Houve um tempo em que ser Ateu era sinal de ser grande homem.
O cara que afirmava isso podia bater no peito forte e bradar: "Se eu esperar Deus, não acontece nada. Melhor eu arregaçar as mangas."
E saiam pelo mundo fazendo acontecer um montão de coisas que nem eles se sabiam capazes.
Era gente que não cria em Deus e muito menos em Igreja. Temor? Nenhum. Vontade? Toda!
Não falo daqueles napoleões megalomaníacos e perversos, que escravizam os outros achando-se os iluminados. Até porque estes são bastante crentes. Basta perguntar e eles respondem: "Se creio em deus? É claro que sim. EU SOU DEUS!"
E falam até com eco que é prá dar um efeito de montanha.
Destes, convém manter distância.
Falo de uns outros que se cansavam de esperar que autoridades resolvessem seus problemas, que não reconheciam a igreja capaz de balizarem seus desejos. Que não conseguiam se enquadrar na mediocridade nem para fazerem o mais simples.
Afinal, até pra ir à padaria é necessário abraçar a causa, ou se come biscoito dormido, vencido no mês passado.
Todos estes esbarravam sempre numa questão das mais cristãs, que era o tal do "Vinde a mim as criancinhas."
Não para "pedofilar." Mas para trocar potências, exercidas através de uma espécie de orfandade.
Supostamente, um desamparado protege outro. E todos se protegem assim.
Matemática simples e justa. Nada para o pós-morte. A hora de fazer é já.
Onde foram parar estes daí?
Não sei se devido à chegada do terceiro milênio, com promessa de volta de Jesus a qualquer instante, os sobreviventes destas idéias se cansaram e mudaram pra um sítio bem longe qualquer.
Melhor olhar os passarinhos...
O que ficou foi o desamparo sim, mas agora com o abandono escamoteado, disfarçado de proteção.
O arcebispo Dom Dadeus, defendendo a igreja de mais um escândalo e ligando vários ventiladores em todas as direções, afirmou que "A sociedade atual é pedófila."
A declaração gerou uma porção de repreensões dentro e fora da igreja, mostrando que a imagem no espelho dessa vez foi forte demais. O brilho refletido cegou.
Algo semelhante já fazia Freud, quando causou uma barulheira danada apontando os abusos infantis que vinham à tona em seu consultório, falando mais ou menos a mesma coisa.
Lá e cá ficamos todos reclamando e repetindo alto: "Que absurdo! Que horror! Lá em casa não."
Como se o único pedófilo na história fosse o que abaixa suas calças.
E o esquema em torno?
E a mãe da criança, que jamais acredita nela, repreende: "Menina má. Aquele que seu dedo aponta é um santo homem. Mentirosa!" Ou ainda: "Filha, ele que sustenta a gente. Melhor você aguentar."
E a pequena vira arrimo de família, por mais que a exploração do trabalho infantil se diga proibida."
E o taxista que lhe apresenta os gringos?
E o dono do hotel onde aquele cara de 2 metros e 120k leva os(as) menininhos(as) de 5 anos?
Mas o que isto tem a ver com o ateísmo né?
Com aquele que fazia por si mesmo? Nada.
Com este que se vê tão pequeno que é melhor nem se mover? Tudo.
Não fosse o ato de lavar as mãos e ser cúmplice de estupros, de extorsões, de explorações escravizantes e de roubos de donativos, ao invés de testemunhos das vítimas.
Não fosse a impossibilidade de questionar informações graves, sempre em nome de um poderoso.
Os ateus de hoje não crêem em Deus. Óbvio. "Deus está morto!" Mas acreditam piamente em políticos que se denominam pais e provedores com dinheiro público, em chefes, em esquemas corruptivos, em policiais, em desembargadores, em coronéis nordestinos, em funcionários candangos com cuecas e meias repletas de dinheiro ... E desacreditam, invariavelmente, as vítimas.
E para desespero da lógica, esses pobres infelizes ateus novos não verão nem a cor da herança, já que não passam de bastardos.
Não há DNA que dê jeito nisso.
Daí fica meio inglório romper as correntes do escravo se ele jura que foi escolhido como o dileto capitão-do-mato.