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domingo, 17 de julho de 2011

VOCÊ TEM PROBLEMAS DEMAIS.

Ele ouviu assim, a seco, à queima-roupa, a bendita frase: "Você tem problemas demais".
Ficou triste e se achou o pior do mundo. Além de IPTU, dentista, ex-mulher, virose de filho, Receita Federal, cartório e firma reconhecida, condomínio, processo e nome sujo, agora ainda tinha que lidar com a solidão. Este sim, problemão.
Até hoje desconfio muito de quem não tem tanto problema assim. Como já diriam uns e outros, o que não se mostra, se esconde.
E aparece só no meio dos desabafos bêbados, no meio dos travesseiros insones, no meio da culpa cristã e na promessa de nunca mais comer maçã.
Deixemos o escondido debaixo da cama e partamos pro cotidiano. Alguém sabe me dizer por que cargas d´água a gente sai correndo pra resolver problema alheio como se fosse nosso?
Afinal, se os problemas se resolvem, sobra o que pro marginal herói fazer? Como ele vai provar sua astúcia chapoliniana? Como vai mostrar pra todo mundo que só ele, e ninguém mais, poderia sair do ninho de cobras e ganhar um beijo da mocinha?
Mal sabem os 'sem-problemas' do esforço feito pra arrumar um chifrezinho em cabeça de cavalo e depois conseguir resolver tudinho.
Mal sabem eles que essa pedreira toda é só pra, no final do filme, poder enrolar os cachinhos de super-homem e dizer: Olha só o nó que consegui desfazer!
Daí a necessidade quase necrófila que uns tem de achar alguém só pra ficar quietinho, quietinho, sem fazer barulho ou se meter, ali jogado num canto e se fazendo de morto enquanto finalmente podem sair fantasiados de Batman ou de King Kong e darem provas de vida. 
Vida conturbada, pulsante, dramática e até azarada. Mas sem a ajuda de ninguém.
Quando encontrar um desses, finja-se de morto que é pra não atrapalhar o espetáculo.
Ao menor sinal de uma mãozinha, ele correrá feito diabo de cruz. E você terá que resolver só os seus próprios problemas. 
Ó que desastre!