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quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Com bluff e sem bluff

«Esticamos a corda e poderia ter rompido. Isto foi um pouco um jogo de póquer do nosso presidente.» Esta declaração de Fernando Gomes, na apresentação do Relatório e Contas 2022/23, viria a revelar-se particularmente curiosa um mês mais tarde. O responsável pelas finanças da SAD falava do negócio Otávio e citou aquilo que descreveu como uma grande jogada de póquer de Pinto da Costa: «Este foi o risco que a administração, nomeadamente o presidente, correu. Foi o próprio presidente que disse: 'Nós não vamos vender o Otávio até 30 de junho, porque eles estão tão interessados no Otávio que virão buscá-lo mais tarde'».


Portanto, avaliando as palavras de Fernando Gomes, que não teria interesse em atribuir falsas declarações ao seu/nosso presidente, o FC Porto assumiu que iria vender Otávio, mas só depois de 30 junho, para não só ganhar mais com a transferência como para integrar essa venda no R&C de 2023/24, mais vantajosa para o fair-play financeiro. Tudo ok. Uma direção capaz de se mexer no mercado e surpreender na procura do melhor negócio possível é o que tudo queremos. 

Até que Pinto da Costa falou no Thinking Football Summit e explicou que rejeitou sempre as ofertas por Otávio. «Não aceitei, depois, a oferta dos 60M, mas num dia em que o nosso treinador não estava, por estar a ser operado, o Otávio veio ter comigo a chorar, a dizer que eu não lhe podia prejudicar a vida.» Portanto, segundo Fernando Gomes, a estratégia de Pinto da Costa era vender Otávio depois de 30 de junho; mas segundo Pinto da Costa, vender nunca foi opção e só aceitou a saída perante o pedido e as lágrimas do jogador.

Desengane-se quem pense que está aqui uma crítica. Pelo contrário, e basta voltar à primeira citação: estamos a falar de póquer. Bluff, estratégia, estar um passo à frente dos demais. Fernando Gomes deixou isso claro e, sendo ele o homem de confiança do presidente para as finanças da SAD há quase 10 anos, começamos finalmente a perceber melhor toda a estratégia do administrador. Lembrem-se: é póquer.

Quando Fernando Gomes assumiu a pasta das finanças, e não sendo justo avaliá-lo pelos resultados da época 2013/14 (substituiu Angelino Ferreira em fevereiro), ao fim de uma época o cenário era este: passivo de 276 milhões, ativo de 359 milhões e capitais próprios bastante positivos: 83 milhões. Tal se deveu à operação EuroAntas, que significou uma injeção de 110 milhões nos capitais próprios da SAD. «Hoje temos uma empresa sólida que é respeitada nos mercados internacionais», celebrou Fernando Gomes.

Pouco depois, contrato com a Altice. Entre os milhões que se perderam entre o pinhal e a árvore genealógica, foi um contrato que teve tudo para melhorar as finanças da SAD, com um bolo de 457 milhões que tinha tudo para aumentar a capacidade de investimento, reduzir a necessidade de vendas e reduzir a dependência de crédito. «A partir de agora podemos vir a deixar de ter de tomar decisões sob pressão. Permite gerir o clube de outra forma, mais objetiva económica e financeiramente e sem estar tão dependente dos ganhos ocasionais em janeiro e no final da época», dizia Fernando Gomes, numa entrevista publicada no DN no início de 2016. «De resto, a ideia é que este dinheiro não vá para reforços, porque para isso o FC Porto gera recursos suficientes. Iremos baixar custos, pagar dívida e ter uma gestão mais sã.» 

As cartas na mesa e o par nas mãos (leia-se, EuroAntas + Altice) de Fernando Gomes e da SAD abriam excelentes perspetivas para o turn e para o river. Mas tudo veio rapidamente a revelar-se um flop. Ainda nem o ano tinha acabado e veio daí o plano traçado por Fernando Gomes para apertar o cinto. Três anos era o prazo. A SAD não só falhou em toda a linha como rapidamente voltou as capitais próprios negativos: 35 milhões em 2019. Ou seja, a metade do Estádio sacrificada não resolveu problema nenhum: apenas o adiou.

Volvidos mais 4 anos (com pandemia pelo meio, certo, e aperto pelas punições e restrições há muito anunciadas pelo incumprimento do fair-play financeiro), o cenário é aquele que já todos conhecem. Desde que Fernando Gomes foi escolhido para assumir o pelouro das finanças, o passivo do FC Porto essencialmente duplicou: 532 milhões de euros. O ativo mantém-se agora praticamente inalterado, com 357 milhões de euros. Já os capitais próprios são abismais, ultrapassando os 175 milhões de euros. 

Só Pinto da Costa saberá como é possível manter um administrador com tão paupérrimo desempenho no cargo. Os números são claros. Imaginem que um treinador chega ao FC Porto, herda uma equipa campeã e passa ano após ano a ter os piores resultados desportivos da história do clube. Ora, é isso que tem sido feito no pelouro das finanças. Sendo que não é possível ignorar que tudo obedece, ou deve obedecer, a uma hierarquia. Fernando Gomes nunca teve ou terá a palavra na hora de vender ou comprar jogadores. Não pode, sozinho, fazer nada. 

Um presidente só é tão bom quanto os nomes que o rodeiam; o mesmo será dizer, quanto os nomes que escolhe para que o rodeiem. Mas voltamos ao início: estamos a falar de um mestre do póquer. E é nesse sentido que nasceu máxima expetativa em perceber o negócio antecipado por Pinto da Costa na entrevista à SIC e sobre o qual Fernando Gomes concedeu até duas entrevistas. O negócio que vai limpar os 175 milhões de capitais próprios negativos do FC Porto. Não se sabia, ou não se poderia saber, muito do negócio em causa, pois há contratos de confidencialidade (?) a respeitar, mas tanto Pinto da Costa como Fernando Gomes deixaram o universo portista de água na boca.

Foram-se as 12 badaladas, as uvas passas e os adeptos do FC Porto ficaram como estavam antes: na expetativa. Nada foi comunicado. É um facto: o Relatório e Contas do primeiro semestre da SAD só é revelado no final de fevereiro. Só aí haverá a atualização do passivo, do ativo e, consequentemente, dos capitais próprios da SAD. Mas uma operação que visava, de forma histórica e surpreendente, limpar o maior buraco da história das Sociedades Anónimas Desportivas em Portugal é algo que se enquadra na definição pura de «informação relevante» para o mercado, logo que teria que ser comunicada. Tanto é que a CMVM pediu esclarecimentos e o FC Porto remeteu-os para o final de dezembro, da mesma forma que Fernando Gomes prometeu, em outubro, que os sócios seriam informados até ao final do ano da misteriosa e impactante operação de recuperação financeira. 

Com 2024 em curso e sem mais detalhes sobre as cartas que Pinto da Costa terá na mão, resta esperar. Mas há uma certeza que pode tranquilizar os sócios: no final de fevereiro, faça chuva ou faça sol, o FC Porto terá que apresentar as contas do primeiro semestre. Com Otávio, com Champions, com Varela, com Iván Jaime, com tudo aquilo que fecha o último semestre e que foi prometido pela atual administração antes de se submeter a sufrágio. Podemos estar perante os maiores mestres do póquer, mas ninguém vai ter que ir às urnas enganado por um bluff, porque as cartas estarão na mesa. 

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

O orçamento da época 2017-18

A SAD já deu a conhecer a proposta de orçamento que será submetida a aprovação na Assembleia Geral de 27 de novembro. Depois de meses em que as (poucas) intervenções dos dirigentes da SAD apontavam para um caminho de contenção de custos, redução da despesa e de dar passos rumo à auto-sustentabilidade, este orçamento era, é, a oportunidade de conferir se há realmente planos para isso ou se eram meras palavras. E como é hábito, resta deixar os números falarem por si - e também deixarem claro que, se queremos razões para festejar esta época, só podemos mesmo contar com Sérgio Conceição e os jogadores.


Há um ano, a SAD apontava para custos operacionais (sem despesas com passes de jogadores) de 116,5 milhões de euros - o valor final acabou por atingir os 121,8 milhões. Desta vez, a SAD prevê gastar mais do que o que havia sido orçamentado há um ano: 118,5 milhões de euros

Isto indica desde logo uma coisa: a folha salarial praticamente não baixa, apesar de ter havido um desinvestimento no plantel para esta época. A SAD prevê custos com pessoal de 69,4 milhões de euros esta época. Aliás, há uma pequena redução face ao orçamento da época passada, mas não chega aos 100 mil euros. Já em relação aos resultados finais da temporada passada, que atingiram os 73,26 milhões de euros, a redução aproxima-se dos quatro milhões de euros.

Portanto, a partir deste orçamento, concluímos que a SAD propõe uma redução dos custos com pessoal de 74 mil euros em relação ao orçamento de 2016/17 e de 3,822 milhões de euros face ao Relatório e Contas final da temporada passada. Isto leva-nos desde logo a questionar de onde saíram estas previsões particularmente animadoras. 


Além deste relato do jornal O Jogo, o site oficial do FC Porto cita Fernando Gomes: «Libertámos 26 jogadores que tinham contrato, o que nos permite já em 2017/18 uma diminuição dos custos com o plantel de 20,8 milhões de euros». De custos com plantel para salários, de 3,822 milhões de euros para 20,8 milhões, há aqui um triângulo das Bermudas qualquer, entre semântica e matemática, que faz as coisas não baterem certo. Onde está a poupança com 26 jogadores? Oportunidade para se explicar dia 27. A não ser que estejam à espera do mercado de inverno para emagrecer a folha salarial, quiçá com ativos bem remunerados que não estão a ser opção inicial para Sérgio Conceição. Especulação, nada mais. 

Os proveitos operacionais previstos também aparecem dentro da mesma linha. Na época passada, a previsão era de 98,4 milhões de euros, e ficou meio milhão acima da metade traçada. Agora, a SAD aponta para 98,8 milhões de euros. A maior fatia volta a ser esperada na UEFA, em que a SAD conta com a qualificação para os 1/8 de final da Liga dos Campeões. Mesmo havendo restrições nas opções de Sérgio Conceição e que não lhe tenham dado um único reforço para a Champions. 

Tudo isto resulta num prejuízo operacional de 19,737 milhões de euros, resultado que acaba por ser superior às previsões da época passada (18,1M€).

O resultado final esperado é então de um prejuízo de 17,277 milhões de euros (o prejuízo de 2016-17 transitará para este exercício), após serem considerados/esperados proveitos de 55 milhões de euros com transações de jogadores na próxima época. Posto isto, torna-se difícil de encontrar algo nesta proposta de orçamento que aponte para uma mudança de rumo, de redução de custos ou de aproximação da auto-sustentabilidade. Mas calma: Fernando Gomes por certo explicará, dia 27, que este é apenas o «ano zero» e que a verdadeira recuperação começará já em 2018-19. 

Coisa que nos leva a imaginar qual seria a disposição dos adeptos se um treinador do FC Porto que, estando há três anos e meio no cargo e que tenha estado envolvido nos piores resultados da história do clube, se desse ao luxo de prometer «calma que isto vai melhorar, estamos no caminho certo e a partir do próximo ano vamos começar a jogar futebol a sério». Tem tudo para correr bem. 

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O orçamento do FC Porto 2016/17

O teor do último post terá sido mal interpretado por alguns leitores. O Tribunal do Dragão não pretende mudar o seu registo na bluegosfera: o exemplo do post de ontem, no caso com André Silva como figura, é apenas um exemplo de possível complementaridade aos conteúdos do blogue. Se há uma coisa em que este espaço aposta desde o início é numa diversidade de conteúdos (sempre tendo o futebol como denominador comum), e o exemplo de ontem era apenas mais um passo nesse sentido.

Disto isto, vamos ao orçamento para 2016-17. Os números podem ser comparados ora com base naquilo que era o orçamento há um ano, ora com base nos resultados do final da época 2015-16. Vamos tomar os dois últimos orçamentos como referência - comparar plano com plano, em vez de comparar resultado com plano, embora as duas coisas possam perfeitamente ser feitas.

Orçamento proposto para 2016-17
Há um ano, a SAD apontava para proveitos operacionais de 85,44M€. Agora, apontam para 98,415M€. É uma previsão animadora, pois a SAD consegue orçamentar receitas fixas quase nos 100M€. É claro que entre a previsão e a execução há um passo a dar (em 2015-16, a SAD ficou cerca de 10M€ abaixo da meta), mas o caminho para a sustentabilidade começa aqui: aumentar as receitas operacionais para reduzir a necessidade de venda de jogadores.

É claro que há uma receita que não é fixa: a Liga dos Campeões. Por norma, temos 3 equipas a jogar para 2 vagas. A presença na Liga dos Campeões não pode ser dada como uma meta garantida ano após ano. As receitas na UEFA não deveriam ser encaradas como essenciais para a sustentabilidade, mas sim como o extra que permita dar algum conforto à gestão da SAD.

No entanto, aparentemente bastará garantir os 1/8 desta edição da Liga dos Campeões. A SAD orça 30M€ de receitas na UEFA. Estão já garantidos 12M€ (+2M€ pelo playoff), 2M€ na fase de grupos (no cenário mais otimista, podem ser conseguidos mais 4,5M€ com três vitórias), e o apuramento para os 1/8 vale 5,5M€. Se a equipa conseguir essa meta, mais as receitas de market-pool, os 30M€ estarão quase conseguidos, o que reduz a pressão (não desportiva, mas financeira) de ter que assegurar o apuramento para a Champions 2017-18 (os 12M€ do apuramento não são incluídos neste orçamento, portanto). 

A SAD propõe-se a ultrapassar pela primeira vez os 15M€ em receitas de publicidade e as receitas de TV sobem 5M€ na previsão (não esquecendo que as receitas da PT/Altice já começaram a ser usadas na gestão de 2015-16). O aumento destas duas rúbricas é fundamental.

Quanto aos custos, não há redução por parte da SAD. Pelo contrário, a SAD prevê gastar mais em salários do que previa há um ano, com os custos salariais a terem uma estimativa de 69,5M€. Mas o pior está novamente nos Fornecimentos e Serviços Externos: uma subida de 5,6M€, para uns incomportáveis 38,5M€. Isto resulta em custos de 116,5M€

São portanto os custos operacionais mais altos da história da SAD, superando os que estavam previstos em 2014-15 (114,2M€). É também o terceiro orçamento suicida apresentado consecutivamente. No primeiro ano, a boa Champions, a valorização em massa do plantel e as vendas de jogadores como Jackson, Danilo e Mangala permitiram à SAD cumprir um orçamento de elevado risco. No segundo ano, o desastre anunciava-se e terminou com o maior prejuízo da história do futebol português. Agora, a SAD não só volta a arriscar como eleva ainda mais o risco. 

Ainda assim, como dado positivo nota-se a previsão de uma redução do défice operacional: de 22,3M€ para 18,1M€. Em 2014-15 o défice era de 25M€, por isso tem havido uma ligeira descida. Mas ainda insuficiente, sobretudo tendo em conta a extrema necessidade que continua a existir da venda de jogadores.

Vamos então ao problema... semântico. No orçamento de 2015-16, a SAD informou apenas de que precisava de um resultado com transações de passes de 72,59M€. Este ano expôs a informação de maneira diferente: necessita de proveitos de 115,781M€ e terá custos de 47,201M€. No final, aponta-se para um resultado operacional novamente na casa dos 18M€, para fazer face a juros que estão na casa dos 16M€ anuais.

Orçamento aprovado para a última época
A imprensa anunciou em massa a necessidade de fazer proveitos de 115,781M€ com jogadores. Nasceu logo a questão: são proveitos? São mais-valias? São vendas brutas? A verdade é que a SAD apresentou um cruzamento entre proveitos e custos, enquanto há um ano especificou apenas o resultado. Ou seja, podemos estar a falar de uma necessidade de um resultado com transações de passes de 68,58M€, uma redução de 5,5% face ao ano anterior. Um decréscimo muito reduzido, sobretudo se não der sinais de ser progressivo. 

O resultado com transações de passes de jogadores foi de apenas 7,1M€ na época passada, e na época anterior (na qual o FC Porto bateu o recorde de vendas) tinha sido de 51,12M€. Ou seja, o resultado esperado para esta época tem que ser maior do que o das duas últimas épocas juntas. Mas estamos a falar de resultado de transações, não de mais-valias. No que toca a mais-valias, na última época foram de 40,22M€, e em 2014-15 tinham sido de 86,4M€. Como nos orçamentos propostos pela SAD o termo mais-valias não é utilizado, temos que nos guiar pelo resultado da transação de passes. Por outras palavras, no final da época é bom que Jorge Mendes se prepare, pois é possível que tenha muito trabalhinho... E é bom que os corações dos portistas também estejam preparados, pois a ideia anunciada de manter os melhores jogadores durante mais anos não combina em nada com este orçamento. 

O resultado negativo de 2015-16 transita para este exercício, tal como o resultado de 2013-14 transitou para a época 2014-15. Nada de novo neste assunto. 

Quanto à última proposta da ordem de trabalhos, a entrada Eduardo de Vítor Rodrigues na SAD... Não aparenta ter grande lógica. Saiu Antero Henrique, administrador e número 2 (ou não, esse é o Maxi Pereira) da SAD, e o Conselho de Administração propõe para o seu lugar... um administrador não executivo. Portanto, tecnicamente Antero Henrique não é substituído no cargo de administrador executivo da SAD. Há várias formas de questionar isto, sendo uma delas: se não é necessário ninguém para substituir Antero Henrique nas funções executivas, então o que estava ele a fazer na SAD? Ou então, que polivalência é essa do restante Conselho de Administração que dispensa uma sucessão executiva?

É uma escolha de Pinto da Costa, que disse que não gostava de misturar política com futebol, mas o passado recente na composição do Conselho de Administração diz o contrário. Tirando o presidente, o CA passa a ter 3 administradores executivos e três não executivos. Até 2015 havia apenas, além do presidente, três executivos e um não executivo. Curiosidade para perceber em que medida a adição de dois administradores não executivos ao quadro da SAD vai ter influência.

Certamente que todos estarão na expetativa de ver os conhecimentos que Eduardo de Vítor Rodrigues tem de sociologia (área na qual fez todo o percurso académico) serem aplicados ao FC Porto. Era para isso que Auguste Comte, Montesquieu e Marx se levantavam de manhã: para que chegasse o dia em que a sociologia e o futebol se sentassem à mesa. O futuro dirá se um dia veremos o futuro administrador não executivo entregar um Dragão de Ouro a Marco António Costa. Mas é sem dúvida algo que se encaixa na realidade atual: sermos uns porreiros e uns amigalhões de quem um nos quis mal. O FC Porto perdeu o campeonato de 2014-15 por causa das arbitragens; os árbitros receberam ofertas ilícitas por parte do Benfica; mas o FC Porto não tem absolutamente nada a dizer sobre o kit Eusébio, e isso é reafirmado uma, duas, três vezes. O «Make love, not war» afinal não era uma ferramenta de combate à Guerra no Vietname, mas sim uma filosofia para o FC Porto atual. 

O presente orçamento e demais propostas do Conselho de Administração vão a votos a 17 de Novembro, em AG de acionistas, e será com certeza aprovado por larga maioria. Por norma, seriam manifestados desejos de cumprir este orçamento... para nunca mais ter que o repetir. Mas isso seria muito 2014. Ou muito 2015. 

Siga para o campo, pois vem aí um ciclo de jogos de máxima dificuldade e importância, nos quais o FC Porto vai jogar pelo 1º lugar e pelos 1/8 da Champions num curto espaço de tempo. Estar em crise mas ter oportunidade de estar na luta por todos os objetivos da época é uma crise que muitos desejariam ter. Há condições para inverter o rumo. Pelo menos dentro de campo. 

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

«Senão, um dia, pode não haver recuperação fácil»

«É evidente que os recursos que estão afetos ao futebol vão sendo cada vez mais curtos para fazer face às exigências do futebol. Tem de haver sensatez e prudência nesse equilíbrio. Senão, um dia, pode não haver recuperação fácil».

Faz este fim-de-semana dois anos que Fernando Gomes, administrador da SAD do FC Porto, disse estas palavras no Porto Canal. Um apelo à contenção de custos e o reconhecimento de que ia ser necessário apertar o cinto.

Afinal, o FC Porto tinha acabado de apresentar um prejuízo de 40,7M€ em 2013-14. Os custos com pessoal eram de 48,8M€. Os custos operacionais foram de 95,17M€. Os proveitos operacionais atingiram os 72,6M€. O défice operacional de 22,5M€. Os salários cobriam 67% dos proveitos operacionais (a UEFA não recomenda mais de 70%). O passivo era de 233M€. O valor investido no plantel foi de 46,5M€. Os encargos sobre transferências foram de 4,8M€. A dívida total em empréstimos era de 139M€.

Há dois anos, Fernando Gomes tinha feito um reconhecimento geral da necessidade de reduzir os custos, não só aplicável ao FC Porto como à generalidade do futebol português. Dois anos depois, através do R&C de 2015-16, podemos concluir que o FC Porto não só não reduziu os seus custos comparativamente a 2014 como foi capaz de aumentar de forma abrupta todas as alíneas.

O prejuízo de 2015-16 foi de 58,4M€. Os custos com pessoal aumentaram 27M€. Os custos operacionais aumentaram 30M€, para 124,4M€. Os proveitos operacionais tiveram um ligeiro aumento para 75,8M€. O défice operacional dobrou para os 48,6M€. A totalidade das receitas operacionais não chega para cobrir 100% dos salários. O passivo está à porta dos 350M€. O investimento total no plantel foi de 78,4M€, dos quais 15,16M€ em encargos. A dívida total de empréstimos chegou aos 178,35M€ (dos quais 10M€ após a operação Euroantas). Uma realidade um bocadinho ao lado daquela a que Fernando Gomes apelava em 2014. 

Já no início do ano, Fernando Gomes falava do acordo do FC Porto com a PT/Altice. «É um grande acordo que permite sobretudo que o FC Porto, enquanto empresa, possa ser gerido de forma menos contingente. Até agora, os encargos operacionais eram sempre superiores aos proveitos operacionais, sem contar com as mais-valias das transações de passes de jogadores. A partir de agora podemos vir a deixar de ter de tomar decisões sob pressão. Permite gerir o clube de outra forma, mais objetiva económica e financeiramente e sem estar tão dependente dos ganhos ocasionais em janeiro e no final da época. É essa a grande vantagem». Ainda não chegámos a 2018, mas o contrato com a PT/Altice já parece uma espécie de oásis no deserto, insuficiente para matar a sede.

E ainda na entrevista ao Porto Canal, Fernando Gomes afirmou: «Este ano, fizemos um aumento de capital que superou o capital social negativo e resolveu os nossos problemas do fair-play financeiro. Não é preciso um grande resultado para, no próximo ano, cumprirmos o fair-play financeiro».

Chegamos a 2016 e o FC Porto falhou o fair-play financeiro. Não podia apresentar um prejuízo de mais de 8,6M€, apresentou de 58,4M€. Em 2014, a SAD apostou na absorção do Estádio para resolver o problema dos capitais próprios. Dois anos depois, revelou-se incapaz de gerar as receitas necessárias para cumprir com o fair-play financeiro.

O fair-play financeiro não era só para cumprir num ano, mas sim ano após ano. Enquanto aguardamos que a UEFA fale sobre o que poderá acontecer ao FC Porto, é bom lembrar que a época 2016-17 vai ser ainda mais difícil do que a época anterior no que toca ao FPF.

Em 2014-15, 19,3 milhões de euros de lucro. Em 2015-16, 58,4 milhões de prejuízo. Logo, à partida para esta época, a SAD já vai ter que apresentar 9,1 milhões de euros de lucro para não violar as regras para o triénio que acaba em 2017. Isto apenas para cumprir o fair-play financeiro, não para tapar todos os buracões da época passada. Resta aguardar para conhecer em que medida as deliberações da UEFA podem ditar novas regras/limites financeiros para o FC Porto cumprir no curto prazo.

Por fim, apetece perguntar: por onde andaram as palavras ditas por Fernando Gomes em 2014 nos últimos dois anos? 

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

34 coisas a reter do Relatório e Contas 2015/16

- No orçamento proposto há um ano, a SAD pretendia fechar o exercício com um lucro de 1,793 milhões de euros. Terminou com um prejuízo de 58,411 milhões de euros, o maior da história do futebol profissional em Portugal. 

- O FC Porto apontava para receitas operacionais de 85,433 milhões de euros. Ficou-se pelos 75,811 milhões de euros, muito por causa das receitas da UEFA (a SAD esperava 27,437M€, mas terminou com apenas 11,603M€). Na generalidade das restantes rubricas, merchandising, bilheteira, direitos televisivos e publicidade, a SAD ficou ligeiramente acima das expetativas e cumpriu com o que estava orçamentado. Nas receitas operacionais, o problema foi por isso a Liga dos Campeões - não é possível continuar a dar por garantido, orçamento após orçamento, que o FC Porto vai estar sempre presente na Champions. 

- Nos custos operacionais, eram esperadas despesas de 107,76 milhões de euros. Os custos acabaram por bater o recorde de 124,325 milhões de euros. A folha salarial ficou quase 7M€ acima do que estava previsto, algo verdadeiramente preocupante e negativo, sobretudo tendo em conta que em janeiro saíram alguns dos mais bem pagos do FC Porto, casos de Tello, Imbula e Osvaldo. Custos com pessoal de 75,79M€ são uma violação do que já era incomportável. A SAD diz que a subida se deve essencialmente às indemnizações de Julen Lopetegui e José Peseiro (dois exemplos em que erros de gestão desportiva têm consequências financeiras - um pelo momento da saída, outro pela chegada). 

- Os Fornecimentos e Serviços Externos voltaram a disparar: a SAD gastou sensivelmente mais 6M€ do que estava previsto, ao chegar aos 38,662M€ de despesa. 

- Toda a receita da atividade corrente da SAD não chega para pagar os salários da época 2015-16. 

- A SAD tinha que apresentar um resultado de 72,591M€ com transações de passes. Após custos, amortizações e perdas por imparidade, a SAD apresentou apenas 7,102M€ (no que toca a mais-valias, contando com Alex Sandro, as mesmas chegaram a 40,22M€). 

- A SAD pretendia fechar o exercício com um prejuízo de 22,323 milhões nos resultados operacionais sem vendas de jogadores. O prejuízo foi mais do dobro do que estava orçamentado, 48,614M€

- Nos últimos três exercícios, o FC Porto acumulou um resultado negativo de quase 80M€ - pior que em todos os anos anteriores de atividade da SAD juntos. 

- O ativo subiu para 375M€, uma subida de 15,81M€, algo que se deve unicamente ao valor do plantel, que subiu quase 25M€ na rubrica de ativos tangíveis. 

- Em contraste, o passivo sofreu uma subida abrupta, de 73M€, atingindo agora quase os 350M€. O passivo corrente aumentou cerca de 25% no prazo de um ano, estando agora nos 202 milhões de euros. 

- A SAD explica o prejuízo com uma «decisão estratégica de não transferência de alguns ativos da sociedade, com finalidade de competir ao mais alto nível em 2016-17». Buster Keaton, Charlie Chaplin e Harold Lloyd dão por eles a pensar que deixaram muito por fazer no mundo da comédia. 

- A SAD informa, pela primeira vez, que Helton rescindiu o contrato que tinha com o FC Porto. Assim sendo, já não é um profissional assalariado pelo clube e já não tem qualquer ligação a este emblema.

- O capital próprio mantém-se positivo, mas desceu 57,25 milhões de euros no espaço de um ano, um espelho do prejuízo apresentado. Os efeitos da operação Euroantas, cuja cedência do clube para a SAD também fazia parte de uma «visão estratégica e ponderada», estão cada vez mais reduzidos. 

- Face à subida do passivo, e tendo em conta que um dos empréstimos obrigacionistas conhecerá o prazo para reembolso neste exercício, a SAD diz que «o Conselho de Administração está a estudar a realização de uma operação financeira para reestruturação deste passivo, de forma a assentar uma parte significativa da sua dívida no longo prazo».

- Pela primeira vez, a SAD decidiu pronunciar-se sobre o falhanço do fair-play financeiro. A SAD não podia apresentar mais de 8,6 milhões de euros de prejuízo, o que significa que falhou o FPF por cerca de 50 milhões de euros. Resta agora aguardar que a UEFA se pronuncie sobre as punições a aplicar ao FC Porto - e que o Conselho de Administração responda depois por elas e que assuma as responsabilidades pelas mesmas. Aqui a culpa - se preferirem, a responsabilidade - não é dos blogues, não é da imprensa, não é dos adeptos, não é do árbitro, não é do Marega, não é do Lopetegui e não é do Trump: é do Conselho de Administração da SAD. Democraticamente reeleito por 79% dos associados votantes, diga-se. 

- Maicon saiu para o São Paulo por 12M€, gerou uma mais-valia de 9M€ e o FC Porto indica que comprou 50% de Inácio por 3M€. Mas o FC Porto pagou no total 6M€ ao São Paulo. Se Inácio custou 3M€ por metade do passe, a que se devem os restantes 3M€ pagos ao São Paulo?

- O FC Porto pagou 15,162 milhões de euros com encargos com transferências na última época. O FC Porto detalha as compras de 11 futebolistas (há 5M€ pagos por jogadores que não são discriminados) e pagou comissões a um total de 25 entidades diferentes. 

- A SAD tem 60% do passe de Víctor García, pois já tinha adquirido 10% no último trimestre de 2014/15, além dos 50% que comprou depois à Northfields. 

- A SAD tem a receber 50,69M€ de outros clubes no prazo de um ano. Entre os novos devedores, entram o Stoke (13,37M€), o Portimonense (615 mil), o Atlético Paranaense (500 mil) e a Real Sociedad (300 mil). Nota para a Doyen, cuja dívida em relação ao FC Porto aumentou no último ano, para os 2,877 milhões de euros. 

- A SAD já começou a antecipar as receitas do novo contrato com a PT/Altice (que só entra em vigor em 2018), ao utilizar 10M€ como garantia para um empréstimo junto do Montepio.

- A SAD antecipou 13,37M€ da receita de Imbula, ao recorrer ao Macquarie Bank, banco australiano.

- A SAD está mesmo apostada na antecipação de receitas - tentar tapar os buracos do presente comprometendo o futuro. Outro exemplo foi o contrato com a Unicer: foi renovado em abril e, no mesmo mês, a SAD usou-o como garantia para um empréstimo de 4,2M€ junto do BIC. 

- No R&C Individual, a SAD dá conta de adiantamentos de 4M€ em 2014-15 e de 27M€ em 2015-16 nas receitas televisivas. No R&C Consolidado, os adiantamentos apontam para 36,9M€ em 2015-16 e 9M€ em receitas do patrocinador principal.

- Fernando Gomes disse, no início de janeiro, que o contrato com a Altice ia permitir «gerir o FC Porto de outra forma». É esta a forma de que falava?

- O FC Porto deve 37,743M€ no prazo de um ano a outros clubes.

- Em dezembro, o FC Porto tinha uma dívida corrente de 1M€ e uma não corrente de 1,8M€ ao Portimonense, pela contratação de Danilo. Neste momento (a 30 de junho), a dívida não corrente mantém-se (1,8M€), mas a dívida corrente já é de 2,75M€. O que significa que o FC Porto comprou mais jogadores ao Portimonense - ou através do Portimonense -, mas não há detalhes sobre isso. Gleison é um desses casos.

- Nos Fornecimentos e Serviços Externos, destaque para um aumento de 601 mil para 3,5 milhões de euros do FC Porto em despesas com os direitos de imagem dos seus jogadores. Há mais 2M€ de despesas que não são discriminadas. Nota para uma descida na «Publicidade e Propaganda» para sensivelmente metade, agora de 1,06M€.

- Nos custos com pessoal, o plantel mantém-se na casa dos 54M€. As remunerações dos Órgãos Sociais subiram para 1,97M€, apesar dos vencimentos de Pinto da Costa (520 mil euros) e administradores da SAD (287) se manterem inalterados. As rescisões com Lopetegui, Helton, Peseiro e restantes staff saíram caro, pois a rubrica ascende a 4,4 milhões de euros. 

- Em 2015, o FC Porto tinha 329 profissionais no Grupo. Neste momento, são 431, com destaque no aumento dos administrativos (de 133 para 217), dos técnicos desportivos (37 para 54) e dos atletas (77 para 85). No Museu, saíram sete pessoas, estando agora 25 ao serviço do FC Porto. 

- O FC Porto teve proveitos de 2,769M€ com empréstimos de jogadores. Em sentido inverso, teve custos de 3,347 com empréstimos de jogadores. 

- A SAD incluiu uma alínea em que dá conta de operações realizadas com Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente, na envolvência da Energy Soccer em transferências e renovações de contratos. A Energy Soccer faturou 465 mil euros com comissões nas saídas de Rolando e Quaresma, na compra de Fede Varela, na renovação de Leandro Silva e na assinatura do contrato profissional com Rui Pires (menino a seguir com muita atenção). Estão pendentes 108 mil euros. Saúda-se que a SAD apresente estes detalhes das contas, mas deveria ser aplicável a todos os membros do Conselho de Administrações que negoceiam com familiares. 

- A SAD diz que os custos de Alex Telles, Depoitre e Boly implicaram um valor global de 19M€. Tendo em conta que Alex Telles, segundo o Galatasaray, custou 6,5M€, a SAD confirma que investiu 12,5M€ em Depoitre e Boly. 

- Fernando Gomes diz que foram rejeitados 95M€ por André Silva, Danilo e Herrera. Tendo em que conta que Fernando Gomes diz que tal permitiria apresentar resultados positivos, então foram propostas apresentadas até 30 de junho. Assim sendo, André Silva tinha uma cláusula de rescisão de 25M€, por isso houve um total de 70M€ propostos por Danilo e Herrera. Tendo em conta que Danilo tem uma cláusula de 40M€, ou andaram a oferecer propostas acima das cláusulas, ou o FC Porto rejeitou uma proposta de pelo menos 30M€ por Herrera. É a vez de Cervantes, Dumas e Dickens sentirem as suas obras incompletas. 

- O FC Porto justifica-se com esta frase: «Demos um passo atrás, para darmos agora dois ou três em frente». Esperemos é que tenham reparado que já têm o abismo debaixo dos pés.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Era o Tondela, parte II

Quem ainda não estava vacinado para passar vergonhas frente ao Tondela ontem teve a sua terceira injeção. No primeiro Tondela x FC Porto, um lance único de inspiração de Brahimi e um penalty detido por Casillas deram uma vitória muito suada. Na primeira visita do Tondela ao Dragão, uma derrota histórica, apesar das muitas ocasiões de golo criadas nesse jogo (18 remates dentro da grande área adversária). E ontem, o pior jogo que o FC Porto alguma vez fez contra o Tondela. 

Foi-se, aos olhos de muitos, o estado de graça de Nuno Espírito Santo e de uma pré-época que estava a ser preparada desde Abril (e que dá a impressão de necessitar de mais uns meses até se descobrir uma equipa). Muda-se novamente a tática de um jogo para o outro, troca-se meia equipa, tudo isto quando ainda nem sequer há uma base criada, um sistema de jogo que assegure a luta pelo título e sem que o FC Porto ainda tenha feito um único jogo esta época que tenha vencido de forma autoritária e consistente (a vitória contra o V. Guimarães foi elogiada, mas não é em todos os jogos que há um golo de canto, um remate desviado e um auto-golo). 

A seca de títulos está a custar tanto que já há quem ache que 20 minutos de bom futebol contra o V. Guimarães e uma vitória contra 9 em Roma são atestados de crescimento e garantia. Não são. O FC Porto de Nuno Espírito Santo evoluiu  pouquíssimo desde a pré-época e continua a jogar como equipa pequena - à imagem daquilo que foram os trabalhos anteriores de Nuno, por isso não é por aí que podem criticar o treinador. 

Possivelmente, sentir-nos-íamos defraudados se Guardiola chegasse e deixasse de usar o tiki-taka. Ou que Diego Simeone deixasse de ter um grupo de jogadores capazes de comer a relva, digeri-la, cuspi-la na cara do adversário e voltar a engoli-la. Ou que José Mourinho deixasse de ganhar jogos a partir do momento em que abre a boca. 

Agora, estarmos desiludidos por o futebol de Nuno Espírito Santo não estar a convencer ninguém? Isso não. Quem acompanhou o seu Rio Ave e o seu Valência não pode estar. Nuno Espírito Santo não era a primeira escolha de quase nenhum adepto do FC Porto para este cargo. Foi o escolhido de Pinto da Costa e, como portistas dedicados que são, muitos apressaram-se a tentar descobrir mil e uma qualidades no treinador, a pensar que um copinho de água suprime a sede de uma multidão. No final, Nuno está sujeito ao mesmo que Paulo Fonseca, Lopetegui ou Peseiro: três maus resultados e está o funeral feito. Com a diferença que consegue, até ao momento, apresentar pior futebol do que os seus antecessores.

Responsabilidades? Poucas ou nenhumas. Não é pessimismo, nem ideias pré-concebidas inflexíveis, é analisar com os olhos e a cabeça em que vez de analisar com o coração. Com o futebol idealizado por Nuno Espírito Santo, em condições normais, o FC Porto não será campeão. Essa história de ser o treinador «da mística, da casa, com garra, que conhece o clube» é uma baboseira se, antes de tudo, não houver competência tática. 

Nuno tem a sua estratégia, está a tentar segui-la, mas se não mudar o FC Porto não vai cumprir os seus objetivos - não estamos a falar em ser campeão, pois a época não foi preparada para terminar com um FC Porto campeão, mas pelo menos estar na luta e dar a ideia clara de que o FC Porto tentou ganhar todos os jogos e lutou até ao último segundo por isso. 

Estamos na 5ª jornada e o FC Porto depende de si próprio. Por isso, a assumi-lo é agora. Nuno Espírito Santo tem que mudar. Lá isso tem. Se quiser ter hipóteses na luta pelo título, tem que ser o treinador que nunca foi. Por outras palavras, contratámos um treinador com uma ideia de jogo que não levará o FC Porto a cumprir os seus objetivos. Faz sentido? Claro que não. Mas a escolha foi feita e agora há que lidar com ela. É preciso mudar e assumir o desejo de jogar como equipa grande, dominadora, objetiva. Pode ser útil alternar entre esquemas táticos, mas para isso é preciso que funcionem. 

Não será a Nuno Espírito Santo que serão cobradas responsabilidades se o FC Porto não cumprir os seus objetivos, pois quem queria determinadamente chegar ao título, numa época de sim ou sopas, não teria contratado Nuno no último defeso. Agora que já cá está, deve pelo menos aos adeptos a tentativa de mudar e tentar crescer. Não essa história de achar que uma equipa que só aos 83 minutos remata pela primeira vez à baliza do Tondela fez o suficiente para ganhar o jogo. Não fez.




Positivo (+) - Casillas fez o máximo que se pode pedir a um guarda-redes: não sofrer golos. Um par de boas intervenções seguraram o 0-0. Alex Telles teve boa disponibilidade ofensiva, bem melhor do que no jogo anterior, e Rúben Neves esteve impecável no passe longo, além de ter sido o jogador que mais bolas recuperou. Brahimi, ao seu estilo e no primeiro jogo a titular esta época, estava a ser o único a desequilibrar e a arrastar a equipa do Tondela quando Nuno o decidiu substituir - será que podemos condenar o individualismo de um jogador se coletivamente a equipa falha? Por outro lado, jogando Brahimi à direita, não é uma posição a que esteja habituado no FC Porto e que favoreça as suas diagonais. Otávio voltou a ser o melhor, particularmente na primeira parte. Óliver acrescentou algo na segunda parte, em particular nos passes para André Silva. Ainda assim, pouco.




Avançados sem preparação (-) - Minuto 42, um exemplo da falta de sintonia absoluta num esquema de dois avançados: Depoitre e André Silva vão os dois pressionar o guarda-redes, ao invés de ir um e outro ficar na cobertura à linha de passe para o defesa mais próximo. Não sabemos quanto tempo esperou Nuno por Depoitre, mas algo está claro: o FC Porto não está minimamente rotinado ou preparado para jogar com dois avançados.

A necessidade de um avançado complementar a André Silva e Depoitre já era clara. Jogando em 4x4x2, ainda mais (que bem encaixaria Bueno neste esquema...). Começando por Depoitre. É tão questionável os adeptos que julgam a contratação sem conhecer o jogador (ainda que a maioria das críticas não se prendam com o jogador, mas sim com o custo) como aqueles que acham que a exibição contra o V. Guimarães já era um atestado de qualidade garantida e de valia de 6M€. Não vale a pena tentar descobrir caraterísticas que não existem. A valia de Depoitre assenta em dois pontos: presença na grande área e capacidade de segurar a bola. Ontem, neste segundo aspeto, Depoitre esteve muito mal. Lento, sem capacidade de movimentação e desmarcação, só apareceu uma vez para um cabeceamento. Depoitre implica uma forma de jogar que o FC Porto dificilmente seguirá - estão mesmo a imaginar o FC Porto a canalizar o seu jogo para Depoitre como em tempos fez para Jardel? Certamente que não. Depoitre tem deficiências técnicas próprias para quem só chegou a profissional aos 24 anos. Pode ajudar a desbloquear alguns jogos pela sua presença na grande área, mas se lá enfiarem qualquer avançado do FC Porto isso também pode acontecer. Certo é que o peso da sua contratação já foi sacudido para as costas de Nuno Espírito Santo - Pinto da Costa disse que não conhecia Campaña, mas esse chegou por empréstimo e não custou mais de 6M€, e chegou para ser alternativa, não para reforçar um setor carenciado. 

Quanto a André Silva, sente-se o peso de ter que depender do avançado para impor velocidade no ataque do FC Porto e dar amplitude à equipa. André Silva está a ser vítima da inconsistência tática de Nuno Espírito Santo, que lhe pede para estar em todo o lado. André Silva tem que cair para os flancos, vir atrás, aparecer na grande área, pressionar, tudo isto enquanto Depoitre tinha dificuldades em se arrastar. Não é fácil.

Por outro lado, tem sido sofrível ver André Silva tentar o 1x1. Raramente acerta uma finta. Isto advém do problema de colocar André Silva mais longe da grande área (e com isso forçá-lo a receber e progredir no terreno, em vez de receber e procurar logo o remate, como típico ponta-de-lança). Mas a verdade é que André Silva não está a conseguir ultrapassar os defesas. Vai invariavelmente contra o opositor e perde a bola. Falhou duas ocasiões de golo, algo obviamente também revisto pela negativa. 

Nuno Espírito Santo tem que decidir o que fazer com André Silva. Neste momento, estamos a pedir muito ao jogador. André Silva não pode ser o salvador da pátria. E parece que enraizou esse pensamento, na forma como tenta sempre puxar o 1x1 numa equipa sem ideias. André Silva tinha capacidade para ser o 9 do FC Porto esta época? Tinha, tem. Mas podemos esperar que resolva todos os jogos? Certamente que não. José Mourinho teve Postiga ou Derlei, McCarthy ou Jankausas. Quando falhava um, acertava o outro. Quando falha André Silva - que está a falhar -, quem sobra a este FC Porto? Vai-te preparando, Rui Pedro - ou então Areias, cuja cláusula de opção de compra torna o preço de Depoitre absolutamente compreensível. Enfim.

Falta de criatividade (-) - Jogar com dois avançados pode ser uma solução, se a equipa souber como os servir. André Silva teve duas excelentes ocasiões, mas foram 80 minutos em que o FC Porto foi uma nulidade absoluta em termos ofensivos, muito por causa da incapacidade de criar desequilíbrios no último terço. O Tondela controlou sempre bem a profundidade e o FC Porto não está a ter o fator match-winner num dos seus extremos para resolver jogos. Brahimi não está habituado a jogar à direita e acusou essa pressão. Brahimi e Otávio procuraram explorar o espaço interior, mas o Tondela fechou-se sempre bem. 

Por outro lado, André André, por mais disponibilidade que possa ter, nunca vai ser aquele jogador capaz de fazer uma época inteira a titular no FC Porto. É útil, uma formiguinha de trabalho, que luta sempre pelo FC Porto, mas com dificuldades em encontrar espaço, em fazer passes de ruptura e em acrescentar uma capacidade de meia distância que o FC Porto não tem. Com Brahimi e Otávio no espaço interior, isto devia dispensar André André de funções mais criativas, mas a estratégia não funcionou. Herrera também não está bem e foi para o banco, Evandro não é opção, Sérgio Oliveira nem devia ter começado a época e João Carlos Teixeira desapareceu inexplicavelmente das opções de Nuno Espírito Santo (podem anotar: se lhe derem uma oportunidade, vão questionar por que é que não a teve mais cedo). No meio de tantos médios, vai ter que ser Óliver e mais 10, caso contrário o FC Porto não vai ter capacidade de ter um médio a desequilibrar em zonas mais adiantadas (tendo em conta que Otávio está a ser opção na ala). 

Muito mais se poderia discutir, como a decisão de desfazer a dupla de centrais, tirando Marcano (que está num bom momento) para colocar Boly (o mais inseguro do quarteto defensivo), mas não foi por aí que o FC Porto deixou dois pontos em Tondela. Jogando em 4x4x2, o único avançado disponível como alternativa estava dispensado na equipa B na pré-época. Isto é um plantel preparado? 

E agora? Agora o FC Porto vai ter que mudar, pois assim não vai ser campeão. Não faz sentido falar em trocas de treinadores, pois os treinadores são para se levar até ao final da época - sobretudo depois do disparate histórico que foi dispensar Lopetegui para ir buscar Peseiro. Nuno vai ter que mudar de estratégia, e a assumi-lo tem que ser agora, ainda à 5ª jornada, em vez de deixarmos que vitórias suadas ou conseguidas em detalhes libertem a ilusão de que os títulos vão inquestionavelmente regressar este ano. Assim não vão, de certeza. O plantel não é suficiente bom? O plantel tem lacunas, claramente, e não foi construído de forma a não deixar dúvidas que o FC Porto tem condições para chegar ao título. Mas para ganhar ao Tondela, tem que servir. E já lá vão 242 minutos, mais descontos, em que não fazemos um golo a uma equipa cujo orçamento não pagava um ano de salários do nosso atleta mais bem pago. Isto também deveria não só motivar críticas aos treinadores, mas envergonhar quem está em campo e quem está sentado, a assistir bem no alto, e só parece ter interesse em falar depois de vitórias. 

E sim, o FC Porto voltou a ser prejudicado pela arbitragem. Com exibições destas, é normal que os portistas não aceitem que se encontre desculpas na arbitragem. Mas não são desculpas, são factos e circunstâncias do jogo: o FC Porto voltou a ser prejudicado. Mas se os seus dirigentes não se revoltam, vão ser o adeptos a fazê-lo? Ah, agora fazemos álbuns no Facebook. Mas se Pinto da Costa diz que não liga a blogues e a redes sociais, podemos assumir que na SAD não se estão a preocupar minimamente com as sucessivas arbitragens que estão a prejudicar o FC Porto? 

A 8 de Abril, depois de perder com o Tondela, Pinto da Costa anunciou que o FC Porto bateu no fundo. Agora é caso para perguntar: quando é que decidem parar de escavar ainda mais?


Pergunta(s): O que falta a este FC Porto?

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Duas saídas da administração da SAD? (Atualização)

(Post atualizado no final, com informação de última hora do FC Porto).

Luís Gonçalves é o substituto de Antero Henrique. Mas é o substituto de exatamente o quê?

É de recordar que a 10 de fevereiro, na composição do Conselho de Administração para o quadriénio 2016-2020, era esta a equipa que foi comunicada à CMVM e que seria proposta em Assembleia-Geral: Pinto da Costa, Adelino Caldeira, Reinaldo Teles e Fernando Gomes (além do não-executivo Rui Vieira de Sá).

Vinte dias depois, sem que nada o fizesse antever, Antero Henrique surge nomeado como administrador da SAD. A 7 de abril, Pinto da Costa explicou quais seriam as funções de Antero Henrique: «O futebol de formação será da sua responsabilidade».

Mais detalhadamente, o presidente anunciou uma remodelação na estrutura do FC Porto. «Dividi o clube em seis setores: o financeiro, do qual será responsável o dr. Fernando Gomes; o jurídico, que estará a cargo do dr. Adelino Caldeira; o futebol de formação será da responsabilidade do sr. Antero Henrique; o Património será da competência do eng.º Eduardo Valente; as casas, filais e delegações serão da competência do sr. Alípio Jorge. E introduzi um novo setor, que é o do planeamento dos novos projetos e do qual será responsável o professor Emídio Gomes, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte».

Assim sendo: Fernando Gomes, departamento financeiro; Adelino Caldeira, departamento jurídico; Antero Henrique, futebol de formação. E futebol principal? Só sobraria o administrador da SAD Reinaldo Teles e o próprio Pinto da Costa. No entanto, aquilo que o FC Porto anuncia hoje é que Luís Gonçalves substituiu Antero Henrique nas funções de «diretor-geral».

Antero Henrique era diretor para o futebol de formação, diretor-geral ou partilhava funções com Reinaldo Teles? Isso mesmo foi admitido pelo presidente a 19 de abril. «Se (Antero Henrique) propuser algo que entendermos que não está bem, não se faz. Dá-lhe até mais coesão perante o grupo que ele dirige, no futebol, visto que ele e o Reinaldo Teles é que têm os contactos.» Se Antero Henrique e Reinaldo Teles tinham os contactos, é a eles que devem atribuídas responsabilidades pelas ocorrências da pré-época? São estas coisas que Pinto da Costa deveria esclarecer.

Além disso, a 26 de maio, quando o FC Porto emitiu um comunicado a negar qualquer influência de Alexandre Pinto da Costa na SAD e a assegurar a união total do Conselho de Administração, Antero Henrique e Reinaldo Teles assinaram o documento na qualidade de administradores. Tal como aquando do envio do R&C do 3º trimestre à CMVM. 

Mas hoje, 2 de setembro, se formos ao site oficial do FC Porto...


Vemos que Antero Henrique e Reinaldo Teles não figuram no Conselho de Administração, enquanto Luís Gonçalves, o substituto de Antero Henrique, também não. Então, não entrando Luís Gonçalves no mapa de administradores da SAD, quem fica a desempenhar as funções que desempenhava Antero Henrique? Ninguém? Então o que estava Antero Henrique a desempenhar de tão extraordinário para não ter, no imediato, um substituto?

E se Antero Henrique e Reinaldo Teles tinham «os contactos», por que é que Reinaldo Teles já não está na lista do Conselho de Administração? E agora, como fica o futebol de formação? Sendo Luís Gonçalves um assumido homem de scouting, e não de contactos e empresários, a quem serão doravante imputadas responsabilidades pela abordagem do FC Porto no mercado de transferências? E se já havia notícias que apontavam Antero Henrique à saída em maio (um mês depois das eleições!), como é que se inicia uma época assim? E que garantias de união e coesão a SAD do FC Porto pode dar se, logo no arranque da primeira época do novo mandato, já cai um dos administradores? Ou caíram já dois, visto que Reinaldo Teles não está na lista? O que acontece ao projeto que foi apresentado em Abril e que visava reerguer o FC Porto? 

Há mil e uma questões que podíamos colocar. Mas não é tempo de os portistas colocarem questões. É sim tempo de Pinto da Costa dar respostas.

Atualização: depois d'O Tribunal do Dragão ter feito este post, o FC Porto acrescentou, no seu site oficial, o nome de Reinaldo Teles ao Conselho de Administração da SAD.

Cronologia

10.02.2016 - A SAD envia à CMVM a proposta de composição do Conselho de Administração para o quadriénio 2016/2020, mantendo-se inalterável. Antero Henrique não está na lista. 

03.03.2016 - Antero Henrique é nomeado administrador da SAD, depois de não ter integrado o quadro inicialmente proposto que foi comunicado oficialmente à CMVM. No espaço de 20 dias, Antero saltou para um cargo que não estava previsto para ele.

07.04.2016 - Pinto da Costa fala dos seus planos para o novo mandato: «O futebol de formação será da responsabilidade do sr. Antero Henrique».

19.04.2016 - Pinto da Costa, após a reeleição da SAD, explica por que Antero Henrique foi oficialmente promovido a administrador. «A entrada do Antero Henrique aconteceu para dar mais coesão à administração, para sentir mais cobertura e apoio de toda a administração. Se propuser algo que entendermos que não está bem, não se faz. Dá-lhe até mais coesão perante o grupo que ele dirige, no futebol, visto que ele e o Reinaldo Teles é que têm os contactos.»

25.05.2016 - Surgem notícias que dão conta de uma (nova) ameaça de Antero Henrique de deixar a administração da SAD, ainda antes da contratação de Nuno Espírito Santo e do ataque à redefinição do plantel da nova época.

25.06.2016 - É publicado no site do FC Porto um comunicado do Conselho de Administração, negando as «alegadas divisões na administração da FC Porto SAD». «Como sempre aconteceu, no seio da administração convivem ideias diferentes, conceções diferentes, caminhos diferentes e da discussão sempre saiu um percurso comum, que todos trilham em defesa dos interesses do FC Porto. É assim desde 1997, quando esta sociedade foi constituída. Desta vez não é diferente e do salutar confronto de ideias sairá uma política que por todos será executada sem quaisquer dúvidas ou constrangimentos.»

18.08.2016 - Novas notícias a apontarem Antero Henrique à saída do FC Porto. 

23.08.2016 - Pinto da Costa, ainda em Roma, reage a essas mesmas notícias. «Eu não reajo a notícias. Uns disseram que sim, outros não. Eu não sei se saio amanhã, nenhum de nós tem a vida nas mãos. É assunto que não é assunto. Foi uma encomenda que foi dada à TVI24. (...) Esse 24 transferências já nos transferiu tantos jogadores que cai no ridículo.»

01.09.2016 - O FC Porto informa que Antero Henrique abandona todas as funções que ocupava no clube e na SAD.

01.09.2016 - Os associados e adeptos do FC Porto aguardam explicações de Pinto da Costa e Antero Henrique sobre o sucedido. E se quiserem continuar a fingir que não há conflitos de longa data na SAD, força. Não tomem é todos os portistas por devoradores de gelados com a testa. Um líder não desmente ou ignora os conflitos. Um líder assume-os, enfrenta-os e resolve-os. E nas palavras de Pinto da Costa, «só os ratos é que fogem». Portanto, que se façam ouvir Antero Henrique e Pinto da Costa. Os motivos para a saída de um e o porquê de um Conselho de Administração (re)eleito em Abril, para um mandato de 4 anos, já estar a ser remodelado. Se os visados não se pronunciarem sobre o sucedido, não esperem que seja um blogue a fazê-lo. 

Ou então continuem a fingir que está tudo bem.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Levantar o moral, parte II

As notícias sobre a valorização das ações das SAD são sempre um fenómeno interessante. Sobretudo porque raramente são notícia, exceção para a imprensa da especialidade, como seria de esperar. São interessantes porque tornam-se notícia com uma pinça particularmente seletiva, daquelas que, conforme demonstrado no exemplo de ontem, podem servir para uma bela injeção de moral.

O último grande exemplo aconteceu aquando da ida de Jorge Jesus para o Sporting, o próximo adversário. Propagou-se por toda a imprensa a informação de que as ações da SAD do Sporting tinham subido quase 10%. Era o efeito Jorge Jesus, escrevia-se. Claro que todos se esqueceram de mencionar que no segundo semestre de 2014-15 as ações estiveram sempre mais elevadas do que no pico de valorização aquando da contratação de Jorge Jesus. Pormenores.





E agora, podemos esperar tratamento igual para o FC Porto? Não há efeito Jorge Jesus, mas há efeito Liga dos Campeões. Se com Jorge Jesus as ações subiram «quase 10%», no seguimento do apuramento para a Champions as ações da SAD do FC Porto subiram 14,47%. 


Há outra grande diferença. Este é o segundo valor mais elevado das ações da SAD nos últimos 365 dias, só ultrapassado pelo dia 7/6/2016 (dia em que saíram muitas notícias a dar conta de uma iminente saída de Brahimi). Logo, se as ações da Sporting SAD são notícia pela contratação de Jorge Jesus, mesmo tendo estado anteriormente. durante 6 meses, sempre mais elevadas, onde está a coerência que torna as ações do FC Porto notícia?

Isto com mais uma grande diferença. As ações do Sporting subiram «quase 10%» quando fez um contrato de 15M€ de salários para um treinador. Já as do FC Porto subiram 14,47% ao arrecadar um prémio de 14M€ pelo acesso à Champions. Outra vez, pormenores.

É um dia feliz para o FC Porto, que confirmou a contratação de Óliver Torres. Tendo em conta que a SAD não explicou os contornos da transferência (como é claro, nunca o FC Porto manteria um jogador emprestado por meia época, logo o empréstimo de ano e meio vai ao encontro do calendário financeiro, não do desportivo), e visto que ainda não está fechado tudo o que há para fechar com o Atlético, o negócio não pode para já ser comentado além da adição desportiva. E essa não poderia ser melhor.

Reforço até 2017 [...]
Óliver Torres é um excelente reforço, que acrescenta qualidade à equipa, ao plantel e a todos os jogadores que estiverem em campo com ele. Chega já numa fase adiantada do início de época, por isso é natural que precise de algum tempo para ganhar ritmo competitivo e entrar na equipa. Óliver é, simultâneamente, um reforço para o meio-campo que também oferece novas soluções para a ala. Mas é preciso mais. Brahimi e Aboubakar (podem considerar Depoitre, mas o FC Porto precisa de um 3º avançado) ainda não têm substitutos, até porque ainda não saíram. Podemos pensar num central, mas para isso é preciso pensar na dupla titular (só faz sentido a chegada de um defesa se for melhor do que Marcano e/ou Felipe, e já idealizando com qual deles vai jogar). E entre todos os jogadores que procuram o seu espaço no plantel, clarifique-se de vez o papel de Bueno, sendo que com a entrada de Óliver um dos médios fica com espaço ainda mais reduzido e possivelmente terá que sair (Sérgio Oliveira seria a opção mais natural). É que num instante já lá vão todas as vagas para inscrever jogadores na Champions - e um jogador que não entra nas contas para a Champions dificilmente terá um papel relevante a nível interno.

Óliver já cá está, os portistas estão contentes, mas domingo é dia de colocar os pézinhos no chão. Não há estádio mais complicado para o FC Porto em Portugal do que Alvalade. O Sporting agiganta-se sempre que defronta o FC Porto. Jogam como se fosse o jogo da vida deles, motivados por uma espécie de «podem ganhar mais campeonatos em 3 anos do que nós em 30, mas este jogo não ganham!». E tem sido assim. O FC Porto não ganha em Alvalade há 11 jogos, 8 anos, e nem quando o Sporting andava a pairar na cova, nos tempos de Godinho Lopes, lá conseguiu vencer. Nem quando tínhamos o melhor plantel pós-Gelsenkirchen, em 2010-11. A história pode sempre ser desafiada, e o FC Porto provou isso em Roma, mas sempre com o reconhecimento de que nada é garantido. Muito menos em Alvalade. O FC Porto não pode ser o clube que vai da euforia à depressão de um jogo para o outro. E vice-versa.

PS: Ironia do destino. Depois d'O Tribunal do Dragão ter escrito que Maxi Pereira estava há 12 anos sempre a jogar ao mais alto nível, sem parar e sem ter uma lesão grave, e que por isso dificilmente iria fazer 40 jogos esta época, De Rossi fez questão de mudar isso. Uma entrada assassina atirou Maxi para o estaleiro durante dois meses. O presidente da Roma diz que o árbitro foi nojento, então seria boa ideia mandar-lhe uma imagem da perna de Maxi e a conta da cirurgia, para ele ver o que é de facto «nojento». Layún ganha com naturalidade o lugar no lado direito (a não ser que Nuno se lembre de recuperar o projeto-Varela da pré-época), e o FC Porto fica sem alternativas diretas para as laterais durante dois meses. É aqui que deveria entrar a utilidade de ter uma equipa B, pois ir ao mercado buscar um lateral para ser alternativa durante 2 meses, tendo uma equipa B campeã da Segunda Liga e uma equipa bicampeã de sub-19, seria não estar a aproveitar as muitas soluções que o FC Porto oferece internamente. Ironicamente, qualquer um dos que estão emprestados (Rafa, Víctor Garcia e Ricardo) dariam as garantias necessárias. As melhoras, Maxi. 

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Era o Tondela

Quando olhamos para a baliza adversária e vemos que está lá um tipo chamado Cláudio Ramos, nada mais seria de esperar do que ver bolas a entrar. Ou então aconteceu o esperado: ficaram as bolas todas à porta. O Tondela ganhou no Dragão. O Tondela, último classificado, ganhou ao FC Porto no Dragão.

O mesmo Dragão onde o FC Porto esteve, entre 2008 e 2014, sem perder um único jogo do campeonato. O mesmo Dragão onde, em 2015, o FC Porto venceu 20 jogos consecutivos em todas as competições. O mesmo estádio onde só uma vez, em toda a história do FC Porto, o último classificado da primeira liga tinha conseguido vencer (Beira-Mar, em 2004-05, época de igual e péssima memória).

Este resultado significa praticamente o adeus ao segundo lugar e ao acesso direto à Liga dos Campeões, o que trará graves consequências financeiras (para efeitos contabilísticos, a necessidade de arranjar mais 10M€ até 30 de junho) e quiçá desportivas (o FC Porto terá que lutar pela entrada na Champions a frio, em agosto, o que nunca é fácil, sobretudo para um novo treinador).

A menos de duas semanas da eleição, o silêncio é absoluto entre a administração da SAD. E não conhecemos nada do programa para o 14º mandato, além da promessa de construção de um centro de formação. Não sabemos que culpas ou responsabilidades reconhece o FC Porto (além dos comentadores, esses já todos sabem que são culpados), que soluções apresenta para os problemas dos últimos três anos, que pretende fazer para merecer a confiança dos associados para os próximos 4 anos.

Mesmo que a assistência tenha sido baixa (pouco mais de 16 mil adeptos), não há memória de o Dragão ter visto tanta gente virada para a tribuna presidencial, com protestos, insultos, lenços brancos e revolta para a postura de uma equipa que não pode usar a expressão Somos Porto. Não podem, porque não o estão a ser. Se ainda não têm ideias para a época 2016-17, e depois da infeliz tentativa que foi tentar colar a expressão #TudoNossoNadaDeles a esta época, cá vai uma sugestão: #VoltarASerPorto.






Danilo Pereira (+) - A pré-época provoca sempre diferentes expetativas nos adeptos. Uns estavam entusiasmados com o potencial de Imbula, outros com o futebol fantasista de Corona, outros com a irreverência de Osvaldo, e outros rejubilaram com a contratação de Marega, o novo Huk, em janeiro. O Tribunal do Dragão opinou desde o início que a melhor contratação da época era esta: Danilo Pereira. E não há dúvidas. Segurou o meio-campo sozinho, eficácia de passe de 91%, anulou 9 ataques do Tondela e procurou sempre empurrar a equipa para a frente.
Capitão descoberto na crise

E no final do jogo, ao contrário da frase absolutamente lamentável de José Peseiro, que diz que não sabe o que se passou, Danilo Pereira soube dizer exatamente o que se passou, com uma leitura tática e anímica perfeita: «O que falhou foi que nos faltou um pouco mais de ambição. Entrámos bem no jogo, mas depois sentimos dificuldades e não conseguimos pressionar. Estivemos muito longe uns dos outros, fomos uma equipa muito larga e acabámos por abrir demasiados espaços ao adversário (...) É nestes jogos que se ganham ou perdem campeonatos». Danilo Pereira deve e merece ser um dos capitães do FC Porto para 2016-17






Inoperância na grande área (-) - Que têm em comum Sporting e Benfica? Jogam com dois avançados. Jonas e Mitroglou, juntos, têm 46 golos no campeonato, que é 90,5% dos golos marcados por todos os jogadores do FC Porto. No Sporting, os seus avançados têm juntos 40 golos; os atacantes do FC Porto têm 28. 

O 4x3x3 foi durante anos um esquema de enorme sucesso para o FC Porto. Mas foi por exemplo em 4x4x2 que o FC Porto ganhou a Champions, em 2003-04, uma tática que era um plano B. Falta esse plano B ao FC Porto, ter recursos e dinâmicas para ser capaz de jogar com dois pontas-de-lança.

O FC Porto bateu o recorde da liga portuguesa de remates dentro da grande área: 18. E não houve uma única bola que parasse lá dentro. Um dado interessante: todos reconhecem que Jonas desempenha um trabalho importante fora da grande área, mas 93,3% dos golos que marcou no Benfica foram obtidos dentro da grande área. Isso significa que cada vez mais é necessário montar uma tática em que a equipa tenha, na grande área, jogadores capazes de finalizar, em vez de andar sistematicamente a insistir em pontas-de-lança de apoio e circulação. Sobretudo na liga portuguesa.

Aboubakar fez 8 remates na grande área, mas só um foi à baliza. O FC Porto fez 26 cruzamentos, mas não houve grande capacidade no jogo aéreo, nem mesmo nos 15 pontapés de canto de que a equipa dispôs. Ou seja, o FC Porto está a criar, como sempre, as suas oportunidades de golo. Mas não as concretiza, é muito mais perdulário do que os rivais. Importa dizer que não é por termos críticas a fazer à equipa que podemos deixar passar em claro os erros de arbitragem. Um penalty aos cinco minutos poderia ter mudado a história do jogo, certamente. Mas do outro lado estava o Tondela. O Tondela. O Tondela tinha sofrido golos em todos, todos os jogos fora de casa até ao momento. Chega ao Dragão e sai de lá sem sofrer golos. Inadmissível.

Subrendimento geral (-) - Layún começou bem no primeiro quarto de hora, tal como Maxi Pereira, mas na segunda parte foi-se o gás, o discernimento e poucos cruzamentos saíram precisos. Sérgio Oliveira e Herrera não conseguiram ligar os setores e, como disse Danilo, a equipa esteve sempre demasiado afastada. Não havia ligação entre os colegas. Brahimi e Corona tiveram pouca objetividade e dificuldades em desequilibrar a defesa do Tondela. Por outras palavras, escapou Danilo Pereira e pouco mais. Era o Tondela!!!

Sobre José Peseiro, O Tribunal do Dragão já expressou há muito a sua posição, desde o dia em foi apresentado. Quem tem que fazer a devida análise é quem achou que a equipa ia melhorar alguma coisa com a troca de Lopetegui por Peseiro. Objetivamente, a equipa não só não melhorou em nada como piorou em quase tudo (a única valia foram as 4 vitórias a sul, coisa rara nos tempos de Paulo Fonseca e Lopetegui). Poderão dizer que José Peseiro não pode fazer muito mais com o plantel que tem à disposição. Mas nesse caso, então se o problema estava no plantel e não no treinador, para que é que se trocou de treinador em janeiro e ainda foram enfraquecer ainda mais o plantel?  Não havia expetativas nenhumas de que Peseiro ajudasse o FC Porto a lutar pelo título, pois trata-se de um treinador que não fez nada nos últimos 10 anos para justificar esta tamanha oportunidade, mas não pode fugir ao ponto de honra que é tentar ganhar a Taça de Portugal. Sendo que pode não pode ser um jogo, 90 minutos, a aferir se um treinador serve ou não para um clube. Victor Fernández está imortalizado no Dragão como vencedor de um troféu internacional (até ganhou dois troféus, aliás), mas ninguém tem saudades dele no Dragão. Antes da final da Taça, o FC Porto já devia saber se Peseiro serve ou não. Aliás, a 17 de abril já deveria saber...

Faça-se ouvir o Conselho de Administração da SAD. E mais uma questão: quem será o treinador do FC Porto depois deste mês? Os adeptos do FC Porto habituaram-se à ideia de que o presidente é mais importante do que qualquer treinador. Sobretudo porque os treinadores chegaram, saíram e o FC Porto continuou a ganhar, sempre com Pinto da Costa na presidência. Mas estamos num ciclo contínuo desde 2011 em que todos os treinadores que passam no Dragão são contestados. Assim sendo, quem é o treinador em que Pinto da Costa confia para o 14º mandato? Uma coisa é eleger um presidente que vai ter Peseiro, outra é eleger um presidente que no final da época troca de treinador, e não se sabe para quem. Por outras palavras, que Pinto da Costa ou algum membro do Conselho de Administração explique o quanto antes o seu programa para o 14º mandato. Até ver, este intervalo de 24 horas depois do jogo, à espera de alguma reação, não serviu de nada. Mas de certeza que o Jorge Nuno Pinto da Costa de 1982 teria muitas coisas interessantes a dizer deste FC Porto.



segunda-feira, 4 de abril de 2016

Um pequeno exercício

Hoje, algo diferente. Esta semana completam-se 900 dias desde que a seguinte entrevista foi dada. O desafio é este: quantas destas frases são possíveis encaixar no contexto do FC Porto atual? Por outras palavras, se Antero Henrique desse hoje uma entrevista, quantas destas frases poderia repetir e merecer total concordância? Fica o desafio a todos os portistas.






Algumas passagens a destacar da última grande entrevista de Antero Henrique, em outubro de 2013, dois meses depois do último troféu conquistado pelo FC Porto no futebol profissional:

Pinto da Costa disse, recentemente, que “quem vier a seguir só tem de não estragar”. Como é que o FC Porto pode ser estragado?
Não faço ideia nem quero fazer. O que sei é que o trabalho que o presidente tem realizado tem sido tão importante, tão significativo, tão marcante e tão de excelência que, se se conseguir manter e perpetuar, será a garantia de que o FC Porto terá sucesso durante muito e muito tempo. Se querem tocar, com esta pergunta, no tema da sucessão, dir-vos-ei que esse tema só interessa aos adversários. Não interessa a ninguém no FC Porto. Nenhum dos adeptos está preocupado com esse assunto, zero. Os nossos adeptos vivem felizes com o que têm e como não querem estragar, não querem sequer falar no tema sucessão.

Mas o sucesso do FC Porto também não tem a ver com o facto de muitos clubes, sobretudo lá fora, não estarem de olhos abertos? Algum dia os abrirão...      
Cada um tem o seu método. Nós temos sido capazes de chegar aos melhores e de chegar mais depressa.

O FC Porto tem optado pela estratégia do silêncio. Não há alternativa?
A nossa estratégia é fazer bem, investir energias nas nossas principais preocupações e nas preocupações dos nossos adeptos: vencer, ter uma imagem positiva, internacionalizar-se, crescer. Queremos que os adeptos tenham orgulho no FC Porto e isso nós sentimos cada vez mais no dia a dia. Portanto, eu acho que a estratégia está a ser muito bem feita. Tudo o resto são fait-divers, forças que tentam ser detratoras. A comunicação negativa do FC Porto, que se confunde com o centralismo, tem a ver com a defesa de determinados mercados e interesses. Se compararmos o que tem sido o FC Porto com o que têm sido os outros, vemos que estamos num nível completamente diferente, completamente superior.

Os números do Benfica não são reais?
O Benfica, nos últimos cinco anos, teve contas negativas. Tem acumulado prejuízos consecutivamente. Em termos desportivos, o Benfica teve na época passada um ano completamente em branco, que nós, no FC Porto, já nem nos lembramos de ter. Onde é que isto está dito? Está a ser maquilhado.

Mas o Benfica não está mais perto do FC Porto?    
Mas o que é estar mais perto? Ou se ganha, ou não se ganha. Somos o clube em Portugal com mais troféus conquistados, sete deles internacionais. Isto é uma constatação. Somos o clube com maior potencial de crescimento. Tudo o que se venda a partir daí não pertence ao mundo real, é virtual. Se outros promovem o virtual, o que é que nós temos a ver com isso?

A marca da melhor formação é acessória para o FC Porto?      
Não tem a ver com isso. Não vamos deixar de ter a melhor equipa por querermos ter a melhor formação. Queremos ser o mais competitivos e ter boa formação, porque o nosso lema também é formar campeões, até do ponto de vista cultural e sociológico. Não há campeões sem jogadores robustos, e aqui não falo em jogadores que correm muito e são pesados. Queremos jogadores com determinadas características para uma equipa de elite.

Como tema complementar a esta entrevista, e numa altura em que os contratos de scouting estão na ordem do dia, uma passagem importante de uma entrevista à France Football em 2012:


Considerando especificamente jogadores que chegaram ao FC Porto com ligação à Doyen Sports: Defour, internacional belga que chegou a estar perto do Manchester United; Mangala, que antes de assinar pelo FC Porto esteve quase no Benfica; José Ángel, titular na liga espanhola e italiana; Sérgio Oliveira, jogador formado no FC Porto; Brahimi, jogador da liga espanhola; Casemiro, jogador do Real Madrid que também esteve perto do Benfica. São os casos mais mediáticos. Uma nota: é um facto que neste momento Falcao é representado pela Doyen, mas não chegou ao FC Porto pela mão da Doyen, pois Falcao foi contratado em 2009 e a Doyen só foi fundada em 2011.

Portanto entre Casemiro, Sérgio Oliveira, Defour, Mangala, Brahimi ou José Ángel, estamos a falar de jogadores já conhecidos, quem um universo de 250 olheiros detetaria com toda a facilidade. Não estamos a falar de um jogador da liga japonesa ou de um talento escondido na América do Sul, mas sim de jogadores já conhecidos na nossa Europa do futebol. O que só desperta curiosidade sobre a necessidade de serviços de scouting ligados a fundos, para observar jogadores já relativamente conhecidos, quanto temos uma rede de 250 olheiros.