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Tuesday, January 21, 2025

A PLUTOCRACIA AMERICANA

Entronizada, pela segunda vez, por um cesto de deploráveis.
Basket of deplorables foi o termo que Hillary Clinton usou para caracterizar aqueles menos afortunados, apoiantes de Trump.
 
Por falar verdade, Hillary perdeu as eleições para Trump em 2016. 
Trump torceu as palavras de Clinton durante toda a campanha. Hillary Clinton recuou no dia seguinte, e esse recuo foi determinante para a vitória de Trump.
O politicamente correcto nem sempre dá dividendos e pode mesmo determinar derrotas.
Trump nunca recua mesmo que afirme as mais evidentes mentiras ou negue as mais cristalinas verdades.
Assim sendo, em tempos dominados por notícias falsas, mentiras, calúnias ...onde mora o politicamente correcto?

A partir de ontem a democracia norte-americana, que, pelo The Economist Democracy Index já era considerada no grupo das democracias com falhas, Flawed democracies, irá, certamente, experimentar brutal descida no índice do Economist.



Só no núcleo executivo do novo Governo norte-americano há cinco membros com fortunas superiores a 100 milhões de dólares e quatro nomeados com passagem pela Fox News".

 

Um Governo de milionários: quem é quem na nova Administração Trump
Pete Hegseth (Defesa), Kristi Noem (Segurança Interna), Lee Zeldin (Agência de Protecção do Ambiente), Linda McMahon (Educação), Doug Burgum (Interior) e Howard Lutnick (Comércio), entre outros nomeados para a nova Administração, jantaram este sábado com o próximo vice-presidente dos EUA, J.D. Vance


Thursday, August 15, 2024

CAPITALISMO RELIGIOSO

Para entretenimento de duas das minhas netas, coloquei anteontem no leitor de DVD os "Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras", no título original "Those Magnificent Men in Their Flying Machines or How I Flew From London To Paris in 25 Hours 11 Minutes", de 1965, e recordei-me do Cinema Império. 
 
Foi lá que assisti, deliciado, à projecção dos Gloriosos Malucos. Foi lá, mas num espaço mais reduzido criado no andar superior, que assisti à apresentação em Portugal de alguns filmes, que passaram a designar-se por filmes de autor.
O Império e o São Jorge eram os maiores espaços/cinemas de Lisboa. 
Nesse tempo, ir ao cinema era uma oportunidade de festa, de convívio. 
Hoje os filmes são projectados em autênticos buracos em centros comerciais, com os sons do mastigar de pipocas e o gargarejar de Coca Cola, de grande parte dos espectadores, ou será de raatos?, a misturar-se com os sons dos filmes.

Outro espaço cinema/teatro era o "Monumental".
Hoje ocupado pelo BPI, após destruição, transformação como centro comercial, três ou quatro buracos para projecção de filmes até nova transformação, desta vez para banco. 
 
Foi no "Monumental" que vi "West Side Story", 1961. Um filme feito para uma tela gigante e características acústicas que criavam uma envolvência que nos fica para toda a vida. 
Há filmes, ou havia, filmes que não cabem nos buracos dos centros comerciais. 
Há excepções? Há. mas são poucas.

O Império encerrou as portas no fim de 1983.  
"Em 1992, lê-se na Wikipédia, o edifício foi convertido na Catedral portuguesa da Igreja Universal do Reino de Deus ", um negócio exponencial do capitalismo religioso. 
 
Escrevo "capitalismo religioso" sem receio de ofender ninguém porque, sobretudo entre os evangélicos, não só no Brasil e nos EUA, onde preponderam, o capitalismo é a alma da sua expansão sem paralelo, e assumido como tal pelos pastores e pelas suas ovelhas.
Conforme com a sua natureza, e não só dos evangélicos mas também de outras confissões religiosas, o capitalismo religioso não se contém dentro dos específicos limites dos seus negócios porque se projeta e promove nas arenas da política. 
 
A este propósito, e direccionado a quem tenha interesse nestas questões, pode ler "A pastor said his pro-Trump prophecies came from God. His brother called him a fake". a saga de uma família norte-americana de pastores evangélicos do Alabama, pai e dois irmãos. O irmão júnior afirmou-se profeta, teria recebido de Deus a indicação que Trump deveria ser eleito (em 2020), ripostando o mais velho que o júnior era um mentiroso. 
Interveio o pastor pai a favor do pretenso profeta lembrando ao outro que negar a palavra do profeta é negar a palavra de Deus.
O artigo é longo, mas merece ser lido.

E merece ser lido porque retrata bem por que razão crescem os evangélicos como cogumelos.
 
Os evengélicos não dependem de um poder central, são livres de se estabelecerem como pregadores onde e até quando a sua palavra é ouvida pelos seus clientes. Se a audiência aumenta, expandem o espaço, se audiência se contrai, vão procurar outros locais mais absorventes das suas palavras.
O sucesso do negócio de cada pastor depende da capacidade de convicção das suas palavras.
O seu instrumento básico de trabalho é a sua palavra, a Bíblia o apoio da sua arte.
 
Mas não se pense que o pastor tem formação estruturada por uma qualquer autoridade da qual depende. 
Mesmo a construção de templos e abertura de locais de culto pode depender ou não de autorização das autoridades administrativas locais. 

O pastor evangélico não tem de frequentar seminário, lê e prega conforme a pulsação que observa das suas audiências.
Pode e é geralmente casado. 
Pode e geralmente acumula o negócio religioso com rendimento assegurado pelos fiéis com o lucro de negócios de natureza não religiosa. E neste ponto se alargou o afastamento entre os dois irmãos: mesmo tendo o profeta falhado na eleição de Trump, já os seus devotos tinham esquecido a profecia porque o profeta se tinha tornado um super star, mais ouvido e admirado que antes. E o mais velho contorce-se com tanto proveito de tanta falsidade do outro.

Em alguns pontos falta originalidade aos evangélicos, mas não em todos, admita-se.

Sunday, May 07, 2023

O CAOS PORTUGUÊS

 O pior não é o caos português, que é um causito, por assim dizer. O pior mesmo é o caos europeu, o caos norte-americano, o caos mundial. O mundo encontra-se em situação de instabilidade global que não augura nada de bom. Se os EUA deixam cair a Europa nas mãos de Putin, uma hipótese altamente provável se a guerra na Ucrânia se arrasta e os republicanos crescem, adeus Europa até daqui a cem anos atrás….

(comentário colocado aqui )


Saturday, October 15, 2022

TODOS NO MESMO CABAZ, E FICA ASSEGURADA A PAZ

De Miguel Monjardino lia-se no Expresso de 7 deste mês uma das suas habituais crónicas sobre política internacional naquele semanário, que transcrevo.

Transcrevo, 
não porque o artigo acrescente novidade acerca do que tem sido notícia corrente desde o momento em que Putin iniciou "operação  militar especial" em 24 de Fevereiro, há quase oito meses, período durante o qual a "operação militar especial" se transformou "numa guerra civilizacional que tem de ganhar, a todo o custo, para que os seus valores autocráticos prevaleçam. Fascistas, comunistas e departamentos universitários europeus e americanos partilham esta avaliação"
mas porque 
Monjardino escreve, e ele estará muito bem informado sobre o que afirma, "departamentos universitários europeus e americanos" partilham da opinião de que, por um lado, os pérfidos “anglo-saxões” dominam europeus e japoneses para tentar controlar e explorar o mundo. Por outro, o satanismo, o racismo, o liberalismo político e a decadência moral no mundo anglo-saxão condenam-no à decadência."
 
Que comunistas e fascistas são admiradores de Putin e aplaudem os seus objectivos para,    "autocraticamente, imporem os seus valores civilizacionais contra o satanismo, o racismo, o liberalismo político e a decadência moral no mundo anglo-saxão condenado à decadência", também não é novidade.
Que departamentos universitários europeus e americanos façam parte do mesmo cabaz, é uma novidade, se for verdade, que não entendo. A expressão "departamentos universitários" é vaga: São todos? Não são todos. São a grande maioria? A maioria? Alguns. Sejam quantos forem, é preocupante que esteja a chocar, outra vez, nos meios académicos o ovo da serpente de uma despótica ditadura fascista ou comunista global. 
 
MM começa o seu artigo recordando que há 40 anos, "as armas nucleares eram recorrentes nas conversas políticas ... (MM refere-se ao ambiente na Faculdade de Direito, que ele frequentava, certamente como exemplo de uma discussão mais generalizada nos meios universitários), ... o fantasma da guerra nuclear era preocupante".
Hoje, a acreditar no que escreve MM, o fantasma da guerra nuclear não parece preocupar os universitários europeus e norte-americanos porque a adesão a uma nova ordem mundial garantida por um regime totalitário global, comunista ou fascista, tanto faz, assegurará a paz e tornará obsoleto o arsenal nuclear, e a espécie humana sobreviverá por mais uns tempos.
 
Devo ter entendido mal. 
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* MM teve a amabilidade de me informar (via e-mail) de que "referia-se a alguns departamentos universitários nos EUA e alguns países europeus onde não existe propriamente grande afeição pela democracia liberal. Aliás, nada disto é novo. A predisposição de alguns académicos /intelectuais que vivem em países democráticos pelas ideologias autocráticas/totalitárias é, infelizmente, antiga."
  
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No aniversário de Putin - Miguel Monjardino - c/p EXPRESSO

"Há 40 anos, quando frequentava a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, as armas nucleares eram recorrentes nas conversas políticas. Entre as aulas de Direito das Obrigações e de Finanças Públicas, o fantasma da guerra nuclear fazia parte das nossas preocupações. As divergências eram enormes. Nos jornais, o tema era frequente. Na primavera de 1983, o discurso de Ronald Reagan com a proposta da Iniciativa de Defesa Estratégia deu origem a uma polémica nos países da NATO.

É importante recordar isto agora. Em Moscovo, está em curso a inevitável mudança do triunfalismo imperial para a dúvida e a rejeição. É difícil encontrar na história militar caso equivalente ao da Rússia na Ucrânia. Uma grande potência militar, com arte operacional da guerra temida pelas forças armadas europeias e equipamento avançado, não consegue vencer a resistência de um inimigo que, supostamente, devia ter entrado em colapso em alguns dias.

Vladimir Putin faz hoje 70 anos. É um decisor político obcecado pela sua marca histórica. Tal explica, em parte, a invasão da Ucrânia. Como demonstrou o extraordinário discurso da semana passada, o líder russo tem outro objetivo estratégico: desmantelar a ordem internacional que, segundo o Kremlin, garante a hegemonia dos Estados Unidos. Putin acredita convictamente em duas coisas contraditórias. Por um lado, os pérfidos “anglo-saxões” dominam europeus e japoneses para tentar controlar e explorar o mundo. Por outro, o satanismo, o racismo, o liberalismo político e a decadência moral no mundo anglo-saxão condenam-no à decadência. Tal levou-o a concluir que a Rússia está envolvida numa guerra civilizacional que tem de ganhar, a todo o custo, para que os seus valores autocráticos prevaleçam. Fascistas, comunistas e departamentos universitários europeus e americanos partilham esta avaliação.

Como reagirão Putin e o seu regime às crescentes dificuldades da guerra na Ucrânia? Convém termos presente que a tentativa dos Estados Unidos e dos países europeus de o dissuadirem de invadir falhou no dia 24 de fevereiro. Putin tem três opções que podem ser combinadas entre si.

A primeira é continuar a guerra e esperar que a mobilização resolva os problemas da falta de infantaria e de equipamento nos teatros de operações. Na primavera, os problemas políticos e económicos na Europa e nos Estados Unidos deverão levar os seus governos e opiniões públicas a compreender que é do seu interesse negociar com Moscovo e garantir a continuidade do poder de Putin. A segunda opção é uma declaração unilateral de cessar-fogo ao longo da atual linha da frente. Tal poderia criar divisões importantes entre Kyiv e seus apoiantes e dar tempo ao Kremlin para recuperar forças e equipamento. Por fim, resta-lhe a coerção em termos de retórica, sinalização e, no limite, utilização de armas nucleares táticas na Ucrânia ou na vizinhança para quebrar o consenso euro-atlântico e forçar uma negociação favorável aos seus objetivos.

Nos 70 anos de Putin, devemos levar a sério a sua retórica sobre as armas nucleares e ponderar as nossas decisões e dilemas."

Saturday, October 08, 2022

ACERCA DO ARSENAL NUCLEAR ACTUAL

Here are the nuclear weapons Russia has in its arsenal - c/p Washington Post

Giving in to Putin’s nuclear blackmail would be a geopolitical disaster

Há 60 anos, à beira do Abismo  

"No curso de mais de quatro décadas da Guerra Fria, cada um dos lados foi responsável pela sua parcela de arremetidas e tropeços perigosos. No campo soviético, houve o falhado estrangulamento de Berlim em 1948-49 e a invasão da Coreia do Sul pela do Norte em junho de 1950. Passados cinco meses, o arrogante general Douglas Mac Arthur conduziu rapidamente e em força as tropas das Nações Unidas até às fronteiras da Coreia do Norte com a China e advogou depois o emprego de armas nucleares, como forma de retaliação pelas humilhações que os «voluntários» do Exército de Libertação Popular de Mao Zedong lhe tinham infligido no campo de batalha. Mais tarde, vieram, em 1956, a repressão soviética do Levantamento Húngaro e a invasão anglo-francesa do Egito para reaver a posse do Canal de Suez. O ataque a Cuba de abril de 1961 patrocinado pelos EUA abalou a incipiente administração Kennedy. Em 1968, tropas soviéticas suprimiram sangrentamente a «Primavera de Praga». Dois anos mais tarde, as greves dos estaleiros de Gdansk foram do mesmo modo reprimidas a tiro. A intervenção no Afeganistão em 1978-79 revelou-se um desastre para a União Soviética, rivalizando com aquele gerado pela longa agonia da América no Vietname, que se tornou uma tragédia muito mais profunda para os povos da Indochina.

Nenhum destes acontecimentos, porém, nem outros que envolveram os dependentes de ambos os lados, se equiparou ao perigo criado pela Crise dos Mísseis de Cuba em 1962. Alguns historiadores procuram hoje em dia diminuir a sua gravidade. Garantem eles: nenhum dos lados queria uma guerra nuclear. Isto é verdade, mas parece totalmente errado supor que era improvável que o pior acontecesse. Em 1992, numa conferência em Havana sobre a Crise, o ex-secretário da Defesa dos Estados Unidos Robert McNamara manifestou o seu espanto perante as revelações sobre o arsenal à disposição dos defensores soviéticos de Cuba trinta anos antes, incluindo armas nucleares táticas. Disse a um repórter: «Aquilo foi aterrador. Significou que se tivesse sido levada a cabo uma invasão americana, caso os mísseis não tivessem sido retirados, haveria 99 por cento de probabilidade de ter tido início uma guerra nuclear.» McNamara disse isto, é claro, durante os seus anos de mea culpa, a seguir à destruição da sua reputação no Vietname. O seu palpite dos «99 por cento» era largamente exagerado. No entanto, o seu choque era bem justificado. 

Ao longo de outubro de 1962, John F. Kennedy citou frequentemente o celebrado best-seller de Barbara Tuchman August 1914, publicado poucos meses antes na Grã-Bretanha, pela empresa familiar do primeiro-ministro Harold Macmillan. O relato de Tuchman é contestado por alguns especialistas modernos. Num ponto, todavia, a sua opinião parece incontornável. Nenhuma das potências beligerantes queria a grande guerra que teve. Mas tanto a Áustria-Hungria como a Alemanha quiseram uma guerra pequena, para esmagar e desmembrar a Sérvia, e alguns generais alemães estavam desejosos de aproveitar qualquer oportunidade para humilhar a Rússia antes que o seu crescente poder económico e militar se pudesse tornar avassalador. Os intervenientes perderam o controlo dos acontecimentos, com consequências para a Europa que se revelaram calamitosas.

Nos primeiros dias da crise de 1962, os chefes do Estado-Maior das Forças Armadas americanas transmitiram à Casa Branca a recomendação unânime de um bombardeamento maciço de Cuba, seguido da invasão e ocupação da ilha. É arrepiante ler hoje nos arquivos da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) o testemunho subsequente dos seus oficiais superiores afirmando a sua impenitência por terem instado à guerra; a sua persistente convicção de que a América podia ter assegurado uma «vitória decisiva»; o seu desprezo pelo presidente e pelos civis que o rodeavam, que se tinham «acobardado».

Houve vários momentos nos Treze Dias – 16-28 de outubro – em que John F. Kennedy foi sujeito a uma enorme pressão por parte de alguns dos membros da sua equipa da Casa Branca, incluindo o Conselheiro Nacional de Segurança, McGeorge Bundy, para ceder aos falcões. «Ken, nunca fará ideia da quantidade de maus conselhos que recebi», disse mais tarde o presidente a Kenneth Galbraith. Parece precipitado assumir que, por mais contrárias que fossem as opiniões do Kremlin, os oficiais russos em solo cubano pudessem ter aceitado milhares de baixas entre os seus 43 mil soldados, juntamente com uma derrota local, sem desfecharem algumas das armas nucleares táticas sob o seu controlo. Não havia salvaguardas tecnológicas que impedissem as guarnições de disparar à ordem dos seus comandantes. Uma vez sofridas pelos invasores as suas próprias pesadas baixas através de uma explosão nuclear, mesmo pequena, é improvável que o povo americano tivesse permitido a Kennedy recusar-se a escalar o conflito.

Há pormenores contestados, quanto a episódios como o que terá envolvido um submarino russo Foxtrot a seiscentas milhas ao largo no Atlântico: o seu comandante, sem saber ao certo se a guerra à superfície tinha ou não começado, ameaçou alegadamente disparar o seu torpedo nuclear quando assediado por navios de guerra dos Estados Unidos. O certo é que ambos os lados tatearam através da crise à sombra de enormes mal-entendidos e que alguns oficiais subalternos dispunham de um controlo sobre o uso de armas de destruição em massa que podia ter desencadeado uma catástrofe não pretendida quer pelo Kremlin quer pela Casa Branca.

Quanto mais me dedico a escrever relatos históricos, mais me deixa arrepiado a névoa de ignorância em que os governos tomam grandes decisões. No século xxi, os Estados Unidos e a China compreendem-se mutuamente pouco melhor do que se compreendiam há seis décadas. Não é mais fácil à Casa Branca adivinhar as intenções do autocrata irritado e meio doido que é inquilino do Kremlin em 2022 do que era as do seu predecessor em 1962. Os governos de todas as três superpotências, para não falar de nações nucleares menores, assumem riscos que podem um dia revelar-se desastrosos para a humanidade, porque alguém calcula mal, se excede ou concede a subordinados a oportunidade de o fazer.

Há um ponto importante quanto a esta crise que é muitas vezes ignorado: foi predominantemente uma questão política, não estratégica. John Lewis Gaddis escreveu: «As armas nucleares […] tiveram um efeito notavelmente teatral no curso da Guerra Fria. Criaram um clima de presságio sombrio que trespassou o mundo enquanto os últimos anos de 1950 se tornavam os primeiros de 1960. Obrigaram os estadistas a tornarem-se atores: o êxito ou o fracasso dependia, ou assim parecia, não do que uma pessoa estava a fazer realmente, mas do que parecia estar a fazer.» Racionalmente, e vista em qualquer quadro temporal que não seja curtíssimo, a instalação de armas nucleares soviéticas em Cuba não tornava os americanos significativamente mais vulneráveis do que eram antes: de ambos os lados, os mísseis balísticos de lançamento por submarinos estavam a tornar-se realidades omnipresentes nos oceanos do mundo inteiro. A questão era, antes, de perceção: os Estados Unidos sentiram-se obrigados a reagir à intenção indiscutivelmente agressiva do gesto cubano dos soviéticos.

Se o conflito coreano de 1950-53 foi o mais sangrento choque no campo de batalha da Guerra Fria, a Crise dos Mísseis foi o seu episódio mais perigoso, abrangendo um extraordinário elenco de personagens em todos os lados – temos obviamente de incluir os cubanos a par dos americanos e dos russos.

(…)

Semanas antes de que Cuba explodisse, Kennedy enfrentou o motim asperamente divisivo da Universidade do Mississippi, organizado por racistas brancos que se opunham à admissão de um estudante negro. Fidel Castro, entretanto, tinha realizado a sua ambição de sempre de se tornar o revolucionário mais famoso do mundo, a despeito de chefiar um dos Estados mais pequenos. Alguns historiadores sustentam que as personalidades desempenham apenas um papel menor na determinação do curso da história, que é dominado ao invés por marés de acontecimentos e ideias. Depois de estudar a Crise dos Mísseis, é difícil defender uma tal tese como verdade universal. Três homens extraordinários – Castro, Khrushchev e Kennedy – dominaram as suas decisões e decidiram o seu resultado.

(…)

Durante a Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill observou com sardónica complacência que a respetiva história o trataria com amabilidade porque ele próprio a ia escrever, como de facto fez. Isto é também parcialmente verdade de John F. Kennedy e da Crise dos Mísseis de Cuba. Foram feitas gravações das reuniões diárias, e às vezes quase de hora a hora, na Casa Branca, cuja transcrição constitui a principal fonte dos historiadores que analisam a conduta americana. Só dois participantes sabiam que as máquinas estavam a rodar – o presidente e o seu irmão mais novo. Não há razão para acreditar que isto tenha influenciado significativamente as suas palavras e atos, mas deve ter havido momentos em que o presidente, especialmente, se tenha lembrado de que estava a preservar para futuras gerações uma crónica do seu comportamento numa crise.

No verão de 1940, Churchill murmurou muitas vezes, na presença do seu pessoal, a frase de Andrew Marvell a respeito da execução do rei Carlos I em 1649: «Nada fez, ou significou, de banal naquela memorável cena.» Churchill, é claro, estava conscientemente determinado que a posteridade dissesse o mesmo dele. Pode bem ser que John F. Kennedy, um estudante aplicado de Churchill, pensasse uma coisa parecida em outubro de 1962. Outros, entretanto, sentiram-se traídos quando em 1973 foi revelada a gravação. Dean Rusk telefonou à Biblioteca Kennedy para protestar nos termos mais veementes por ter sido conservado um tal registo sem conhecimento de membros do governo como ele. Algumas testemunhas contemporâneas já afirmaram que existem disparidades entre o que Kennedy e outros disseram durante as reuniões do EXCOM e opiniões por eles manifestadas noutras ocasiões e lugares durante aqueles treze dias, mas não foram gravadas. Tais apartes não invalidam as gravações, que são muito mais credíveis do que as atas escritas das grandes conferências internacionais.

(…)

A causa duradoura da nossa gratidão pela Crise dos Mísseis é, claro, que ainda estejamos aqui para ler e escrever a seu respeito. Hoje, na esteira dos novos atos monstruosos de agressão por parte da Rússia, esta história possui uma atualidade profundamente deprimente. Mostra os perigos de que as grandes potências se aventuraram até à borda do abismo da qual, felizmente, recuaram em 1962. O mundo não pode estar certo de que tenhamos sempre a sorte de ver os líderes nacionais mostrarem uma sabedoria comparável."


Thursday, June 10, 2021

DEMOCRACIA NORTE-AMERICANA

Os 25 norte-americanos mais ricos quase não pagam impostos sobre os rendimentos  

"The 25 richest Americans paid little to no federal income taxes, according to a report released Tuesday by the nonprofit news organization ProPublica, a claim that has reignited debate about the tax code and sparked an investigation by the IRS into the leak of private tax documents.

NBC News has not independently verified the documents, and ProPublica declined to disclose how it had gained access to what it called a "vast trove of Internal Revenue Service data on the tax returns of thousands of the nation's wealthiest people, covering more than 15 years."

The report does not detail any illegality by the people whose tax documents it reviewed, who include many of the richest people in the U.S., such as Jeff Bezos and Elon Musk. The White House is pushing a plan that would tax capital gains as income for those making over $1 million annually.

IRS Commissioner Charles Rettig said in a previously scheduled hearing Wednesday morning before the Senate Finance Committee that the agency is looking into the leak of the documents.

"I can confirm that there is an investigation with respect to the allegations that the source of the information from that article came from the Internal Revenue Service," he said. "Upon reviewing the article, the appropriate contacts were made and the investigators will investigate." - AQUI

Monday, January 11, 2021

EM VOGA

Como ver a vice-presidente eleita dos EUA em capa de uma revista de moda? A avaliar pelos comentários na CNN, não é o facto de Kamala Harris ter aceitado aparecer na Vogue mas a indumentária e o visual informal da vice-presidente eleita que excitam os críticos.

Normal, numa revista de moda, o foco da revista é a moda.

Mas o que pensarão os norte-americanos, a esmagadora maioria deles, para quem a Vogue e outras revistas do género são superficialidades de um mundo muito diferente em que enfrentam as complexidades de uma sociedade ameaçada pela pandemia e pelo ódio de fanáticos extremistas que as superficialidades ignoraram, e, provavelmente, continuarão, a ignorar?

Não pensam muito. A moda, como muitas outras actividades lúdicas, são factor de deslumbramento e aplauso, mesmo, ou sobretudo, dos comuns que adoram contos de príncipes e princesas. Talvez por esta razão, os críticos voltaram as suas baterias para a simplicidade deste visual que, aliás, não parece ter merecido a aprovação da fotografada.

Eu gosto. Se Kamala deveria ter aparecido agora na capa da Vogue, já é outro lado da questão.

                                                            Kamala Harris                                     

"Kamala Harris' forthcoming appearance in American Vogue has sparked criticism for appearing casual and "washed out," with the Vice President-elect's team blindsided by the magazine's choice of cover.
The hotly-debated image, which shows Harris in a black jacket and Converse sneakers, was not the one she had expected to run on the front of the print edition. A source familiar with discussions said Harris' team believed the cover would feature her posing in a light blue suit against a gold background.
An apparently leaked copy of the publication's February issue cover, shot in front of a pink and green background, began circulating online Sunday. The photo instantly attracted ire on social media for appearing poorly lit and styled, while others suggested it was "disrespectful" to the Vice President-elect.
With some Twitter users even questioning whether the image had been faked, Vogue confirmed it as genuine -- but added to the confusion by revealing a second "digital" cover showing Harris in a powder blue Michael Kors suit against a gold background. CNN's source said that Harris team had expected this outfit to be used as the main cover photo, with the more casual attire appearing inside the magazine. The same source said the Harris team has asked for a new cover, though the print version of the magazine went to press in mid-December.

Thursday, September 03, 2020

TRUMP VACINA


Trump anunciou hoje que haverá vacina para os norte-americanos no dia 1 de Novembro, e avisou os Estados americanos para estarem prontos para administrar a vacina antes das eleições.

Dois dias depois, no dia 3 de Novembro, daqui a dois meses, portanto, haverá eleições e Trump tudo fará, é entendimento corrente, para ser reeleito nem que para atingir esse objectivo denuncie a ilegalidade das eleições. 
Se essa situação acontecer, e é muito provável que aconteça se Biden vencer por margem escassa nos estados que decidem o resultado - swing states - os EUA poderão entrar em situação juridicamente turbulenta e, consequentemente, imprevisível. Como em países do terceiro mundo a gatinhar para a democracia.

Ontem, Trump, incitou eleitores da Carolina do Norte a votarem duas vezes: uma por correspondência e outra presencialmente, para demonstrar, segundo ele, que o voto por correspondência é fraudulento. Votar duas vezes é crime, mas que importa a Trump, e, sobretudo aos fiéis de Trump, porque são eles que o elegem que  o seu candidato incite ao crime? - cf. aqui.
Segundo as notícias, dezenas de dirigentes republicanos anunciam o apoio a Joe Biden, mas não será deste modo que Trump não será reeleito. O populista não depende dos apoios partidários mas da forma como os seus fiéis se manterão inabaláveis no apoio a Trump mesmo que ele minta e corrompa os princípios democráticos de cada vez que abra a boca.

Transcrevo hoje publicado no WP por me parecer interessante como memória futura.


Demonstrators protest a flu vaccine mandate tied to school attendance outside the Massachusetts State House in Boston on Aug. 30. (Joseph Prezioso/AFP/Getty Images)


Governments have failed to unite in the fight against covid-19. Nowhere is this more apparent than in the race to develop a vaccine against the novel coronavirus. Rather than consolidate efforts, many countries are striking out on their own.
The fragmented forces of vaccine nationalism won another victory this week: U.S. officials told The Washington Post that the United States would not participate in the Covid-19 Vaccines Global Access (Covax) Facility, a global effort to help develop and distribute a coronavirus vaccine backed by the World Health Organization.
The U.S. absence is a major blow for a project seeking to overcome unequal access to immunization. More than 170 countries are in talks to participate in Covax. Germany, Japan and the European Commission, the executive arm of the European Union, have backed it.

 But America is not alone in going it alone. Following the U.S. example, many other countries are pursuing unilateral plans, focused on producing a vaccine for priority use or buying up potential 
vaccines from other nations.

White House spokesman Judd Deere said Tuesday the United States would not be “constrained by multilateral organizations influenced by the corrupt World Health Organization and China.” Instead, the Trump administration has doubled down on Operation Warp Speed, its multibillion-dollar effort to administer a domestic vaccine as early as the fall.
Russia, too, has rejected the Covax plan. Instead, it is already rolling out its Sputnik V vaccine, which it has dubbed the “the first registered vaccine against COVID-19,” for teachers and health-care workers — despite warnings that it was rushed through testing.
In China, where the People’s Liberation Army has played a central role in the development of vaccines, Foreign Ministry spokeswoman Hua Chunying said Wednesday that Beijing supported the aims of Covax and would coordinate with it. But she stopped short of making a commitment to the project.

Covax’s backers say they are still optimistic, pointing to support from other rich nations. But with deadlines extended and terms shifting, the project may not end up being quite what many had envisaged.

It’s worth considering why vaccine nationalism seems to be winning. 
Cooperative, international efforts are not famous for finding speedy solutions. Some countries probably reason that they could join Covax later if it succeeds.
And if a country develops a working vaccine domestically or preemptively buys up millions of doses, it gets first access. For some wealthy nations, the benefits outweigh the risks or moral problems.
The United States has already invested $10 billion in candidate vaccines, according to Health and Human Services Secretary Alex Azar, a relative bargain compared to the trillions of dollars spent on financial bailouts so far, and one with the potential to affect the dynamics of the upcoming presidential election.

 If a country can develop a vaccine, it also has the opportunity to distribute it. For China, the initial epicenter of the pandemic, it would be a chance to restore global standing. The same could be argued for Russia and the United States, both run by leaders who are unpopular globally.
 
Some nations may struggle to navigate this rocky geopolitical terrain. Mexico, for example, is pushing ahead with a plan to not only cooperate with the Covax program, but to ally itself with programs in foreign nations from Cuba to France, Deputy Foreign Minister Martha Delgado told Reuters.
By some reckonings, the vaccine rivalry is healthy, perhaps even ideal. “Competition between nations has, historically, often driven innovation. That was certainly true of the Cold War space race. Or the scientific breakthroughs — from radar to rockets — of World War II,” Matthew Lynn wrote for the Spectator this week.
Most who study vaccines do not share this view. The space race may have led to “one giant leap for mankind” on the Moon, but few forget that the astronaut who took the step was American. It’s not hard to see how poorer nations could be left behind in the vaccine race, too.

The Wall Street Journal reported Tuesday that a handful of rich nations had already struck deals for nearly 4 billion doses of coronavirus vaccines in development, taking up almost all of the world’s capacity and leaving little for poor nations, despite the rapid spread of the virus in the developing world.
The supply problems have only begun. “Vaccine supply chains contain some unusual links, including horseshoe crab blood, shark liver oil and an enzyme that’s one of the world’s most expensive products,” economists Scott Duke Kominers and Alex Tabarrok wrote for Bloomberg last month. “Other links rely on novel manufacturing processes that have not yet been implemented at scale.”
Immunization programs have a mixed success rate. Smallpox was eradicated with the help of a successful vaccine, but polio and measles still linger despite working vaccines. The huge number of cases globally and the “novel” nature of the coronavirus would complicate eradication efforts. Rushed, potentially faulty vaccines would have the potential to strengthen anti-vaccination movements.

Covax is one hope for dealing with some of these problems, but an imperfect one. It requires wealthy nations to put up about $18 billion in purchases for about a dozen experimental vaccines, with the aim to ensure first access for the world’s most vulnerable. Under the plan, nations could still make bilateral deals if they wanted to.
But the United States and others still rejected the plan, essentially betting on Operation Warp Speed or other national measures. In an interview this month with IAVI Report, a scientific magazine on virus research, vaccine expert Seth Berkley, the chief executive of GAVI and one of the backers of Covax, said he worried about a world in which governments provide vaccines for their own people alone.
“If you have massive outbreaks of virus circulating, adapting to humans, mutating, and then spreading, you’re never going to solve this,” he said.

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 c/p Economist


A covid-struck, confused and polarised poll
Donald Trump is very likely to challenge the results of the US electionIf he does so it will be bad, quite possibly very bad indeed

In his final debate with Hillary Clinton in 2016, Donald Trump refused to commit himself to accepting the results of the coming election. The following day he made his position clearer. “I will totally accept the results of this great and historic presidential election,” he said in mock solemnity—before adding, with finger-wagging emphasis: “If I win.” The stubby finger levelled itself at the crowd, which erupted into cheers; the not-yet-president grinned.
President Trump went on to win with 304 Electoral College votes to Mrs Clinton’s 227, and so how he would in fact have reacted had things gone the other way remains a matter of speculation. This year there appears to be a strong chance that he will not win; The Economist’s election-forecasting model currently puts his chances at one in seven. Mr Trump, though, denies any possibility that he could lose a fair contest: “The only way we’re going to lose this election is if the election is rigged,” he told his followers in August. There can be no real doubt that, should he indeed lose, he would claim that the election was stolen.
 

Sunday, August 30, 2020

COMO CARNEIROS

 

Os eleitores partidários seguem, geralmente, as pisadas dos líderes.
Os Republicanos andam como carneiros bêbedos, aos tombos, atrás de Trump.
Transcrevo artigo sobre o tema publicado hoje no WP, cf. aqui
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By
President Trump has a knack for getting Republicans to reverse their stances on important policy issues. Free trade is probably the best-known example. For decades, the GOP touted the benefits for American living standards of low tariffs on foreign goods — and often slammed Democrats as economically naive protectionists. In 2015, 56 percent of Republicans and Republican-leaning independents said trade was good for the United States, according to the Pew Research Center. Then Trump came along and bashed international deals with Mexico and China; by October 2016, that figure had dropped to 29 percent.
Republican approval of trade has rebounded somewhat, but this Trump effect is evident across multiple issues. In 2015, 12 percent of Republicans held positive views of Russian President Vladimir Putin, whom Trump has always praised lavishly. By 2017, according to Gallup, the number had climbed to 32 percent. Hawkishness toward Russia — the heart of the onetime “evil empire” that GOP hero Ronald Reagan set himself so stoutly against — faded over the same period. In July 2018, 40 percent of Republicans said Russia was an American ally, nearly double the figure from 2014. Republicans were opposed to withdrawing troops from Syria until Trump announced he would do just that, and then their views shifted. Even on nonpolitical issues, like the National Football League, the president can change minds: About 70 percent of his voters liked the NFL — until Trump attacked players who knelt during the national anthem and approval dropped by more than half.
These trends can seem disconcerting, because they appear to reverse the idealized direction of influence in a democracy, where the views of citizens are supposed to guide their politicians. Leadership surely involves the art of persuasion, but should it really drive such mercurial shifts on core issues?
Political science research shows that this “follow the leader” dynamic is hardly limited to Trump. It occurs throughout history, on both sides of the aisle and in other countries. It happens even when party elites try to stop it. In general, the people who run our political parties — particularly the most prominent and charismatic figures — have the ability to reshape what voters in those parties think.

 
After hearing President Trump praise President Vladimir Putin, Republicans reported significantly more positive views of the Russian leader, surveys found. (Susan Walsh/AP)
“Leader persuasion” is a well-documented phenomenon in political science. Before the 2000 election, for instance, more than two-thirds of Americans broadly supported giving workers the option to invest Social Security funds in the stock market. Then GOP nominee George W. Bush promoted the idea and Democrat Al Gore opposed it, and the issue became central to the election. Suddenly, as University of California at Berkeley political scientist Gabriel Lenz demonstrated in his 2012 book, “Follow the Leader?,” Gore voters soured on the policy. Between August and late October 2000, ardent Gore supporters became about 60 percentage points more likely to oppose the idea than strong Bush supporters were, according to an analysis of the National Annenberg Election Survey.
The inclination to defer to the party’s leader occurs on both the left and the right. A 2018 survey experiment, conducted by political scientists Michael Barber and Jeremy Pope of Brigham Young University, asked Americans about an asylum policy that placed families and children arrested by the Border Patrol in a detention facility before a hearing. Trump had just introduced such a policy, but it mirrored an earlier Obama practice. Democrats already somewhat backed the idea — they gave it 3.34 average support on a 1 to 5 scale — but when told that the Obama administration had favored it, too, their views became significantly more positive (moving 0.42 points on that scale). My own research found something similar: In a hypothetical scenario, Democrats moved emphatically toward supporting a major free-trade bill — previously backed by Republicans — after they were told that Barack Obama endorsed it.
Leader-following patterns appear at lower levels of government, too. In 2013 and 2014, political scientists David Broockman, of Berkeley, and Daniel Butler, of the University of California at San Diego, had eight sitting state legislators from an anonymous Midwestern state send official communications about policies they favored (on topics such as raising the minimum wage and allowing undocumented immigrants to obtain driver’s licenses). Based on an earlier survey, the researchers knew that these messages would go to constituents who disagreed with them. Recipients of the messages did not necessarily belong to the same party as their representative. When the legislators simply stated their positions — without offering much justification — voters who received a letter were about seven percentage points more likely to agree than those who didn’t get a letter. The constituents’ overall approval ratings of the lawmakers remained unchanged.
Abroad, we see leader persuasion at work, too. In Britain, in 1997, the Conservative Party campaigned hard against further European integration, awakening a dormant issue. Conservative voters, Berkeley’s Lenz notes, subsequently grew more opposed to integration, while Labour Party members — who had previously been only a bit less skeptical than the Tories on this question — increased their support (presaging the Brexit divide two decades later).
I wanted to know whether leaders’ ability to get fellow partisans in line had limits, so I studied two factors that might curb their sway: opposition from other elites in the same party (think members of Congress) and substantial policy details that make clearer to partisans what, exactly, they’re opining on. The hypothesis was that partisans may rely on leaders less when they’re properly informed. In early 2018, I told about 2,500 Republicans and Democrats that their party leaders had taken positions that departed from the party consensus. Supposedly, Trump wanted a major infrastructure bill previously sponsored by Democrats, and Obama wanted a big free-trade bill that had received Republican backing.
I told a random portion of these people that their party’s congressional leaders had opposed Trump’s and Obama’s positions on these questions, and I gave others more information about the policies. To Republicans, I stressed the extraordinary price tag of the infrastructure bill and the federal government’s large role in directing the program. To Democrats, I stressed the pro-business aspects of free trade and the bill’s deregulatory provisions. But it turned out that neither the institutional check from other elites nor the additional information did much to dampen leader influence. Both Democrats and Republicans followed Trump and Obama largely to the same extent with and without these possible constraints in the picture.

 
  
On Oct. 25, 2019, pickup trucks wait to be loaded onto a cargo plane as part of the withdrawal of coalition forces from northern Syria. Most Republicans opposed pulling troops from Syria, polls found, until President Trump announced plans to do so. (Staff Sgt. Joshua Hammock/U.S. Army Reserve/AP)

That was a carefully controlled experiment, but we see this happening in the real world, too. When Trump moved to withdraw troops from Syria in December 2018, and rank-and-file Republicans shifted their views to match his rhetoric, congressional Republicans, spent months objecting — and the Senate rebuked the president’s plan with a 68-to-23 vote. This hardly dented his influence. Republican public opinion on Syria troop withdrawal — a majority now supporting it — was nearly identical before and after GOP elites pushed back hard.
Maybe a leader’s sway depends on the prominence of an issue? Perhaps leaders can persuade voters on questions that aren’t in the limelight but then fail to influence them on high-profile issues (when many other signals and information might shape opinions)? Some scholarship suggests that’s the case, but the picture isn’t clear. For example, new evidence from Denmark indicates that when leaders from the two parties that formed the country’s center-right coalition government reversed their stances on much-discussed welfare issues in 2010-11 — abruptly cutting unemployment insurance and early retirement programs — ordinary party members shifted their opinions on those issues by a substantial 15 percentage points, in the direction of the parties’ new position.
Issues involving race may be among those where leader influence is weaker than usual — although here, too, evidence is mixed. Republicans warmed up toward the Black Lives Matter movement this year, despite the president’s vocal opposition. But from early to mid-2016, as Trump slammed the earlier incarnation of BLM, one study found that White Trump supporters began expressing more hostile racial views. And in a 2016 survey experiment, exposure to Trump’s prejudiced comments — such as when he called some Mexican immigrants “rapists” — led his voters to voice more offensive opinions about minorities.
The scholarship on leader-following has focused on policy stances. But the influence extends to misinformation, too, with public opinion around voting by mail providing a vivid recent illustration. Trump’s frequent (and unfounded) claim that the system is riddled by fraud appears to have turned Republicans off of the voting method and created a much larger partisan gap. One study estimates that between early April and late May — as Trump launched several Twitter attacks on the voting method — Republicans became 10 percentage points less supportive of expanding voting by mail.
Nowhere are the consequences of voters’ deference more clear than in the coronavirus pandemic. For months, Trump has downplayed the severity of the contagion, condemned shutdowns that public health experts endorsed, ridiculed mask wearers, and pushed to reopen businesses and schools. Unsurprisingly, the resulting partisan divides on recommended behaviors have undermined our collective response to the crisis. In late April and early May, for example, the rate of mask-wearing among Republicans lagged that of Democrats by more than 20 percentage points, according to one survey.
It’s hard to not wonder how different the country’s trajectory might have been had Trump aggressively endorsed masks and social distancing from the start. Yet the follow-the-leader dynamic works both ways: In surveys conducted before and after Trump tweeted a picture of himself wearing a mask and called it patriotic, Republicans became five percentage points more likely to wear a face covering (halving the partisan gap in that data set). In other words, getting out of the current pandemic mess might mean counting on the same mechanism that exacerbated it.
Some observers have suggested that Trump has “hijacked” his party — and in attempting to explain why Republicans would follow him, they have focused on his distinctive (and unarguable) opportunism and disregard for norms. But the lesson of this vein of research is that all political parties are vulnerable to dramatic shifts and “takeovers” by prominent leaders (perhaps especially in presidential systems, which grant the chief executive inordinate prominence). Long after Trump is gone, American politicians who win top positions will be tugging the views of their partisans much closer to their own, adding yet more instability to an already hostile and polarized system.

Alexander Agadjanian @A_agadjanian is a political science PhD Student at the University of California, Berkeley, and recently was a research associate at the MIT Election Lab.

Monday, August 24, 2020

SE ISTO É VERDADE ...

Se isto é verdade: a China tem vacinado trabalhadores-chave contra covid-19 desde Julho*, o avanço dos chineses, também neste campo, sobre europeus e norte-americanos é flagrante. Pode não ser verdade? Pode, mas se for verdade, este avanço científico da China pode ficar a dever-se à sua não participação no esforço que está ser desenvolvido globalmente ou, pior que isso, decorrer da omissão do início da ocorrência da epidemia em Wuhan (hipótese levantada, além do mais, por elevada afluência de ambulâncias ao hospital de Wuhan em Agosto de 2019) - cf. aqui

De qualquer modo, a forma como a China abordou a contenção da expansão do vírus, desvalorizando a política sanitária da imunidade de grupo tida como inevitável praticamente em todo o resto do mundo, ter-se-á suportado no avanço que, no princípio deste ano, os investigadores chineses já tinham atingido na obtenção de uma vacina que evitasse a eventualidade da infecção de mais de 1,4 mil milhões de chineses. A 23 de Maio escrevi aqui, - CHINA, XEQUE MATE À DEMOCRACIA LIBERAL.

 "Com que protecção conta a China para evitar que a sua população, cerca de 20% do total mundial, não seja atingida por uma epidemia devastadora? Terá já descoberto a vacina confiável que cumpra o desígnio declarado por Xi Jinping de governar o mundo derrotando as democracias liberais, um dos inimigos que afirmou querer eliminar?Teoria da conspiração? Só se não houvesse provas indesmentíveis dos propósitos que Xi Jinping anunciou meses antes de ter anunciado ao mundo que o COVID -19 tinha começado a infectar e a matar em Wuhan".

Por essa altura, Trump recomendava a injecção de lixívia para combater o vírus. Quando foi confrontado com a enormidade que tinha dito (com ar convicto, que ele não tem outro),  cf. aqui, desculpou-se, canalhamente, que tinha brincado com os repórteres. 

--- Actualização - Na véspera da Convenção Republicana que nomeará Trump à recandidatura em Novembro, Trump anuncia, cf. aqui, que foi autorizada pela entidade norte-americana competente a administração de plasma de doentes recuperados de covid-19 a 70 mil infectados com o vírus. Não é o remédio santo mas pode ser benéfico para alguns doentes. Nada que ainda não se soubesse ... mas que vai deixar extasiados os indefectíveis trumpistas, que não são poucos, aliás, são demais.

» Momento-chave : China tem vacinado trabalhadores-chave contra a covid-19 desde Julho


A China tem vindo a administrar uma vacina candidata contra a covid-19 a grupos específicos de trabalhadores considerados essenciais desde Julho, revelou no domingo à televisão estatal chinesa CCTV Zheng Zhongei, dirigente do Centro de Ciência e Tecnologia da Comissão Nacional de Saúde que faz parte de um painel de especialistas que presta aconselhamento ao governo sobre a covid-19. Segundo Zheng Zhongei, o governo chinês autorizou o “uso de emergência” de uma vacina contra o SARS-CoV-2 em determinados grupos como profissionais de saúde e trabalhadores transfronteiriços — o que está “de acordo com a lei”, destaca citado pelo jornal South China Morning Post.

No entanto, Zhongei não revelou qual o produto que está a ser usado, quantas pessoas foram já vacinadas nem se o programa de vacinação inclui mais do que uma vacina candidata contra a covid-19. O especialista afirmou, porém, que o programa de vacinação deverá ser alargado a pessoas que trabalham na indústria dos transportes, serviços e em mercados de produtos frescos. O objectivo é criar uma “barreira de imunidade” e vacinar mais pessoas antes do início do Outono e do Inverno.

A China registou este domingo 16 novos casos de covid-19, todos eles importados, anunciaram as autoridades de saúde esta segunda-feira. Este é o oitavo dia consecutivo em que o país não regista nenhum caso de transmissão local.

Thursday, April 30, 2020

APOCALYPSE NOW - 2020


Estamos a rever Apocalypse Now - Final Cut, realizado em 1979 por Francis Ford Coppola.
Ontem chegámos a cerca de 1/3 do final desta nova versão, apresentada há poucos meses nos cinemas.

Hoje, deu-se o acaso de ser publicado no Washington Post um artigo - Vietnam offers tough lessons for U.S. on coronavirus. Como, provavelmente, o acesso está limitado, transcrevo alguns períodos desse artigo.

"The United States passed a tragic milestone this week in its novel coronavirus outbreak. Less than three months after the first case was confirmed on U.S. soil, more lives have now been lost in the United States from the pandemic than the 58,220 Americans who died over nearly two decades of fighting during the Vietnam War. 
Coincidentally, the fall of Saigon 45 years ago this Thursday ended that conflict. But despite these milestones, in Vietnam many are focused on a very different marker: According to official figures, the country has recorded no new cases of domestic transmission of coronavirus in almost two weeks."
 
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Thursday, August 24, 2017

AI WEIWEI


Ai Weiwei volta ao Hirshhorn.
Desta vez para denunciar o totalitarismo que aprisiona a liberdade de expressão
Antes, esta exposição tinha sido apresentada nos EUA, entre Setembro de 2014 e Abril de 2015, vd. aqui, no presídio de Alcatraz.

 

Independependente do mérito artístico de Ai Weiwei, que é grande, a perseguição política a que tem estado sujeito pelo poder instalado em Beijing tem contribuido para projectar o seu trabalho e a seu activismo pela liberdade em todo o mundo, sobretudo nos EUA. 

Pela arte também se confrontam os impérios.