Quando, no passado dia 31 de Agosto, tomei conhecimento dos contornos do negócio Javi Garcia, e da sua mudança para o Manchester City, também eu me indignei. Também eu me insurgi, não contra o negócio em si, mas sim contra os contornos do mesmo. E tal como todos os que o fizeram, também eu estava errado.
No artigo "Gestão Danosa" (aqui), critiquei o facto do Benfica não conseguir fazer com que o City, clube mais endinheirado de Inglaterra, pagasse os 30M€ de clausula de rescisão, que constava no contrato com o Javi.
Só que, após ler um artigo na blogosfera encarnada (peço imensas desculpas aos leitores mas já não sei precisar onde foi) tive de ir verificar o que diz o Regulamento de Gestão do fundo "Benfica Stars Fund". E tenho de reconhecer que estava equivocado. O negócio feito foi o possível, face às condicionantes presentes no momento e aos acordos previamente estabelecidos
.
Vamos aos factos, que suportam esta minha inversão de opinião a 180º.
- Em Julho de 2009, o Benfica compra Javi Garcia ao Real Madrid por 7M€.
- Aquando da constituição do fundo "Benfica Stars Fund" (aprovado pela CMVM a 24 de Setembro de 2009), Javi é um dos jogadores com parte do passe alienado, pelo valor de 3,4M€ por 20% do passe. Fazendo uma regra de três simples, temos que a avaliação de Javi na altura foi de 17M€.
- Nos pontos 8 e 9 do Artigo 8.º do Capitulo II do referido Regulamento de Gestão, está expressamente indicado que o Benfica é obrigado a vender sempre que uma proposta recebida seja igual ou superior ao valor de referência (que é acordada entre Benfica e Fundo e será em teoria superior ao valor de avaliação) ou em alternativa, re-adquirir a percentagem do fundo, pelo valor que seria recebido por este caso a proposta fosse aceite. Trancrevo a totalidade do ponto 8 e parte do ponto 9 em baixo.
8. Sempre que o Fundo adquira direitos económicos relativamente a um determinado atleta, será fixada uma tabela de referência pela Entidade Gestora e pela Benfica SAD da qual constarão os valores que servirão de referência para propostas futuras que sejam recebidas pela Benfica SAD para a aquisição dos direitos relativamente àquele atleta. Os valores constantes da tabela de referência serão iguais ou inferiores aos valores das cláusulas de rescisão que a Benfica SAD tenha acordado com cada um dos seus atletas, e apenas se essas cláusulas tiverem sido estabelecidas. Caso alguma proposta para aquisição dos direitos desportivos relativos a determinado jogador venha a ser concretizada em montante que iguale ou ultrapasse o valor de referência respectivo, constante da referida tabela, a Benfica SAD fica obrigada a vender os direitos desportivos que detenha inerentes a esse mesmo atleta.
9. Quando tenha sido recebida uma proposta relativa a um determinado jogador nos termos da parte final do número anterior, a Benfica SAD pode sempre adquirir ao Fundo os direitos económicos que detenha relativos a esse mesmo atleta, pelo valor que seria devido ao Fundo caso a proposta fosse aceite pela Benfica SAD. ...
Ou seja, Se o City tivesse oferecido 17M€ (e fosse esse o valor de referência), o Benfica era obrigado a vender ou a comprar os 20% do passe de Javi por 3,4M€. No caso da proposta que acabou por ser aceite, o Benfica teria de pagar sensivelmente 4,6M€ ao fundo, caso não quisesse vender. Com a noticiada pressão de Javi em sair nesta altura, penso ser claro que pouco poderiamos fazer para o segurar. Pagar 4,6M€ e o respectivo aumento de salário para manter um Javi algo contrariado (inevitavelmente, pese embora todo o seu amor pelo clube) teria sido uma medida de gestão pior do que aquela que se tomou.
É o problema do fundo. Na altura de comprar é bom termos um parceiro que suporte parte dos custos. Na altura de vender perdemos alguma margem negocial.
Esta reflexão que eu fiz, levanta-me no entanto uma outra questão. Porque razão não foi isto explicado a tempo e horas aos sócios? Uma declaração do presidente, a referir este facto seria mais que suficiente para que a histeria de dia 1 tivesse sido estancada.
Eu, pela minha parte, faço o mea culpa e admito que foi mesmo o negócio possível.