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Thursday, November 23, 2017

HÁBITOS IMPORTADOS


Tudo o que sirva o impulso do consumismo expande-se como uma praga. 
É bom que assim seja, defendem uns, com isso se anima o comércio e, com a animação do comércio, a economia. Com isso, cresce o PIB, a senha e o salvo conduto para o bem da humanidade. 
Há dias aconteceu o Halloween, o dia das bruxas, os supermercados enfeitaram-se com esqueletos, teias de aranha, bruxas a voar. Um hábito de importação recente a que os portugueses mais novos aderem de ano para ano com notável entusiasmo. A bem do comércio, da economia do PIB. 

Hoje, quarta quinta-feira de Novembro é dia de Thanksgiving, Dia de Acção de Graças, nos Estados Unidos, Canadá, e em mais alguns países, entre os quais o Brasil!
Durante este fim-de-semana prolongado, entre ontem e domingo, mais de 46 milhões de norte-americanos, vd. aqui, atravessam o país para estar com a família e os amigos. Uma celebração com dimensão idêntica à que no mundo cristão têm o Natal e a Páscoa, que, nos Estados Unidos são menos mobilizadores da reunião das famílias.

Em todo o caso, o Halloween, o Thanksgiving, a Páscoa, e, daqui a dias, o Natal e o Fim do Ano, têm em comum um efeito de enorme relevância no crescimento imparável do consumismo.
Tendo os portugueses aderido tão entusiasticamente ao Halloween é esperável que, mais ano menos ano, estejam alegremente a celebrar o Thanksgiving. Entretanto, enquanto o Thanksgiving não chega, já chegou o Black Friday, a Sexta-Feira Negra, no dia seguinte ao Thanksgiving, isto é, amanhã.
E, neste caso, não há justificações históricas nem religiosas: a Sexta-Feira Negra é mesmo para comprar mesmo sem se saber porquê.  Muitos compram o que não precisam, outros vêm pechinchas onde estão truques de marketing.

No fim, cresce a economia portuguesa?
Os que vêm no crescimento do consumismo uma alavanca do crescimento económico, a ala esquerda do trio que apoia o Governo, não querem reparar no desequilíbrio da balança comercial com o exterior, no crescimento do endividamento do Estado e das famílias. O que lhes importa, sobretudo, é o crescimento dos votos que se entusiasmam com as suas promessas.

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A propósito do Thanksgiving: As suas origens nos EUA deram lugar à congeminação de histórias que, geralmente, deturpam, invertem ou obscurecem alguns factos nada merecedores da celebração nacional em que se tornou o Dia de Acção de Graças.
O Economist desta semana explica aqui, de forma sucinta, porque acontece o "Thanksgiving". 




Neste quadro, pintado entre 1912 e 1915, aparecem colonos britânicos, bem ataviados e nobre aspecto oferecendo comida aos autócones que encontraram após o desembarque em terras do outro
lado do atlântico.

A  provável realidade terá sido totalmente inversa: aos colonos, exauridos pelos tormentos da viagem, famélicos e sequiosos, ofereceram os locais comida e água. A esta recepção de boas vindas seguiram-se lutas e contágios que dizimaram praticamente toda a população indígena. Cerca de meio século depois, os colonos celebraram o Thanksgiving, empalando a cabeça do filho do chefe da tribo que os havia recebido depois de terem derrotado os indígenas numa batalha ocorrida em 1676. 

Sunday, September 24, 2017

COM UM PÉ NA RATOEIRA

Os bancos não nos dão tréguas.
Podemos esquecer-nos do que alguns nos devem mas eles não se esquecem de continuar a pedir-nos mais.

Depois dos pavoroso incêndios de Verão a evidenciarem a desorganização da Protecção Civil do Território e o roubo das armas de Tancos a surpreenderem o adormecimento da defesa militar, além de outros incidentes estivais, lamentáveis, mas que não merecem registo nestas notas, amansou a maré negra e o país refrescou-se com algumas boas notícias: navegava-se sem sujeição a procedimento por défice excessivo,  o PIB cresce mais que o previsto, reduz-se o défice mais do que era esperado, a Standard & Poor´s tira-nos a dívida do lixo, os juros descem, tudo bom por aí fora. 
Os efeitos da  recapitalização da Caixa e da emperrada privatização do Novo Banco tinham ido a banhos em banho de Maria. 

Pouco tempo depois lê-se:  

"O impacto da capitalização da Caixa Geral de Depósitos no défice e a forma como se registam parte das receitas e despesas com fundos europeus continuam a ser motivo de discussões entre as autoridades estatísticas europeias e portuguesas, constituindo uma fonte de incerteza para o resultado final deste ano" - Público, 22/09/2017

"Faltam €4000 milhões (de recompra de obrigações  para "salvar" Novo Banco da Liquidação. Semana decisiva para futuro do NB. Um falhanço da operação seria, segundo fonte da banca "desastroso para o sistema bancário"Expresso 23/09/2017

Quanto à ameaça para o défice resultante da capitalização da Caixa apressaram-se os do Governo a garantir que as instituições europeias considerarão que "qualquer que seja a decisão que venha a ser tomada quanto ao critério de contabilização dos 3944 milhões investidos na recapitalização da Caixa, o eventual excedente aos limites estabelecidos daí resultante não contará como défice excessivo." 
E o PR afirmou mais ou menos o mesmo.

Contas de faz-de-conta, sempre à espera de mais uma parcela, a mais próxima das quais chegará dentro de dias em nome da salvação do Novo Banco.
O défice é o que, estranhamente, de forma casuística, decidirem os mestres estaticistas. A dívida é que não se verga a critérios discutíveis entre o Eurostat e o INE.

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Correl. - (25/09) - Aqui: "Gigante norte-americano Pimco vai participar na oferta de recompra de dívida do Novo Banco ... Esta decisão da Pimco aproxima a operação de alcançar o sucesso."
(25/09)Défice baixa quase para metade até Agosto

Friday, September 01, 2017

O CALCANHAR DE CENTENO 2


O Banco de Portugal divulgou hoje aqui a evolução recente da Dívida Pública até ao fim de Julho.
Voltou a aumentar, rondando agora os 250 mil milhões.
Líquida de depósitos, a DP era de 230,3 mil milhões, 
Nuno Carregueiro do JN online volta a expressar aqui, em gráficos muito elucidativos, a evolução desse crescimento, que parece imparável. Parece ou é?
Enquanto a taxa de crescimento económico nominal for inferior à taxa média de remuneração da dívida, e é essa a situação previsível até ao fim do ano, cifrando-se a diferença em mais de um ponto percentual, a dívida em relação ao PIB continuará a subir, salvo se o saldo primário fosse suficientemente positivo para pagar a factura dos juros e amortizar dívida. Mas não vai ser.

Mas o ministro M Centeno afirmou, cf. aqui, que a dívida pública irá baixar até ao fim do ano dos actuais 132 vírgula umas décimas para os 127,9% estimados pelo Governo. 
A evolução da DP relativamente ao PIB é a prova ácida da gestão das finanças públicas, sobretudo quando, como é o caso, os níveis atingidos tornam a sua contenção muito dependente de factores externos.
Para que a relação entre a Dívida Pública e o PIB seja reduzida em cerca de 4,5 pp até ao fim deste ano (de eleições autárquicas) forçoso se torna que o ministro tire da cartola um extraordinário par de coelhos. Aliás, nada que não tenha sido recurso recorrentemente usado pelos vários governos, umas vezes por indisciplina grossa na gestão das finanças públicas outras, sobretudo desde 2008, porque as colisões bancárias têm provocado, e continuam a provocar, grossos rombos nos cofres públicos.

" ... a pressionar em alta (o endividamento público em Julho) também esteve o "acréscimo de empréstimos no montante 0,1 mil milhões de euros, resultante do aumento de empréstimos junto de bancos residentes, com destaque para o acordo assinado entre o Estado e o Banco Santander Totta respeitante aos contratos de derivados com empresas públicas de transportes (2,3 mil milhões de euros)" - cf. aqui.


Como é que M Centeno vai descalçar esta bota?

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Correl . Hoje às 21,40 - Depois da Fitch, ontem foi a Moody’s a pôr a dívida em outlook positivo”. Agência só quer menos défice e dívida, e retoma ampla. - cf . aqui

Saturday, August 26, 2017

O CALCANHAR DE CENTENO

É a Dívida Pública.

Segundo, aqui,
"O responsável pelas Finanças anunciou (ontem) que "a dívida pública em 2017 reduzirá o seu peso no PIB de 130,3% para 127,7%", objectivo que representa uma revisão em baixa de duas décimas comparativamente com os 127,9% estimados pelo Executivo no PE."

Hoje, em artigo mesmo jornal publicado aqui, a partir dos dados do Banco de Portugal, referentes a Junho, divulgados aqui esta semana, visualizam-se os andamentos mais recentes das dívidas das famílias e das empresas, em baixa, e da dívida pública outra vez a subir. 








Conseguirá Centeno descalçar este par-de-botas e aliviar-nos o calcanhar?
Acredite quem quiser.
Ou sinta obrigação disso. 

Saturday, August 05, 2017

A UTAO


UTAO, por este andar, mais dia menos dia, corre o risco de extinção por mau comportamento. 

"Já lá vai meio ano e não há forma do investimento público disparar. Depois de ter batido mínimos históricos em 2016, o governo prometeu relançar o investimento em 2017. Mas já lá vai meio ano e, com a excepção das autarquias, os dados estão longe da promessa, revela a UTAO."

Os resultados dos investimentos públicos realizados durante a primeira década do século revelaram-se bastante pífios. 
Se a propensão para o investimento público por parte dos partidos de esquerda é agora contida pelas imposições aos limites do défice, do mal o menos.

Estranho, e perigoso, é que, mesmo assim, a dívida pública continua indomável.



 

Tuesday, April 18, 2017

O MILAGRE DO ZIGUEZAGUE

Segundo me é dado aperceber pelo que leio, a redução da despesa incidiu sobre o fornecimento de serviços e produtos, e presumo que haverá algum mérito nisso.

A redução do investimento público em equipamento não tem colocado em causa, suponho, o regular funcionamento dos serviços. E quanto ao investimento em infraestruturas, as câmaras têm-se encarregado de animar alguns empreiteiros locais. Há agora ciclovias desde norte a sul, em Bragança até instalaram escultura no começo do traçado ao longo do Fervença. 






Em Bragança 22 quilómetros de ciclovias integram um plano de desenvolvimento de 25 milhões de euros.
Em Lisboa, é o que por aí se vê de obras que, são favas contadas, irão garantir a vitória do sr. Fernando Medina em Outubro. 

Quanto ao facto de descer o défice e subir a dívida só há uma explicação possível e nenhum milagre: há despesa que vai à dívida mas escapa ao défice: por exemplo, mas um exemplo pesadíssimo, as contribuições dos contribuintes para equilibrar os bancos desequilibrados, que têm sido quase todos. 

Quanto à instabilidade da geringonça, parece que é mesmo assim que a coisa funciona: como um borracho que ganha equilíbrio de cada vez que parece que vai entornar-se para um lado, caminha aos ziguezagues e não cai.

---

Comentário colocado aqui

Saturday, March 25, 2017

O MILAGRE DE SÃO MARCELO - EPISÓDIO SEGUNDO*

(Marcelo diz que o herói do défice é o povo português)

...
Noc! noc! noc!
- Entra!... - Estimado Frutuoso, manda retirar essa porta logo que possível ...
- Retirar a porta???
- Isso mesmo: retirar, puxar para cima, de modo a que desprenda das dobradiças, e, já está!
  E, já agora, manda retirar também as outras.
- As outras ??? 
- As outras todas.
- As outras todas???
- Isso mesmo, as outras todas!
- Interiores e exteriores???
- Todas, é isso mesmo, todas! A minha, é uma presidência verdadeiramente aberta, ainda não entendeste, estimado Frutuoso?
- Mas no inverno ... chove ...
- Bom! No inverno ou quando chover, andaremos de capa de plástico e um gorro de defesa contra as frialdades. Já aqui estamos há um ano e continuas a bater à porta antes de entrar. Sem portas, deixas de bater, é só entrar ...
- Perturba-me ...
- O quê? O que é que te perturba, estimado Frutuoso?
- Perturba-me entrar e surpreender o nosso muito amado presidente a escrever com as duas mãos ao mesmo tempo ... fico com a sensação de estar a delirar ... Será milagre? Só pode ser milagre ... acho eu.
- Deixa-te de taumaturgias, e vamos ao que interessa ... O que temos hoje?
- O défice ...
- O défice?!! O que é que tem o défice?
- É pequeno demais ...
- É quê?
- Pequeno demais, segundo o Bloco.
- Essa é do careca ...
- Segundo o Bloco o governo deveria ter gasto mais 600 milhões ... Segundo os comunistas ...
- Quais?
- Os outros do mesmo lado...
- O que dizem os outros a propósito do défice?
- Dizem o mesmo, o que disseram os do Bloco, ou vice-versa, eles nunca se entendem sobre quem disse primeiro, dizem que o défice não devia ser tão curto. 
- E o que dizem os nossos?
- Que o défice é mais alto do que dizem, que foi maquilhado, que tem cativações, que não tem investimento, que tem perdões fiscais, que tem tudo o que não pode voltar a ter mais ..
- E depois?
- Depois logo se verá, responde o Governo que se gaba de ter conseguido o défice mais baixo dos últimos 42 anos ...
- Milagre?
- Não chegam a tanto mas andam lá por perto ... 
- É porque não são crentes. Este défice é um milagre, estimado Frutuoso. E sabes quem fez este milagre?
- Posso imaginar. Quem faz o milagre de escrever ao mesmo tempo com duas mãos é bem capaz de muito mais, digo eu, para não nomear o nome ao santo, mas branco é ...
- Não, estimado Frutuoso. Este milagre deve-se ao heróico povo português! É ao bom povo português, que devemos este milagre, e a quem todos os afectos que lhes dermos são poucos!... 
- Se assim for, e acredito piamente que assim seja, a canonização não tardará, e vai ser de arromba altares. 
- Oh! Frutuoso!!! Que blasfémia! 
- Não era essa a intenção, nosso bem amado Presidente. Mas li, há dias, algures*, que temos défice de santos. Não mais que dez, bem abaixo da média comunitária. Se há milagre, haverá canonização, e dez milhões de uma assentada é muito santo.
- Talvez, talvez ...mas faltam testemunhas...
- Somos todos testemunhas ...
- Ninguém é testemunha de si mesmo. E, repara: Para o Governo não houve milagre porque houve mérito; para as oposições nem uma coisa nem outra. 
- Pelo povo, só o nosso bem amado Presidente ...
- E tu, estimado Frutuoso. Testemunhas, são sempre precisas pelo menos duas. 
- Já somos três!
- Três???Qual é a outra?
- A Teodora. A Teodora disse que era milagre ... 
- Reconheça-se que foi ela a primeira a dizer ... Mas, milagre, só em Fátima, corrigi eu.
- Então, a canonização é possível!
- E constitucional. Prepara-me o processo de candidatura para entregar ao Francisco em Fátima.
 ---
Aqui, o primeiro episódio
** Vd. aqui



Sunday, March 12, 2017

ANDAM TODOS A ASSOBIAR PARA O AR?

Há cerca de três semanas, anotei aqui  a minha tímida desconfiança sobre a consistência do anúncio do défice das contas pública de 2,1%, em 2016, o mais baixo em democracia, que nos libertaria do jugo do PDE, Procedimento por Défice Excessivo:

"O anúncio, à espera de confirmação pelo Eurostat, que, à última hora, geralmente acaba sempre por desacertar-nos as contas, de que o défice do ano passado teria ficado em 2,1%, não mereceu reparo da oposição à direita, que prefere continuar a assobiar para o ar o tiroliroliro dos sms trocados com o sr. Domingues, enquanto, não surpreendentemente, o BE critica o governo por não ter gasto tanto quanto poderia ter gasto se não tivesse exagerado nos cortes para situar o défice abaixo das exigências de Bruxelas. "

Na edição de ontem do ECO, a jornalista Margarida Peixoto confronta as posições contraditórias do primeiro-ministro a propósito das eventuais consequências das perdas da Caixa no défice das contas públicas. E a questão que se levanta aqui é a omissão do ministro das Finanças sobre o assunto quando anunciou o défice do ano passado. Uma omissão tanto mais grave quanto  é certo que ficámos a saber na quinta-feira que os prejuízos da Caixa em 2016 ficaram aquém daqueles que tinham sido previstos pela administração anterior que preparou, apresentou e conseguiu obter a aprovação de Bruxelas para a recapitalização da Caixa sem reflexos no valor do défice, segundo foi tornado público. 

Se tudo isto era conhecido,  e foi tornado público, como se explica que o INE e o Eurostat só irão analisar o impacto da recapitalização da CGD no défice das contas públicas nunca antes do fim deste mês de Março? Que a oposição tenha assobiado para o ar, compreende-se, porque parte dos prejuízos acumulados também ocorreu durante os seus quatro anos de governo,  mas o atraso de Bruxelas só pode explicar-se pela confusão de critérios que estão, e sempre estiveram, na origem dos incidentes financeiros que abalaram a União Europeia e, sobretudo, a Zona Euro. 


Thursday, February 23, 2017

DÉFICE MAIS BAIXO, DÍVIDA MAIS ALTA, EM DEMOCRACIA


c/p Jornal de Negócios

(clicar no gráfico para o ver completo)

O anúncio, à espera de confirmação pelo Eurostat, que, à última hora, geralmente acaba sempre por desacertar-nos as contas, de que o défice do ano passado teria ficado em 2,1%, não mereceu reparo da oposição à direita, que prefere continuar a assobiar para o ar o tiroliroliro dos sms trocados com o sr. Domingues. enquanto, não surpreendentemente, o BE critica o governo por não ter gasto tanto quanto poderia ter gasto se não tivesse exagerado nos cortes para situar o défice abaixo das exigências de Bruxelas. 

Por outro lado, o assunto do recorde do défice mais baixo em democracia, foi contestado - cf. aqui, p.e, - com o argumento de que esse recorde ainda estaria no valor atingido em 1989, era ministro das Finanças o sr. Miguel Cadilhe. O gráfico publicado no JNegócios atribui o recorde a Mário Centeno. Por uma ou duas décimas, ainda sujeitas a confirmação do árbitro. 

De qualquer modo, esta é mais uma das recorrentes guerras do alecrim e da manjerona, porque nem as circunstâncias permitem comparações razoáveis nem o problema deste país é o défice mas a dívida incontrolada e os juros que ela continua a parir. Juros que, em termos históricos, nem resultam de taxas elevadas mas do elevadíssimo volume da dívida. 
Quando as taxas subirem, porque um dia destes subirão, o anunciado défice de 2,1% em 2016 será uma recordação do tempo em que, à falta de outros problemas, os sms trocados com o sr. Domingues eram o problema mais intrincado da política à portuguesa.  

Saturday, February 18, 2017

SOBRE O QUE NÃO DISSE CENTENO


As notícias domésticas continuam centradas no que disse o ministro Centeno, que se sobrepõem ao apuramento de outras responsabilidades incomensuravelmente muito mais graves e, deste modo, adiam para as calendas o conhecimento público de quem afundou a Caixa Geral de Depósitos.
No centro da guerrilha partidária, o senhor António Domingues, um banqueiro, e as suas não declarações de rendimentos e patrimónios.
   
Já toda a gente percebeu o que disse Centeno, porque é que Centeno não disse o que não disse, quem sabia o que ele iria dizer, quem preparou a informação que habilitou, mal, Centeno a dizer o que disse por ter assumido compromissos que, legalmente, não poderia ter assumido. O que é que falta saber? Nada.

Falta demitir o ministro, exclama mas não reclama a oposição, com medo de deitar abaixo o governo, e este cair-lhe em cima. 

"Ainda não percebi bem, Caríssimo António, por que é que o Centeno deveria demitir-se, ou ser demitido, e o chefe não. 

A partir do momento em que foi descoberto que uma lei pouco recente, para não lhe chamar antiga, tinha sido ignorada, todo o governo se tornou cúmplice da ausência de verdade. E, mais razoável seria, do meu ponto de vista que o PR tivesse decidido manter o governo em funções "em nome do interesse nacional"



De qualquer modo subscrevo o que sobre o assunto disse M Ferreira Leite: São tricas ...



Com tanta insistência neste assunto até parece que, quanto ao resto, vai tudo bem cá pelo síto." - aqui

"O Centeno varreu muito melhor do que muitos, entre os quais me conto, esperavam. 
Mas a limpeza continua ameçada pelos porcalhões dos banqueiros...
Agora, e há mais tempo do que a nossa paciência deveria ser obrigada a suportar e os nossos bolsos a pagar. 
São raros os dias em que não aparecem mais porcarias banqueiras.

Que este e outros governos tiveram que limpar, e nós que pagar.

Pode, admirável Rita, explicar-me porquê? Por que não foram nem são os banqueiros obrigados a limpar as porcarias que fizeram e continuam a fazer?

A pergunta é ingénua mas a resposta é complicada, não é?" - aqui

Monday, January 23, 2017

MENSAGENS VELHAS

O porteiro deste caderno de apontamentos exige-me, para entrar, que clique  em "mensagem nova" e eu ou desisto ou disfarço. Decido-me por carregar, sem comentários, duas mensagens velhas:


Uma - "A dívida pública portuguesa atingiu 133,4% do PIB no terceiro trimestre do ano passado, a segunda marca mais elevada entre os estados-membros da União Europeia (UE). Os dados revelados esta segunda-feira, 23 de Janeiro, pelo Eurostat mostram que a dívida pública portuguesa está entre as que mais subiram tanto em relação ao trimestre anterior como face ao período homólogo, em contra-ciclo com o que se passa no conjunto da zona euro e da UE." - cf. aqui

clicar para aumentar (a imagem ...)

Outra - Juros da dívida portuguesa disparam para quase 4% na maturidade a 10 anos após perspectiva de inflação na Alemanha

Thursday, December 31, 2015

DESAFIOS E EMPECILHOS PARA 2016

E. Catroga reafirma em artigo publicado ontem no Diário Económico - Cinco grandes desafios para a economia portuguesa - as políticas que em outras intervenções públicas considera fundamentais para a continuação da recuperação económica e financeira dos últimos (subentenda-se quatro) anos.

Dos cinco desafios destaco dois - o equilíbrio das contas externas (o único indiscutível objectivo alcançado pelo governo anterior) e a criação de condições para o reforço da tendência da melhoria da poupança nacional bruta (famílias, empresas e o Estado - por se estabelecer entre eles um trade-off que não foi contrariado pelo governo anterior e nada perspectiva que venha a ser considerado pelo actual governo.

O reequilíbrio das contas externas alcançado pelo governo anterior foi óbvia consequência 1) da redução do poder de compra dos portugueses, sobretudo através da redução de salários da função pública e das pensões de reforma, e do aumento de impostos 2) do ocasional aumento da poupança das famílias provocado pelo receios insuflados pelo ambiente pós-espoletar da crise. 
A contribuição do aumento das exportações (muito influenciado pela entrada em funcionamento da nova refinaria da Galp) não é, razoavalmente, creditável a qualquer medida do anterior governo nesse sentido, decorrendo antes de uma reacção (notável, aliás) de produtores portugueses à contracção da procura interna.
À medida que o ambiente de crise se desanuviou retomaram-se gradualmente os hábitos de consumo e alguma recuperação dos salários e pensões começaram a aproximar os saldos das contas externas do seu comportamento normal atavicamente negativo. Porquê?

Era, e continua a ser, inevitável aquele trade-off?
O actual governo ao repor parte dos rendimentos cassados pelo governo anterior vai, inevitavelmente, provocar o aumento das importações líquidas (deduzidas as importações destinadas à incorporação nas exportações) e mergulhar o saldo das contas externas no seu meio habitual, negativo. A não ser que sejam criadas melhores condições de captação da poupança nacional, mas não conheço alguma medida que pretenda atingir este objectivo. 

Ontem, os certificados de aforro fizeram anos: 55, mas já não atraem os pequenos aforradores*. A taxa está agora em torno de 0,9%.  Quanto aos depósitos à ordem, há taxas sensívelmente acima oferecidas por bancos a denunciar dificuldades de captação de fundos a custos inferiores. Foi do aproveitamento destas taxas que acabaram por beneficiar os depositantes dos bancos falidos posteriormente resgatados com os impostos pagos pelos tansos fiscais, continuando impunes os culpados.

E há as aplicações em fundos de investimentos, dizem-nos os seus gestores garantindo-nos que desta vez é diferente. E há quem acredite. E há quem seja bem sucedido. Mas, para onde vai o dinheiro aplicado nos famigerados fundos? É aplicado em fundos estrangeiros, portanto exportado. Concorre para o aumento da poupança bruta sem quase qualquer reflexo positivo na poupança líquida.

Por outro lado um "novo impulso do mercado de capitais", depois dos sucessivos assaltos banqueiros de que foi alvo nos últimos tempos, se o português responder a uma eventual chamada tenho de concluir que há mesmo uma perda geral de memória em Portugal. 
Reconheça-se que tem mostrado muitos sintomas disso, ultimamente.

---
Correl . -* Peso dos certificados na dívida de Portugal caiu para metade em 17 anos

Wednesday, September 23, 2015

O QUE NOS VALE É O NOVO BANCO

Foi hoje confirmado, vd. aqui,  que "o défice orçamental de 2014 foi revisto em alta de 4,5% do PIB para 7,2% do PIB, reflectindo a recapitalização de 4,9 mil milhões de euros do Novo Banco feita pelo Fundo de Resolução, e os défices de 2015 e 2016 também podem vir a ser afectados."

O que diz o sr. Passos Coelho a isto? 
Diz que "Quanto mais tempo demorar a vender o Novo Banco, mais juros recebe o Estado", vd. aqui

O que diz o sr. António Costa ao mesmo?
"O programa eleitoral do PS foi feito com suficiente "realismo" para "acomodar" o "gigantesco buraco" orçamental divulgado pelo INE". - vd. aqui  

Podemos, portanto, dormir tranquilos: O Novo Banco é uma mina bem escorada. Quanto mais tempo demorar a venda, diz Passos, tanto melhor. Até porque, diz Costa, o gigantesco buraco está perfeitamente acomodado no programa do PS. Se o sr. Passos Coelho continuar como primeiro-ministro, o Novo Banco contribuirá para a redução do défice pretendida por Berlim, via Bruxelas; se o sr. António Costa vencer o torneio, o gigantesco buraco do Novo Banco será tapado pela abundância socialista enquanto o sr. António José Seguro esfrega um olho.

Wednesday, August 19, 2015

SUAVE MILAGRE

O PS apresentou hoje o Estudo sobre o impacto financeiro do Programa Eleitoral do PS.
Destacam-se: 
. a criação de 207 mil empregos
. a redução da dívida até 118% 
. e do défice até 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) 
nos próximos quatro anos. 

É curiosa a diversidade de interpretações dos diferentes orgãos da comunicação social sobre as intenções alvo do documento.
Segundo,

 o Jornal de Negócios, "o PS promete a criação de 207 mil empregos até 2019 ...
 o Observador, "o PS prevê ... 
 o Diário de Notícias "o PS compromete-se ...
 o  Jornal de Notícias "o PS estima ...
 o Público, "o PS simula ...
 o Expresso,o PS assume "207 mil compromissos ...

Afinal de que se trata: promessa, previsão, compromisso, estimativa ou simulação?
Trata-se, muito suavemente, de um milagre.

Sunday, July 26, 2015

QUANTAS VEZES JÁ PASSOU A CRISE?

Aproximam-se as eleições legislativas.

Novos empréstimos para habitação e consumo cresceram 52% e 25% entre janeiro e maio, voltando a níveis pré-troica. Caiu 32% o crédito às empresas no mesmo período. Cf. aqui
António Costa (jornalista) : Os bancos têm os cofres vazios. Cf. aqui

Foram vendidos 91.075 veículos ligeiros nos primeiros cinco meses de 2015, representando um crescimento homólogo de 30,3%, valor que ultrapassa o número de veículos registados durante o mesmo período de 2011. A manter-se este volume de vendas, o número total de veículos vendidos em 2015 poderá ultrapassar as 200 mil unidades. Renault, Peugeot, Volkswagen, Mercedes-Benz, Citroën e BMW mantêm, por esta ordem, os seis primeiros lugares da tabela de vendas de ligeiros. Cf. aqui
 
Entre março e maio, o défice da balança comercial ampliou-se 611,4 milhões de euros para -2.965,8 milhões de euros e a taxa de cobertura diminuiu 2,2 pontos percentuais para 81,3%. Cf. aqui

Após um crescimento de 0,9 por cento do PIB em 2014, prevê-se uma aceleração para 1,7 por cento em 2015. Cf. aqui

No fim de maio a taxa desemprego era, estatísticamente, de 13,2%, ainda a quinta mais elevada da União Europeia. Cf. aqui

Passos garante que a crise já acabou. "Pusemos a crise para trás" - Cf. aqui

Resumindo: Os bancos têm os cofres vazios mas aumentaram o crédito para habitação e consumo. As vendas de automóveis continuam de vento em popa. Consequentemente, voltou o défice comercial e o aumento da dívida externa privada. O ténue crescimento económico é alimentado pelo crescimento do consumo e este pelo crescimento do crédito externo. 
Passou a crise? 
Quantas vezes?

Thursday, January 01, 2015

CHAMAM-LHE POPULISMO


Merkel atacou no seu discurso de Ano Novo a vaga populista da direita e, nomeadamente, os organizadores dos recentes protestos anti-islâmicos na Alemanha, frequentemente pejados de "preconceitos e de ódios, até". Hollande bateu palmas e disse o mesmo. Giorgio Napolitano, agora com 89 anos, juntou-se ao trio no seu anúncio de resignação próxima, denunciou o alastrar dos crimes de corrupção e o perigo dos populistas que reclamam a saída da Itália do euro. 

Congratulou-se Merkel com a performance da economia alemã em 2014, com o emprego a atingir níveis máximos e a garantia de que em 2015 a Alemanha atingirá um défice de zero por cento. Entretanto, o BCE reviu em baixa as previsões de crescimento na zona euro para 1% este ano (anterior 1,6%) e as estimativas em 2014 para 0,8%.

Antes do Natal soube-se que a economia dos EUA terá crescido 5% no terceiro trimestre. 
Na Europa alastram os movimentos nacionalistas, na maior parte dos casos turbinados por ressentimentos chauvinistas, xenófobos e racistas. 
E não há racismo nos EUA? Há racismo em toda a parte. Como em tudo, o problema é a densidade em cada caso. E, muito claramente, os líderes europeus, com particular destaque para Ângela Merkel, tardam em reconhecer que não é com o arremesso de mensagens de moralidade que vão evitar o desmoronamento de um edifício cada vez mais desunido.

O embevecimento de Markel pelo défice zero do orçamento alemão no ano que hoje começa é a prova mais saliente de uma persistência obtusa.

Monday, September 08, 2014

OUTRA DE CABO DE ESQUADRA*

Há dias, comentei aqui o desproporcionado compromisso de Portugal no âmbito da Nato, uma desproporção traduzida no preço do esforço desse compromisso relativamente ao PIB quando comparado com os outros membros daquela organização de defesa militar.

Ontem ouvi, e hoje confirmei aqui, que "as Forças Armadas estão a contratar empresas privadas para serviços de vigilância e segurança das suas instalações. Segundo apurou o CM, a Marinha, por exemplo, já pagou quase meio milhão de euros à empresa Grupo 8 por “ausência de recursos próprios”.

Não é a primeira vez que anoto neste caderno de apontamentos a minha estranheza pelo recurso a empresas de segurança privada em muitas instalações de serviços públicos. Na maior parte destes casos, os agentes de segurança privada não realizam apenas funções de vigilantes e porteiros mas também outras tarefas que, seria esperável, fossem realizadas pelos funcionários públicos em serviço nessas instalações. Se há excessos de pessoal, e por essa razão o governo criou quadros de excedentes (obviamente remunerados) por que razão não são destacados alguns desses funcionários excedentes para a realização dessas tarefas e se recorre ao outsourcing? Nada me move contra os empregados em empresas de segurança privada, que frequentemente atendem os cidadãos utentes dos serviços com mais urbanidade que os funcionários públicos, mas é incompreensível o recurso ao outsourcing quando há funcionários remunerados sem colocação. E é sempre com a sensação de estar a passar por um aeroporto do terceiro mundo quando vejo toda aquela multidão amarelada de vigilantes aeroportuários, empregados de uma empresa de vigilância privada.

Mas a entrega da vigilância e segurança de instalações das Forças Armadas a empresa ou empresas privadas "por ausência de recursos próprios" mais do que surrealista é uma anedota estúpida se não for mais uma tramóia com que alguns enchem os bolsos com o dinheiro dos contribuintes. Andaram tantos a clamar tanto tempo que a reestruturação e redimensionamento do Estado, exigido até pela imparabilidade da dívida pública, passa pelo "corte das gorduras". Depois disseram que não encontraram gorduras que se vissem. 
Cortem nas banhas!
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* Ciberdúvidas
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Correl.- As empresas militares privadas vieram para ficar?

Friday, May 16, 2014

SUBPRIME À PORTUGUESA

Volto ao tema do difícil equilíbrio da balança comercial.
Ontem referi que, ou o problema se resolve no âmbito do crédito concedido e da estratégia dos grandes grupos de distribuição, o que envolve um número relativamente reduzido de "responsáveis", ou o desequilíbrio assomará de novo às portas de entrada e saída do país.

Para além do crédito bancário às importações, a política dos bancos e das "grandes superfícies" de pressionarem o consumo a crédito voltou e mais agressiva que nunca. Mas, para além deles, não há cão nem gato que não "ofereça" crédito directo, na hora, ou cartões de crédito a taxas de juro "a partir de 9,5%". Pechinchas que só aqueles que estão aflitos ou a caminho disso aproveitam, perante a passividade do senhor Carlos Costa, que espera, talvez, receber pela distracção recompensa semelhante aquela que foi atribuida ao seu antecessor, o "distraído" senhor Vítor Constâncio.

A crise desencadeada pela erupção dos créditos sub prime aconteceu nos EUA há seis anos. Em Portugal há muitos que culparam os portugueses em geral por "terem vivido acima das suas possilidades."

Mas esses fazem-se esquecidos de que o envididamento excessivo decorre frequentemente de um logro em que são embrulhados os cidadãos. Que, tendo também responsabilidades no cartório, são muitíssimo menos culpados que os seus credores por disporem de muitíssimo menos informação que aqules. Ninguém ignora as consequências devastadoras do logro em que caem frequentemente os menos  informados ou mais incautos. Mas todos quantos deveriam prevenir a repetição do desastre continuam a assobiar para o ar.

Tuesday, March 25, 2014

EM VEZ DE

Argumenta recorrentemente este governo, aqueles que o suportam e os que o admiram, que não há alternativas à redução da despesa que não passem pela redução dos salários da função publica e pelo  confisco das reformas através da "Contribuição extraordinária da solidariedade social". O Partido Socialista ouve e cala-se, arriscando manhosamente pôr em causa apenas a extensão da CES a níveis de pensões mais baixos. E nem a extensão daquele confisco aos fundos complementares de pensões, onde não há qualquer intervenção, nem responsabilidade, nem risco, do Estado, estremece minimamente o sentido de justiça do governo que prepotentemente decide e das oposições que olham impassíveis para o desaforo. Uma muito elucidativa análise da natureza confiscatória da CES e uma proposta alternativa apresentada pelo Prof. Jorge Miranda no dia 12 deste mês no Público* foram ignoradas sobranceiramente pelo poder e seus suportes e coniventemente pelas oposições que lhe criticam as políticas mas não arriscam defender alternativas. Entre uns e outros, resta-nos no momento próprio a abstenção como protesto.

Percebe-se, considerando as baias ideológicas que lhe riscam o rumo, que do lado do governo haja contra esta proposta de Jorge Miranda uma reacção negativa, suportada numa mentira institucionalizada e numa conivência corporativa: numa mentira, porque continua a querer considerar como despesa pública ( e a proposta de J Miranda aponta para uma alternativa de receita) as prestações sociais pagas com as contribuições sociais do sector privado e, logro dos logros!, como corte de despesa pública a CES sobre fundos privados; numa conivência corporativa, porque uma contribuição solidária de moblidade nos termos propostos por Jorge Miranda, socialmente menos injusta e muito meritória do ponto de vista ecológico e do equilíbrio da balança de transacções correntes, toparia com os interesses dos representantes das marcas, importadores e vendedores de automóveis.  

Num país onde a mentira tem curso forçado e os interesses corporativos sobrelevam os interesses públicos, Jorge Miranda terá prégado para o deserto. 
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Correl. - Teodora Cardoso propõe taxar imposto sobre levantamentos de contas bancárias
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Em vez da “Contribuição extraordinária de solidariedade” uma “Contribuição solidária de mobilidade”
Por JORGE MIRANDA*  PÚBLICO - 12/03/2014 - 01:52
Uma alternativa, entre outras, consistiria em criar uma “contribuição solidária de mobilidade” que abrangeria muito mais pessoas: as que têm automóvel.
1. Em nome do interesse público e da sustentabilidade da segurança social, a lei orçamental para 201instituiu, em certos termos e com taxa progressiva, uma “contribuição extraordinária de solidariedade” a pagar pelos aposentados, reformados e pensionistas.

Chamado a apreciá-la, o Tribunal Constitucional, por maioria, decidiu que as respectivas normas não se achavam feridas de inconstitucionalidade (n.ºs 69 e segs.), por, designadamente, a sujeição dos pensionistas a uma contribuição para o financiamento do sistema de segurança social, de modo a diminuir a necessidade de afectação de verbas públicas, no quadro de distintas medidas articuladas de consolidação orçamental (que incluíam também aumentos fiscais e outros cortes de despesas públicas), se apoiar numa racionalidade coerente com uma estratégia de atuação cuja definição cabia ainda dentro da margem de livre conformação política do legislador.

A incidência de um tributo parafiscal sobre o universo de pensionistas como meio de reduzir excecional e temporariamente a despesa no pagamento de pensões e obter um financiamento suplementar do sistema de segurança social seria uma medida adequada aos fins que o legislador se tinha proposto realizar.

Acrescia que, em termos práticos, ela corresponderia, em grande parte, a uma extensão da medida de redução salarial já aplicada aos trabalhadores do sector público em 2011 e 2012, e fora mantida em 2013, a qual no acórdão n.º 396/2011 também se havia considerado não ser desproporcionada ou excessiva.

2. 
Salvo o devido respeito, afiguram-se, contudo, bem mais convincentes os argumentos aduzidos pelos juízes que votaram vencidos (desde logo quanto à natureza de imposto dessa contribuição financeira) muito mais que o discurso argumentativo do acórdão.

Assim, o Conselheiro Pedro Machete, ao falar na quebra de conexão entre a contribuição e o benefício; o Conselheiro Cunha Barbosa, ao aludir a imprevisibilidade e a irracionalidade da medida; a Conselheira Catarina Sarmento e Castro, ao qualificá-la, por recair sobre uma espécie de contribuintes, como um imposto de classe;a Conselheira Maria José Rangel de Mesquita, ao salientar a violação do direito à segurança económica dos idosos consignado no art. 72.º da Constituição; e o Conselheiro Fernando Vaz Ventura, ao apontar a infracção do princípio da igualdade.

De resto, o próprio Tribunal reconheceria (n.º 79) “que as pessoas na situação de reforma ou aposentação, tendo chegado ao termo da sua vida activa e obtido o direito ao pagamento de uma pensão calculada de acordo com as quotizações que deduziram para o sistema de segurança social, têm expectativas legítimas na continuidade do quadro legislativo e na manutenção da posição jurídica de que são titulares, não lhes sendo sequer exigível que tivessem feito planos de vida alternativos em relação a um possível desenvolvimento da atuação dos poderes públicos suscetível de se repercutir na sua esfera jurídica”.

E, na verdade, são aqui sujeitos passivos os aposentados, reformados e pensionistas, com o peso da idade, tantas vezes com o peso da doença e, em não raros casos, na grave situação social que se vive, a terem ainda de ajudar os filhos desempregados ou portadores de deficiência. Mesmo admitindo – sem conceder – que não se trata de verdadeiro e próprio imposto (logo
,inconstitucional, por ofender a regra da unicidade do imposto sobre o rendimento pessoal do art. 104.º, nº 1, 1.ª parte, da Constituição), atinge-se o princípio de que as contribuições financeiras em favor das entidades públicas devem ter em conta as necessidades do agregado familiar (os arts. 67.º, n.º 2, alínea f), e 104.º, n.º 1, 2.ª parte não podem circunscrever-se aos impostos stricto sensu).

Além disso, 
é sobretudo afectada a geração dos que sofreram, na juventude, a ditadura e as guerras, dos que conseguiram construir a democracia entre 1974 e 1976 e dos que, nas décadas seguintes, pelo seu trabalho, fizeram do Portugal de hoje um país melhor, em todos os planos, do que o Portugal de há quarenta anos. Aqueles que agora ocupam o poder nos partidos do chamado arco da governação receberam esse legado sem para ele pouco ou nada terem contribuído.

3. Por sinal, no acórdão nº 862/2013, de 19 de Dezembro, sobre a “convergência de pensões” entre o sector público e o sector privado (e esse votado por unanimidade) o Tribunal Constitucional definiu em rigor o princípio de protecção da confiança (n.º 27).

“A protecção da confiança é uma norma com natureza principiológica que deflui de um dos elementos materiais justificadores e imanentes do Estado de Direito: 
a segurança jurídica dedutível do art. 2.º da Constituição. Enquanto associado e mediatizado pela segurança jurídica, o princípio da protecção da confiança prende-se com a dimensão subjectiva da segurança – o da protecção da confiança dos particulares na estabilidade, continuidade, permanência e regularidade das situações e relações jurídicas vigentes.
“A metodologia a seguir na aplicação deste critério implica sempre uma ponderação de interesses contrapostos: de um lado, as expectativas dos particulares na continuidade do quadro legislativo vigente; do outro, as razões de interesse público que justificam a não continuidade das soluções legislativas. Os particulares têm interesse na estabilidade da ordem jurídica e das situações jurídicas constituídas, a fim de organizarem os seus planos de vida e de evitar o mais possível a frustração das suas expectativas fundadas; mas a esse interesse contrapõe-se o interesse público na transformação da ordem jurídica e na sua adaptação às novas ideias de ordenação social designadamente com base nos princípios da sustentabilidade e da justiça intergeracional [arts. 9.º, alínea d), 66.º, n.
os 1 e 2, 81.º, alínea a) e 101.º da Constituição]. (…)”.Não foi um adequado exercício de ponderação aquele que fez o Tribunal em Abril, ao sacrificar as legítimas expectativas e a reserva de confiança dos aposentados, reformados e pensionistas.

4. Quanto à sustentabilidade do sistema de segurança social, não se nega a existência de problemas. Só que importa não esquecer:

a) Que 
a segurança social está concebida para proteger os cidadãos na velhice (art. 63.º, n.º 3 da Constituição), e não para serem os idosos a sustentá-la;

b) Que os aposentados já contribuíram para ela quer através dos descontos legalmente estabelecidos quer através de impostos que pagaram e que serviram para assegurar as pensões dos seus ascendentes;

c) Que 
não são medidas avulsas e conjunturais que resolvem o problema, mas sim, como consta ainda do acórdão n.º 862/2013, soluções referenciadas à unidade do sistema e não apenas a uma das suas parcelas (n.º 42);

d) Que 
a sustentabilidade, a prazo, do sistema – e até do país – passa, além do crescimento económico e da mudança do clima psicológico, por uma política de natalidade, com benefícios fiscais às famílias com mais de um filho, com a organização do trabalho de modo a permitir a conciliação da actividade profissional e da vida familiar [arts. 59.º, nº 1, alínea b) e 67.º, n.º 2, alínea h) da Constituição], uma rede nacional de creches e outras formas de apoio social à família [art. 67.º, n.º 2, alínea b)] e o fim da gratuitidade do aborto realizado em serviços públicos a pedido da mulher.

A sustentabilidade e, em última análise, a solidariedade entre gerações implica a consideração de uma cadeia de gerações, passadas, presentes e futuras. Implica um contrato entre elas, avalizado pelo Estado e pelas instituições da sociedade civil. 
Exige um sentido de responsabilidade por todos assumido. E um Estado de Direito democrático não pode deixar de ser um Estado de Justiça.

5. Tão pouco se ignora a necessidade, neste momento, de receitas do Estado para cobrir o défice orçamental e para levar a cabo acções de impulso ao crescimento económico.

No entanto, ao contrário do que o Tribunal afirmou no acórdão n.º 187/2013, vislumbram-se alternativas.


Uma alternativa, entre outras, consistiria em criar, em vez de “contribuição extraordinária de solidariedade” (que apenas abrange os aposentados, reformados e pensionistas), uma “contribuição solidária de mobilidade” que abrangeria muito mais pessoas: as que têm automóvel. E que poderia traduzir-se em acrescentar ao actual imposto de circulação um montante, por exemplo, entre 50 e 100 euros por automóvel, tendo em conta a cilindrada e a antiguidade da viatura.

Deve haver em Portugal três, quatro, cinco milhões de automóveis. Não se vai a nenhuma cidade, vila ou aldeia que deles não esteja repleta. E, a despeito da crise, tem aumentado, nos últimos meses, o número de carros vendidos. Estrangeiros que visitam Portugal, principalmente dos países nórdicos, mais ricos do que nós, ficam admirados com a massa de automóveis que vêem nas ruas. Ao mesmo tempo, tem vindo a diminuir a utilização dos transportes públicos; e não é somente por as pessoas ficarem em casa ou andarem mais a pé.

Quase toda a gente reconhece o erro que foi investir em mais e mais auto-estradas, em vez de se renovar e ampliar a rede ferroviária. Mesmo assim, os comboios entre Porto e Lisboa (ou entre Braga e Faro) e os suburbanos funcionam satisfatoriamente e são excelentes os metropolitanos de Lisboa e do Porto. Assim como se afigura razoável a rede de autocarros e de camionagem. Mais pessoas a irem em transporte público para o emprego auxiliaria a diminuir o défice das empresas do Estado e dos municípios e, com isso, a diminuir os encargos dos contribuintes.

O produto desta “contribuição solidária de mobilidade” poderia, por conseguinte, compensar, talvez de longe o produto da dita “contribuição extraordinária de solidariedade”; e com mais justiça entre os cidadãos e mais eficiência económico-financeira.

Por que não encarar seriamente a hipótese?
por que insistir em manter e agravar o tratamento tributário dos aposentados, reformados e pensionistas, como, segundo parece, a que, nos próximos dias, se vai proceder?

* Professor catedrático da Universidade de Lisboa e da Universidade Católica Portuguesa,Constitucionalista