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segunda-feira, 22 de julho de 2013

TOMA ESSE CORPO QUE TE PERTENCE



Ah, esse corpo fardo! Farto de esperar quem o domine e o leve pra cama. 
Nem que seja a gripe...
Ah, esse corpo que dói e se ressente de não ser ele o dono de seu próprio corpo. Fascinado pelos fortes que se apropriam de tudo como fossem cobradores de impostos: 
"Você me deve! "
É tudo o que ouvem. 
É tudo o que dizem, enumerando os queixumes e agravos sofridos com resignação e esperanças alucinadas na vida após a morte: "Há de haver justiça e choro e ranger de dentes". Do outro, claro. 
Nós, os bons, os fracos e puros de coração, jamais sofreremos nessa projeção de futuro ensandecida que pune sempre quem se apropria de seu próprio corpo e mata de inveja quem abnega dele.
Ah, esse corpo que pulsa e muda o ritmo a cada vez que vê o pôr do sol ou que um carro avança o sinal nos forçando a ficarmos mais espertos. Repetindo um 'quase morri' pra garantir ao menos uma cicatriz da vida. Uma marca que seja.
Quase. Quase vivo nesse corpo. Quase respondo bem à medicação que me torna mero efeito colateral.
Ah, esse quase corpo. Quase sente que pode. Mas acaba resignado com medo do pastor exorcista perceber que há Vida além da vida.
Que há desejo e vontade chamados de demônios e um corpo que sofre, apanha, mas que também bate e estremece inteiro.
Ah, o que pode um corpo que não se contém???
Transbordar para o além. Para o antes e o depois. Sentindo que o que sente não se descreve. Não se desenha. Simplesmente não cabe em si. E assim vaza ao mundo quando a tv é desligada.
Todo cuidado é pouco pra um corpo que se afirma num descuido.
Toda gota d´água é um perigo de derrame, de luxúria, de apedrejamento.
Todo movimento ameaça ao inferno aqueles que deixam pra depois da morte o momento exato de se dizerem: Sim, eu sinto! Eu quero!

domingo, 28 de setembro de 2008

A NOVIDADE


Sei que sumi por uns tempos. Mas já voltei.
É que um leitor me fez uma crítica no último post, e me cutucou muito sutilmente - elegante que é - chamando a atenção para a falta de novidades que eu trazia.
Procuro, desde então, novidades para alegrar sua vida. Notícias novinhas em folha, daqui, de lá, de acolá, d´além mar, das produndezas d´alma, do baú de brinquedos, da última publicação, do telejornal,...
Qualquer coisa muito nova prá eu falar aqui.
Não as novidades tecnológicas, farmacêuticas, físico-elétricas, afinal, tenho um estranho defeito que é me interessar muito pelas gentes do mundo.
Por isso escrevo às vezes repetidamente sobre mar e incertezas. Por isso ainda falo de angústias e medos - quando qualquer pessoa que leia o 'da moda' sabe que é só seguir os passos prá acabar já com tudo isso. Pelo menos acabar por uns 4 ou 9 minutos.
Foi aí que fiz um exercício muito meu, procurando a coisa mais nova que eu podia falar, numa associação livre particular que divido aqui com você, não prá ser a palavra final em qualquer assunto - Zeus me livre disso - mas só prá dividir alguma coisa mesmo. Afinal, um mundo só meu não teria muita serventia.
...E achei a maçã.
A boa nova é a maçã!
Aquela frutinha que se coloca entre dois, que faz os homens e as Evas saírem da depressão resignada ao encontro do mundo afora, experimentando tudo, seja lá que gosto tenha.
É que prá falar de gente eu não preciso descobrir o mapeamento genético que determina como x ou y se comportam. Não preciso ler 'o segredo' e todos os 39 livros sobre como desvendar o segredo do segredo do segredo de... vender livros.
Prá falar de humanos de verdade preciso pensar em maçãs.
Sob pena de, aí sim, voltar a um "paraíso perdido" muito do sem graça.
Sem graça, sem cor, sem gosto, sem som, sem fúria, sem desejo.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

BABEL - ainda as crianças

Falar do querer das crianças causou um frisson danado, e uma confusão maior ainda. Mas não dava prá ser diferente quando o próprio tema é confuso, quando mexe justamente com a linguagem. Com a expressão e compreensão do que se quer.
Confesso que quando escrevi sobre o desejo das crianças, tive medo de ser interpretada como perversa - vai saber como as pessoas lêem. E por isso mesmo senti necessidade de esclarecer e expor aqui algumas teorias à respeito.
Meu temor era o de que alguma mente doente lesse sobre o desejo das crianças e se apressasse em levantar bandeiras do tipo "Liberou a pedofilia!"
Essa falha de comunicação já foi explicitada há muito tempo por um amigo, seguidor e colaborador do Freud, chamado Sándor Ferenczi, conhecido não só por ousar e experimentar sempre novas técnicas com seus analisandos, como por ser o endereço certo dos casos difíceis da Europa, no período entre guerras. Ou seja, todos os casos mais escabrosos eram encaminhados a ele. Se Ferenczi não resolver... não tem jeito.
Era mais ou menos isso.
O tal do Ferenczi, em 1932, escreveu um texto lindíssimo em que ele afirmava haver uma confusão de línguas entre adultos e crianças.
O Freud já defendera a sexualidade das crianças e seu desenvolvimento, mas esqueceu desse detalhe: como os adultos encaram isso.
E veio o Ferenczi dizendo o seguinte: enquanto a linguagem da criança é a da ternura, a do adulto é a sedução.
Em suma, precisou o Ferenczi dar uma de intérprete e tradutor pra levantar a questão da pedofilia. Afinal, as crianças cresciam - sim, elas crescem - achando-se culpadas, responsáveis, por atos cometidos CONTRA elas mesmas. São elas as sedutoras, as perversas, as pervertidas. Até porque os autores desses atos, "criaturas respeitosas e de bem", eram geralemente pessoas de sua inteira confiança, e que, a princípio, estariam ali para protegê-las
É. O tema é pesado mesmo.
Mas nem sempre precisa ser, não.
Há outros meios de interpretação do desejo infantil. E outras confusões também.
Uma delas é confundir o querer infantil com mera pirraça, capricho, manha, chatice enfim.
Mas fazer pirraça não é prerrogativa da criança. Não tem coisa mais chata do que um adulto se destruindo, se "jogando no chão e se debatendo" só prá chamar a atenção; crente, desde criancinha, que esse é o único modo de alguém prestar atenção às suas queixas.
O querer infantil nada tem de chato. Nada tem de pirracento. Nada tem de responsável por estupros.
Ele é, pura e simplesmente, desejo de experimentar. Com o respeito que lhe é devido. É claro.

Quem se lembra dos filmes do Truffaut e das vivências de Antoine? ô menino que sofre né? Outro dia ouvi uma mulher aconselhando outra a levar seu filho numa coleira, assim ele não correria e não se arriscaria a ser atropelado.
Acho que ensinar o mesmo a olhar pros 2 lados pode ser útil. Imagina o gajo com 30 anos, esperando no sinal alguém lhe puxar ou prender a cordinha...

sábado, 5 de maio de 2007

VINDE A MIM AS CRIANCINHAS


Amanhã, 06/05, é aniversário do Freud, nosso charuteiro mor. Pensei no que falar a respeito do pai da psicanálise e suas teorias, e só me veio à cabeça essa frase que vez em quando ouço por aí.
"Criança não tem que querer!"
Não é raro ouvir a respeito das crianças como se elas fossem de outra espécie que não a humana. Algo assim como cachorro, gato, passarinho. Um ser desses que não muda nunca, independente da idade; desses que jamais entram na adolescência e discordam dos pais; desses que supostamente não entram em conflito, pelo simples fato de não pagarem a conta de luz.
A gente alimenta, põe prá dormir, cuida da higiene, e não leva muito em consideração o que eles dizem ou pensam. Afinal, são só crianças.
Por isso mesmo, já comecei o texto com título de Jesus Cristo que é prá provocar logo. Assim, minha idéia fica incontestável. E logo depois falo do Freud, o judeu fugitivo da guerra, que é prá por tudo no mesmo saco e me encher de autoridade prá falar sobre o assunto.
Pois bem. Vem do Freud a teoria de que a infância não é dotada só de obediências e brincadeiras inocentes e singelas. Isso é que não. Nosso teórico, inventor da técnica psicanalítica, foi rechaçado de maneira vil quando afirmou que as crianças possuíam sexualidade - o que por si só já implica em desejo - e que essa influenciará de maneira inequívoca a vida psíquica no futuro.
Essa sexualidade infantil foge, e muito, da vivenciada pelos adultos. Ela vem muito mais como experimentação, desde a primeira vez que o bebê mama, desde o primeiro olhar, a primeira voz ouvida...
Na época, as palavras de Freud não foram aceitas de modo algum. E ele chegou a ser ridicularizado em público por considerar, mais uma vez, o que ninguém considerava quando o tema era ciência.
E não é que até hoje a gente se depara por aí com uma negação estarrecedora de como essa fase é fundamental para a formação de adultos perspicazes e independentes?!?
Fica algo assim como se fossemos semelhantes a estágios de vídeo game. Passa-se de uma fase a outra sem muita ligação entre elas.
É que muitas vezes é difícil prá nós mesmos aceitarmos que nossa infância NÃO FOI esse mar de rosas cheio de inocência e tranquilidade. Daí acolher a infância alheia se mostra tão trabalhoso. E reconhecer que a infância, que seria a base de tudo, possa não ter sido muito sólida, mas sim meio bamba, meio instável, acaba provocando uns sentimentos desconfortáveis, que desestruturam certezas que a gente segura com tanta convicção.
O conflito então se instala. E a maneira dita mais "fácil" de lidar com ele é negá-lo.
Mas negar o conflito não implica também em negar o desejo?
Aquele desejo da infância. Aquele reconhecimento de que as crianças, também elas, podem e querem, mesmo que isso seja um mero exercício para o futuro.
DESEJEMOS TODOS, então!!!
E VIVA FREUD!!!

terça-feira, 24 de abril de 2007

NA REAL - COMO 2 E 2


E a discussão entre Real e Virtual não parou, não.
Ao contrário, ela vai dar ainda pano prá manga, prá gola, pro Passeio Completo.
Chego a achar graça de como o virtual hoje vem ganhando espaço na vida da gente. E ao mesmo tempo, ocupa um lugar de vilão de todos os tempos.
Já começa pela mera fila de banco, ou da operação não realizada.
- O sistema está fora do ar. Sinto muito. Volte mais tarde.E a máquina é a responsável por tudo.
Vira e mexe sai alguma coisa sobre no jornal que confirma essa idéia. Jovens embriagados capotam de carro; mulher toma veneno de rato, cumprindo a palavra no pacto de morte; adolescente tímido, introvertido, desaparece de casa após marcar encontro pela internet. E a culpa é de quem?
Ora bolas. Elementar, meu caro Watson: Só pode ser do ORKUT.
É realmente curioso como a orientação dos pais, que antes deveria ser :"coma alface, não veneno". ou simplesmente "se beber, não dirija", passa a ser "sai desse orkut que isso só traz desgraça."
Ops. toc, toc, toc. pé de pato, mangalô três vezes
E o mundo virtual passa a ser atacado, curiosamente, com suas próprias armas. Ou seja, a linguagem binária. 1 ou 0. Não tem outra alternativa. Não dá prá ser meio termo, outro termo, vários termos...
Fica um 'ou isso ou aquilo' de dar dó, empobrecendo qualquer discurso mais aprimorado sobre a atualidade. Parece até que o ser humano é sempre tão simples - chegando até a ser simplório -, tão exato, tão inteiro e racional, como se uma ação resultasse sempre, inequivocamente, em uma determinada reação.
O cinema americano, nesse ponto, estava certo. Será? Ou se é mocinho, ou se é vilão. Com o risco sempre de a vítima - de incesto, de holocausto, de incompreensão e de injustiça - virar psicopata e sair esquartejando gente por aí, arrancando o couro, literalmente. Tá aí o novo filme do Hannibal que não me deixa mentir.
Dia desses, o próprio Papa já anunciara o fim do limbo, tomando da gente qualquer chance de ficar pululando por aí, enquanto espera julgamento. É pau. É pedra. É o fim do caminho.
Tudo com ponto final, prá não dar chance a reticências dizendo que a história continua; a ponto e vírgula, mostrando um fim nem tão fim assim; a vírgula, dando chance de o enredo precisar de mais gente que se possa enumerar.
Mas e prá quem não aceita só um tipo de explicação? Só um caminho? Só uma receita de viver a vida? O que resta?
Só chamando Manoel de Barros, e o abuso que ele faz das palavras, prá ajudar aqui.
Aproveitem!

A maior riqueza do homem é sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora,
que aponta o lápis, que vê a uva, etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o mundo usando borboletas.