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Tuesday, June 18, 2024

EURÓFAGOS

Eurófago não é termo dicionarizado, salvo melhor conclusão que não encontrei em breve procura nas fontes do costume.
Por analogia semântica, eurófago é aquele que, à semelhança do xilófago, se alimenta, e, deste modo, destrói, as estruturas em que se instala e desenvolve a sua actividade.

Xilófagos, vulgo carunchos, são insectos que se alimentam de madeira, perfurando galerias até a estrutura em que se instalam desabar, se, entretanto, não forem detectados pelo pó que rejeitam para o exterior, e eliminados. Não metem o dente em estruturas menos complacentes que a madeira.
 
Ocorreu-me esta actividade xilófaga a propósito das intenções de eurófagos, diferentes dos euro cépticos porque, instalados na Europa da livre expressão do pensamento, uma estrutura complacente,  a querem minar e desmantelar para ser governada por autocratas, arrasando, deste modo os seus valores democráticos.

Quem são os inimigos explícitos da Europa livre, aqueles que não escondem os seus propósitos?
Sem dúvida, Putin e seus amigos ou aliados, e Trump, se, como é muito provável, voltar à presidência dos EUA. São eles  que, visivelmente, movem-se por objectivos declarada e objectivamente arrasadores e animam as actividades de parasitas (os eurófagos) que, por dentro, minam as estruturas em que se vivem e se alimentam, até as desmantelarem.
 
Os resultados das eleições europeias ocorridas este mês de Junho implodiram, pela primeira vez, os principais vectores de estabilidade da União Europeia, reflectidos nesta imagem de reconciliação em 1984, protagonizada por Helmut Khol e François Mitterrand. 
 
 
Cinco anos depois, 1989,  assistir-se-ia à queda do Muro de Berlim.
 
 
No ano seguinte, 1990, reunifica-se a Alemanha e o Marco alemão passa a ser a moeda em toda a República Federal da Alemanha até 2002, ano em que o Marco deu lugar ao Euro, como moeda corrente na generalidade dos países da União Europeia. 
Foi Helmut Khol quem, enfrentando forte oposição do lado ocidental, impulsionou a construção da Alemanha reunificada. 

Em 1991, desintegrava-se, sem causa física exterior, a União Soviética. 
Nazismo, fascismo, comunismo, tinham sido abalados mas não erradicados.
 
Trinta e três anos depois, Macron, defensor intransigente dos valores da União Europeia, sente-se obrigado a convocar eleições legislativas após a evidente emergência de forças políticas extremistas que entalam as posições politicamente moderadas do Presidente francês.  
Na Alemanha, o Chanceler Olaf Scholz, também ele um europeísta convicto, nomeado há dois anos, observa um desaire semelhante a Macron, mas os resultados das europeias não o colocam em situação tão fragilizada quanto a do presidente francês. 
 
Para uma observação da situação em que se encontram os progressos dos eurófagos nestes dois países, determinantes para a sustentação da União Europeia hoje, recorro a um artigo publicado anteontem no Público, de Teresa de Sousa, que considero a jornalista portuguesa melhor informada sobre a situação política na Europa e das influências que podem determinar o futuro: Eleições europeias: de suspiro de alívio em suspiro de alívio.
 
A União Nacional (Rassemblement National) estará com saliente implantação em quase toda a França: exceptua-se uma relativamente pequena área em Paris. 
Se vier a governar retomará todas as vias do nacionalismo, será condescendente com os autocratas e voltará a exibir o seu fascínio pela Grande Rússia.

A Frente Popular de 1935, é a motivação invocada por Jean-Luc Mélanchon, um putinista declarado, que recusa condenar o Hamas, para  reunir as esquerdas extremas com socialistas, ecologistas, (de ideologia europeísta e apoio total à Ucrânia) e comunistas. 

Na Alemanha, o SPD de Olaf Scholz, ficou nas eleições europeias em terceiro lugar, abaixo da AfD, de extrema direita, que domina todas as regiões da antiga RDA. 
Votos da AfD mais os do Die Linke (herdeiro do partido Comunista da RDA e da Aliança Shara Wagenkecht (uma excrescência do SPD com uma ideologia que mistura políticas de extrema esquerda e extrema direita) representam cerca de 25% do total, no país que se cria imune ao regresso do que se assemelhasse ao nazismo.
 
A Europa está hoje rodeada de ameaças e desafios globais, de Putin à China.
Mas a maior preocupação é, obviamente, o apoio à Ucrânia, onde se joga verdadeiramente o futuro da Europa.
 
Talvez os eurófagos se cruzem e se auto eliminem nas galerias que vão minando em sentidos diversos.
 
E em Portugal, num país que, segundo as sondagens publicadas, é na UE dos mais europeístas, quantos, dos que sabem quem ele é, detestam Macron?
 
Pergunto-me e vejo muitas caras conhecidas sorrirem perante o desaire espelhado nos resultados obtidos pelo Presidente francês.

Friday, May 31, 2024

SUSPEITOS FASCISTAS

O telefone tocou às sete da manhã. 
- Quem é? ... O que é que aconteceu?
- Há tropas na rua, diz o teu irmão. Estão a transmitir comunicados de um movimento das forças armadas. Pedem à população que se mantenha calma e que fique em casa. Falou há momentos com o Casimiro, receia-se que seja um golpe do Kaulza para destituir o Tomaz e o Marcelo. 
Liga aí a rádio. 

Confirmava-se um movimento militar, uma força da Escola Prática de Cavalaria (aquela onde, há dez anos, eu entrara para frequentar a primeira parte do curso de cadetes milicianos) comandada pelo capitão Salgueiro Maia, já tinha sob controlo, desde as seis e meia da manhã, o Terreiro do Paço. 
Os comunicados transmitidos pela rádio insistiam que as pessoas se mantivessem em casa até indicações em contrário.
- Vou comer qualquer coisa e dar uma volta por aí. Não demoro.
- És maluco?
- Tenho dias. 
Saí de casa, cerca das oito e meia da manhã, a hora habitual para chegar à empresa, na Rua Marquês de Fronteira.Trânsito automóvel quase nulo, poucos peões, uns por desconhecerem as noticias daquela madrugada, outros porque a curiosidade acicatava o risco. Parei em frente da entrada do escritório, estava a porta fechada, veio o porteiro abri-la, com ar meio desconfiado, logo desfeito com um sorriso quando me reconheceu. 
- Não está cá ninguém. Veio um ou outro, foram-se embora, não estavam ao corrente das notícias, penso eu. Tenho estado de ouvido neste rádio, repetiram há momentos, desta vez através da Emissora Nacional,   o pedido à população que se mantenha calma e que recolha às suas residências. Mas quem é que agora vai ficar em casa? Fico eu porque não posso sair daqui, do meu posto, mesmo em dias feriados.
- Então, hoje é dia feriado?
- Se não é ainda, vai passar a ser. Está já a ir muita gente a caminho da Baixa. Isto está a dar uma volta, não tenho dúvidas. Se pensa também ir para lá, o melhor é deixar o carro por aqui e ir a pé. 
 
No fim do dia, são destituídos das suas funções o Presidente da República, o Governo e dissolvida a Assembleia Nacional e o Conselho de Estado, passando todos os poderes atribuídos aos referidos órgãos  ser exercidos pela Junta de Salvação Nacional.
A festa da revolução popular continuou nos dias seguintes, atingindo o clímax eufórico no dia 1 de Maio, nas primeiras manifestações livres desde há 50 anos. A amizade, a igualdade, eram os elos de ligação agora cantados numa sociedade libertada:   "Em cada esquina um amigo, em cada rosto igualdade ..."

Em meados de Maio, tinham começado a comparecer todos os trabalhadores do departamento, designação que passou a ser aplicável a todos os que trabalhavam na empresa, independentemente das funções que desempenhavam.
As discussões suscitadas pela liberdade de pensamento e expressão pública começaram no meio daquele grupo restrito, não mais que vinte trabalhadores,  assim:
 
- O director é um trabalhador, a dactilógrafa também, o porteiro, idem aspas ... e o dono disto?
Dúvidas daquele quilate de pechisbeque só podiam ter sido levantadas por um "fascista", argumentou o  um jovem com fôlego suficiente para qualquer dialética.
- Perguntar não ofende, penso eu, ...
- Depende da pergunta camarada. A pergunta do nosso camarada é insidiosa. 
- Porquê? A pergunta é muito simples, a resposta não pode ser complicada. O dono de tudo isto é ou não é trabalhador nesta empresa?

Tinha sido só o começo de uma guerrilha interna entre posições extremadas de um lado e de outro, perante a paciência calada de meia dúzia, se tanto: A José B.e José M., dois contabilistas diplomados, estavam atribuídas funções em que eram peritos. O José B., era um profundo conhecedor de música clássica, poeta de mérito reconhecido pelos seus pares e o mais qualificado especialista em língua espanhola, tendo traduzido, além de muito mais, "O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha". Escrevia com letras garrafais, o que facilitava o trabalho da dactilógrafa, enquanto assobiava ópera só para ele ouvir, talvez o parceiro o ouvisse também, viviam os dois no seu mundo privativo, alheados da balbúrdia à volta.  
Os outros, os pacientes, tinham retomado o trabalho, saíam de vez em quando para ir a um café do outro  lado da rua recarregar a paciência para ouvir sem interferir.

- Agora não há Deus nem chefes!, proclamava o mais fanfarrão. 
- O Bragança quer os relatórios de serviços prestados para poder facturar. Sem facturação não há receitas, sem receitas não haverá dinheiro para pagar os salários.
-  O que não falta lá é dinheiro.O Bragança está a armar-se em parvo.
 
Tinham passado meses de forte turbulência, o director do departamento demitira-se, optara por uma carreira a solo. Do trio sénior, um estava dedicado a trabalhar num banco do Grupo, passava pouco tempo na sede, dos outros dois, um aderira ao movimento radical de esquerda, também ali muito maioritário, o outro era considerado suspeito porque não aderira a nenhum dos lados em confronto.
 
Em meados do ano seguinte o Grupo tinha sido nacionalizado.
 
- Fomos nacionalizados! O socialismo não se constrói com fascistas!
- O Bragança precisa das folhas de serviço prestado para poder facturar.
- Isso era ontem, hoje a música é outra! Não há folhas de serviço para ninguém!
- Nem o ordenado ao fim do mês! 
 
É neste contexto que um dia recebo um convite para integrar uma Comissão Coordenado e  Instaladora de uma Empresa Pública resultante da nacionalização de um grupo de empresas do sector rodoviário. Mal por mal, pior não seria, pensei e aceitei.
Daí a dias sou convocado para uma reunião de trabalhadores.
Compareci.
 
- Como é que o camarada explica a sua disponibilidade para deixar a nossa empresa e aceitar desempenhar funções numa actividade que não tem nada a ver com o seu trabalho nos últimos quatro ou cinco anos aqui?
- Como consultor já realizei trabalhos em empresas ou organizações muito diversas. Consultor de organização é consultor em qualquer actividade. 
- E quem, neste caso, requisitou os seus serviços?
- Admito que seja a entidade que assina a requisição em vosso poder.
- Admite? Quer dizer que não sabe?
- Não, não sei, não recebi cópia da requisição. 
- Mas sabe quem o convidou ...
- Sei, mas não vou dizer, por uma questão de princípio, de que não abdico.  
- Hum! O camarada não esteve há semanas numa reunião alargada de trabalhadores?
- Estive.
- Mas saiu a meio, se bem me lembro.
- Lembra-se bem. Saí a meio quando percebi que não teria possibilidade de intervir e os dados estavam lançados.
- Quais dados?
- O saneamento de dois consultores por suspeição de serem fascistas, suspeição talvez fundada no facto de se manterem calados num ambiente de confronto ideológico no local de trabalho. 

O interrogatório ficou por ali. Trabalhei durante cinco meses como membro da Comissão para a qual tinham sido requisitados os meus serviços. Até ao dia em que solicitei uma reunião com o presidente da Comissão.

- Então quer deixar-nos porquê?
- Porque não estou a ter um contributo útil aqui. Não há nenhuma razão, económica ou ideológica que seja, que justifique as funções que me foram atribuídas de gestão de actividades que caíram na esfera de gestão do Estado por arrastamento de outras, eventualmente estratégicas no sector público. Faz algum sentido a gestão pública de agências de viagens?
- Não, não faz, mas este ainda não é o momento para corrigir o que deve ser corrigido. Vamos furar esta onda e ficar frescos para a que vier a seguir.
-  Compreendo mas vou voltar à base e procurar outro mar.

Saturday, October 15, 2022

TODOS NO MESMO CABAZ, E FICA ASSEGURADA A PAZ

De Miguel Monjardino lia-se no Expresso de 7 deste mês uma das suas habituais crónicas sobre política internacional naquele semanário, que transcrevo.

Transcrevo, 
não porque o artigo acrescente novidade acerca do que tem sido notícia corrente desde o momento em que Putin iniciou "operação  militar especial" em 24 de Fevereiro, há quase oito meses, período durante o qual a "operação militar especial" se transformou "numa guerra civilizacional que tem de ganhar, a todo o custo, para que os seus valores autocráticos prevaleçam. Fascistas, comunistas e departamentos universitários europeus e americanos partilham esta avaliação"
mas porque 
Monjardino escreve, e ele estará muito bem informado sobre o que afirma, "departamentos universitários europeus e americanos" partilham da opinião de que, por um lado, os pérfidos “anglo-saxões” dominam europeus e japoneses para tentar controlar e explorar o mundo. Por outro, o satanismo, o racismo, o liberalismo político e a decadência moral no mundo anglo-saxão condenam-no à decadência."
 
Que comunistas e fascistas são admiradores de Putin e aplaudem os seus objectivos para,    "autocraticamente, imporem os seus valores civilizacionais contra o satanismo, o racismo, o liberalismo político e a decadência moral no mundo anglo-saxão condenado à decadência", também não é novidade.
Que departamentos universitários europeus e americanos façam parte do mesmo cabaz, é uma novidade, se for verdade, que não entendo. A expressão "departamentos universitários" é vaga: São todos? Não são todos. São a grande maioria? A maioria? Alguns. Sejam quantos forem, é preocupante que esteja a chocar, outra vez, nos meios académicos o ovo da serpente de uma despótica ditadura fascista ou comunista global. 
 
MM começa o seu artigo recordando que há 40 anos, "as armas nucleares eram recorrentes nas conversas políticas ... (MM refere-se ao ambiente na Faculdade de Direito, que ele frequentava, certamente como exemplo de uma discussão mais generalizada nos meios universitários), ... o fantasma da guerra nuclear era preocupante".
Hoje, a acreditar no que escreve MM, o fantasma da guerra nuclear não parece preocupar os universitários europeus e norte-americanos porque a adesão a uma nova ordem mundial garantida por um regime totalitário global, comunista ou fascista, tanto faz, assegurará a paz e tornará obsoleto o arsenal nuclear, e a espécie humana sobreviverá por mais uns tempos.
 
Devo ter entendido mal. 
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* MM teve a amabilidade de me informar (via e-mail) de que "referia-se a alguns departamentos universitários nos EUA e alguns países europeus onde não existe propriamente grande afeição pela democracia liberal. Aliás, nada disto é novo. A predisposição de alguns académicos /intelectuais que vivem em países democráticos pelas ideologias autocráticas/totalitárias é, infelizmente, antiga."
  
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No aniversário de Putin - Miguel Monjardino - c/p EXPRESSO

"Há 40 anos, quando frequentava a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, as armas nucleares eram recorrentes nas conversas políticas. Entre as aulas de Direito das Obrigações e de Finanças Públicas, o fantasma da guerra nuclear fazia parte das nossas preocupações. As divergências eram enormes. Nos jornais, o tema era frequente. Na primavera de 1983, o discurso de Ronald Reagan com a proposta da Iniciativa de Defesa Estratégia deu origem a uma polémica nos países da NATO.

É importante recordar isto agora. Em Moscovo, está em curso a inevitável mudança do triunfalismo imperial para a dúvida e a rejeição. É difícil encontrar na história militar caso equivalente ao da Rússia na Ucrânia. Uma grande potência militar, com arte operacional da guerra temida pelas forças armadas europeias e equipamento avançado, não consegue vencer a resistência de um inimigo que, supostamente, devia ter entrado em colapso em alguns dias.

Vladimir Putin faz hoje 70 anos. É um decisor político obcecado pela sua marca histórica. Tal explica, em parte, a invasão da Ucrânia. Como demonstrou o extraordinário discurso da semana passada, o líder russo tem outro objetivo estratégico: desmantelar a ordem internacional que, segundo o Kremlin, garante a hegemonia dos Estados Unidos. Putin acredita convictamente em duas coisas contraditórias. Por um lado, os pérfidos “anglo-saxões” dominam europeus e japoneses para tentar controlar e explorar o mundo. Por outro, o satanismo, o racismo, o liberalismo político e a decadência moral no mundo anglo-saxão condenam-no à decadência. Tal levou-o a concluir que a Rússia está envolvida numa guerra civilizacional que tem de ganhar, a todo o custo, para que os seus valores autocráticos prevaleçam. Fascistas, comunistas e departamentos universitários europeus e americanos partilham esta avaliação.

Como reagirão Putin e o seu regime às crescentes dificuldades da guerra na Ucrânia? Convém termos presente que a tentativa dos Estados Unidos e dos países europeus de o dissuadirem de invadir falhou no dia 24 de fevereiro. Putin tem três opções que podem ser combinadas entre si.

A primeira é continuar a guerra e esperar que a mobilização resolva os problemas da falta de infantaria e de equipamento nos teatros de operações. Na primavera, os problemas políticos e económicos na Europa e nos Estados Unidos deverão levar os seus governos e opiniões públicas a compreender que é do seu interesse negociar com Moscovo e garantir a continuidade do poder de Putin. A segunda opção é uma declaração unilateral de cessar-fogo ao longo da atual linha da frente. Tal poderia criar divisões importantes entre Kyiv e seus apoiantes e dar tempo ao Kremlin para recuperar forças e equipamento. Por fim, resta-lhe a coerção em termos de retórica, sinalização e, no limite, utilização de armas nucleares táticas na Ucrânia ou na vizinhança para quebrar o consenso euro-atlântico e forçar uma negociação favorável aos seus objetivos.

Nos 70 anos de Putin, devemos levar a sério a sua retórica sobre as armas nucleares e ponderar as nossas decisões e dilemas."

Monday, August 01, 2022

FASCISMO RUSSO

 Vladimir Putin is in thrall to a distinctive brand of Russian fascism

That is why his country is such a threat to Ukraine, the West and his own people

A Russian honour guard marches on Red Square during the Victory Day military parade in central Moscow on May 9, 2022. - Russia celebrates the 77th anniversary of the victory over Nazi Germany during World War II. (Photo by Alexander NEMENOV / AFP) (Photo by ALEXANDER NEMENOV/AFP via Getty Images)

What matters most in Moscow these days is what is missing. Nobody speaks openly of the war in Ukraine. The word is banned and talk is dangerous. The only trace of the fighting going on 1,000km to the south is advertising hoardings covered with portraits of heroic soldiers. And yet Russia is in the midst of a war.

In the same way, Moscow has no torch processions. Displays of the half-swastika “z” sign, representing support for the war, are rare. Stormtroopers do not stage pogroms. Vladimir Putin, Russia’s ageing dictator, does not rally crowds of ecstatic youth or call for mass mobilisation. And yet Russia is in the grip of fascism. - more

Tuesday, July 26, 2022

A TERCEIRA ROMA - PARTE 3

Russia says it wants to end Ukraine’s `unacceptable regime’ - aqui


Mas qual é, afinal, o objectivo último de Putin?

- Ser o fundador, o primeiro Imperador do Sacro Império Russo, com Moscovo como Terceira Roma, sendo a salvação humana o objectivo último.
- Não estás a falar a sério …
- Lê estas notícias,

 
E depois a Itália

Na Itália, líder da extrema direita ganha força com discurso pós-fascista - aqui

 
 

 

 

 

Sunday, April 10, 2022

A ÉGUA DE TRÓIA

Putin nunca escondeu que o seu objectivo maior é recriar o Império Russo.
Arrasar a Ucrânia é apenas um primeiro movimento para estender as fronteiras da Federação Russa até onde a pusilanimidade dos vizinhos o consentir. Para conseguir esse intento exibe, sem qualquer disfarce, o arsenal atómico ao seu dispor, e garante que não hesitará usá-lo se tal for necessário para o atingir.
 
Talvez esse extremo seja evitável, pensará ele, tem outros meios para subjugar a União Europeia se os depravados europeus (por serem depravados, o Patriarca de Moscovo, o seu amigo e aliado Cirilo I, abençoa os propósitos do seu amigo Putin com o objectivo de salvar a humanidade) não forem, entretanto submergidos pela vaga extremista (fascista, nazi, seja o que forem porque o extremos tocam-se) que alastra na União Europeia, financiada por Putin. 

É neste contexto que hoje se realizam em França eleições presidenciais e é muito provável  que Marine Le Pen seja a próxima presidente da França.
A França governada por Le Pen, para além de chauvinista e racista, é declaradamente anti europeísta, abrirá a maior fractura numa União Europeia que tem sido estruturada com avanços e recuos, compromissos e conivências para agradar a gregos e troianos, será o cavalo (ou a égua?) de Tróia que os democráticos europeus distraidamente, ou coniventemente, deixaram entrar.
 
É inadiável saber quem, neste momento, se declara, sem mas nem meios mas, neste ou no outro lado da amovível cortina de ferro que Putin está a erguer. Se essa separação de águas não for feita e tudo continuará a tentar sobreviver no pântano, Putin será não apenas Imperador de Rússia recriada mas de uma Eurásia engolindo todo o espaço de Lisboa a Vladivostok. : O aliado de Vladimir Putin e antigo presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, sugeriu que o objetivo de Moscovo é "a paz das futuras gerações de ucranianos" e construir finalmente "uma Eurásia aberta entre Lisboa e Vladivostok".
 
Impossível?
Muito possível se, distraidamente, as democracias continuarem inebriadas com a música enquanto o cultura ocidental se afunda.

Tuesday, November 05, 2019

JUVENTUDE NEURÓTICA





O autor, austríaco, desta peça de teatro em cena no Teatro AbertoFerdinand Bruckner ( Sófia 1891 - Berlim 1958 ) situou este seu trabalho sugerido pela instabilidade psicológica da juventude vienense percepcionada pelo autor nos anos 20 do século passado. A peça foi publicada em 1929, a acção decorre em 1923, e encena uma epidemia moral que atingia a juventude burguesa daquele tempo em Viena e se alastrava pela Europa no pós-primeira guerra mundial.
Resumidamente, há um grupo de estudantes de medicina, três rapazes, três raparigas e uma jovem e inocente empregada do grupo. Um dos estudantes é dominador e regozija-se a destruir as relações entre eles: corrompe a inocente empregada, anima as tendências suicidas da bissexual aristocrática, e acaba por  voltar-se para quem antes repudiou ostensivamente.
É nesta amostra de neurose colectiva da juventude que Bruckner sugere a emergência do fascismo, e nova guerra, duas décadas depois.

Sugere a reposição desta peça publicada há noventa anos a recidiva de uma situação patológica moral com sintomas semelhantes nos dias de hoje, augurando idênticas consequências? É essa a implícita  explicação desta e de outras reposições recentes da peça.

Relativamente ao trabalho em cena no Teatro Aberto, considero, mais uma vez a propósito das mais recentes representações do TA, que a projecção de vídeos desvaloriza a arte do teatro, o cenário, de tão exagerado em dimensões e iluminações, desvia a atenção dos espectadores da expressividade dos actores. E o guarda roupa é um excesso: em gosto, porque Tenente é um bom estilista, em quantidade porque uma peça de teatro não é um desfile de moda. Ainda que um desfile de moda tenha o seu lado teatral.

Monday, April 24, 2017

QUADRILHA NACIONALISTA

- Em quem votarias na segunda volta se votasses em França: em Macron ou em Marine Le Pen?
- Nem num nem noutro! Abstinha-me!
- Abstinhas-te?
- Abstinha-me. 

A pergunta foi feita a um dos participantes do "Eixo do Mal", aquele que foi membro da Juventude Comunista nos anos 80, saiu do PCP para participar na fundação da Plataforma de Esquerda, migrando três anos depois para participar na fundação do Bloco de Esquerda, abandonando a militância partidária oito anos mais tarde.

Quantos militantes ou ex-militantes da esquerda comunista ou da extrema-esquerda assumirão em 7 de Maio a mesma posição de Daniel de Oliveira? Quantos, dos que votaram em Fillon, Hamon, apesar das indicações de voto em Macron se absterão ou votarão em Marine Le Pen? Quantos dos que votaram em Mélenchon, que ainda não deu até agora qualquer indicação de voto, votarão em Le Pen ou se absterão? As sondagens dão a Macron uns folgados 68% contra Le Pen na segunda volta mas serão as sondagens tão certeiras quanto o foram na primeira? 

O assunto não é despiciendo mas não foi por essa razão que me ocorreu comentar a resposta de um ex-comunista-plataformista-bloquista-independente-até-mais-ver. O que parece inédito, mas não é, nas actuais tendências do eleitorado em regimes democráticos é a vaga da sedução pelos extremos, sejam eles de direita ou de esquerda, sobretudo do eleitorado mais jovem, que leva à formação de frentes nacionalistas que juntam comunistas, ex-comunistas-saudosistas, fascistas, racistas, xenófobos, chauvinistas, neo-nazis, e outros extremistas contra a democracia e a Europa. É a sedução nacionalista, num lado e noutro dos extremos, que, novamente, setenta anos depois do último grande
conflito bélico mundial, encaminha para a desagregação a frágil unidade europeia ainda que a provável vitória de Macron a 7 de Maio possa conter o avanço nacionalista na Europa durante os próximos anos.

Dos nove candidatos que concorreram na primeira volta às eleições para a presidência francesa, apenas Emmanuel Macron, que não é suportado por nenhum partido, se afirmou europeísta convicto. Recolheu apenas 23% dos votos, um número suficiente para o colocar na segunda volta e, muito provavelmente, ser presidente de França dentro de duas semanas, mas que confirma que a União Europeia continua sem partidos nem cidadãos que inequivocamente se assumam como europeus.
E sem europeus, Europa continuará a ser apenas nome de um continente de estados-nações condenados a agredirem-se uns aos outros ad seculum seculorum.


Sunday, November 20, 2016

DE LESTE E OESTE SOPRAM NUVENS NEGRAS SOBRE A EUROPA

Não compreendo, mas reconheço, que a tese do politicamente correcto, como justificação da vitória de Trump, esteja a prevalecer na identificação das causas de um sucesso que, não muitos dias antes de 8 de Novembro, era considerado pela generalidade das sondagens como altamente improvável. 

Coloquem-se de parte as causas dos erros das sondagens e foquemos-nos nos resultados. Quem venceu?
Claramente, aqueles que aderiram ao discurso de Trump.
Foi o discurso de Trump um discurso "politicamente incorrecto" e, por esse motivo, sobrepôs-se ao discurso "politicamente correcto" dos seus opositores nas primárias e de Hillary Clinton na corrida final?

Houve, obviamente, uma inversão do sentido das palavras que parece estar a ser geralmente despercebido. Uma mensagem "politicamente correcta" é (ou era) aquela com a qual o emissor procura ir de encontro aquilo que os receptores, na sua maioria, querem ouvir. 
Ou não?
Se assim é, foi Trump e não Clinton quem discursou de forma mais politicamente eficaz, i.e., da forma mais politicamente correcta.

Pelos vistos os norte-americanos que votaram em Trump (menos do que aqueles que votaram em Clinton, mas com melhores resultados pelas razões conhecidas) não votaram por melhor assistência na doença, por melhor segurança social, por mais e melhor emprego (a economia dos EUA está a crescer bem e em quase em situação de pleno emprego) nem por mais igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. As mulheres brancas, aliás, votaram maioritariamente (53%) em Trump. São masoquistas, estúpidas ou adoram ser pegadas pela vagina como disse Trump?

Para mim, a resposta é clara: Trump venceu porque apelou aos instintos nacionalistas, xenófobos, racistas de muitos norte-americanos. Se não porque outra razão? Neste sentido, fez um discurso "politicamente correcto". Ou não?
Não quero acreditar que, os que votaram em Trump, o tenham feito por birra a quem apetece mas não se pode dar uma palmada. Ou por estouvamento juvenil geralmente mal desculpado. 
Agora, não resta senão esperar que a dignidade democrática amadureça os "imaturos" sem palmadas. 

E que a Europa, onde as vagas de nacionalismo atingem alturas assustadoras, não caia nas mãos de trumpitos**.

---
*  Comentário colocado aqui a propósito desta e desta reflexões de J C Alexandre.
**Em França estão a decorrer as primárias para a nomeação do candidato da direita moderada que deverá enfrentar Marine Le Pen, já que a esquerda se encontra desbaratada à partida. Um dos candidatos, Sarkozy, ex-presidente da República, e também o mais mediático, segundo li algures, "mimetiza nos seus discursos os discursos de Marine Le Pen". 
Um trumpito.

Monday, June 02, 2014

OLHA QUE DOIS

Não é novidade para ninguém, salvo para os comparados, que são mais perturbadoras as semelhanças que as diferenças entre as ideologias fascistas/nazis e comunistas, ainda que esta comparação possa fazer espumar de raiva e dar saltos de corça aos extremos que se tocam. Afirma, por um lado,  Marine Le Pen: "Quero destruir a União Europeia ... A Europa é a guerra. A guerra económica, um aumento das hostilidades entre os países. Os alemães são insultados e acusados  de crueldades, os gregos são acusados de gastadores e os franceses de vagos". E, do outro lado extremo, ouve-se que "foi o PCP  ainda o primeiro, e até hoje o único, partido a colocar como objectivo político, a luta pelo fim da União Económica e Monetária".

Não estão sós. Com mais ou menos as mesmas intenções de destruição da União Europeia, invocadamente, para salvar a Europa, estarão representados no futuro PE um leque de partidos que, sendo, por enquanto bastante minoritários, e impossivelmente miscíveis num mesmo quadrante parlamentar, irão continuar a cantar a canção do nacionalismo que encanta cada vez mais gente de norte a sul da Europa. Num continente milenarmente fracturado, a ideia fundadora da contrução da União Europeia e, mais tarde, a criação do euro, confrontam-se com um nacionalismo atávico, e aqueles que se dizem defensores da integração europeia coibem-se, por adaptação manhosa às circunstâncias ou vacilação nas convicções, de opor à prevalência do discurso nacionalista o da integração política que só pode ser tendencialmente federativa. 

Há quem defenda, e eu concordo, que a extensão da abstenção nas eleições e a progressão dos nacionalistas, digam-se eles de direita ou de esquerda, irá obrigar aqueles que se lhes opõem a um posicionamento claro que até agora não assumiram, e a procederem em conformidade. O avanço nacionalista, com todo o seu cortejo de racismo, xenofobia e chauvinismo,  é agora de tal modo evidente, que só uma defesa forte e determinada dos valores postos em causa, ainda que de modo camuflado, pode conter e evitar a repetição da endémica tradição de confronto bélico entre europeus.

Os próximos anos serão cruciais para garantir a paz na Europa. Quando, em 1960, De Gaulle lançou a ideia de uma Europa das nações (também repescada por Le Pen) estava longe de supor a evolução do resto do mundo, agora transformado numa aldeia global, um termo cunhado poucos anos depois da designação gaullista. Muitas das palavras do chefe de Estado francês* subsistem ainda hoje como principal argumentário, eficazmente convincente, dos nacionalistas contra a integração federativa da Europa.

Mas o mundo mudou, e mudou muito. E se a Europa não mudar continuará a ver  passar por si o mundo.

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cit. adapt. a partir daqui

Europa das nações em 1960

Para De Gaulle importava actuar, não de acordo com os sonhos, mas sim em conformidade com as realidades, para construir a Europa, isto é, unificá-la. Ora quais são as realidades da Europa? Quais são os alicerces sobre os quais queremos construi-la? Na verdade, são os Estados que, de certo são muito diferentes uns dos outros, que têm cada um a sua alma para si, a sua história para si, a sua língua para si, os seus infortúnios, as suas glórias, as suas ambições para si, mas Estados que são as únicas entidades que  têm o direito de ordenar e a autoridade para agir. Fingir-se que pode construir-se qualquer coisa  que seja eficaz para a acção e que seja aprovado pelos povos por fora e por cima dos Estados, é uma quimera. Seguramente, esperando qu'on a pris corps à corps e no seu conjunto o  problema da Europa, é verdade que se pôde  instituir certos organismos mais ou menos  extranacionais. Estes organismos têm o seu valor técnico mas não têm nem podem ter autoridade e  por conseguinte eficácia política.


Defesa da cooperação política

Assim, propõe que se ultrapasse o problema da instituição daquilo que qualifica como cooperação política: assegurar a cooperação regular da Europa ocidental, é o que a França considera como sendo desejável, como sendo possível e como sendo prático no domínio político, no domínio cultural e no da defesa. Isso implica um concerto organizado e regular dos governos  responsáveis e em seguida o trabalho de organismos especializados em cada um dos domínios comuns  e subordinados aos governos; isso implica a deliberação periódica de uma Assembleia que seja formada  pelos delegados dos Parlamentos nacionais e, em meu entender, isso deve implicar a mais cedo possível, um solene referendo europeu de maneira a dar a tal  ponto de partida da Europa o carácter de adesão e de intervenção popular que lhe é indispensável. Conclui, assim, que se enveredarmos por esse caminho ... forjar-se-ão elos, adquirir-se-ão hábitos e, com o tempo, é possível que venham a dar-se outros passos para a unidade europeia.

A Europa como confederação de nações 
  
O mesmo De Gaulle, numa conferência de imprensa de  31 de Dezembro de 1960,  proclama: nós faremos, em 1961, o que temos de fazer: ajudar a construir  a Europa que, confederando as suas Nações, pode e deve ser para o bem dos homens a maior  potência política, económica, militar e cultural que jamais existiu. Este mesmo De Gaulle, considerava  num artigo de 1948 que  A Europa deverá ser uma federação de povos livres.  Em Abril de 1962  considerará: Se a União Política não for instituída, que ficará do Mercado Comum? Não deixava,  no entanto, de salientar em privado:  A Europa é um meio para a França tornar a ser o que era antes  de Waterloo: a primeira no Mundo (Agosto de 1962). Também, em privado, salientava em  Setembro de 1962: o interesse egoísta da França é que a Alemanha continue dividida o mais  tempo possível. Mas nisto não será eterno. Adenauer pensa-o, engana-se. O futuro vai desmenti-lo.  A natureza das coisas será a mais forte. A Alemanha há-de reunificar-se.  Na mesma altura  salientava que  as únicas realidades internacionais são as nações.

 A Rússia secará o comunismo como o mata borrão seca a tinta.

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Correl. - A União Europeia vai destruir a Europa - José Gil