reportagens sobre Portugal. 
Nem sempre laudatórias, diga-se em abono da isenção de um dos mais prestigiados jornais do mundo.
Nesta edição o assunto são as lojas antigas de Lisboa "ameaçadas pelo turismo massivo, estando o município a tentar travar o seu desaparecimento". 



En la barbería Campos (1886) se afeitaba el escritor Eça de Queiroz
 y uno de sus clientes es el presidente portugués, Marcelo Rebelo de Sousa. 

Sunday, October 01, 2017

A HORA DE RIO


Segundo as sondagens e os comentários de quem é suposto estar minimamente informado, o PSD registará hoje a maior perda eleitoral de sempre. Mas o sr. Passos Coelho diz que não se demite quaisquer que sejam os resultados das eleições de hoje, e a generalidade dos opinantes acredita que ele não se demitirá, mesmo que, como tudo leva a crer, o descrédito do partido que lidera nunca tenha roçado tão fundo.
Os resultados das eleições autárquicas não se projectam nas eleições legislativas, argumenta o sr. Passos Coelho e os seus apoiantes. Mas é um argumento que não convence.

Geralmente, as eleições autárquicas, realizadas entre duas eleições legislativas, favorecem as oposições*. Este ano, é por demais evidente que o PSD não só não beneficiará de qualquer desgaste politico do Governo como, salvo circunstâncias imprevisíveis neste momento, comprometerá uma recuperação significativa nos próximos dois anos. 
O sr. Passos Coelho não pode, honestamente, recusar assumir todas as suas responsabilidades no descalabro previamente anunciado. Foi ele que decidiu quem concorreria às eleições nos principais municípios do país, onde o PSD, segundo as sondagens corre o risco de ser aí colocado pelo eleitorado em terceiras posições. 
Não. Foi muito evidente durante a campanha o envolvimento de todos os lideres partidários no apoio aos seus candidatos autarcas tornando nacionais as leituras que os resultados das eleições de hoje vão permitir. E o sr. Passos Coelho, não tendo sido excepção, não tem meios de escapar às responsabilidades que os resultados de hoje lhe vão imputar. 

Recorde-se o que aqui se anotou várias vezes desde as vésperas das legislativas de 2011: o sr. Passos Coelho ao assumir o governo do país submetido a regras impostas pelos credores, negociadas e subscritas pelo anterior primeiro-ministro, dispensando o PS de co-assumir  as responsabilidades do ónus da governação em tais circunstâncias, pegou num tição que, irremediavelmente, o iria queimar. 
Teimosamente, desprezou essa ameaça, e queimou-se. Teimosamente, persiste agora em recusar afastar-se do comando do seu partido, arrastando-o para um situação encalhada de onde não será fácil safá-lo. 

Ora se o sr. Passos Coelho não se demite, no uso de um direito que só o voto dos membros do PSD podem contrariar, está na hora de Rui Rio, esta noite, se assumir uma vez por todas candidato à liderança ou renunciar de vez a esse propósito, de modo a permitir que outro ou outros o façam.

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Correl - (2/10) -* Há 32 anos que um partido no Governo não ganhava as autárquicas

Saturday, September 30, 2017

REFLEXÃO

Hoje é dia de reflexão cívica.

No concelho onde resido e estou inscrito nos cadernos, há dois candidatos à presidência da câmara municipal, que disputam a vitória, e centenas de outros candidatos em várias listas em lugares como vereadores, membros da assembleia municipal, presidentes e vogais de juntas de freguesia, membros de assembleias de freguesias. É muita gente, mas não reconheço ninguém nas fotos miniatura que enchem os folhetos que as turmas dos dois principais candidatos me colocaram na caixa de correio.

Desses dois candidatos principais, conheço as promessas e ambos prometem sensivelmente o mesmo:
- redução de impostos;
- melhoria de qualidade no trânsito;
- mais saúde;
- mais segurança;
Que mais posso exigir eu?

Segundo sondagem da Universidade Católica, um dos candidatos à presidência da câmara encontra-se à beira de obter a maioria absoluta. Posso contribuir com o meu voto para o reforço ou redução do absolutismo em perspectiva. Mas o que ganho eu com isso, o que ganha o município com ou sem o meu voto, o que ganha a democracia? Tenho de reconhecer que não ganha nada. Se ambos prometem o melhor dos mundos, e não tendo eu motivos para duvidar das suas intenções nem das suas capacidades para cumprir o que prometem, o meu voto num ou noutro, decidido por moeda ao ar, seria menos democrático do que a minha abstenção. 

Há um conjunto de várias acções que gostaria de ver incluídas nos pacotes de promessas de um qualquer dos candidatos e que, nesse caso, me levaria a votar. Mas a nenhum deles, nem a nenhum dos outros candidatos, ocorreu propor uma, pelo menos uma, dessas medidas, as mais urgentes e importantes das quais se referem a obstáculos de mobilidade viária, que apontei várias vezes já neste caderno de apontamentos.

Quanto às juntas de freguesia repito o que várias vezes anotei neste caderno de apontamentos: considero errada a política, cada vez mais prosseguida e propagandeada de incremento das suas atribuições executivas. Os custos desta política, que considero demagógica, são exorbitantes relativamente aos resultados. 
A Junta de Freguesia onde resido é composta por sete membros, presidente, vogal-substituto, secretário, tesoureiro, três vogais. O quadro de recursos humanos é composto por 25 pessoas, 19 das quais a tempo indeterminado, 2 a tempo determinado, 4 em regime de avença.

Com um orçamento de menos de  1,5  milhões de euros em 2016, o que fez a Junta de Freguesia?
Segundo o relatório, um documento de 167 páginas, emitiu 2583 atestados, cerca de 4 atestados por dia na sede, local com mais actividade que as três delegações, 1,3 licenças de canídeos por dia na delegação mais activa no ramo. Outras actividades: manutenção do cemitério, apoio social a famílias em dificuldade e a outros,  i.e., atribuição de uns patacos, além de actividades relacionadas com a  feira e o mercado, onde não vislumbro que dimensão possa ter qualquer intervenção da junta. 

Reflecti, e já decidi: amanhã não vou votar.

Friday, September 15, 2017

REPUXOS ELEITORAIS


Em Sintra.
Os repuxos estavam secos e apagados, esquecidos das funções há muito tempo. Ressuscitaram há dias. Num (na rotunda junto dos parques de autocarros e automóveis ) para além dos repuxos, luminosos à noite, verdejou-lhe a relva coroada de petúnias (ou de impacientes?). No outro, na rotunda da Avenida Heliodoro Salgado, segundo se lê aqui, foram feitas obras de reabilitação do repuxo, que já repuxa.

A cena repete-se de quatro em quatro anos: as ruas e as rotundas são encharcadas de cartazes com as fronhas dos candidatos, as obras multiplicam-se apressadamente, a tempo de pescarem os recandidatos os votos suficientes que os manterem nos cargos.

Este ano a generalidade dos candidatos às presidências municipais fez-se retratar com os candidatos a presidentes das freguesias, e, em alguns casos, com os candidatos às presidências das assembleias municipais. É uma enxurrada de cartazes a conspurcar o ambiente, a distrair, por vezes a dificultar, a visão dos automobilistas, mas a animar a indústria publicitária.

Ainda a propósito destes repuxos, que por obra e graça das eleições autárquicas voltam a dar, provavelmente por pouco tempo, sinais de vida, ocorre-me uma dúvida acerca de a quem atribuem os votos aqueles que ficarão encantados pelos repuxos:  à Câmara ou à Junta de Freguesia do sítio?
Eleitos em listas separadas, os executivos municipais podem não coincidir, e muitas vezes não coincidem, em programas partidários com os executivos das juntas de freguesia. A quem pertence o mérito de repor um repuxo a repuxar? À Câmara ou à Junta?

Numa altura em que, do meu ponto de vista, mal, o primeiro-ministro entende que a eficiência da administração local se reforça com transferência de competências para as juntas de freguesias, é importante perceber até onde vai a responsabilidade, e portanto o mérito ou demérito, dos executivos camarários e os das juntas, uma vez que estas não são nomeadas pelas câmaras nem são, em muitos casos, da confiança da maioria partidária daquelas.

Esta confusão de responsabilidades é sobretudo muito evidente quando, como é o caso que deu azo a este apontamento, há coincidência entre o domínio territorial da sede municipal e o das juntas que se inscrevem nesse domínio.
Quem deve ser penalizado ou premiado pela apreciação do trabalho de quem cuida ou não cuida do repuxo? A Câmara ou a Junta? E o corte da relva? E os problemas de trânsito? E a sujidade das ruas?
E os buracos das ruas? E Et cetera?

Em resumo, repito: para que servem e quanto custam as Juntas de Freguesia?
Poucos portugueses, relativamente poucos, saberão responder, salvo se por insofrido ânimo partidário ou bairrismo frenético as considerarem inexplicavelmente imprescindíveis.

Thursday, September 14, 2017

E QUEM CORTA A RELVA?


- Tanto cara por aqui em placard, vai haver eleição presidencial?
-  ...
- Autárquicas? 
- ...
- Ah, já entendi ... Nós lá chamamos de prefeitura. O povão elege o prefeito e os vereadores, e as subprefeituras são nomeadas pelo prefeito. Aqui quantos concorrem?
- ...
- Tantos? É muita gente. 


É bem bonito, sim senhor! Muito jóia! Mas não tem cuidado a relva nem os buxos, não. 


- E qual destes caras não corta relva?

Saturday, July 22, 2017

ANDA CÁ ABAIXO MARQUÊS!


Não sei se a srª. Teresa Leal Coelho tem alguma proposta que mereça suficientes votos para a colocarem na presidência do município de Lisboa. Ouvi parte de uma entrevista de um canal de televisão e pareceu-me descortinar-lhe um desfasamento entre o processamento e a emissão das ideias que já tinha provocado a hilaridade ou sobressaltos contidos na abertura da apresentação mediática da sua candidatura quando se embrulhou nos nomes que, admitiu ela, teriam sido mais fortes para disputar o lugar ao sr. Fernando Medina. 

O que deduzo, porque me deparei ontem com um estendal propagandista a tapar visão do Parque Eduardo VII a quem circula no Marquês, é que aquela desmesurada mancha só pode significar que os argumentos da candidata se medem em metros quadrados de outdoor.
Como os outros candidatos irão pelo menos caminho, com menos metros quadrados porque a praça é grande mas não é extensível, o Marquês parecerá um redondel até às eleições autárquicas.


Aos ajardinamentos feitos pela C M Lisboa, presidida pelo sr. Fernando Medina, apontou o meu cepticismo o trivial em Portugal em matéria de investimentos públicos: os orçamentos quase nunca contemplam o suporte das despesas de manutenção. No caso dos jardins a situação agrava-se pelas condições climatéricas, cada vez mais agudizadas, de estios que desanimam as melhores intenções. 
Estamos em meados de Julho, pouco mais de um mês depois de dadas por acabadas as obras que mereceram aplausos generalizados, e os efeitos do tempo quente e seco estão à vista em locais que se pretendiam verdes.

É o caso, por exemplo, da Avenida Praia da Vitória, em frente do Dolce Vita Monumental ao Saldanha.
Foram plantadas heras, uma planta relativamente pouco exigente, que não resistiu ao tempo seco, ao vento, ao calor, mesmo se o sistema de irrigação gota a gota não avariou ou secou. Resultado: mandou a Câmara recolher os secos e as ervas em sacos de plástico preto que ontem aguardavam que passasse carro que os transportasse. Visível agora só a terra seca e as tubagens. Entretanto, já estão a aproveitar-se de parte do espaço alguns automobilistas com excessivo sentido de oportunidade.

Apenas dois exemplos a juntar a tantos outros que apontei neste bloco de notas, o penúltimo dos quais aqui.

Sunday, July 16, 2017

ELES SÃO ASSIM PORQUE SÃO ASSIM MESMO

A dois meses e meio das eleições autárquicas, o país já está infestado por outdoors com as fronhas ampliadas dos candidatos e mensagens clonadas de outras que o marketing inventou há largas dezenas de anos. 
Curtas e vazias de sentido, resultam?
Parece que sim. De outro modo não se compreenderia o investimento em tão grande arraial de cartazes para o povo. 

Em Cascais, o senhor Carlos Carreiras faz questão de se impor ao virar de cada rotunda. Umas vezes só, outras acompanhado dos candidatos menores, os das freguesias.
Pelo menos numa rotunda, aquela em que desagua o trânsito da A16 que se dirige ao centro de Cascais pela Avenida de Sintra, o outdoor terá uns trinta metros quadrados de superfície, abarcando todo o arco sul da rotunda. 
Quem é que paga, e porque paga, toda esta exuberância publicitária a um candidato à renovação de mandato se com ele, segundo ele, Cascais avança?

A entrada de Cascais, pela marginal, junto ao Cascais Villa e ao Jumbo é um parque de vários casarões em ruínas há muitos anos. O senhor Carreiras não pode fazer nada para alterar o cenário de abertura de Cascais? Se ele não pode, quem pode?
Alguém alguma vez ouviu o senhor Carreiras falar neste assunto?
Ainda em frente ao Jumbo, do outro lado do caminho de ferro, na frente marítima, há um palacete que, segundo informação que recebi do anterior presidente da edilidade, é do domínio do ministério do ambiente. Crescem-lhe por fora as heras e por dentro os pombos. O senhor Carreiras também, neste caso, não tem nenhum voto na matéria?
No largo da estação de caminho de ferro autorizou o executivo anterior a construção de um imóvel que ocupava quase todo o quarteirão. Não passou das estruturas exteriores, ainda que tivesse sido promovida a venda de apartamentos por Figo e Catarina Furtado. Por razões certamente razoáveis decidiu a câmara do senhor Carreiras mandar demolir o já edificado para nele erguer coisa menos volumosa. Está agora  o terreno arrasado rodeado por uma cerca a cair apodrecida pelo tempo depois de ter estado coberta com cartazes a anunciar o melhor dos mundos para o sítio. 
Não tem nada, ainda neste caso,  a câmara que ver com o assunto?

Os exemplos de degradação urbana em Cascais nem são os únicos naquele município nem uma raridade no resto do país, apesar das actividades de reabilitação que estão a reactivar o sector da construção civil abalado pela crise. Há casos notáveis de recuperação, o centro histórico do Porto, por exemplo, já hoje apaga da nossa memória as imagens de decadência e ruína em que prédios de grande dignidade tinham caído. 

Para onde é que Cascais avança, senhor Carreiras?

Ao lado de Cascais, Oeiras tem progredido a olhos vistos.
Mas é, deveria ser, intolerável que se mantenha há dezenas de anos o enorme monte de ruínas em que se tornaram, com o passar do tempo, as instalações onde foram produzidas estruturas com amianto (ou asbestos) que estão a ser retirados de edifícios públicos por ameaçarem a saúde daqueles que neles trabalham. 
Estas ruínas de amianto situam-se na Cruz Quebrada no ponto onde o vale do Jamor chega ao Tejo, ao lado da via marginal. 
Algum dos candidatos se propõe mandar limpar o terreno da ameaça até que ao sítio seja dado destino adequado aos interesses da comunidade e à salvaguarda da saúde do que habitam perto ou por ali passam?
Se há essa intenção, não consta dos outdoors dos mais que muitos candidatos.
Para onde andam os movimentos ecologistas que não reparam neste escândalo à vista de quem só não vê quem desviar o olhar?

A propósito: Discute-se, menos que o desejável mas discute-se, o número de deputados da AR. 
Mas ninguém discute o número de autarcas que se atropela neste país. Porquê? 



Friday, July 07, 2017

ALICE NO PAÍS DAS TIAS


Em cena no Teatro Aberto.

Vá ver e verá que valeu a pena.
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Mas, se for de carro, prepare-se para pagar taxa de estacionamento de Zona Vermelha.
É inconcebível, mas é verdade.
Debatendo-se o teatro com muita dificuldade para cativar o interesse dos portugueses em geral, a decisão do município lisboeta é lamentável. Porque coloca a zona circundante ao Teatro Aberto passível de taxa máxima de parqueamento até à uma da manhã, porque limita o estacionamento a duas horas.
Se o espectáculo tem uma duração superior a duas horas, e é o caso, têm os espectadores que sair do teatro para introduzir mais moedas que permitam prolongar o estacionamento para além das duas horas consentidas. 
Acresce que, segundo o que se lê no programa, o Teatro Aberto é apoiado financeiramente pelo município.