Quando eu era criança, às vezes, minha mãe me levava ao teatro. Geralmente eu odiava. E questionava:
- Mas eu fiz dever de casa, não baguncei a casa, deixei você dormir até mais tarde e nem bati nos meus irmãos dessa vez. Por quê?
Eu odiava devido a um padrão que hoje julgo desrespeitoso em relação às crianças, que é tratá-las com tatibitati, como se incapazes fossem.
Até que fui a um teatro realmente bom, e quis voltar no dia seguinte, e ainda levar os amigos. O nome da peça era "Super Zé", do saudoso diretor Dácio Lima.
Havia uma personagem enorme que se chamava Burocrata, acho... e o herói, Super Zé, lhe perguntava o que ele estava fazendo.
- Estou carimbando. - ele respondia.
- E pra quê?
- Pra ficar carimbado, ora bolas.
Eu, criança, morria de rir do ridículo do burocrata.
Décadas depois, eu trabalhava em uma creche como voluntária e participava da adaptação das crianças ao local. Uma delas esperneava e chorava, enquanto perguntava à mãe.
- Por que você tem que ir embora?
- A mamãe precisa trabalhar pra ganhar dinheiro.
- Pra quê?
- Pra comprar presentes pra você.
- Mas eu não quero presentes. Eu quero você.
Será que só as crianças entendem essas questões?
Ou seria muito perigoso para o mercado* perguntar?
FELIZ ANO NOVO BEM NOVO PRA VOCÊS.
Novo como criança.
"Mas o que salva/ a humanidade/
É que não há quem cure/ a curiosidade"
TOM ZÉ
10 comentários:
👏🏻👏🏻👏🏻
Q delícia esse questionamento q vem p alma!Adoro seus textos!
Sinto um ar fresco! Obrigada!
Pois é, pra quê?
Bora trazer essa criança, Feliz Ano Novo criançando na vida.
Muito bom! E viva o Devir criança!
Meu comentário saiu como anônimo. Acho q esqueci algo.
Então é isso? Tem celebração quando um número sai e entra outro, fica todo mundo feliz, mas esse ano vai ser o número 3 gosto muito do formato da escrita 😁
"Agente não tem que ter muito, agente só precisa ser mais."
A criança é livre,tão livre.
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