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Monday, April 03, 2017

OS SANTOS DE TEIXEIRA

"Não tive quaisquer dúvidas quanto à capacidade de Armando Vara
- Teixeira dos Santos

Há mais de uma dezena de anos, era, nessa altura, o sr. Teixeira dos Santos presidente do Conselho Directivo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), assisti a uma conferência em Lisboa, presidida por ele, sobre o mercado de capitais em Portugal. 
No fim da oração do presidente, houve o tradicional convite à assistência para perguntas ao orador.
Depois de alguns instantes sem que ninguém levantasse o dedo, ergueram-se três ao mesmo tempo.
Fui o terceiro a ser contemplado com a oportunidade de perguntar.

- Senhor presidente, ouvi-o com toda a atenção, e continuo com uma dúvida sistemática acerca da transparência, melhor dizendo, acerca da falta de transparência dos mercados de capitais, e, sobretudo do mercado do que se convencionou chamar "fundos de investimentos mobiliários". Porque os designados "fundos de investimento" são, por natureza, opacos. Sabemos como evoluem as suas cotações, mas não é possível ao pequeno investidos avaliar, ainda que aproximadamente, o risco associado ao mix de opções feitas em cada momento pelos gestores de fundos: as componentes são sempre em número elevado, as opções dos gestores constantemente variáveis, e sempre retardada a possibilidade do conhecimento da consistência dos valores dos activos investidos. Resumindo: a aposta em "fundos de investimento mobiliários" é uma aposta em algo menos transparente que uma aposta no casino. Pelo que se deveria aplicar-lhes a legislação que regula os casinos e não aquela que regula o mercado de valores mobiliários. 

Houve um burburinho na sala, que logo se calou quando o sr. Teixeira dos Santos, não havendo outras perguntas, respondeu às três questões colocadas, começando pela última, a minha.

- Não posso aceitar, porque não é verdade, que não haja possibilidade do investidor conhecer a constituição de cada fundo, porque é publicamente conhecida, nem que esteja impossibilitado de avaliar o risco que o investimento em cada um comporta.
E mais não disse sobre o tema, passando a responder às duas outras questões.  

Há dias, o sr. Teixeira dos Santos, afirmava em entrevista do "Dinheiro Vivo/DN/TSF", que vale a pena ler para avaliar a capacidade contorcionista do entrevistado,  além do mais, que "não teve quaisquer dúvidas quanto à capacidade de Armando Vara". 

Também não teve dúvidas, na altura, em afirmar que da nacionalização do BPN não resultariam encargos para os contribuintes, mas esta afirmação, reconheça-se, veio a ser, e continua a ser, sistematicamente glosada por todos os ministros das Finanças que sucederam no cargo, e, mais tarde, garantir que os empréstimos da CGD ao BPN  não iriam nunca reflectir-se na dívida pública. 

Hoje, presidente do banco, de capitais predominantemente angolanos, que recebeu os salvados do BPN que, ele, Teixeira dos Santos nacionalizou, reconhece que, também o banco que dirige, vai apresentar resultados negativos de 22 milhões de euros em consequência de imparidades (anteriormente conhecidos por incobráveis) na carteira própria de títulos.

Se bem lida, Teixeira dos Santos está todo nesta entrevista. 
Quanto aos outros todos, que afogaram o país num incontrolado mar de dívidas, são bons rapazes até prova em contrário a cargo da justiça que dorme a sono solto.

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Correl. - Dívida Pública em Fevereiro

clicar para aumentar

"Os supervisores do sector bancário, dos mercados financeiros e dos seguros querem intensificar a actuação do Plano Nacional de Formação Financeira. E Elisa Ferreira refere que a literacia financeira é essencial para o sucesso da supervisão. "A supervisão só é possível se o cidadão comum tiver um nível mínimo de formação" para lidar com aplicações financeiras e para gerir o recurso ao crédito." 
Hojeaqui, mais conversa fiada.


Monday, September 05, 2016

PARA QUEM AINDA TIVESSE DÚVIDAS


Crise portuguesa também teve origem na banca
 c/p Jornal de Negócios

"Trabalho de investigação do ISEG mostra que o elevado crescimento do crédito após a adesão ao euro provocou uma crise bancária em Portugal. Custo do Estado com a banca já soma 26% do PIB.

Em países como Espanha ou Irlanda foi a situação na banca que obrigou a pedir auxílio externo. Em Portugal, a crise sempre foi mais associada ao excessivo endividamento do Estado. Um artigo publicado no Journal of Economic Policy Reform argumenta que Portugal também atravessou, e atravessa, uma crise bancária, gerada após a adesão ao euro.

"Após a adopção do euro, Portugal foi palco de uma crise bancária severa, com seis episódios críticos envolvendo todos os maiores bancos do país (CGD, BPI, Banif, Millennium-BCP, BES, BPN e BPP)", conclui o artigo científico "Portugal's banking and financial crises: unexpected consequences of monetary integration?", da autoria de dois professores do ISEG, Tiago Cardão-Pito e Diogo Baptista.

"O debate sobre a crise económica europeia tem estado focado nos relevantes temas da política orçamental e da necessidade de reformas estruturais na zona euro. No entanto, a situação de Portugal pode ter sido consideravelmente piorada por uma crise bancária", refere o artigo.


Os autores sustentam que a adopção da nova moeda eliminou o risco de taxa de câmbio dentro do euro, mas não os riscos de crédito e liquidez. Os bancos, no entanto, actuaram como se todos estes riscos tivessem desaparecido. Seguiu-se um período em que os bancos introduziram grandes quantidades de dinheiro em Portugal, contraindo financiamento no estrangeiro com baixas taxas de juro.

A enorme liquidez criou aquilo a que na teoria económica se designa por bonança de capital. Neste período o endividamento privado e do Estado aumentou de forma expressiva. Depois deu-se o estouro, com os bancos a ficarem privados do acesso ao financiamento estrangeiro. A dívida pública aumentou ainda mais com o resgate dos bancos.

O artigo sustenta a sua tese nos vários indicadores de explosão do crédito após 1999, como por exemplo o crescimento da massa monetária (M2), identificando vários períodos de bonança de capital. E aponta a alavancagem do balanço dos bancos, com o crédito a superar os depósitos em mais de 60% em 2009.
Os problemas começaram em 2008. "Depois de 2007, Portugal tem vivido várias ocorrências de uma crise bancária, que podem ser relevantes para explicar porque o país, nos anos seguintes, encontrou tantas dificuldades em cumprir as obrigações com os credores", escrevem os autores.

Durante o período de aumento do crédito, os empréstimos junto de bancos estrangeiros dispararam. "Este acesso ao financiamento internacional tornou-se quase impossível após o programa de resgate de 2011, dadas as taxas de juro muito elevadas exigidas aos bancos portugueses", salienta o artigo.
O que levou os governos a irem em auxílio dos bancos. "Em vários anos, as garantias públicas à banca, a capitalização pública e os custos com nacionalizações em percentagem do PIB excedem os patamares usados para identificar uma crise bancária", dizem Tiago Cardão-Pito e Diogo Baptista.

Custo chega aos 26% do PIB

Tudo somado, os apoios e intervenções do Estado na banca entre 2008 e 2015 chegam a 26% do PIB anual. O valor não deduz o valor dos juros pagos pelos bancos ao Estado, nos casos em que a intervenção pública a isso obrigou.
"A combinação de um programa de resgate e a necessidade de os bancos se financiarem através do BCE é consistente com a tese de Reinhart e Rogoff (2010) de que as crises bancárias precedem, ou acompanham, as crises de dívida soberana", notam os autores.    
Tiago Cardão-Pito e Diogo Baptista propõe várias explicações para a crise bancária, que se interligam, sem darem nenhuma como definitiva. São elas a mudança da banca portuguesa para um sistema bancário baseado no financiamento em mercado, a falta de adequação das regras e instituições europeias para a adopção do euro, o comportamento das instituições financeiras europeias, a associação entre a indústria bancária e políticos de topo e a falta de preparação da banca nacional para operar no contexto do euro." 

Thursday, July 28, 2016

HÁ ALGO DE ESTRANHO NA TETA DA VACA

"Não há economia para tanta banca. É assim a vida". 
José de Matos admite que o sector vai ter de reduzir a sua presença em Portugal num processo em que o banco público não vai escapar. -  aqui 

Como é que esta gente, inteligente e muito informada, só agora entendeu o óbvio*?
Convinha-lhes o desentendimento. Convinha-lhes que não se desse por isso enquanto retiravam lucros, bónus e vantagens escabrosas. A Ordem era pobre mas os frades engordavam. 
O sobre dimensionamento dos bancos à volta da mesa vem muito de trás. Se o sector estivesse sujeito a leis de concorrência não emboladas, nunca teria embebedado a economia de crédito importado nem a tinha sugado como sugou. 
Sem rei nem roque, os banqueiros fizeram o que lhes deu na real gana e os resultados estão agora à vista. 

E agora?
Agora vamos continuar a assistir ao aumento da conta daquilo que eles consumiram e os tansos de sempre são coagidos a pagar. 

Há dias era publicamente admitido - vd. aqui - que, se o Novo Banco não for vendido até Agosto de 2017 será liquidado. 
Dito isto, está dito que não vai ser vendido até Agosto de 2017, a menos que seja vendido com perdas que os restantes bancos considerarão inaceitáveis, evidenciando o chamado Fundo de Resolução aquilo que nunca deixou de ser:  mau truque de ilusionismo que a assistência pagante será obrigada a engolir sem protestar, desobrigando, efectivamente, os bancos.
Se há banca a mais, a racionalidade económica passaria pela liquidação imediata do Novo Banco - como já deveriam ter passado por processos idênticos o BPN e o Banif - , se a racionalidade económica não se subjugasse à irracionalidade das conveniências políticas. 

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* Óbvio, para mim, que, há dez anos, anotei isto neste bloco de apontamentos, rematando com uma pergunta que saltava aos olhos de quem tem olhos:

Como é que pode, e até quando, uma vaca escanzelada desfazer-se em tanto leite?


Monday, June 13, 2016

OS LESADOS DA CAIXA

Os jogos financeiros têm sido muito propícios a lesões graves e extensas.
Entre os lesados, destacaram-se, entre outros, até agora, pelo número e gravidade das ocorrências,
os lesados do BPN,
os lesados do BES,
os lesados do BANIF,
e tudo leva a crer que a vaga de lesados vai engrossar.
Mas lesados somos todos, enquanto contribuintes, chamados a pagar os custos das lesões e das moscambilhas que afundaram o país em dívidas.  

Em dia de trambolhão geral, as cotações do BCP tocaram hoje - vd. aqui -, o mínimo histórico de 2 cêntimos, e a queda do maior banco comercial português continua a progredir de modo mais lento do que aquele que vislumbrei aqui mas, ainda assim, consistentemente para o fundo. 


Anote-se, contudo, que,  entretanto, o recorde de vendas em leilão de obras de arte contemporânea atingiu em Fevereiro deste ano - vd. aqui - os 500 milhões de dólares, valendo hoje o BCP pouco mais que dois Interchange (1955) de Willem de Kooning.

Mas do que mais se fala agora é da Caixa. 
Os novos caixeiros pretendem quatro mil milhões de euros - um pouco menos que quatro BCP, pelas cotações de hoje - para governar o banco de todos os portugueses. 
O sr. Marques Mendes disse, e bem, e logo outros disseram o mesmo, que são devidas aos portugueses  explicações dos anteriores caixeiros sobre o estoiro de tanto dinheiro. E que, não devendo a Caixa merecer menos atenção pública que a banca privada, deveria ser o caso estranho objecto de inquérito parlamentar.
A srª. Mariana Mortágua, que se notabilizou no inquérito ao BES e engasgou o sr. Bava, apressou-se a dizer que é preciso cuidado com os bancos e que não faz sentido um inquérito parlamentar à Caixa.

Percebe-se.
Ela sabe quem são os responsáveis pelo negócios obscenos em que a Caixa foi envolvida, durante o anterior governo PS, e mudou a agulha por solidariedade oportunista e fé vagamente ideológica. 

Para esta gente, os lesados da Caixa não contam porque são massa dispersa e geralmente inconsciente.
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Mas há mais. Basta clicar em 

Wednesday, May 04, 2016

ULRICO

O presidente executivo do BPI disse ontem aos socialistas, de portas abertas ao sector bancário para conversas, que "a consolidação da banca é a única saída para a crise" . 



Da banca, supõe-se, porque a banca engendrou a crise, importando crédito que a economia nunca teria capacidade de reembolsar, embolsando os banqueiros prémios por resultados contrafeitos, expandindo-se em balcões em cada esquina, não raras vezes de um do outro lado da rua, tolerando-se mutuamente em todas as manobras dos membros da corporação, faz lá tu as tuas moscambilhas e deixa-me a mim fazer as minhas. O que é que eles discutiam e combinavam na associação corporativa, não sabemos, o que sabemos é que andaram largos a fazer de conta que a economia não tem leis. Mas tem, e a vaca tísica acabou por lhes cair em cima. Nada que não fosse previsível, nada que até neste caderno, desde as primeiras notas, há dez anos, não tivesse sido apontado.

Agora, só agora, o sr. Ulrich, conclui aquilo que há tanto tempo era evidente: havia banca a mais para o tamanho da mesa. O que pensam os outros?  É neste ponto que a porca torce o rabo.

A Caixa não pensa. A publicar prejuízos há cinco anos a fio, precisa que o governo lhe entregue mais dinheiro dos contribuintes depois de há, apenas, três anos ter recebido fundos para recapitalização sob a forma de aumento de capital e de um empréstimo reembolsável de que ainda não reembolsou um cêntimo. O novo presidente condicionou a aceitação da incumbência na condição de lhe ser permitido aumentar as retribuições, e o governo aceitou sem que se conheça qualquer reciprocidade de compromissos de objectivos. A Caixa absorveu há anos o Banco Nacional Ultramarino mas só cresceu em tamanho. Demonstradamente, não tem tradição nem competência para ser o La Caixa português.
Há quem proponha a nacionalização do Novo Banco - "já que o dinheiro já lá está, o melhor é ficar com ele" - mas da fusão com a Caixa só resultariam ganhos de produtividade se fosse drasticamente reduzido o quadro conjunto de pessoal, uma hipótese inviável para um governo suportado pela asa esquerda do parlamento.

O Santander estará alegremente de acordo na expectativa de lhe calhar na rifa mais um brinde tipo Banif.

O BPI do sr. Ulrich será, tudo aponta nesse sentido, a médio prazo, se não mesmo imediato, uma filial, de facto, do La Caixa. E o sr. Ulrich o seu representante em Portugal por mais algum tempo. Estará o sr. Ulrich a considerar uma eventual integração do Novo Banco no grupo La Caixa como um negócio de consolidação da banca portuguesa? Só por ironia.

O presidente do BCP diz que sim, que quer o Novo Banco. Se não há duas sem três, o BCP tem boas hipóteses de ser contemplado depois dos salvados do BPN terem sido vendidos por nada ao BIC e os do Banif por quase nada ao Santander. Num e noutro caso, a sucata ficou a preço de ouro do lado dos contribuintes

Resumindo: Aquilo a que o sr. Ulrich chama consolidação só resultará em ganhos de sinergia com redução de custos em meios, sobretudo meios humanos. Terá o PS entendido a mensagem?

É complicado, sobretudo para um governo todo à esquerda.

Saturday, April 30, 2016

MANIFES

Ontem, manifestaram-se os taxistas contra os uberistas e outros privados transportadores públicos de passageiros, que eles, taxistas, consideram ilegais. Os presidentes das Câmaras de Lisboa e Porto alinharam pelos taxistas; segundo as sondagens, o público alinha crescentemente pela Uber, e considera o comportamento dos taxistas frequentemente incorrecto.  
Qualquer que seja o resultado imediato, no final ganhará a Uber e outros operadores semelhantes. Cá, e em toda a parte. É uma questão de tempo.

Também ontem, foi anunciada para hoje a divulgação de um manifesto  - vd. aqui - de um grupo de reflexão preocupado com a evolução do sector bancário em Portugal que pretende garantir que a recomposição accionista de bancos como o BCP e o Novo Banco não seja feita de forma semelhante à do Banif, tenha em conta os interesses nacionais e que assegure os pré-requisitos ao desenvolvimento sustentável do país não são comprometidos. 
Consideram os subscritores do anúncio que "a crise do sector bancário e o recente arranque da implementação da União Bancária Europeia tornam inevitável uma profunda reconfiguração do nosso sector financeiro".

Além de outros, que serão, provavelmente, anunciados hoje, são subscritores do manifesto Alberto Regueira, António Barreto, João Salgueiro, José António Girão, Júlio Castro Caldas, Manuel Pinto Barbosa, Manuel Ferreira Leite, Bagão Félix, Eduardo Catroga, Rui Rio, Freitas do Amaral, João Ferreira do Amaral, José Roquette, Miguel Beleza, Nuno Morais Sarmento.

Curioso é que, pelo menos alguns dos manifestantes, que ocuparam posições de relevo tanto na banca como no ministério das Finanças, só agora acordem sobressaltados com os estilhaços e a lama da erupção de um vulcão de escórias, vista, ouvida e sentida em todo lado, desde há oito anos a esta parte.
De entre eles, destaca-se, pela pesada distracção, o sr. João Salgueiro e, pela leveza de carácter o sr. José Roquette.
O primeiro foi, durante anos, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, depois de ter presidido ao Banco de Fomento Nacional, tendo assistido, pelo menos sem o mínimo estremecimento público, à alegria gananciosa dos banqueiros a importar crédito, e a reexportar algum, que claramente excedia a capacidade de reembolso do Estado e dos particulares; o segundo pelo seu engenho, com o seu grupo de reflexão de então, na invenção das "totinhas" de tamanho adequado aos buracos na lei das privatizações para fazer chegar o Totta ao Banesto, na altura presidido por Mário Conde*, que alguns tempos depois seria condenado a prisão em Espanha. Se a hipocrisia pagasse imposto seria bem menor o índice de desigualdade em Portugal.

Candidamente, esperemos que  da reflexão do grupo resulte algum remendo nas extensas rupturas provocadas no tecido financeiro por crimes à espera de não serem julgados.
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Correl . - "Banqueros de rapiña" (1994)




Monday, April 18, 2016

NÃO HÁ BANCOS MAUS

O jargão financeiro não dispensa os eufemismos quando as palavras exactas lhe podem tramar a conveniência das aparências. Recentemente, o cidadão comum passou a ouvir, insistentemente, que a solidez do sistema financeiro está ameaçada pelas "imparidades" encravadas nos balanços dos bancos, geralmente decorrentes de elevados níveis de "crédito malparado", coisa a que a gíria popular chama "calotes".

Por que razão os bancos acumularam tantos calotes explica-se singelamente pelo facto de os banqueiros, contrariamente ao que sucede em qualquer outro negócio, remeterem aos contribuintes, para pagamento, as facturas das perdas resultantes de riscos não calculados ou mal calculados quando os níveis de "imparidades" daí resultantes colocam os bancos em situação de insolvência implícita e os accionistas recusam ou não conseguem colmatar as insuficiências de capital subsequentes. Contando com a rede que os contribuintes são coagidos a estender-lhes, os banqueiros dedicam-se preferencialmente aos negócios mais arriscados, que são naturalmente aqueles que mais prémios lhes proporcionam.

Para endossar aos contribuintes as perdas resultantes dos "calotes" os engenheiros financeiros inventaram "veículos" (outro eufemismo) para onde descarregam dos balanços dos bancos implicitamente insolventes, ou assim considerados pelas corporações ou reguladores, o "crédito malparado". E a estes "veículos", que mais não são do que comissões liquidatárias, passaram a chamar "bancos maus". Incumbe, então, aos liquidatários vender os "salvados" dos acidentes e as perdas, as"imparidades" que as paguem os contribuintes, a bem da perenidade do sistema.

A nenhum título um "banco mau" é um banco.
Não há bancos maus. Há bancos péssimos que não deixarão de o ser pelo facto de, eufemisticamente , se terem inventado bancos que, como bancos, simplesmente não existem.
E que apenas servem para perdurar as taras do sistema.

Wednesday, March 30, 2016

OPINIÃO PÚBLICA

(a propósito do inquérito parlamentar ao Banif )

"Estes inquéritos parlamentares podem ser úteis. 
O que importa não é saber quem foi culpado mas investigar as causas para prevenir a repetição dos mesmos erros"

"O senhor que falou anteriormente deve ter proximidade com os culpados ou então ainda não percebeu que só metendo os culpados na cadeia se evitam reincidências"

"Concordo com o que disse o ouvinte anterior. Estes inquéritos parlamentares não servem para nada! Repetem-se os erros ao mesmo ritmo que os inquéritos. O que é que o Banco de Portugal aprendeu com  inquérito ao BPN? Nada."

"Prender, para quê? Na prisão temos de os alimentar. O que deverá ser feito é ir buscar o dinheiro onde eles o meteram"

"Como não há justiça, estes inquéritos realizam-se para nosso amansamento. Ouvimos, discutimos, e, no fim, pagamos".


Saturday, January 16, 2016

A TODOS OS TÍTULOS

O FT publicava anteontem - Portugal accused of picking fights with foreign investors -, um artigo que resume o sentimento, que perpassa neste momento  na imprensa internacional, de menos honorabilidade de Portugal nas negociações com investidores estrangeiros. 

Podem invocar-se razões eventualmente válidas do ponto de vista da tramitação legal dos processos em Portugal mas são argumentos   sem vencimento externo e, não menos grave que isso, podem não ter acolhimento junto dos tribunais onde as eventuais conflitualidades venham a ser julgadas. 

Os contratos de subconcessão dos transportes colectivos de Lisboa e Porto ainda não tinham sido visados pelo TC, a privatização da TAP foi concluída pelo anterior governo na véspera de saída, são provavelmente bons argumentos para o sr. António Costa fustigar o sr. Passos Coelho, ou vice-versa, na Assembleia da República, mas não limpam a má imagem que o conflito partidário interno projecta nos meios externos.

Hoje, a primeira página do Expresso é, pelo mesmo lado, um montra de outros conflitos que, para além de arrasar ainda mais a credibilidade externa de Portugal, coloca mais umas quantas parcelas na soma de responsabilidades que os contribuintes terão de pagar:

- Centeno não seguiu recomendação do BCE para o Banif - custo estimado, mil milhões de euros.
O sr. Centeno dirá que o grande culpado do buraco Banif foi o anterior governo, que fez por ignorar o que se passava num banco onde o Estado tinha passado a ser accionista muito maioritário após a recapitalização. E desta discussão, pelo poder de decidir mal ou a más horas, resulta o assalto aos que não têm culpas no cartório para além das que decorrem de viver aqui.

- Suspeitas de crime com obrigações do Novo Banco - Nesta saga, com fim cada vez mais longínquo, é hoje muito claro que  os incumbidos de defender os interesses do Estado se acusaram mutuamente mas continua completamente opaca a responsabilidade pelo contínuo aprofundamento do buraco BES. Desentenderam-se Carlos Tavares e Carlos Costa, agora o primeiro está de saída por termo de mandato na presidência da CMVM.
O sr. Carlos Costa, diz a imprensa, está isolado, nem no governo nem no BCE encontra encosto. 
Mas não cai! 
E continua, não sei se alegremente, a decidir por conta das contas que os contribuintes terão de pagar, não sendo visível que haja, efectivamente, contribuições dos banqueiros, que aliás, segundo o presidente da corporação, também não têm sido ouvidos,  no âmbito do Fundo de Resolução.

A continuar assim, quanto tempo faltará para um segundo resgate?


Wednesday, January 06, 2016

MASTURBAÇÕES PARLAMENTARES

O Banif poderá ter duas comissões de inquérito. No Parlamento, PS, BE e PCP preparam proposta conjunta de criação de uma comissão de inquérito. Na assembleia legislativa da Madeira, o PS da região propõe ainda esta semana a criação de outra comissão sobre o banco. - aqui  

Para quê?, se de nenhuma das comissões parlamentares de inquérito anteriormente convocadas para autópsia dos restos bancários observados resultou mais que o tresandar da característica nauseabunda mistura de odores a corrupção, lavagem de dinheiros, off-shoring, conivências políticas, ganância, roubo descarado, entre outros? 

Que proveito retirou a dignidade da República da excelente e muito aplaudida exibição do sr. Nuno de Melo na comissão de inquérito parlamentar ao mostrengo que se deu pelo nome de BPN? Onde dorme o molho de processos abertos pelo Ministério Público há sete anos atrás, traduzido numa rapina de sete mil milhões de euros aos tansos fiscais? Alguém foi preso ou condenado a regurgitar o que abocanhou? Dizem as notícias que no BPN mais de 500 grandes clientes com dívidas superiores a meio milhão de euros deixaram de pagar ... p. e., as empresas de Luís Filipe Vieira,  o muito aplaudido presidente do Benfica,  deixaram dívidas de 17 milhões no BPN ... e 600 milhões  ao BES, Sete anos depois não é mais que tempo para a AR concluir que, sendo os inquéritos parlamentares inconsequentes, deveria votar leis que impedissem o adormecimento implicitamente conivente dos agentes da administração da justiça? 

No inquérito parlamentar ao caso BES brilhou a srª. Mariana Mortágua, e os bloquistas passaram a perna aos comunistas nas legislativas. Mas já foi alguém julgado? Mortágua só conseguiu que o sr. Bava mostrasse muita indignidade e nenhuma vergonha para fugir às perguntas da deputada. Desta vez, no fim do longo inquérito, congratulou-se toda a comissão com a quase unanimidade das conclusões. Mas não há, sequer, acusados. O principal protagonista, presumidamente inocente, esteve sob prisão domiciliária, o grupo destroçou-se, alguns dos comparsas acusaram-se mutuamente, nenhum está a prestar contas à justiça.

Saltam agora para os hemiciclos em São Bento e na antiga Alfândega do Funchal dois inquéritos em simultâneo sobre os mesmos destroços banqueiros. O que sendo uma originalidade - as conclusões estão antecipadamente garantidas em Lisboa pelos votos da maioria de esquerda - será ainda assim inconsequente, qualquer que seja o voto de PSD e CDS no Funchal. 

Inconsequente, entenda-se, para os interesses da República. Com estes inquéritos regalam-se, e só eles, os senhores deputados.


Tuesday, December 29, 2015

LÉRIAS


É sempre assim,

O sr. Teixeira dos Santos começou por garantir que da nacionalização do BPN não resultaria qualquer encargo para os contribuintes; Viu-se!
O sr. Vítor Gaspar assistiu impávido e sereno à recapitalização dos bancos portugueses (7,8 mil milhões de euros)  acreditando piamente que os devedores reembolsariam os capitais com  juros a benefício do orçamento. Viu-se, e continuará a ver-se! 
A srª. Maria Luís Albuquerque continua a garantir a pé juntos que da resolução (!?) do BES e a invenção do Novo Banco ficavam os contribuintes livres de encargos; Viu-se, e mais se verá!
O sr. Mário Centeno, garantiu que. com o governo de que é parte importante, não haveria mais assaltos aos bolsos dos contribuintes para resgatar os banqueiros, e não fez outra coisa com a venda do Banif a troco de perdas que, diz quem fez as contas, poderá ultrapassar os 3 mil milhões de euros.
O sr. Carlos Costa, qual Constâncio Segundo por graça do sr. José Sócrates e a benção do sr. Passos Coelho,  não viu nada nem nada lhe cheirou a esturro, continua de pedra e cal a soterrar os tansos fiscais (nunca imaginaria Leonardo Ferraz de Carvalho que o confisco fosse tão longe)  para aguentar os bancos em risco de desmoronamento.

Resolve-se a capitalização do Novo Banco (depois da inteligente resolução que deve custar aos tansos fiscais para cima, e ninguém sabe quanto para cima, de quatro mil milhões) com a devolução à procedência das obrigações séniores emitidas pelo BES?
A capitalização, sim, mas à custa dos contribuintes porque apenas muda a sede onde os resultados da litigância ficam do lado dos tansos fiscais. 

Já agora registe-se que a nenhuma das supra citadas sumidades ocorreu que existe estabelecida uma garantia de depósitos até 100 mil euros, o que não é pouco considerando que cada depositante pode multiplicar aquele valor diversificando por bancos e titulares os seus depósitos. E que a garantia de limites superiores ou para aplicações não claramente tipificadas como depósitos foi feita, em todos os buracos banqueiros citados, à custa dos tansos fiscais.

E os bandidos continuam à solta*.

É incompetência ou trapaça a mais!

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 Correl . - *Vd. "O diabo que nos impariu", de Pedro Santos Guerreiro e Isabel Vicente

Tuesday, December 22, 2015

ADIVINHEM QUEM VAI VOTAR O ORÇAMENTO RECTIFICATIVO

Ninguém sabe, pelo que se deduz das notícias, qual a profundidade de mais este buracão banqueiro.
Segundo o Público de hoje "a factura do Banif para os contribuintes pode chegar a 3825 milhões. Desde que foi conhecida a dominical decisão de venda ao Santander os prognósticos têm vindo a ser 
revistos em alta.Nada que não tenha acontecido com os outros buracos já descobertos e que, fatalmente, virá a acontecer com os que falta descobrir. 

O Ministério Público farta-se de olhar lá para baixo e não lhes vê os fundos nem quem os escavou.
Do BPN, de concreto, depois de sete anos de cansativas miradas, apenas de sabe que  ninguém nos pode tirar os "Miró". E vá lá, vá lá, por muito lúcida visão do sr. João Soares, vamos poder ver, vd. aqui, de todo este parece que imparável surrealismo, o surrealismo do Joan em Serralves. Se do BPN, que foi o primeiro a ser descoberto, não há nada de verdadeiramente novo, de toda a esburacação à vista sabe-se apenas que a factura a pagar pelos mesmos de sempre, segundo cálculos feitos aqui, já vai nos 13 mil milhões de euros.

O que  nos vale é o actual Governo da República ter um largo espectro de apoio parlamentar: À esquerda disseram-lhe que não na proposta de manutenção da CES? Voltou-se para o outro lado e recebeu os votos dos srs. Passos Coelho e Paulo Portas. Agora o PCP diz que não aprova o Rectificativo para acomodar o tamanho provisório do buraco do Banif e o BE condiciona o apoio à nacionalização do Novo Banco? O sr. António Costa contará, certamente, também neste caso, com a maioria flutuante de alterne à direita.

E, last but not least,  iremos ter nova oportunidade para assistir a mais uma nova fulgurante exibição de Mariana Mortágua no já anunciado "Inquérito Parlamentar ao Caso Banif". Com aprovação, como de costume, antecipadamente garantida pela maioria. Neste caso, de alterne à esquerda.

Sunday, December 20, 2015

PILATOS REVISITADO

As notícias davam como certa a venda do Banif até ontem*. Caso contrário, o mais provável era a resolução do banco ter de obedecer às regras que entram em vigor no primeiro dia do próximo ano.
Que se saiba, o Banif não foi vendido.  
Entretanto, o sr. António Costa já fez saber que vai ser ele a tomar conta do assunto, que os depósitos estão garantidos mas não os bolsos dos contribuintes.

Percebe-se: Se os contribuintes foram metidos em mais este buraco foi o governo anterior (há sempre um governo anterior envolvido nestas coisas) que os meteu lá. Ele, António Costa, não está disposto a mandar o Banif para a falência e correr o risco de incendiar o sistema. Se houver hair-cut nos depósitos acima de cem mil euros será por imposição das normas da UE.

Custe o que custar, voltam a ser os do costume a pagar.

E o sr. Jerónimo de Sousa não se indigna?
A srª. Heloísa Apolónia não se esganiça?
A srª. Catarina Martins não se opõe?
A srª. Mariana Mortágua não pede explicações?
O sr. Carlos Costa não se demite?

Para os banqueiros portugueses há um banco em que ninguém os senta: o banco dos réus.

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* Corrijo - Até ao fim do dia de sexta-feira era o prazo para recepção das propostas dos interessados na compra. A venda pode realizar-se até ao fim do ano.
Corrijo a correcção! - Soube-se esta manhã (21/12) por informação divulgada em Bruxelas que afinal o Banif foi vendido ao Santander. A factura a pagar pelos contribuintes deve rondar os 3000 milhões de euros.

Tuesday, December 15, 2015

A BANCA DAS VACAS LOUCAS

O presidente-executivo do Banif admitiu em entrevista da Sic que o banco tem de ser vendido até sexta-feira o que, naturalmente, terá efeitos negativos sobre o preço. Disse ainda que tem acções do banco mas não as vende e compraria mais porque acredita no projecto.
Considera ainda que o fim do Banif seria um disparate.

Ao ler estas declarações de tão temerário presidente ocorreu-me aquela cena de um então ministro da Agricultura a papar uma boa dose de mioleira de vaca no tempo em que a encefalopatia espongiforme bovina punha meio mundo de pé atrás com o bife.

Mas se o banco é bom e não é portador de doenças transmissíveis por que o deixaram chegar ao estado deplorável a que chegou?
Não é caso um único, pois não.
Safa-se algum?

Anotei vezes sem conta neste caderno de apontamentos a minha perplexidade pela exuberância de uma banca que arrotava foguetórios de lucros no meio de uma economia depauperada. Como poderia uma vaca esquálida continuar a aguentar-se com tantos mamões? E sempre pensei que, mais dia menos dia, a vaca de tão sugada acabaria por tombar para cima dos que a sugavam.

E tombou mesmo.

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Act. - (16/12)
Pagam, e não bufam, os do costume : O primeiro-ministro garante os depósitos e admite custos para os contribuintes.
Venda flexível e "fundo mau" (nos bolsos dos contribuintes) é solução para o Banif
Por onde anda a "política patriótica da esquerda"?

Thursday, December 10, 2015

O BANIF POR UM CHAVO

Ou nem isso?
A esta hora, quatro da tarde, as acções do Banif já perderam quase 38% durante o dia de hoje.  Até ao fim da sessão, por este andar, vaporizam-se. 
Amanhã, ou há accionamento das regras do Fundo de Resolução ou as obrigações que titulam o empréstimo do Estado para a recapitalização são convertíveis em acções. Qualquer dos casos será um caso bicudo.
Por qual das (más) vias se baterá o PCP? Pela segunda, que equivalerá à confirmação da nacionalização, ou pela primeira, que envolverá, ainda que incertamente, as outras instituições financeiras no remendo de mais este buraco do sistema?

Porquê o PCP?
"Não vamos propor nada com o qual o PCP não concorda", garantiu o primeiro-ministro na AR durante a apresentação do Programa de Governo para a Legislatura. Uma garantia que ninguém pode deixar de ter em conta.

Excepto o BE que irá antecipar-se para dizer como é.
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A notícia saiu ontem já depois de ter editado o meu apontamento do dia, mas é requentada. Há quanto tempo não anda já o sr. Jorge Tomé à procura da rolha?
Hoje, 11/12, às 15,00 horas, a Bolsa de Lisboa cai 2,02% com quase todas as cotadas do (mal chamado) PSI 20 em terreno negativo, salvo a Mota Engil que sobe 0,89% e ... o Banif que sobe 55,56%!, com 1.287.329.143 títulos transaccionados, cerca de 1,8 milhões de euros.
Sobre este comportamento entre menos 38% num dia e mais 55,56% mo dia seguinte não vi ainda notícias nem comentários. Li algures, apenas, que os reguladores, Banco de Portugal e CMVM, não se entendem sobre o que fazer de tão estranha volatilidade. 
Um dia, tarde de mais, saber-se-á o que se está agora a passar.


Monday, October 12, 2015

QUANDO O NOVO PRIMEIRO-MINISTRO CHEGAR A SÃO BENTO

O Sr. António Costa anda em shopping around à esquerda e à direita para tentar sobreviver com os trocos que tem. Ninguém, nem provavelmente ele, acredita que a Sra. Catarina Martins e o Sr. Jerónimo de Sousa se atravessem em compromissos inequívocos e escritos que frontalmente ofendam as reclamações que lhe grangearam as transferências de votos com que aumentaram a sua representatividade na AR e retiraram ao PS, pelo menos, a maioria relativa.

Parece, no entanto, que o Sr. António Costa se não está encadeado pela miragem de se sentar em São Bento a qualquer preço, nem que seja por um dia, conseguirá com alguma facilidade que os líderes à sua esquerda mostrem o jogo que estão dispostos a jogar e, deste modo, ou formar um governo insólitamente estável à esquerda ou retirar-lhes os argumentos com que eles possam continuar a minar as posições socialistas no futuro. 

Cristina Ferreira escreve hoje no Público, vd. aqui, um artigo, que merece uma leitura na íntegra, e do qual destaco,


"... Quando o novo primeiro-ministro chegar a São Bento, vai encontrar na sua secretária vários “barris de pólvora”. Um deles esconde a capitalização da banca portuguesa, em particular a da CGD e do Novo Banco, mas também a reestruturação do Banif, onde o Estado é, desde Dezembro de 2012, o accionista maioritário. Os três dominam cerca de 40% do mercado e a sua relação com o tesouro não é igual. A CGD é 100% pública. Já o Novo Banco e o Banif foram resgatados e aguardam por um comprador, mas, enquanto não transitarem para o domínio privado, terá de ser o Estado a garantir a sua solidez.
Nos últimos três anos, o último executivo PSD/CDS-PP aplicou directa e indirectamente quase 6000 milhões de euros nas três instituições. E analistas admitem novas ajudas da ordem dos 2500 milhões..."

Estes, e outros acidentes gravíssimos não deveriam ter acontecido, mas aconteceram.
Como é que a Srª. Catarina Martins e o Sr. Jerónimo de Sousa se propõem desactivar os tais barris de pólvora sem mandar o país pelos ares? Saindo do euro? Saindo da União Euopeia? Nacionalizando a banca?
E o Sr. António Costa concorda com eles? 
E o Sr. Passos Coelho em que é que discorda do Sr. António Costa?

Se há da parte dos líderes partidários com representação parlamentar o intuito de servirem o país antes de servirem os seus próprios interesses, por mais respeitáveis que sejam, seria bom que o próximo governo se sentasse com a garantia de que a sua a capacidade para desactivar as ameaças não seja inevitavelmente torpedeada e o país estilhaçado pelas ambições desmedidas das claques partidárias. 

Este é o momento do Sr. António Costa demonstrar a sua apregoada capacidade para negociar a defesa dos interesses públicos, evitando o ofuscamento da tentação de um triunfo efémero.

Saturday, July 19, 2014

OS INVENTA MILHÕES

Para onde foram os milhares de milhões em que se mede a falência do grupo Espírito Santo?, perguntava um amigo há dias como quem pergunta para onde vai a alma dos pardais. Evaporaram-se, sabe-se lá onde param? E de onde vieram as centenas de milhões com que os Espírito Santo aumentaram o capital do BES para evitar evitar a recapitalização receitada pela troica, perguntava quinta-feira à noite o putativo candidato a primeiro-ministro António Costa?

Neste último caso, a resposta parece mais fácil mas desperta uma data de dúvidas grossas.
Sabe-se que o grupo ES emitiu "papel comercial" como os bancos centrais emitem papel moeda, contando enrolar a manta como qualquer dona Branca sem pedigree nem banco atrás. A emissão de "papel comercial" pelo GES,  passado aos balcões do BES, era do conhecimento do Banco de Portugal. Desconheciam,  nessa altura, no Banco de Portugal a progressão do sobreendividamento do GES? A emissão de papel moeda faz-se consoante a regra do senhor-se-queira? À vontade do freguês? Tinha mais poder de emitir papel o Espírito Santo que o senhor Carlos Costa, que não tem nenhuma?

A prestidigitação financeira continua perante o embevecimento do regulador. O presidente do Banif afirmava ontem que não tem pressa em dar entrada a capitais da Guiné Equatorial por ter, para já, resolvido o problema da recapitalização do banco; o presidente do  BCP, depois de anunciar maus resultados, anunciou que vai antecipar o reembolso do empréstimo troica intermediado pelo Estado.
De onde vêm os cabritos vendidos por esta gente sem cabras?
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Correl. - (22/7) - BPI prevê que BCP diminua prejuízos e aumente margem financeira








Thursday, June 19, 2014

OS MELHORES JÁ NÃO SÃO QUEM ERAM

Hoje é notícia que a família Espírito Santo vai abandonar a administração do banco por desentendimentos familiares que terão forçado o govenador do Banco de Portugal a impor uma solução rápida para uma crise já demorada. Vd. aqui. Ricardo Salgado, tido durante muito tempo como o banqueiro português mais reputado e a personalidade mais influente do país, vai renunciar à presidência e sair pela porta das trazeiras.

Olhando para trás, da geração de banqueiros que se vangloriava dos lucros espantosos no meio de uma economia débil por, diziam eles, terem sabido aumentar os seus níveis de produtividade quando ela estagnava nos outros sectores, quantos sobram hoje? A maioria caiu dos pedestais para onde haviam pulado em trampolins manhosos de formas diversas mas geralmente indignas. Dos da primeira divisão sobra Ulrich, ou, se se preferir, a dupla Artur Santos Silva e Fernando Ulrich. Todos os outros tropeçaram, mais ou menos estrondosamente, nos seus próprios dribles.

Mas nenhum perdeu até agora o quer que seja daquilo que embolsaram durante os períodos mais ou menos longos em que reinaram.  Agora cai Ricardo. Ele que suportou a marca do banco durante os últimos anos na imagem do "melhor jogador do mundo" acabou por revelar -se ter ele próprio jogado mal.

Em que eram, afinal melhores aqueles banqueiros que conseguiam mungir produções milagrosas de vacas esqueléticas? A governarem-se regaladamente sob os olhares benevolentes do governador central.



Wednesday, June 11, 2014

ESPÍRITO SANTO - EXPLICAÇÃO DO MILAGRE

"Está agora, singelamente, explicado o milagre tão profusamente propalado pelos escribas de serviço nos media sobre a genialidade putativa com que o BES escapou ao apoio do Estado na crise financeira de 2008" - Arma/Crítica cit. Expresso Digital de hoje. 

A ferroada já foi espetada há duas semanas atrás e só me apercebi dela através do Expresso. A blogosfera é um universo em expansão acelerada, só se chega a alguns sítios por indicação dos meios mais conhecidos. Foi este o caso.

De há uns tempos a esta parte destapou-se aquilo que mais ou menos em surdina já se ouvia há muito tempo acerca das vulnerabilidades dos Espíritos Santos. O confronto público com Pedro Queiroz Pereira veio precipitar a divulgação de vários outros desacertos internos até aí razoavelmente contidos no âmbito do grupo. A divulgação recente da dimensão aproximada do descalabro do BES Angola - perdeu o rasto a 5700 milhões de euros - suscita, além do mais, a inevitável questão sobre o que estará ainda mais por vir a seguir. Em todo o caso, o que já se conhece seria suficientemente mau para incluir os  Espíritos Santos na galeria da vergonha, se a vergonha não tivesse há muito sido despachada para o sótão das velharias desusadas, repleta de banqueiros espúrios que atiravam foguetes de artifício há uns anos atrás celebrando resultados de espantar, e prémios e dividendos à mesma altura.

O senhor João Rendeiro - o tal súcio banqueiro que na véspera de ser derrubado por falência se celebrava em livro encomendado - enquanto se entretem no jogo da cabra-cega aproveita a deixa para brindar o parceiro agora na mesma roda com uma ferroada para acerto de contas.

Mas não passa mais nada. No jogo da cabra-cega só é apanhado quem tiver a perna muito curta.
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Correl. -
Ministério Público pede mais de 5 anos de prisão para João Rendeiro (12/6/2014)

Friday, May 30, 2014

ELES POR CÁ TODOS BEM, GRAÇAS AOS DELES

Em Espanha foram pela primeira vez condenados quadros das caixas de aforro, neste caso quatro altos responsáveis de uma caixa de aforros da Catalunha, na altura a terceira de maior dimensão - vd. aqui - por desvio de fundos em proveito próprio, aquilo que costuma designar-se por roubo quando quem desvia não é banqueiro ou parecido. Condenados a prisão, o presidente durante dois anos, e a um ano três outros membros da direcção, escapam às grades por contrapartida da devolução de 28 milhões de euros à procedência.
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Act. - Ouço na rádio parte de uma entrevista ao Procurador Geral Distrital Pinto Nogueira, já  reformado, afirmar que, provavelmente, a prescrição observada no processo Jardim Gonçalves ficou a dever-se a negligência do procurador incumbido do processo. E que, concordando em grande parte com as medidas adoptadas pela actual ministra da Justiça, falta sobretudo reformar as cabeças dos magistrados do Ministério Público. Cito de cor, não garanto que as palavras do entrevistado tenham sido exactamente aquelas, mas o sentido é certamente o que aqui registo.