Andei
pelas Minas Gerais em minha infância, andei por cidades que jamais retornei,
uma ou outra revi, mas que não me deixaram saudade alguma. Viraram pó levantado
e remexido que o vento se aprazou em espalhar aos quatro costados para nunca
mais.
Numa
delas o amor quis me olhar, mas foi bem de soslaio. Não desejou me encarar, nem
eu a ele. Foi risco n´água e tal qual, se desfez!
Mas
tive medos, eram medos de criança; quase sempre à noite - alguns carrego até hoje
- Medos de morte, mais da morte que do demo, o coisa-ruim, o cramunhão, afinal,
segundo minha santa avozinha - que Deus a tenha - o coisa-ruim tem gozo numa
barganha e sendo assim, poderia eu até permutar, se fosse o caso, aquilo o que
de mais meu fosse: sonhos, desejos, vontades medos; amores talvez, alma...quem
sabe?! Dependeria da volta, da oferta e da ocasião.
Mas
não me tenha por uma pessoa valente, dessas de andar esquio, com peito
arreganhado e palito por entre meio os dentes. Não, nunca fui valente, tanto
que ao deitar, não pregava os olhos antes de três pai-nosso e três ave-marias
já que algumas noites costumavam ser longas, longas demais e nessas noites de
travessias sem fim pra meu espirito eu sequer levantava para urinar. Me
apertava, retorcia, gemia, mas não colocava o pé no chão enquanto o astro-rei
não alumiasse tudo, tudo e as trevas malditas da noite fossem todas elas
queimadas, como as bruxas voadoras o eram no passado. E assim, pela fé pouca
nos meus santos esse demônio teimava deitar morada no meu peito a fim de me
meter medo.
Gritei
por ele para que se mostrasse e nada. Não pode ser ser vivente: “Ele não tinha carnes
de comida da terra, não possuía sangue derramável...” não, o demônio não é
vivente, não é coisa de Deus, nem é coisa de Nosso Senhor Jesus Cristo,
vencedor de toda treva e também dessas minhas valas abissais onde se enclausuram todos meus medos...medos de coisas dessa vida e de coisas que não se toca é o
etéreo.
Não
contei, mas nessas viagens sempre tinha meu pai ao lado, homem de pouca fala e
riso nenhum; nunca soube nada dessas coisas que me carcomiam as entranhas. Eu por
minha vez nunca soube se andava acompanhado ou só com meus devaneios! Caminhava
apenas, e assim ia, dia contra dia; alinhavado e costurado pela noite de cada
um!
Por
quantas estradas de terra empoeirada e esburacada andei, ladeadas por barrancos
que carregavam cercas farpadas não sei precisar. Tantas curvas, tantas retas
foram; paralelas empoeiradas. Na boleia do caminhão havia um silencio
sepulcral. Boleia que a mim se mostrava como um ser alado com um vento que
permeava a gente e o vento na minha cara, minha cara no vento a zunir na
janela, debruçado. Solavanco após solavanco. Era de sol e poeira. O som fora da
boleia além do vento, era o contínuo e ritmado rugido do motor a gasolina do
velho Ford preto 57.
Elcio