Showing posts with label moral hazard. Show all posts
Showing posts with label moral hazard. Show all posts

Friday, June 25, 2021

OUVES, GOVERNO?

Miguel da Câmara Machado: “Levar um banco à ruína devia ser crime, mas não é"

Se a insolvência de uma empresa for dolosa, o responsável terá de enfrentar consequências criminais. Mas se estiver em causa um banco, isso já não acontece. Miguel da Câmara Machado alerta para "lacuna legal" que Governo devia corrigir. - aqui

Friday, May 01, 2020

CONVERSAS EM CLAUSURA





Recebi de um amigo de longa data este vídeo, via WhatsApp.
Normalmente, não abro mensagens reencaminhadas, mas vindo de quem vinha, é obrigação de velho amigo, abrir, ver e ouvir, o que o meu Amigo me envia. E discordar, quando for caso disso, a amizade não se consolida com a passividade do silêncio.

Ouvi com toda a atenção discurso do senhor J. A. Melé, e não discordo das boas intenções sustentadas num projecto - A Banca Ética - de que o conferencista é promotor.
Eu não sabia da existência do senhor Melé, mas, uma breve visita na internet, esclareceu-me, julgo eu, suficientemente, acerca dos objectivos que o conferencista promove. Sem grandes reticências subscrevo a mensagem do senhor Melé.

Contudo, notei que ao conferencista, em Buenos Aires, escapou, propositadamente ou não, duas  formas concretas de garantir na banca em geral a observância da ética que o senhor Melé promove sem nos dizer como atinge a banca, onde é assessor e promotor, os objectivos que definiu como lema, aparte referências vagas à condenação moral de certas marcas que exploram mão-de-obra em países onde as condições de trabalho são infra-humanas, que também subscrevo.

O que estranho e considero insólito, no mínimo, é que o senhor Melé fala durante cerca de meia hora sobre a falta de ética na banca, mas não faz qualquer referência aos offshores e aos fundos de especulação mobiliária e imobiliária.
Considero, há anos, escrevi vários apontamentos sobre o assunto neste caderno de apontamentos, desde a crise das sub-prime e dos activos tóxicos que implodiram o sistema financeiro global, que os bancos deveriam dividir-se em bancos sem qualquer envolvimento, directo ou indirecto,  em operações em offshores ou em aplicações em fundos de, ditos, de investimento,
e os outros.
Aos primeiros, e só a esses, que designei por bancos verdes, por similitude com a economia verde, seria garantida, em caso de crise financeira sistémica, o apoio dos contribuintes, aos outros, aplicar-se-iam as regras estabelecidas para o funcionamento dos casinos. Quem quisesse ver as suas poupanças garantidas,  optaria pelos primeiros, quem quisesse obter maiores ganhos teria de aceitar todas as consequências dos riscos assumidos.

Se houvesse leis que não consentissem as ousadias com rede garantida pelos nossos impostos não teriam os senhores Ricardo Salgado, Jardim Gonçalves, Oliveira e Costa, e ..., muitos outros, jogado como jogaram, aqui e quase por todo o mundo.

Não é tudo, há muito mais para aprofundar a questão.
Quem quiser ler o que escrevi neste caderno há cerca de dez anos sobre o assunto pode procurar nas etiquetas, bancos, banca, moral hazard, ...


Wednesday, November 15, 2017

AS LEIS E OS BANCOS


Há dias indignava-se um administrador de um dos principais bancos sediados em Portugal com a diarreia regulamentadora dos burocratas do Banco Central Europeu.
Dos burocratas?, estranhei eu. Mas não é o Draghi que dá a táctica e a estratégia?
O Draghi, explicou ele, paira acima desta produção massiva de regulamentos. Os burocratas tendem a acautelar a sua falta de conhecimentos resguardando-se com a multiplicação de regras.
Mas os burocratas não são contidos nessa tendência, que lhes é congénita, pelos quadros superiores da cadeia de decisão?, admirei-me eu.
Não, os quadros intermédios limitam-se a concordar com as propostas das bases e a submetê-las a decisão superior. E assim sucessivamente pela escada acima. Nenhum dos tecnocratas posicionados na pirâmide  se atreve a discordar das bases, que reflectem os equilíbrios de poderes negociados em abstracto nos conselhos de ministros da União Europeia. Deste modo se aprovam regras que distorcem a racionalidade de decisão dos bancos para pagamento da incompetência dos burocratas.

Ou do porteiro do BCE?
Os banqueiros, com raras excepções, confirmaram nos últimos dez anos que, quando deixados à rédea solta, decidem sem avaliação prudente das suas decisões, porque o seu objectivo é a ganância ilimitada do crescimento das suas fortunas e o risco, quando se lhes parte a corda da sorte, é sustentado pela rede de impostos aos contribuintes. Se os burocratas são diarreicos é porque a ingestão desmedida de moscambilhas provocou, e continua a provocar, perturbações gástricas ao sistema e os custos da limpeza continua a cargo daqueles que, na sua esmagadora maioria, em nada contribuíram para a emergência do síndrome.
Elimina-se ou reduz-se a dimensão dos estragos soterrando o sistema com regras?
De modo algum. Para cada regra parida descortinam os advogados entre as malhas de regras tecidas pelos burocratas buracos suficientes para elidir os propósitos dos regulamentos e, quanto mais densa é a malha mais se adensa com o decorrer do tempo a sua vulnerabilidade.
Muitas das irregularidades ou oportunismos eticamente reprováveis cometidas pelos banqueiros ou com a sua cooperação passam pelos paraísos fiscais, que são também os paraísos dos traficantes de drogas, de armas, de terrorismo, de seres humanos, porque os canais de passagem são de natureza idêntica.
São precisas mais leis?
Os burocratas não têm ao seu alcance outras medidas, e produzem leis.
Resolvem o problema? Não resolvem. Os "Panamá Papers", os "Paradise Papers" e outros papers que irão continuar a aparecer demonstram que as leis são, em larga medida, inconsequentes porque os interesses envolvidos são gigantescos e a falta de ética se tornou banal.
Que fazer?
Acabar com os offshores!
Seria a medida mais eficaz para reduzir significativamente as ameaças que passam pelos bancos a caminho das costas dos contribuintes. Seria, mas não serão os burocratas que a podem determinar. Que, entretanto, para fazerem alguma coisa, fazem leis.

Friday, April 21, 2017

PARA ACABAR COM OS LESADOS DOS LESADOS


A foto está num artigo do Público de hoje

Banca : venda abusiva de produtos aos clientes punida com expulsão - Venda que viole regras será punida com a perda do registo para funções de gestão, direcção, administração ou fiscalização na banca. Telefonemas com clientes passam a ser gravados"

Não sei qual vai ser a reacção dos banqueiros a estas intenções que, pelo que se lê no artigo, terão origem em directivas comunitárias. 
O que sei é que não se reparam com mais leis e regulamentos o que, na origem, por estar mal enquadrado voltará a repetir-se.  Às leis e regulamentos responderão os banqueiros com a sua infinita capacidade inventiva e enorme influência junto do poder político para, com o passar do tempo, tornar as leis redundantes. 

A lei que falta é a segregação das operações dos (intencionalmente mal) designados "bancos de investimento" das operações não especulativas. Quem investe na bolsa, directamente ou através de "fundos de investimento" confeccionados pelos bancos,  assume (deve assumir) o risco das suas apostas, independentemente das influências de terceiros que possa ter recebido verbalmente ou por escrito. E nunca será (deveria ser) diferente por mais legislação parida sobre o assunto. 
O que não é, mas deveria ser diferente, é a cobertura que os governos, com os dinheiros dos contribuintes, têm vindo a conceder a banqueiros e a investidores, uns gulosos, outros ignorantes, pelas perdas observadas na generalidade dos tais produtos pútridos vendidos pelos bancos.

Aqueles que, como os mostrados na foto acima, reclamam "as suas poupanças", considerando-se lesados das consequências dos investimentos que fizeram, e responsabilizam o "Estado que não os protege, mas rouba" deveriam saber que investir em produtos financeiros envolve risco e que esse risco é (tem de ser) responsabilidade sua, unicamente sua. Se assim não for, e não tem sido, o que os "lesados da banca" pretendem, e, de algum modo têm conseguido, é que os outros, aqueles não foram vistos nem achados no assunto tenham de pagar as consequências negativas das apostas que fizeram.

Falta uma lei que separe completamente as operações bancárias das operações de casino. 
E falta, talvez, um aviso: à semelhança do aviso obrigatoriamente estampado nos maços de tabaco deveria ser obrigatório colocar nos balcões ou salões onde se vendem produtos financeiros a indicação, em evidência, "comprar fundos pode arruiná-lo financeiramente".


Thursday, January 19, 2017

UMA DESTRUIÇÃO COLOSSAL NA BANCA PORTUGUESA

O Negócios online resumia na sua edição de ontem as declarações de Fernando Ulrich* num encontro com os jornalistas. Transcrevo, vd. abaixo* o artigo, não vá a pérola perder-se pelo caminho.

Ulrich sempre se destacou do comportamento sonso dos seus confrades banqueiros Em alguns momentos foi premonitório, noutros polémico, em alguns casos surpreendente pela falta de razoável contenção ou equilíbrio no discernimento. Registei e comentei algumas das suas declarações públicas: aquiaqui, aqui, aqui ( Ulrich : Fusão PT/Oi é uma tragédia que deve ser travada imediatamente), aquiaquiaquiaquiaqui (se a medida relativa à taxa social única avançar, o BPI deverá ter um ganho de 10 milhões de euros em 2013), aquiaqui.

Ontem, as declarações de Ulrich registadas por Maria João Gago, só são surpreendentes quando "defende que custo suportado por Estado e contribuintes foi muito baixo quando comparado com accionistas ...". 
Mas só são surpreendentes para quem desconheça a convicção desde sempre cimentada na cabeça dos banqueiros de que lhes assiste o direito de embolsar rendimentos estratosféricos sob todas as formas possíveis e imaginárias, e endossar as perdas para os contribuintes quando os accionistas dos bancos batem a asa. Moral hazard, no jargão anglo-saxónico, uma designação dúbia para uma iniquidade evidente que torna legal a penalização dos inocentes. 

Não há outra explicação possível para interpretar a petulância de julgar responsável pelas perdas resultantes de actos de gestão quem não é, nunca foi, nunca será interveniente, nas decisões e moscambilhas dos que se aproveitam ou aproveitaram delas.

Em Outubro de 2006 escrevi aqui:

"É um facto indesmentível, porque eles próprios se encarregam de propagandear, que os lucros dos Bancos (consistentes ou não, um dia se verá) nada têm a ver com a miserabilidade em que a economia portuguesa se arrasta já há alguns anos. Não há Banco que se preze que não anuncie, semestralmente, pulos de lucros sempre de dois fortes dígitos.
Como é possível uma vaca esquelética ser tão generosa na produção de leite?"

Em Janeiro de 2013aqui

"Há muitos anos, em reunião com um banqueiro que hoje é presidente do banco de que na altura era administrador, referi que, com o andamento que se observava na economia portuguesa, enfezada e cada vez mais sugada pelos bancos, um dia a vaca acabaria por tombar para cima dos que dela mamavam em excesso.
Respondeu-me o banqueiro: Esteja tranquilo, os bancos nunca vão à falência.

E, até agora, o tal banqueiro acertou. O moral hazard que permite aos banqueiros tudo e mais alguma coisa, em Portugal não abriu até agora uma única excepção. "

Em Junho de 2014, aqui :
"Olhando para trás, da geração de banqueiros que se vangloriava dos lucros espantosos no meio de uma economia débil por, diziam eles, terem sabido aumentar os seus níveis de produtividade quando ela estagnava nos outros sectores, quantos sobram hoje? A maioria caiu dos pedestais para onde haviam pulado em trampolins manhosos de formas diversas mas geralmente indignas. Dos da primeira divisão sobra Ulrich, ou, se se preferir, a dupla Artur Santos Silva e Fernando Ulrich. Todos os outros tropeçaram, mais ou menos estrondosamente, nos seus próprios dribles."

Sabe-se agora que o La Caixa vai adquirir cem por cento do Grupo BPI.
O srs. Artur Santos Silva e Fernando Ulrich, reformam-se, ainda que muito provavelmente continuem com um pé no estribo e financeiramente bem estribados. 

Nada estribados estão os portugueses com as dívidas que os banqueiros importaram. Se a taxa média de juro subir mais 1 ponto percentual, só não haverá novo resgate se a tempestade sobre a Europa for tão forte que nem um novo resgate seja possível. 

--- 
* Desde 2001 "houve uma destruição colossal de capital" na banca portuguesa" ""O BPI fez contas ao capital injectado em cinco bancos e aos seus dividendos e resultados e concluiu que houve "destruição" de 35 mil milhões em capital. Ulrich defende que custo suportado por Estado e contribuintes foi muito baixo quando comparado com accionistas e outros países."  - aqui

"Cinco dos maiores bancos portugueses - CGD, BCP, BES/Novo Banco, Banif e BPN - destruíram cerca de 35 mil milhões de euros em capital injectado pelos seus accionistas entre 2001 e 2017, de acordo com as contas feitas pelo BPI com base em informação pública, cujas conclusões foram apresentadas esta quarta-feira, 18 de Janeiro, por Fernando Ulrich, num encontro com jornalistas.
"É uma história de destruição de capital brutal. Em 16 anos é uma verba verdadeiramente colossal", sublinhou o banqueiro. Em causa está "19% do PIB estimado para 2016".
Já o balanço dos apoios do Estado aos bancos analisados mostra que as perdas públicas nos bancos podem variar entre 4,4 e 6,4 mil milhões de euros, ou seja, o equivalente a 2,4% a 3,5% do PIB. "Até agora, o esforço efectivamente suportado pelo Estado e pelos contribuintes foi muito baixo quando comparado com o dos accionistas e o que foi suportado pelos outros países", defendeu Ulrich.
Com base nestes dados, o banqueiro pretende contestar a ideia muitas vezes transmitida na opinião pública de que "os custos dos bancos têm sido suportados pelos contribuintes. É mentira!", sublinhou o líder do BPI.
O levantamento também incluiu o BPI, mas no caso do banco que lidera, Ulrich conclui que entre dinheiro injectado pelos accionistas e os dividendos pagos, o balanço é positivo, já que os accionistas fizeram um esforço líquido de dividendos de 53 milhões. 
Já o apoio do Estado ao banco foi liquidado em 2014, com ganhos líquidos de 102 milhões de euros para o Tesouro "Os bancos não são todos iguais", frisou o banqueiro, garantindo que destacar a diferença do seu banco não foi o objectivo da análise realizada." 

Sunday, October 23, 2016

ACERCA DOS PÉS DOS MENINOS DE OIRO

A nomeação do sr. António Domingues para a presidência da Caixa Geral de depósitos foi de execução opaca. Mas não mais nem menos opaca que a nomeação dos seus antecessores no cargo.
O lugar poderia ter sido colocado a concurso, porque não? mas, mais uma vez, foi escolhido pelo governo em funções. Foi o sr. António Domingues ungido à nascença para presidente da Caixa quando os accionistas o dispensassem com reforma antecipada, e a mais uns quantos, por certo dispensáveis, que levou consigo do BPI para a Caixa? 

Não é, contudo, a forma de nomeação do vice-presidente do BPI, antecipadamente reformado, que tem causado celeuma desde que foram publicamente conhecidas as intenções do governo nesse sentido. O sr Passos Coelho, que teve um longo período em poderia ter discordado da nomeação do sr. António Domingues, mas esperou por ontem, - vd. aqui - depois de ter juntado os votos do seu partido aos do PS para aprovação das remunerações dos gestores nomeados pelo actual governo para a Caixa, para denunciar a lisura do processo. Curiosamente, ao sr. Passos Coelho parece importunar mais o eventual recebimento pelo sr. António Domingues de informações não publicadas sobre a situação da Caixa antes da tomada de posse do que o possível uso futuro de informações sigilosas  em sentido inverso. 

O que tem sido, e continua a ser, contestado é o nível remuneratório do sr. António Domingos, igual ao que recebia no BPI, por coincidência igual ao que resultou dos cálculos das medianas das remunerações do sector segundo esclareceu, com a convicção retórica que lhe é peculiar, o sr. ministro das Finanças. 

É assim tão elevada a complexidade do cargo de modo a justificar a remuneração fixa e adicionais variáveis que podem globalmente superar os 600 mil euros anuais?

Se olharmos pelo retrovisor do tempo são raríssimos os casos de bancos não destroçados pelas especiais qualidades destes senhores banqueiros, que, dos acidentes, apurados os salvados, nos têm mandado pagar os governantes ou os accionistas, que os nomearam ou elegeram, os enormíssimos custos dos acidentes que praticaram à conta dos contribuintes. 
Não, não é tão elevada. 
Eles recebem altas remunerações - aqui e em toda a parte - porque lhes passa o dinheiro pelas mãos. 
Por quanto tempo mais?

A edição de 29 de Agosto deste ano da Bloomberg Businessweek, que não é de esquerda, publicava um artigo - This is Your Company on Blockchain - que afirmava "contabilistas, banqueiros, advogados e burocratas tornar-se-ão desnecessários no futuro"

Há sete anos atrás, a Economist, que também não é de esquerda publicava aqui um artigo sobre os taras do sector  financeiro e das suas consequências para os contribuintes. Vale a pena ler na íntegra. Transcrevo os períodos iniciais do artigo que remete para uma análise mais detalhada publicada na mesma revista. 

"COULD there be a better time to be a bank? If you have capital and courage, the markets are packed with opportunities—as they well understand at Goldman Sachs, which is once again filling its boots with risk. Governments are endorsing high leverage and guaranteeing huge parts of the financial system, so you get to keep the profits and palm off the losses on the taxpayer. The threat of nationalisation has receded, reinvigorating the banks' share prices. Money is cheap, deposits plentiful and borrowers desperate, so new lending promises handsome margins. Back before the crash, banks' profits just looked big; today they might even be real.
The bonanza is intentional. Governments and regulators want the banks to make profits so that they regain their health faster after roughly $3 trillion of write-downs. It is part of the monstrous bargain that bankers have extracted from the state (see our special report this week). Taxpayers have poured trillions of dollars into institutions that most never knew they were guaranteeing. In return, economies look as if they have been spared a collapse in payment systems and credit flows that would probably have caused a depression.
In an ideal world any government would vow that, next time, it will let the devil take the hindmost. But promises to leave finance to fail tomorrow are undermined by today's vast rescue. Because the market has seen the state step in when the worst happens, it will again let financiers take on too much risk. Because taxpayers will be subsidising banks' funding costs, they will also be subsidising the dividends of their shareholders and the bonuses of their staff. 

It should be obvious by now that in banking and finance the twin evils of excessive risk and excessive reward can poison capitalism and ravage the economy. Yet the price of saving finance has been to create a system that is more vulnerable and more dangerous than ever before. ..." - more here

Monday, April 18, 2016

NÃO HÁ BANCOS MAUS

O jargão financeiro não dispensa os eufemismos quando as palavras exactas lhe podem tramar a conveniência das aparências. Recentemente, o cidadão comum passou a ouvir, insistentemente, que a solidez do sistema financeiro está ameaçada pelas "imparidades" encravadas nos balanços dos bancos, geralmente decorrentes de elevados níveis de "crédito malparado", coisa a que a gíria popular chama "calotes".

Por que razão os bancos acumularam tantos calotes explica-se singelamente pelo facto de os banqueiros, contrariamente ao que sucede em qualquer outro negócio, remeterem aos contribuintes, para pagamento, as facturas das perdas resultantes de riscos não calculados ou mal calculados quando os níveis de "imparidades" daí resultantes colocam os bancos em situação de insolvência implícita e os accionistas recusam ou não conseguem colmatar as insuficiências de capital subsequentes. Contando com a rede que os contribuintes são coagidos a estender-lhes, os banqueiros dedicam-se preferencialmente aos negócios mais arriscados, que são naturalmente aqueles que mais prémios lhes proporcionam.

Para endossar aos contribuintes as perdas resultantes dos "calotes" os engenheiros financeiros inventaram "veículos" (outro eufemismo) para onde descarregam dos balanços dos bancos implicitamente insolventes, ou assim considerados pelas corporações ou reguladores, o "crédito malparado". E a estes "veículos", que mais não são do que comissões liquidatárias, passaram a chamar "bancos maus". Incumbe, então, aos liquidatários vender os "salvados" dos acidentes e as perdas, as"imparidades" que as paguem os contribuintes, a bem da perenidade do sistema.

A nenhum título um "banco mau" é um banco.
Não há bancos maus. Há bancos péssimos que não deixarão de o ser pelo facto de, eufemisticamente , se terem inventado bancos que, como bancos, simplesmente não existem.
E que apenas servem para perdurar as taras do sistema.

Tuesday, April 05, 2016

E NÃO SE PODE ACABAR COM ELES?

Dos pequenos não se refere esta notícia mas há notícias anteriores de que os pequenos competem, também neste caso, com as habilidades usadas pelos maiores.
Aliás, o ainda maior banco, que é público, com sucursais nas Ilhas Caimão e no offshore de Macau apenas confirma que não sabe fazer outra coisa senão ir atrás das pegadas dos privados.
O que reforça a dúvida recorrente acerca do interesse de um banco público que não é mais que um banco de imitação. 

E não se pode acabar com eles, com os offshores?
Poder, não pode, porque nunca será possível dominar todos os fluxos financeiros a nível global, mas podem conter-se as suas extensões e, sobretudo, minimizar os efeitos dos derrames dos descalabros bancários sobre os ombros daqueles que são inteiramente alheios a tais moscambilhas. 

Já ouviu falar em bancos verdes ou bancos ecológicos?
Ingenuidade minha, talvez, mas gostaria de ser cliente de um banco que apresentasse  com as contas anuais o certificado de honorabilidade que me garantisse que ficaria isento de, pelo menos nessa parte, ser chamado a pagar a factura que os bancos portugueses nos apresentaram a pagamento nestes últimos anos. 

Porque só aos depositantes desses bancos o Estado garantiria os seus depósitos. 

Correl . - Bancos ecológicos, Janeiro, 2009
Bancos Verdes, Janeiro, 2010

Saturday, February 27, 2016

AS GOLPADAS DE WALL STREET


O título original - The big short - já era demasiado complacente para a história contada. O título em português - A Queda de Wall Street - é equívoco, porque nem Wall Street caiu  nem os que de lá sobrevoam em volteios de rapina viram reduzidos com a crise, antes pelo contrário, os resultados das suas golpadas. A níveis inferiores, imitam-nos discípulos menores por toda a parte onde seja intenso o perfume do dinheiro. 

Este é outro filme que conta uma sucessão de logros que abalaram os EUA, atingindo duramente os mais desprotegidos, e desencadearam a erupção de uma crise na União Europeia, de que ainda não se vislumbra o fim, e que tombou sobre as costas dos contribuintes. Que me recorde, do mesmo filão já foram retiradas pelo menos mais duas fitas - Inside Job e Wolf of Wall Street.

Vale a pena ver. 
Apesar de alguma intenção didáctica do realizador, o relato exige atenção desperta do espectador. 

***

Thursday, December 31, 2015

DESAFIOS E EMPECILHOS PARA 2016

E. Catroga reafirma em artigo publicado ontem no Diário Económico - Cinco grandes desafios para a economia portuguesa - as políticas que em outras intervenções públicas considera fundamentais para a continuação da recuperação económica e financeira dos últimos (subentenda-se quatro) anos.

Dos cinco desafios destaco dois - o equilíbrio das contas externas (o único indiscutível objectivo alcançado pelo governo anterior) e a criação de condições para o reforço da tendência da melhoria da poupança nacional bruta (famílias, empresas e o Estado - por se estabelecer entre eles um trade-off que não foi contrariado pelo governo anterior e nada perspectiva que venha a ser considerado pelo actual governo.

O reequilíbrio das contas externas alcançado pelo governo anterior foi óbvia consequência 1) da redução do poder de compra dos portugueses, sobretudo através da redução de salários da função pública e das pensões de reforma, e do aumento de impostos 2) do ocasional aumento da poupança das famílias provocado pelo receios insuflados pelo ambiente pós-espoletar da crise. 
A contribuição do aumento das exportações (muito influenciado pela entrada em funcionamento da nova refinaria da Galp) não é, razoavalmente, creditável a qualquer medida do anterior governo nesse sentido, decorrendo antes de uma reacção (notável, aliás) de produtores portugueses à contracção da procura interna.
À medida que o ambiente de crise se desanuviou retomaram-se gradualmente os hábitos de consumo e alguma recuperação dos salários e pensões começaram a aproximar os saldos das contas externas do seu comportamento normal atavicamente negativo. Porquê?

Era, e continua a ser, inevitável aquele trade-off?
O actual governo ao repor parte dos rendimentos cassados pelo governo anterior vai, inevitavelmente, provocar o aumento das importações líquidas (deduzidas as importações destinadas à incorporação nas exportações) e mergulhar o saldo das contas externas no seu meio habitual, negativo. A não ser que sejam criadas melhores condições de captação da poupança nacional, mas não conheço alguma medida que pretenda atingir este objectivo. 

Ontem, os certificados de aforro fizeram anos: 55, mas já não atraem os pequenos aforradores*. A taxa está agora em torno de 0,9%.  Quanto aos depósitos à ordem, há taxas sensívelmente acima oferecidas por bancos a denunciar dificuldades de captação de fundos a custos inferiores. Foi do aproveitamento destas taxas que acabaram por beneficiar os depositantes dos bancos falidos posteriormente resgatados com os impostos pagos pelos tansos fiscais, continuando impunes os culpados.

E há as aplicações em fundos de investimentos, dizem-nos os seus gestores garantindo-nos que desta vez é diferente. E há quem acredite. E há quem seja bem sucedido. Mas, para onde vai o dinheiro aplicado nos famigerados fundos? É aplicado em fundos estrangeiros, portanto exportado. Concorre para o aumento da poupança bruta sem quase qualquer reflexo positivo na poupança líquida.

Por outro lado um "novo impulso do mercado de capitais", depois dos sucessivos assaltos banqueiros de que foi alvo nos últimos tempos, se o português responder a uma eventual chamada tenho de concluir que há mesmo uma perda geral de memória em Portugal. 
Reconheça-se que tem mostrado muitos sintomas disso, ultimamente.

---
Correl . -* Peso dos certificados na dívida de Portugal caiu para metade em 17 anos

Thursday, July 23, 2015

UMA IDEIA AFOGADA

Há uma sentença ditada pela filosofia popular que garante que as boas contas fazem os bons amigos.
A União Europeia corre o risco de desmantelamento, com todas as consequências que as contas por pagar implicam, porque os banqueiros, fiados que podem sempre contar com os contribuintes quando os seus devedores não aguentam com a carga e dão de lado, importaram volumes de crédito que eles sabiam muito bem serem excessivos, para gananciosamente arrecadarem comissões que os tornaram soberanos e inimputáveis.

É esta inimputabilidade que gera um equívoco que lança os do norte contra os do sul: contrariamente à mensagem que corre os contribuintes finlandeses (p.e.) não emprestaram aos gregos (p.e.). Quem emprestou foram os banqueiros alemães, holandeses, franceses, e, possívelmente, também algum ou  alguns finlandeses. Depois os gregos foram intimados a pagar o que deviam, a regurgitar o que tinham engolido, da noite para o dia. Não podiam. E para resgate daqueles que engendraram o risco sistémico o governo finlandês e os outros meteram no cepo a cabeça dos contribuintes.

Fossem outras as regras, fossem os banqueiros, os accionistas e os clientes dos bancos que foram para além de onde deveriam ir, obrigados, sem a intervenção dos políticos, a negociar os seus créditos bilateralmente com os seus devedores, as relações entre os estados membros da UE não teriam caído na armadilha externa, uma armadilha que os banqueiros colocam desde há muito tempo em muitos outros locais do mundo.

Nem a Grécia (p.e) seria sujeita a obdecer a um diktat que, inevitavelmente, só pode criar animosidades insaráveis durante muitos anos. 

Enquanto existir a rede (moral hazard) que apara os banqueiros em caso de queda dos trapézios em que exibem as suas habilidades, continuarão a acontecer crises e culpados que não serão culpabilizados. Neste caso, da crise profunda que abala a UE, as consequências são dramáticas porque lançam sementes de guerra entre  povos que se queriam unir para evitar a guerra. 

---
*Comentário colocado aqui

Saturday, July 18, 2015

OS BONS, OS MAUS, E OS QUE PAGAM AS FAVAS

Obrigado E., pela mensagem.

Que subscrevo, sem objecções de monta, salvo dois pontos:

1º. O autor reprova o maniqueísmo mas cai no mesmo pecadilho, se não li mal.
2º. Considera (inevitável) a intervenção do Estado (alemão, ou outro qualquer) no resgate dos bancos porque se não ... lá se ia o nosso dinheirinho.

Ora estas coisas não são assim tão lineares, ainda que sejam comuns.
Os bancos dispõem de uma rede que os apara quando no trapézio fazem números mirabolantes ... e cobram comissões de arregalar o olho dos espectadores. No jargão anglo saxónico, como é sabido, esta rede é o "moral hazard", que significa que, façam os bancos o que fizerem, em última instância para não pagarem os depositantes as favas são chamados os contribuintes a pagá-las.

Meu Caro E.,

Durante dezenas de anos negociei contratos com gente de muita parte do mundo.
E não foi difícil perceber que negócios com gregos exigem muitas cautelas. Ninguém, que não ande neste mundo a dormir, ignora isso.
Os bancos também não. Mais: sobretudo os bancos.
Então porque emprestaram os bancos tanto dinheiro aos gregos? E aos portugueses, se virmos bem, sem qualquer faúlha maniqueísta nos olhos a perturbar-nos a visão?
Porque, lá está!, eles sabiam que se houvesse azar nos números arriscados, os que dão mais proveitos, alguém seria compelido a assumir o preço dos seus erros.

Não é isto escandalosamente imoral? Não acredito que digas que não.
Não há nada a fazer?
Ben Bernanke quando foi figura do ano da "Time", em entrevista concedida a esta revista, dizia que o problema (financeiro, entenda-se)  mais bicudo dos EUA era o "too big to fail". 
Continua (quase) tudo na mesma por este mundo do diabo. Lá e cá.

Até que o vulcão vomite novamente escândalos financeiros e queime os que estiverem ao seu alcance. Costuma acontecer periodicamente. As pessoas têm memória curta, os banqueiros perna longa.

Abç



Tuesday, July 14, 2015

INFINDÁVEL CRÉDITO IMORAL


- Pelos vistos, muitos querem repor novo desbragamento a custo do contribuinte e de mais endividamento, para voltar a uma crise ainda maior.  - cf. aqui.
- As políticas de esbanjamento, nunca terminarão enquanto aos políticos ávidos de votos aparecerem banqueiros, ávidos de comissões, oferecendo empréstimos sob garantia dos impostos pagos pelos contribuintes.

Wednesday, February 18, 2015

CULPAS E DESCULPAS DOS GREGOS

Pedro Romano aponta aqui os dois argumentos a evitar na culpabilização dos gregos 


1 – O PIB per capita dos gregos é mais alto do que português.

 Anotei há algum tempo já no meu bloco de notas que os gregos não são hoje mais pobres que os portugueses se compararmos os PIB per capita em ppc dos respectivos países. E não são, se tivermos em conta os valores publicados pelas principais instituições internacionais.
É evidente que tendo o PIB observado na Grécia um tombo de cerca de 25% (cá terá sido de 6% em período idêntico) o recuo não se fez como os barcos na maré vazia: os mais pobres recuaram mais, por múltiplas razões que seria fastidioso repetir, alguns dos mais ricos provavelmente até se aproveitaram do tombo.
Mas se isto é verdade, também é verdade que os gregos (e não só) têm um trabalho a realizar: introduzir mecanismos fiscais que reduzam as desigualdades estatisticamente evidenciadas entre os mais afluentes e os mais desfavorecidos. Constitucionalmente, os armadores e a Igreja Ortodoxa, o maior proprietário grego, estão isentos de impostos.
Ora, a este propósito, o que a mim me surpreende é o coro de lamentações que por aí vai acerca da pobreza grega como se não existisse, e cada vez mais evidente, pobreza em Portugal. 

2 – A recessão grega foi enorme porque a Grécia não cumpriu o Memorando de Entendimento, ao contrário de Portugal e Irlanda.
Os gregos terão feito, segundo PR, até agora um ajustamento superior ao de qualquer outro país da zona euro.
Considero desde o começo das intervenções da troica, cá e lá, que era no mínimo absurdo que os programas, ditos de estabilização, obrigassem os que tinham sido empanturrados com crédito fácil a regurgitá-lo em três ou quatro anos. 

E daqui passo, de forma sucinta, a um terceiro ponto por minha conta:
Quem emprestou inicialmente os fundos? Os bancos.
Quem tinha conhecimento dos níveis de endividamento atingidos? Os bancos
Quem deveria ter analisado o risco dos empréstimos concedidos? Os bancos
Quem embolsou os rendimentos astronómicos dos contratos de empréstimos concedidos? Os banqueiros.

Estava tudo a dar certo, inclusivé do ponto de vista dos devedores, quando os banqueiros disseram, acabou o jogo, mandem entrar os políticos.
E os políticos entraram e começou a guerra entre os povos do norte e os povos do sul.
Foi nesta perversa passagem de responsabilidades dos banqueiros para os políticos que o sistema claudicou e não se vê como possa recompor-se.
Às discussões entre devedores e credores, públicos e privados, não deveriam ser chamados os políticos para castigo dos contribuintes. Quem deveria estar a negociar com o sr. Yanis Varoufakis não deveria ser o sr. Schäuble mas os banqueiros que, inicialmente, irresponsavelmente inundaram a Grécia, e não só. Perante vinte ou trinta banqueiros, o sr. Varoufakis ou alguém por ele, teria uma capacidade de negociação, legítima e reforçada, muito maior. Se os banqueiros soubessem que seria assim, nem a Grécia (e Portugal, e a Espanha, e etc.) estariam hoje metidos nos buracos em que se encontram.
Há uns anos atrás, o sr. Bern Bernanke afirmava numa entrevista da Time (que o considerou personalidade do ano) que o maior problema com que, no campo financeiro, os EUA se confrontavam era o “too big to fail”, o “moral hazard” que infecta todo o sistema.
Sem que ninguém, apesar da crise, queira e consiga vaciná-lo. Ou sequer falar mais nisso.

Wednesday, December 17, 2014

COMO OS ALCOÓLICOS, OS BANQUEIROS

"Bankers, like alcoholics, must first admit they have a problem"
Philip Augar, Financial Times, 16/12

Philip Augar depois de ter sido banqueiro optou por escrever sobre finanças. No artigo publicado ontem no FT começa por perguntar: Conseguirão os banqueiros auto corrigir-se? Augar duvida.
E duvida porque, diz ele, tal qual os alcoólicos numa loja de bebidas alcoólicas, os bancos de investimento não conseguem resistir a um gole ilícito quando supõem que ninguém os está a observar. 
Esta a conclusão que deve retirar-se das multas impostas na semana passada a 10 "bancos de investimento" norte-americanos por infracção das regras estabelecidas para derimir conflitos de interesses em vendas públicas de acções.

O mais chocante, contudo, é que as prevaricações em questão ocorreram em 2010, apenas sete anos  depois de terem sido estabelecidas regras para limpar o marcado das IPO (Initial Public Offering), na ressaca do "crash" das empresas das tecnologias de informação, as dotcom, e, acrescento eu, quando os EUA  o mundo se confrontavam com a crise irrompida em 2008. 

Augar termina: "Tentando minimizar as consequências dos seus comportamentos, os bancos de investimentos poderão argumentar que 2010 não é 2014 e que, finalmente, depois dos escândalos observados nas manipulações da Libor e das divisas, a corporação tomou emenda. Mas essa é precisamente a conversa dos alcoólicos crónicos na loja de bebidas alcoólicas. Portanto, tal como os alcoólicos inveterados, os banqueiros devem reconhecer "Sou um banqueiro de investimentos e não tenho cura. Por favor, protejam-me de mim mesmo".

A conclusão de Augar é ingénua. A comparação do comportamento dos banqueiros de investimento com os alcoólicos tem limites flagrantes: Se há alcoólicos que reconhecem, em períodos de sobriedade, que o alcool os destrói, e pedem ajuda, os banqueiros de investimentos sabem que são as transgressões que lhes permitem a acumulação incontida das suas riquezas, e estão-se borrifando para advertências morais. 

Anteontem noticiava o Público, vd. aqui, que "o acordo entre democratas e republicanos para a despesa pública em 2015 inclui bónus para os grandes bancos, que estão cada vez mais a voltar ao "business as usual" de antes da crise."

Dito isto, está tudo dito: A democracia está gravemente doente de um vírus chamado falta de consciência cívica colectiva. E nem as democracias mais avançadas estão imunes.

Thursday, December 11, 2014

RICARDO E OS ELEFANTES

Leio que "o GES desapareceu porque era um baralho de cartas". De burro-em-pé, deduzo. Mas é uma metáfora que não explica a razão que moveu Ricardo Salgado a dedicar-se a um jogo que, fatalmente, acaba sempre pelo derrube do baralho.

Os banqueiros não sabem gerir actividades não financeiras. Presumem que sabem, mas não sabem, e quando avançam pelos caminhos mais escorregadios de outras actividades económicas, o mais certo é estatelarem-se. Pode a sua inabilidade para nadar fora das suas águas ser transitoriamente compensada pelo poder financeiro que detêm, mas, mais tarde ou mais cedo, perdem o pé e afogam-se em águas que não dominam. O poder financeiro que Ricardo detinha deu-lhe e sobrou-lhe para comprar a conivência de Zeinal Bava e companhia, pagando-lhes exorbitantemente a troco de uma gestão financeira danosa da PT. Até ao dia em que o baralho cedeu ao peso dos elefantes criados por Ricardo,  e o Zeinal, um passarão exótico, voou para o lado de lá para sair do jogo, como era de crer, com uma indemnização à americana.

A reabertura da bolsa, depois do vendaval desencadeado em Abril de 74, e a subsequente constituição de sociedades financeiras a caminho de serem bancos, vieram suscitar o aparecimento de banqueiros como cogumelos na sua temporada. E todos bons, vangloriavam-se eles. Industriais, com I grande não vingou nenhum. E se um ou outro enfunou bem a vela na reabertura da banca, e pretendeu ser bem sucedido na indústia,  guinou mais tarde para actividades menos arriscadas, ou, mais simplesmente, especulativas.

Ricardo Salgado caiu derrubado pela manada de elefantes que criou, e que lhe sairam brancos.
Mais lhe valia ter-se ficado pelos bancos. A ele e a nós que teremos, de um modo ou de outro, de contribuir para o peditório que os desastres dos banqueiros desencadeiam.

Thursday, November 20, 2014

BANQUEIROS OU BATOTEIROS?

A imprensa de todo o mundo dá hoje relevo aos resultados de um estudo publicado na revista Nature - Business culture and dishonesty in the banking industry - da autoria de investigadores da Universidade de Zurique, que sugerem que a cultura de negócios prevalecente na indústria bancária conduz à desonestidade, tornando-se necessárias normas de reposição de uma cultura de honestidade. 

Resultados que parecem redundantes considerando a sucessão de escândalos financeiros que tem irrompido um pouco por todo o mundo, com particular incidência nas economias ocidentais e, muito particularmente, em termos relativos, em Portugal, onde a quase totalidade do sistema foi abalado, de um modo ou de outro, por atentados à honestidade de processos que contribuiram para a degradação da imagem externa e a ruína da economia do país. A investigação realizada na Universidade de Zurique por métodos científicos confirmou a percepção que o rasto de desonestidade dos banqueiros tem vindo a deixar pelo caminho. 


Não faço a mínima ideia de que modo entendem os investigadores poder ser injectada uma boa dose de cultura de honestidade num mundo onde a palavra chave da sua proposta entrou há muito tempo em desuso. O cheiro do dinheiro é inebriante e a tentação de o possuir não é anulável por catecismos de moral nem por mais leis ou regras. A abundância de leis é uma delícia para os advogados e um labirinto por onde se escondem os larápios. 

Repito-me. Só há uma saída: Separar os bancos de depósitos dos outros, ditos de investimento. Aos primeiros seria imposta uma fiscalização apertada, nomeadamente, dos seus indicadores de solvência e liquidez, vedadas todas as operações especulativas, proibidas as relações com off-shores, sujeitando-se todos os seus serviços  financeiros a uma prévia aprovação casuística do regulador. Só os depositantes destes bancos teriam garantias, limitadas, dos seus depósitos e só estes bancos poderiam contar com a protecção do Estado em caso imprevisível de risco sistémico. Todos as actividades dos outros seriam abrangidos pelas leis e regulamentos dos casinos.

Os escândalos observados no BPP, BPN, BES, e, em certa medida, com o BCP, estavam expostos muito antes de terem deflagrado, mas os reguladores assobiaram para o ar. Desconheciam os reguladores que a CGD, o banco do Estado estava a municiar a guerra pela luta de poder no BCP? Desconheciam os reguladores que o BCP emprestava a quem quisesse subscrever ordens de subscrição de acções do banco? Ignoravam os reguladores que com estas e outras práticas do conhecimento público o BCP inflaccionava o valor das acções e promovia a especulação bolsista? 
Ignoravam os reguladores que o BPP vendia produtos de risco com capital assegurado, como se isso fosse perduravelmente possível? Ignoravam os reguladores que  o BPN fazia o mesmo que o BPP e tecia uma teia de empreendimentos de risco envolvendo a solvabilidade do banco?  Ignoravam os reguladores que o BES fazia o mesmo que o BPP e o BPN e tecia uma teia de interesses familiares e conhecidos de muito maior extensão? 

Se ignoravam é ignorância a mais, e não há catecismo algum de princípios morais que possa contrariar tanta ignorância. Prosaicamente, a regra é esta: a ocasião faz o ladrão. Aos banqueiros são-lhe facultadas uma infinidade de ocasiões. A única forma de lhe conter os ímpetos de ganância é reduzir-lhe as ocasiões. Mas ninguém mexe uma palha, talvez porque estejam todos confortáveis com a palha que têm.
---
Corr. - (21/11) Talking about their work makes bankers more dishonest 

Monday, August 04, 2014

O BES NÃO É O BPN

Segundo Carlos Costa o "Novo Banco " está já esta manhã convenientemente financiado, consoante os regulamentos de Basileia III e as novas regras da União Europeia de recapitalização dos bancos com a borda debaixo de água e risco de afundamento. E, enquanto o senhor Costa esfregava um olho, foi criado um banco novo em folha, sem espinhas, que garante sem contaminações tóxicas a continuidade das boas práticas do intoxicado, os depósitos aos excelentíssimos depositantes e, milagre dos milagres, sem custar um cêntimo aos contribuintes. E, para que não restem dúvidas, ao longo do seu comunicado de ontem à noite, o senhor Carlos Costa repetiu e repisou vezes que nem contei, a sua garantia de intocabilidade dos depósitos e dos contribuintes. É de génio!

Quanto vale a garantia dada pelo senhor Carlos Costa? 
Tanto quanto valeram as suas repetidas e repisadas declarações anteriores recentes de que o banco estava isento de contaminações tóxicas que pudessem abalar a sua solvabilidade e livre de impor o socorro do Estado. Enganou-se estrondosamente. Enquanto assistia divertido no Porto a uma dissertação do professor Bessa, que ridicularizou o seu antecessor Constâncio, o senhor Ricardo Salgado comia-lhe as papas na cabeça e entornava o prato sobre os senhores contribuintes. Ele próprio reconheceu ontem à noite não ter prendido com rédea curta o senhor Ricardo Salgado depois de o  ter despedido e à família da  gestão do banco. Como não fez o que era elementar fazer, considerando os antecedentes próximos e remotos, o senhor Carlos Costa permitiu que o senhor Ricardo Salgado fizesse ao buraco do banco a que presidia o que os gestores da Caixa Geral de Depósitos fizeram ao buraco do BPN: duplicaram-no. 

Garante o senhor Costa os depósitos? Não garante nada. Quem garante os depósitos é o empréstimo da troica intermediado pelo Estado, isto é, garantido pelos impostos dos contribuintes. Se  o banco, limpo e suficientemente financiado for vendido por um valor muito inferior ao empréstimo de quase cinco mil milhões de euros - o BPN foi vendido por 50 milhões menos uns quantos acertos ainda em vias de discussão - por quanto será vendido o "Novo Banco"?  Quem paga a diferença? Os outros bancos? Se assim fosse, por que se atravessaria o Estado no negócio assumindo a quase totalidade do capital do anedótico "Fundo de Resolução"

Disse-se que o BPN e o BPP eram casos de polícia pelos indícios de crimes e desmandos, ainda por julgar, praticados pelos que propositadamente os desgovernavam. O senhor Carlos Costa referiu-se ontem à noite a actos do mesmo estilo praticados pela administração presidida por Ricardo Salgado.

BPN, BPP, BES, que diferença fazem, excepto nos tamanhos?
---
(5/8) - "Novo Banco" vale 4,4 mil milhões de euros?"
(5/8) - Otro rescate portugués
 El Gobierno portugués ha acudido con prontitud al rescate del Banco Espírito Santo (BES), cuya mala gestión durante la crisis financiera ha provocado unas pérdidas semestrales de 3.577 millones de euros, el hundimiento casi total de sus acciones y una situación de quiebra. El caso Espírito Santo confirma que todavía colean en la banca europea los efectos de la crisis financiera, agudizados por una gestión muy deficiente. El equipo económico de Passos Coelho pretende convencer de que el rescate del banco no costará dinero a los contribuyentes lusos; pero este objetivo sólo es una declaración de intenciones. Como ha demostrado la capitalización de una parte de la banca española, es muy difícil evitar que los contribuyentes acaben pagando una parte de la reestructuración del banco.
Según el plan expuesto por el gobernador del Banco de Portugal, Carlos Costa, los activos solventes del BES se integrarán en Novo Banco, que se adjudica al Fondo de Resolución Bancaria (formado con capital de bancos privados) y dotado con una inyección de capital de unos 4.400 millones aportados por el Estado (se supone que de forma transitoria) que proceden, a su vez, del dinero aportado por Bruselas para la reestructuración bancaria portuguesa. Los activos insolventes quedan en el BES bajo la responsabilidad de los accionistas actuales (la familia Espírito Santo y Crédit Agricole principalmente). La idea básica es devolver los 4.400 millones con lo que se obtenga de la venta de Novo Banco.

Pero, se mire como se mire, los 4.400 millones son capital público y están avalados por el Estado. Lisboa tendrá que devolver el capital recibido de la troika. Es pronto para decirlo, pero parece improbable que la venta del banco proporcione los 4.900 millones que ha costado su recapitalización al Estado y el Fondo de Resolución; también es poco probable, por tanto, que no haya pérdida para el contribuyente.

Wednesday, June 11, 2014

ESPÍRITO SANTO - EXPLICAÇÃO DO MILAGRE

"Está agora, singelamente, explicado o milagre tão profusamente propalado pelos escribas de serviço nos media sobre a genialidade putativa com que o BES escapou ao apoio do Estado na crise financeira de 2008" - Arma/Crítica cit. Expresso Digital de hoje. 

A ferroada já foi espetada há duas semanas atrás e só me apercebi dela através do Expresso. A blogosfera é um universo em expansão acelerada, só se chega a alguns sítios por indicação dos meios mais conhecidos. Foi este o caso.

De há uns tempos a esta parte destapou-se aquilo que mais ou menos em surdina já se ouvia há muito tempo acerca das vulnerabilidades dos Espíritos Santos. O confronto público com Pedro Queiroz Pereira veio precipitar a divulgação de vários outros desacertos internos até aí razoavelmente contidos no âmbito do grupo. A divulgação recente da dimensão aproximada do descalabro do BES Angola - perdeu o rasto a 5700 milhões de euros - suscita, além do mais, a inevitável questão sobre o que estará ainda mais por vir a seguir. Em todo o caso, o que já se conhece seria suficientemente mau para incluir os  Espíritos Santos na galeria da vergonha, se a vergonha não tivesse há muito sido despachada para o sótão das velharias desusadas, repleta de banqueiros espúrios que atiravam foguetes de artifício há uns anos atrás celebrando resultados de espantar, e prémios e dividendos à mesma altura.

O senhor João Rendeiro - o tal súcio banqueiro que na véspera de ser derrubado por falência se celebrava em livro encomendado - enquanto se entretem no jogo da cabra-cega aproveita a deixa para brindar o parceiro agora na mesma roda com uma ferroada para acerto de contas.

Mas não passa mais nada. No jogo da cabra-cega só é apanhado quem tiver a perna muito curta.
---
Correl. -
Ministério Público pede mais de 5 anos de prisão para João Rendeiro (12/6/2014)

Wednesday, May 21, 2014

SANTOS BANCOS




Outras sobre ...
tantos, nada santos, com estes, que somos obrigados a saber que temos de pagar.
Todos nós cometemos erros, mas nem sempre quem os comete paga o que deveria pagar por eles. Nestes casos, pagam os contribuintes.