Mostrando postagens com marcador Deus. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Deus. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

JÁ NÃO SE FAZEM MAIS ATEUS COMO ANTIGAMENTE...


Houve um tempo em que ser Ateu era sinal de ser grande homem.
O cara que afirmava isso podia bater no peito forte e bradar: "Se eu esperar Deus, não acontece nada. Melhor eu arregaçar as mangas."
E saiam pelo mundo fazendo acontecer um montão de coisas que nem eles se sabiam capazes.
Era gente que não cria em Deus e muito menos em Igreja. Temor? Nenhum. Vontade? Toda!
Não falo daqueles napoleões megalomaníacos e perversos, que escravizam os outros achando-se os iluminados. Até porque estes são bastante crentes. Basta perguntar e eles respondem: "Se creio em deus? É claro que sim. EU SOU DEUS!"
E falam até com eco que é prá dar um efeito de montanha.
Destes, convém manter distância.
Falo de uns outros que se cansavam de esperar que autoridades resolvessem seus problemas, que não reconheciam a igreja capaz de balizarem seus desejos. Que não conseguiam se enquadrar na mediocridade nem para fazerem o mais simples.
Afinal, até pra ir à padaria é necessário abraçar a causa, ou se come biscoito dormido, vencido no mês passado.
Todos estes esbarravam sempre numa questão das mais cristãs, que era o tal do "Vinde a mim as criancinhas."
Não para "pedofilar."  Mas para trocar potências, exercidas através de uma espécie de orfandade.
Supostamente, um desamparado protege outro. E todos se protegem assim.
Matemática simples e justa. Nada para o pós-morte. A hora de fazer é já.
Onde foram parar estes daí?
Não sei se devido à chegada do terceiro milênio, com promessa de volta de Jesus a qualquer instante, os sobreviventes destas idéias se cansaram e mudaram pra um sítio bem longe qualquer.
Melhor olhar os passarinhos...
O que ficou foi o desamparo sim, mas agora com o abandono escamoteado, disfarçado de proteção.
O arcebispo Dom Dadeus, defendendo a igreja de mais um escândalo e ligando vários ventiladores em todas as direções, afirmou que "A sociedade atual é pedófila."
A declaração gerou uma porção de repreensões dentro e fora da igreja, mostrando que a imagem no espelho dessa vez foi forte demais. O brilho refletido cegou.
Algo semelhante já fazia Freud, quando causou uma barulheira danada apontando os abusos infantis que vinham à tona em seu consultório, falando mais ou menos a mesma coisa.
Lá e cá ficamos todos reclamando e repetindo alto: "Que absurdo! Que horror! Lá em casa não."
Como se o único pedófilo na história fosse o que abaixa suas calças.
E o esquema em torno?
E a mãe da criança, que jamais acredita nela, repreende: "Menina má. Aquele que seu dedo aponta é um santo homem. Mentirosa!"  Ou ainda: "Filha, ele que sustenta a gente. Melhor você aguentar."
E a pequena vira arrimo de família, por mais que a exploração do trabalho infantil se diga proibida."
E o taxista que lhe apresenta os gringos? 
E o dono do hotel onde aquele cara de 2 metros e 120k leva os(as) menininhos(as) de 5 anos?
Mas o que isto tem a ver com o ateísmo né?
Com aquele que fazia por si mesmo? Nada.
Com este que se vê tão pequeno que é melhor nem se mover? Tudo.

Não fosse o ato de lavar as mãos e ser cúmplice de estupros, de extorsões, de explorações escravizantes e de roubos de donativos, ao invés de testemunhos das vítimas.
Não fosse a impossibilidade de questionar informações graves, sempre em nome de um poderoso.
Os ateus de hoje não crêem em Deus. Óbvio. "Deus está morto!" Mas acreditam piamente em políticos que se denominam pais e provedores com dinheiro público, em chefes, em esquemas corruptivos, em policiais, em desembargadores, em coronéis nordestinos, em funcionários candangos com cuecas e meias repletas de dinheiro ... E desacreditam, invariavelmente, as vítimas.
E para desespero da lógica, esses pobres infelizes ateus novos não verão nem a cor da herança, já que não passam de bastardos.
Não há DNA que dê jeito nisso.
Daí fica meio inglório romper as correntes do escravo se ele jura que foi escolhido como o dileto capitão-do-mato.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

...É QUEM FALA.

Antigamente, quando eu ainda assistia novelas e pensava estar com a velhice tranquila, dada a minha vocação para falar com a televisão, eu me pegava morrendo de rir de algumas falas e diálogos desenvolvidos naquelas tramas.
Isto se dava quando ouvia sentenças mais ou menos com a mesma estrutura, que sempre traziam um dedinho apontado para o outro imbuídos do grau máximo da revelação.
Eram coisas do tipo:
"- Antônio Carlos, você é grande egoísta!"
Tá aí uma frase que me faz rir da condição humana.
É que o desenvolvimento dela cai sempre em contradição absurda.
Vejamos como a Glória Aparecida terminaria com isso:
"- Você é um ser que só pensa em você, no seu próprio bem."
...E o desfecho:
"- Você não pensa em mim!"
Pronto. Me escangalho de rir disso.
Tá certo, meu humor não é coisa fácil de se entender. Mas olha o que Glorinha acaba de falar:
"- Você é um egoísta porque não pensa em mim."
Não é brilhante?
Quem é o egoísta nessa história toda é que não ficou claro.
Se o Tonico, que só pensa nele mesmo, ou a Glória, que além de pensar nela, ainda quer que todo mundo pense também.
Acho que por isso cansei de novela.
Por isso perdeu a graça.
Frases como estas são tão banais e corriqueiras que a gente nem percebe quando vê coisa parecida nos jornais.
Por exemplo, quando a Igreja Católica se diz vítima de fofocas e extorsões ao se deparar com a quebra do segredinho do estupro.
Ora bolas, tem horas em que é preciso delimitar muito bem quem é a vítima e quem é réu na história.
Quem é egoísta, quem é canibal, quem abusa, quem força e quem seduz...
Homens civilizados que somos, temos a certeza de que estes enumerados são sempre os outros. Aqueles pagãos, selvagens, que ninguém quer ou protege...
Culpar a vítima de novo?
Mas as igrejas já fazem isso há tanto tempo, que nesse século chega até a perder a graça essa brincadeira.
E agora começa uma outra equação complicadinha de se fazer:
A culpa, se não é da vítima assassinada, estuprada e espancada, é de quem?
Como na novela, o macaco senta no rabo prá falar dos outros.
E como na novela também, quem bate, só age de acordo com a contingência.
O Bandido da Luz Vermelha, famoso psicopata do Rio, alegou uma vez que jamais matou ninguém, pois só quem tem o dom de dar ou tirar a vida de uma pessoa é Deus.
Ele só atirou, esfaqueou, esquartejou,... Mas quem matou foi Deus.
Assim, o mesmo não tinha culpa de nenhuma consequência que causou.
Nem questiono nada aqui de Deus ou do Diabo, pois sei que eles são maiores que eu, e fui ensinada a não fazer covardia ou burrice.
Brigar? Só com alguém do meu tamanho.
Mas acusar a vítima de egoísta por defender sua pele do lobo faminto?
Desacreditar a vítima chamando-a de louca, mal caráter ou traidora?
Isto seria reedição do abuso, vivido de novo, e de novo, e de novo...
Aí, nosso desejo é de que apareça assim, do nada, sem querer, um daqueles
fãs do Tarantino, só prá fazer uma 'Justiçazinha'
...

Ilustração de Marhcuz