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sábado, 17 de setembro de 2016

Otávio by BMG

Otávio não foi um pedido de Lopetegui, nem de qualquer outro treinador. Otávio foi uma aposta da SAD, numa oportunidade de fazer uma transferência com um parceiro do FC Porto, no caso o Banco BMG, através do Coimbra Esporte Clube.

Este é um exemplo de como pode ser fácil contornar a proibição da partilha de passes de jogadores por terceiros. Se os agentes não podem controlar os jogadores, controlam os clubes. 

Ricardo Guimarães, presidente do BMG e antigo presidente do Atlético de Mineiro, decidiu começar a investir em jogadores, criando para o efeito o BR Soccer, registado na CVM e que em 2013 já tinha uma carteira de mais de 100 jogadores, muitos deles protagonistas de transferências muito caras (como Marquinhos, Óscar ou Bernard). Ora o fundo controla a empresa Vevent, que por sua vez assumiu o comando do CEC.
O Jogo, 17.09.2016

Como o Coimbra Esporte Clube serve apenas para manter e transferir os direitos dos jogadores, esses jogadores são espalhados por clubes como Corinthians, Atlético, Cruzeiro, Vasco, São Paulo, Internacional, Fluminense...

A partir daqui, a modalidade de compra é conhecida. No primeiro negócio, o BMG comprou 50% do passe de Otávio por cerca de 1,35 milhões de euros, e adquiriu também 15% que estavam na posse de um fundo japonês. Isso totalizou os 65% que o Coimbra Esporte Clube tinha de Otávio.

No fecho de mercado de 2014, o Inter transferiu os direitos desportivos para o FC Porto. Os direitos de inscrição podem ser transferidos livremente, o que foi o caso. A imprensa, ao consultar o contrato que foi celebrado, chegou a noticiar que a transferência se tinha processado sem custos. Conforme foi explicado aqui, não foi o caso.

Não foi ao Internacional que o FC Porto comprou Otávio, mas sim ao Coimbra Esporte Clube. E ao contrário do que escreveu hoje O Jogo, o FC Porto não comprou 32,5% do passe por 2,5 milhões de euros. Comprou 33%.

«Uma diferença de 0,5% não é nada». É sim, é uma questão de rigor. O FC Porto comprou 33% de Otávio, por 2,5M€, e cedeu 0,5% a uma parte desconhecida. 

Por exemplo, ninguém terá reparado que no terceiro trimestre da última época o FC Porto comprou mais 0,5% do passe de Diego Reyes. Inicialmente tinha comprado 95%, alienou metade e tinha ficado com 47,5%. Nos últimos valores declarados, a SAD já informou ter 48%. Qual foi a pertinência de aumentar, de 47,5% para 48%, a percentagem do passe de um jogador que acabou novamente dispensado? 

Podem não ser quantias muito significativas em empresas que têm receitas e gastos superiores à centena de milhões de euros. Mas no caso de Otávio, desses 0,5% já estaríamos a falar de mais de 37 mil euros, tendo em conta o valor que o FC Porto gastou por 33% do passe. E no caso de Reyes, por esses 0,5%, à luz do que foi pago na transferência inicial, também estamos a falar de 35 mil euros.

Há empresários que não faturam 72 mil euros. E pode não ser uma quantia muito significativa, mas isso dependerá sempre do destino do dinheiro. Por exemplo, por mil euros o FC Porto comprou André Silva. Por 35 mil euros Jorge Mendes comprou 40% de Diogo Jota. Por 750 euros o Benfica comprou Renato Sanches. Por 30 mil euros o Sporting comprou Gelson Martins. E 72 mil euros pagam duas rendas anuais do centro de treinos do FC Porto no Olival. Com pouco é possível fazer muito. Como nota de curiosidade, também foram comprados mais 10% de Hernâni antes de ter sido sem surpresa dispensado. Com que sentido?

Portanto Otávio custou 2,5M€ e foi uma transferência tratada por Reinaldo Teles e Adelino Caldeira. Quando os adeptos discutem o mercado, fala-se um pouco de tudo, de Pinto da Costa a Antero Henrique, de Alexandre Pinto da Costa a Jorge Mendes, da Doyen a Luciano, mas esquecem-se que basta (aliás, é necessário) a assinatura de dois membros do Conselho de Administração para validar uma transferência. Neste caso, no contrato entre o FC Porto e o Internacional para a transferência dos direitos federativos de Otávio, foram Caldeira e Reinaldo a formalizarem o acordo.


O que O Jogo não explicou hoje foi quanto custa comprar mais de Otávio. Neste caso, o FC Porto tem a opção de comprar mais 35% do passe de Otávio por 5 milhões de euros, às entidades GE Assessoria Esportiva (20%) e ao pai de Otávio (15%). Importa dizer que estes 35% já estavam na posse das referidas entidades quando Otávio chegou ao FC Porto. Ou seja, o FC Porto não vai tocar na percentagem que toca ao Coimbra Esporte Clube/BMG, que assim continuará a ter 32% - isto desconhecendo a quem cedeu o FC Porto os restantes 0,5%.

Otávio ficaria assim a um custo de 7,5 milhões de euros por 68% (passados a 67,5%) do passe, além de encargos de 400 mil euros no momento da compra. É uma compra inflacionada, pois Otávio era um suplente do Internacional, sem percurso nas seleções brasileiras, no momento em que foi contratado.

Mas conforme foi opinado na altura, havia sentido desportivo na contratação de Otávio. Não era um Zé Manuel, um Sami ou um Anderson Dim (que chegou depois de Otávio, também via BMG, e a maioria dos adeptos já nem deve saber por onde ele anda - ou sequer que cá esteve). A qualidade, a classe e o potencial eram visíveis. Faltava o mais importante, e Otávio está a tê-lo: empenho, disponibilidade e humildade para aprender.

Sendo jogadores diferentes, tem qualidade como Quintero tinha, mas com uma mentalidade competitiva muito superior. Otávio não é um brinca na areia, não é o craque que pensa que já sabe tudo e o FC Porto tem todas as razões para estar satisfeito com o seu profissionalismo.

Obviamente que, há dois anos, Otávio não valia a avaliação de 7,5M€. São os riscos de começar por avançar para uma percentagem do passe e deixar as cláusulas de compra posteriores com uma grande inflação. Os otimistas poderão dizer que isso é uma maneira de proteger o investimento («É melhor ter dado apenas 2,5M€, e esperar para ter a certeza de que ia evoluir, do que dar logo 7,5M€»). Isso é altamente relativo. Não há partilha de risco no futebol, o risco está sempre em cima dos clubes. Walter é o perfeito exemplo disso - jogou pela última vez pelo FC Porto em 2011, mas no R&C do primeiro semestre ainda tinha contrato com a SAD, que tinha 15% do seu passe. 

Otávio não custou nada na primeira época, pois a dívida ao CEC manteve-se inalterável até ao R&C do primeiro semestre de 2015-16. Os 2,5M€ entretanto já foram pagos, além dos 400 mil euros de encargos. Agora, a maioria dos portistas admitirá que Otávio merece o tal investimento de mais 5M€ por 35% do passe. Pois, mas talvez mereça pelo que é hoje, não pelo que era há 2 anos. Foi graças ao trabalho desenvolvido pelo FC Porto (e neste caso com uma pequena ajuda do V. Guimarães) que Otávio atingiu este nível. Agora, o custo de Otávio dobrou.  E há casos em que até pode triplicar, como o de Gleison.

Otávio tem contrato por mais 3 anos, pelo que neste momento não há pressas para aumentar a percentagem do passe (nem a SAD devia comprar mais percentagem de passes antes de ter em mãos grandes propostas para venda). Mas é tempo de rever a forma como se permite que a percentagem do passe dos jogadores para compras futuras seja tão inflacionada. De 2,5M€ por 33% para 5M€ por 35% vai uma grande diferença. A avaliar por aquilo que eram as cláusulas das partes que não o FC Porto e o CEC, Otávio não estava a ser avaliado em 7,5M€ em 2014, mas sim em quase 15M€

Que o Otávio siga a sua evolução e continue com a mesma e louvável postura. Se continuar assim, o investimento progressivo será um passo natural. Mas o FC Porto não tem que calcular a sua gestão de hoje para ontem, mas sim de hoje para amanhã. 

PS: Luís Filipe Vieira disse durante o jantar de deputados benfiquistas com assento parlamentar que a sua SAD vai apresentar lucros pelo 3º ano consecutivo, o que disse ser um «feito único para os principais clubes portugueses.» Mentiu, pois a SAD do FC Porto conseguiu gerar lucros 5 anos consecutivos, entre 2006 e 2011. Os ares parlamentares fazem mesmo a boca fugir da verdade.

PS2: O empresário de Otávio, na sua entrevista a O Jogo, disse algo importantíssimo. «Ele diz que não há grupinhos no balneário». Mas por mais importante que isso seja, não basta haver sintonia no balneário, é preciso haver sintonia dentro de campo. E é algo que teremos forçosamente que ver contra o Tondela. 

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Com vista a 2020

Presidente reeleito, entrevista pós-eleições dada, tempo de análise. A começar pela afluência às urnas, sem dúvida uma notícia que se saúda: o facto de o número de votantes quase ter dobrado, apesar de continuar a haver lista única. Quando o FC Porto passar a ser um clube minimamente modernizado e globalizado no processo eleitoral, abrindo espaço para votar online e nas casas do FC Porto espalhadas pelo país, o número de votantes vai certamente disparar - algo que deve ser uma realidade (no máximo) já para 2020.

Pinto da Costa pareceu estar sempre mais satisfeito com o aumento do número do votantes do que preocupado com a grande quantidade de votos nulos. Embora admitindo que possa ter havido quem votou em 2013 mas não votou em 2016, de umas eleições para as outras houve 1145 «novos» votantes. Ora e desses «novos» votantes, há mais portistas a votarem em Pinto da Costa do que contra: 494 fizeram votos nulos, mas 651 votaram a favor.

Ou seja, mais portistas às urnas significou mais votos para Pinto da Costa. Nessa perspetiva, é natural que o presidente esteja satisfeito e desvalorize os votos contra. Mas uma coisa é o número de votos, outra é a percentagem. E 21% de votos nulos, equivalente a 505 votantes, é um número muito elevado e que serve claramente de alerta.

Vejamos. Nos cinco atos eleitorais do séc. XXI que antecederam este último, Pinto da Costa foi sempre reeleito, com as seguintes percentagens:

2013: 99,13%; 1258 votos (11 nulos)
Um sócio a votar
2010: 98%; nº de votos não divulgado
2007: 98,6%; 3820 votos (51 nulos)
2004: 99,3%; 1068 votos (8 nulos)
2001: 98,8%; 1258 votos (12 nulos)

Embora em 2010 não tenha sido divulgado o número de votantes (fica a ressalva), entre 2001 e 2013 foram contabilizados 82 votos nulos. Ou seja, no simples ato eleitoral de 2016, os votos nulos aumentaram 6 vezes mais do que no espaço espaço de 12 anos. Não é possível minorizar a quantidade de votos nulos, de todo, pois foi francamente elevada quando avaliada por este prisma. E confirma sinais já dados antes, como uma AG que não teve espaço na sala para todos os sócios (mais de 300, quando anteriormente marcavam presença 20 a 40); e a própria lista de apoio à recandidatura de Pinto da Costa, desta vez, recolheu apenas 10 mil assinaturas, ao contrário das 20 mil do passado recente (neste caso não se pode tirar ilações definitivas, pois não se sabe se quantas pessoas a Comissão de Apoio à Recandidatura abordou para assinarem). 

Mas logo no anúncio dos resultados foi dito que a percentagem de votos nulos devia-se ao facto de muitos adeptos terem escrito mensagens de apoio a Pinto da Costa, e que por isso os seus votos foram inutilizados. De facto, houve movimentos de apelo ao voto nulo em alguns espaços da internet, e um grupo de associados fez questão de fazê-lo no próprio dia e imediações do Dragão - o «Acorda Porto». Dezenas de adeptos pelos mais diversos espaços ligados ao FC Porto na internet afirmam que fizeram votos nulos, e vários até tiraram fotos para as publicarem (não o deveriam fazer, pois o voto é secreto, mas o procedimento também pouco teve de secreto). 

O que se desconhecia, de todo, é que alguns adeptos tenham optado por votos nulos para apoiar Pinto da Costa. Não só são visionários como, esses sim, estão de parabéns: cumpriram na íntegra o artigo 3 do Regulamento Eleitoral, ao votarem com o maior secretismo. Não criaram sites, não tiraram fotos aos seus boletins, não fizeram cartazes; chegaram, escreveram «Força Porto» e «Força Presidente», inutilizaram os votos e está feito.

Essa foi a justificação da mesa da Assembleia Geral, e como não podemos ver os votos, ninguém a pode desmentir. Mas cá fica a reflexão: porque é que nenhum dos votantes se lembrou, entre 2001 e 2013, quando Pinto da Costa venceu sempre as eleições com mais de 98% dos votos, de escrever mensagens de apoio a Pinto da Costa nos boletins? Só se lembraram de o fazer em 2016, logo quando houve um movimento de apoio ao voto nulo como forma de protesto? Assinale-se a coincidência. A percentagem de votos nulos deve ser levada muito a sério, por todas as razões enumeradas nestes parágrafos.

Quanto à entrevista, Pinto da Costa começa por dizer que não vê nos votos nulos um «cartão amarelo». E depois segue-se uma comparação infeliz e sem qualquer espécie de sentido, ao questionar o que sentirão o Presidente da República e o primeiro-ministro. Primeiro, Marcelo Rebelo de Sousa não é o maior presidente da história da República, nem sequer António Costa é o melhor primeiro-ministro de sempre; Pinto da Costa, esse sim, é o melhor presidente da história do futebol, logo comparar-se a esses dois nomes é reduzir-se a si próprio. Depois, nenhum deles concorreu sozinho para os respetivos cargos. Poderia ser apenas uma piada e uma forma de abrir uma conversa bem disposta, mas não fez qualquer espécie de sentido. 

Pinto da Costa diz que não sentiu qualquer tipo de fúria dos adeptos, inclusive quando esteve a poucos metros das mesas de café onde os sócios estavam a votar. Mas o presidente esperava ser contestado naquele local? Não, os associados foram lá para votar secretamente, não foram lá para contestar o presidente - até porque quem vai às urnas não espera encontrar lá o candidato em quem vai, ou não, votar. Outra reflexão para futuras eleições: se houver dois candidatos à presidência do clube, poderá estar um deles em amena cavaqueira ao lado dos votantes? Certamente que não seria bem visto. 

De destacar o pormenor de Pinto da Costa ter dito que «durante anos não faltam candidatos», mas a verdade é que ninguém, nos últimos 3 anos, manifestou qualquer desejo de ser já candidato - Vítor Baía deixou claro que gostaria de avançar quando Pinto da Costa saísse; já António Oliveira, a candidatar-se, será sempre também depois de Pinto da Costa sair (até lá continuará a fazer eternos elogios ao presidente; pois nas futuras eleições, provavelmente a massa associativa verá com muitos melhores olhos alguém que sempre defendeu e elogiou Pinto da Costa do que alguém que o criticou).

Diga-se que falar de sucessão um dia após Pinto da Costa ser reeleito não faz nenhum sentido. Agora que Pinto da Costa foi reeleito, só temos que nos preocupar com o trabalho do presidente a ser desenvolvido até 2020. Em 2013, Pinto da Costa disse que «quem vier a seguir só tem que não estragar». Mas se o presidente acaba de reestruturar a SAD e se o clube «bateu no fundo», então é porque há coisas que, se não estão estragadas, então têm que ser altamente melhoradas. Não há maior desafio para Pinto da Costa do que, daqui a 4 anos, continue ou não no FC Porto, poder dizer: «Quem vier a seguir só tem que não estragar».

Entrevista ao Porto Canal, a 18-04-2016
Depois, Pinto da Costa passou para uma parte bastante agradável da entrevista e motivadora para todos os adeptos do FC Porto. Diz o presidente que não gostava que os filhos ou a mulher sucedessem ao seu lugar. Muito bem Pinto da Costa, desde logo a fazer afirmações com as quais todos os portistas se podem identificar. O único filho(a) de franca utilidade ao FC Porto é André André (o exemplo mais reconhecido; há também certamente outros frutos a ter em conta, como Francisco Ramos ou Afonso Sousa). O presidente deu ainda um voto de confiança a toda a sua estrutura, dizendo inclusive que vê nela gente como capacidade para suceder ao seu lugar.

Pinto da Costa pode e deve ter influência na escolha do seu sucessor no futuro. E deve exercê-la da seguinte forma: chegando ao dia das eleições e votando. Qualquer outra ação, como disse e bem, seria um atestado de mediocridade à capacidade dos sócios. Quando Pinto da Costa sair, e tendo em conta que foi através do presidente que (quase) todos os administradores chegaram ao FC Porto, mandam os princípios éticos e de serviço ao clube que acompanhem todos a sua saída. Depois, se algum deles quiser candidatar-se, então que o faça; o resto são os sócios a decidir. 

Pareceu valorizar-se excessivamente a vitória sobre o Nacional. Foi uma boa exibição, mas foi contra o Nacional, uma das piores equipas a jogar fora de casa no campeonato; e foi no Dragão, onde no passado recente todos os adversários caíam. Foi uma boa vitória, uma boa exibição, mas se a equipa não vencer em Coimbra já ninguém se lembrará deste jogo. Se calhar, daqui a um mês, quem viu este jogo só se lembra de um jogador do Nacional: do guarda-redes, o que diz muito da sua qualidade este ano. Ah, e Chidozie não jogou neste jogo. 

No que toca a contratações, as declarações de que Pinto da Costa deseja «duas ou três» contratações cirúrgicas foram importantes com vista à estabilidade no plantel. Não se pode pedir o título - ou torna-se difícil fazê-lo - quando se perdem 7 titulares de uma época para a outra (algo que foi francamente ignorado na projeção para esta época por muita gente). A questão dos eventuais regressos de ex-jogadores foi mencionada, e é natural que Pinto da Costa o vá tentar. O presidente anunciou que a equipa do próximo ano vai ser «uma equipa à Porto». E que melhor garantia disso do que fazer regressar jogadores à Porto? Veremos se se desenha alguma possibilidade de isso acontecer.

Curiosa a afirmação de que Hernâni, que aparentemente vai regressar, «está a brilhar no Olympiacos». De facto, quando Hernâni joga, deixa sempre a impressão de que merecia um pouco mais de oportunidades. Mas se não as tem, então é por algum motivo. Hernâni só foi 5 vezes titular no campeonato grego (contando apenas com os campeonatos nacionais, jogou menos do que Quintero no Rennes), mesmo com um treinador (Marco Silva) cujo modelo de jogo (contra-ataque/transição rápida/insistir pelos flancos) encaixava nas suas caraterísticas. Se a questão é Marega vs. Hernâni, nem merece discussão; que Hernâni tenha condições para se impor no FC Porto, restam muitas dúvidas. Mas essas devem ser dissipadas pela avaliação do treinador.

De qualquer forma, as afirmações de Pinto da Costa levam a crer que não se vão contratar Maregas, Hernânis ou quaisquer outros jogadores que: não tenham qualidade; não tenham caraterísticas adequadas; necessitem de grande período de adaptação; sejam com vista a melhorar o plantel mas não necessariamente o 11. Segundo o presidente, quem vier será para chegar, ver e jogar. Plano subscrito.

Pinto da Costa entrou depois num tema inesperado: o impacto que os pagamentos ao Estado têm no FC Porto. Em «Não temos que pagar as contas do Benfica», já tinha sido aqui realçado que o FC Porto é sem dúvida um dos maiores clientes do Estado, enquanto outros beneficiam de perdões, isenções e afins.  Mas a afirmação de Pinto da Costa de que o FC Porto paga 40M€ de impostos, tendo um orçamento de 150M€, merece algum enquadramento.

O presidente já tinha anunciado, em setembro, que o FC Porto pagou 31,68M€ de impostos na última época. Agora refere-se ao pagamento de 40M€ no último ano. Numa SAD que teve despesas operacionais de 110M€, e cujos custos totais com aquisições da última época ascenderam a 53,3M€, falar em 40M€ de impostos requer um melhor enquadramento. Por exemplo, há que ter em conta a dedução do IVA, e o facto da responsabilidade do IRS ser aplicável a todos os jogadores e trabalhadores do FC Porto. Que o FC Porto é um clube sem apoios, sem dúvida; mas já o era há 10, 20, 30 anos.

Pela primeira vez, Pinto da Costa revelou os números da proposta da NOS que o FC Porto teve em mãos: 320M€. Se assim foi, confirma-se, se ainda havia dúvidas, de que o negócio com a MEO foi o melhor possível para a SAD, com ou sem comissões - a acusação de Bruno de Carvalho que nunca teve resposta ou receptor. Mas falar do contrato de direitos televisivos como alternativa à falta de financiamento por parte dos bancos não faz sentido. Os bancos não dão receitas operacionais: antecipam verbas, financiam a atividade corrente da SAD, emprestam dinheiro; já as receitas televisivas sempre fizeram parte da gestão operacional da SAD. 

Pinto da Costa realçou a importância que Reinaldo Teles e Antero Henrique vão ter na gestão do futebol nos próximos 4 anos. Assim sendo, esperamos ver Reinaldo e Antero Henrique, pelo menos uma vez por época, no Porto Canal a falar sobre cada época desportiva; se temos dois dirigentes que vão ser influentes no futebol da SAD, então há que ouvi-los, para não se esgotar tudo em Pinto da Costa e no treinador. Desde que o Porto Canal foi criado, quantas pessoas responsáveis pelo futebol do FC Porto vimos dar entrevistas além de Pinto da Costa?

Sobre o treinador, por esta altura o FC Porto já tem que saber se vai ficar ou não com José Peseiro. Jesualdo Ferreira também acabou 2009-10 a ganhar 8 jornadas consecutivas e a conquistar a Taça de Portugal, mas saiu. Logo, nada do que Peseiro possa fazer neste fim de época devia mudar a decisão da SAD (Pinto da Costa admitiu, e bem, que não pode ser a Taça a decidi-lo). Se quer mantê-lo, que seja pela convicção que têm à data de hoje, e não por aquilo que forem às últimas jornadas. Pinto da Costa não podia fazer outra coisa senão reforçar a confiança de um treinador que pode ganhar a primeira Taça para o Museu do FC Porto, mas uma coisa é o discurso para fora e para o balneário, outra é a posição interna da SAD.

Depois não podia faltar o «espaço L», que parece tornar-se obrigatório em todas as entrevistas de Pinto da Costa: falar de Lopetegui. A bem da verdade, quem puxou o tema foi Miguel Guedes, que recentemente culpou Lopetegui por toda a má época do FC Porto. Mas uma vez mais, perdeu-se mais tempo a falar de Lopetegui do que do presente/futuro treinador do FC Porto. Aqui não vamos regressar a este tema: se Lopetegui sentir que deve dizer algo, que o faça, pois está no seu direito.

Direito esse de que já usufruiu Angelino Ferreira. Os adeptos do FC Porto sempre tiveram a sensibilidade de nunca misturar os assuntos pessoais e particulares de Pinto da Costa como a sua atividade no clube - e o mesmo se poderá dizer de todos os outros dirigentes, desde Reinaldo Teles a Antero Henrique -, mas foi isso que o presidente fez relativamente a Angelino Ferreira, ao falar na Gaianima. Também não seria nada bonito o ex-administrador vir agora dizer que Pinto da Costa ou Antero Henrique andam preocupados com a Operação Fénix e com as acusações do Ministério Público, ou que Reinaldo Teles esteve ocupado com o BPN. Evitável e inoportuno. Uma realidade onde nos tornamos amigos de quem nos atacava (Carlos Pereira, por exemplo) e em que nos viramos contra quem trabalhou durante vários anos na SAD e é portista é algo no qual poucos portistas se devem rever.

A entrevista termina com o tema (lançado por Júlio Magalhães, diga-se) mais ansiado pelos portistas: Pinto da Costa a manifestar apoio político ao PCP e a discutir o momento do país. Era mais interessante do que, por exemplo, debater o enquadramento do fair-play financeiro para esta época, sem dúvida.

Presidente reeleito, entrevista de lançamento (goste-se ou não) dos próximos 4 anos dada. Este foi o caminho que os associados do FC Porto, ou a sua maioria, escolheram. A confiança foi dada, agora há que correspondê-la por parte da SAD. Mãos à obra - neste caso, à reedificação da obra a que chamamos FC Porto. 

Pergunta(s): Reações à entrevista do presidente e que expetativas no lançamento do novo mandato?

sexta-feira, 4 de março de 2016

Recondução e coincidência poética

Uma curta reflexão a abrir: o FC Porto (clube) detém cerca de 3/4 das ações da SAD e mantém todas as ações de categoria A, o que confere o poder de designar os elementos do Conselho de Administração da SAD.

Ora a atual direção está em final de mandato e só em abril vai ser formalmente reeleita (poderia até não ser, se houvesse uma forte lista concorrente, coisa que nunca existiu na era Pinto da Costa e que continuará a não existir). Que sentido faz uma direção em fim de mandato eleger, atempadamente, a administração da SAD para o próximo quadriénio?

Imaginem - só mesmo imaginando - que uma lista alternativa ganharia as eleições para o clube, um mês depois de o Conselho de Administração da SAD ter sido reconduzido a novo mandato. Não faz sentido. Primeiro deveriam ocorrer as eleições do clube e só depois a direção eleita deveria designar os membros da SAD. Até porque quando o clube assumiu a maioria da SAD, aquando da operação Euroantas e da absorção da parte da Somague, era suposto isso conferir maior poder de intervenção dos associados nos destinos do FC Porto. Neste caso, a administração da SAD foi reeleita ainda antes dos sócios se poderem pronunciar. E sem que tenha sido apresentado aos associados um plano para os próximos anos.

Posto isto, a entrada de Antero Henrique no Conselho de Administração da SAD acabou por ser a principal novidade na AG que reconduziu Pinto da Costa e restantes parceiros à reeleição. Antero Henrique vê, no papel, os seus poderes no FC Porto serem reforçados, o que faz com que o Conselho de Administração aumente para sete elementos, dos quais dois não executivos - José Américo Amorim junta-se a Vieira de Sá. 

Na prática, Antero Henrique passa a poder validar, diretamente, contratos ou transferências que envolvam a SAD - é sempre necessária a assinatura de dois membros do Conselho de Administração. Até aqui, só Pinto da Costa, Fernando Gomes, Adelino Caldeira e Reinaldo Teles, independentemente de conduzirem ou não os processos em causa, podiam validar esses documentos. Antero Henrique vê assim ser aumentada a sua influência na SAD, inclusive após o processo Operação Fénix, embora a sua influência no FC Porto seja patente de há 10 anos para cá, com ou sem estatuto oficioso de administrador da SAD.

Um lamento que, por clara e infeliz coincidência, o R&C do primeiro semestre tenha sido comunicado à CMVM há apenas três dias - era necessário um intervalo de cinco dias para os acionistas colocarem, atempadamente, questões à AG. Esteve representado 83,78% do capital social da SAD. A sua composição, a saber: 


A SAD foi reconduzida antes das eleições no clube, no qual Pinto da Costa também vai ser reconduzido, com mais ou menos votos. Mas seria bom apresentar o quanto antes o seu programa para o 14º mandato, de modo a que os sócios pelo menos saibam que estão a votar num projeto para os próximos quatro anos, e não apenas num currículo de três décadas. É tempo de trabalhar presente e futuro, não de reconhecer o passado - reconhecimento pelo passado é eterno e intocável, mas é isso mesmo: passado, não futuro.

Não haverá listas alternativas, pois nenhum candidato terá a coragem de concorrer contra Pinto da Costa. Quem o fizer será eternamente visto como o homem que desafiou Pinto da Costa. Basta ver que qualquer voz de contestação que se levante é imediatamente abafada por diversas vias. Nas AG também não é fácil intervir - basta ver quando, há um ano, nas alterações de estatutos, um sócio decidiu abster-se (e disse porquê) e foi imediato pressionado pelo barulho de fundo da sala, onde muitos marcam presença não para discutir o que importa mas para abafar quem ouse questionar alguma ação.

E por muito que haja cada vez mais interessados e preocupados com o rumo do clube nos últimos anos, estamos ainda a falar de uma minoria. Disse Vítor Baía, e bem, que há quem esteja a preparar-se nos bastidores para avançar, mas só o vai fazer quando Pinto da Costa decidir sair (uma ironia Vítor Baía estar a ser puxado para uma dessas mesmas jogadas, mas isso é tema para outra altura). E quando o fizer, terão que ser os sócios a escolher, não uma elite já pré-definida, que pensa que vai direitinha para o poder - ou que vai poder continuar a manter o poder quando o presidente sair. Não são eles quem vão escolher. Nem sequer Pinto da Costa. São os sócios. Quem quiser que se chegue à frente com os seus projetos, pois é o projeto que deve ser eleito, não os homens ou o seu passado.

Pinto da Costa vai estar hoje em Cantanhede e seria bom ouvir as perspetivas para o próximo quadriénio da SAD, até porque foram os acionistas a reconduzir esta administração. Uma palavra para sócios e adeptos ficaria bem, sobretudo antes de uma jornada importantíssima.

Para render até 4,425M€
Entretanto, o Football Leaks escolheu o dia seguinte à reeleição dos órgãos sociais da SAD para divulgar o contrato com as comissões da renovação de contrato de Rúben Neves. O timing é uma coincidência poética. Mas é oportuno conhecer os seus contornos e confirmar que isto vai bem além dos 5% do passe (potencialmente convertíveis a 2M€ no momento de uma transferência).

A saber, José Caldeira embolsou 225 mil euros só com a renovação do contrato de Rúben Neves, na altura quando ele ainda tinha 17 anos. Depois disto, a SAD paga 100 mil euros por 20 jogos oficiais; e mais 50 mil se chegar aos 30 jogos; e mais 50 mil por 40 jogos. Posto isto, «em consideração pelos servidos prestados pelo agente ao clube» (palavras da SAD), o irmão de Adelino Caldeira ficou com 5% do passe.

Em relação aos serviços, e embora isto seja a justificação padrão em todos os contratos da SAD (e até em todos os clubes), é curioso ver os três pontos que justificam a intervenção de José Caldeira e interpretar o que cada um deles quer realmente dizer: a) aconselhar o FC Porto na estratégia de renovação (claramente, era preciso um grande aconselhamento para o clube perceber que tinha que renovar com Rúben Neves; podia haver dúvidas); b) servir como intermediário e informar o jogador das condições que o FC Porto tem para ele (o Rúben Neves chegou há pouco tempo ao clube, passa pouco tempo nas instalações do clube e tem uma agenda muito preenchida, que o impediria de se sentar à mesa com a Administração da SAD; ainda bem que houve um pombo-correio a resolver este problema); c): convencer o jogador a aceitar o FC Porto em vez de procurar outro rumo para a sua carreira (ainda bem que José Caldeira aconselhou Rúben Neves a renovar, se não ele, um portista de berço e sangue, até era capaz de assinar pelo Benfica. Uma estátua para Caldeira, pois sem ele não havia Rúben Neves!).


Mas... Se a proposta para a transferência de Rúben Neves para outro clube for apresentada por José Caldeira, então a percentagem que o empresário tem direito passa a ser de 10%. Ou seja, potencialmente 4M€ se tivermos em conta o valor da cláusula de rescisão. Tendo em conta que José Caldeira surgiu como intermediário e que o empresário é agora Jorge Mendes, pouco leva a crer que José Caldeira tenha capacidade ou conhecimentos para apresentar uma boa proposta por Rúben Neves. 

Mas para efeitos contratuais José Caldeira pode então, na melhor das hipóteses para o empresário, ganhar 4,425M€ com a transferência de Rúben Neves, um produto da formação do FC Porto e que se calhar Caldeira nem conhecia até começar a jogar na equipa principal - ou seja, três meses antes da renovação. 

Este foi o último contrato de Rúben Neves do qual se tenha tido conhecimento. O FC Porto já disse que ele tem contrato até 2019, mas desconhece-se em que termos. O que se conhece, para já, é quanto José Caldeira pode ganhar. Infantino, ajuda lá a malta a calcular quanto é 3%.

PS: As coisas que se fazem para desestabilizar o Benfica em semana de derby!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Caro Julen,

Nada é mais volátil do que o mundo do futebol. Há menos de duas semanas, após a primeira vez em que foste líder isolado em Portugal, Pinto da Costa não hesitou em vir a público afirmar que os assobios te davam sorte. Dar a cara nas vitórias é fácil, nas derrotas nem tanto. Passadas duas jornadas que se traduziram numa perda de 5 pontos, era necessário tomar uma decisão. A SAD, na palavra do seu presidente, o único que ainda te segurava, optou pelo mais fácil.

A situação tornou-se insustentável. Não eras o maior dos problemas do FC Porto, mas também não estavas a conseguir ser solução. Era necessário mudar alguma coisa. A equipa estava numa espiral regressiva da qual não dava sinais de conseguir sair. Numa jornada prometes que vamos ser campeões, na outra empatas com o Rio Ave e és convidado a sair. Num jogo tudo muda. 

Os treinadores espanhóis estão destinados a não serem os mais felizes no futebol português. Sais estando a 4 pontos da liderança. O teu compatriota Víctor Fernández saiu quando estava empatado com o Sporting no 1º lugar, e já tinha no bolso uma Supertaça, uma Taça Intercontinental e o apuramento para os 1/8 da Champions.

Pinto da Costa tinha que assumir uma decisão, pois as paredes começavam a ficar curtas. De rajada, vemos de um lado Vítor Baía lançar a cana sobre a candidatura à presidência do FC Porto; e António Oliveira, sem que ninguém lhe tivesse perguntado nada (é que nem um jornal falou nessa possibilidade), decide mandar um comunicado a todas as redações, só mesmo para lembrar «olá, estou aqui». 

Os adeptos, na sua generalidade, já não te queriam. Os jogadores, salvo algumas exceções de peso, também não te queriam. O staff técnico do Olival não te queria. O Conselho de Administração não te queria. E Pinto da Costa deixou de te querer. Não havia como continuar, Julen. Mas há coisas que a história de uma passagem pelo FC Porto sem títulos (desde Couceiro que não acontecia - Luís Castro é um caso à parte, que nunca na vida pode ser repetido!) não podem apagar.

Para começar, o FC Porto isola-te como responsável único do mau momento da equipa. Ninguém veio a público falar, ninguém deu a cara. A SAD demite-te ainda antes de saber sequer quem poderá ser o teu sucessor. Se um treinador português, se uma velha raposa mais experimentada, se alguém que conheça a casa. Isso significa que o FC Porto acha que o melhor é saíres já, e depois logo se vê. Vamos ao Bessa com o nosso Rui Barros, um grande portista mas sem a fibra de treinador principal. Pelo menos, vamos ao Bessa com um capital de apoio dos adeptos do FC Porto, coisa que contigo não seria possível.

Não é nada contra ti, Julen, pois o próximo treinador, ao fim de três ou quatro maus resultados, também fica com o pescoço na guilhotina. O FC Porto tem-se habituado a dar mais valor a treinadores depois de eles saírem do que enquanto cá estavam, como são exemplos Jesualdo Ferreira, Vítor Pereira ou até Paulo Fonseca. Não sei se será o teu caso, mas há méritos que ninguém te retira.

Começando pelo princípio. Chegaste e ajudaste a reabilitar competitivamente um clube que vinha de uma época miserável e uma SAD que apresentou o maior prejuízo da sua história. Algo ninguém pode negar: és um excelente manager, telefonista, diretor desportivo. Soubeste convencer a vir para o FC Porto quem, sem a tua intervenção, não viria. E até convencerias a vir quem o FC Porto não conseguiria pagar.

A tua primeira vitória no FC Porto é desconhecida à maioria dos adeptos, mas merece realce: o bate pé às contratações comissionistas, cuja lógica ia muito além do campo desportivo - ou não chegava sequer ao campo desportivo. Podemos falar claramente de Sami. Perguntaste, e bem, por que é que a SAD tinha dinheiro para contratar quem tu não precisavas e não para contratar quem te daria jeito. Podias ter feito o mais fácil: aceitavas o Sami e deixavas muitas famílias felizes, até o ex-cunhado. Mas não. Deixaste claro que tu é que escolhias quem jogava e quem faria o plantel. E muito bem.

Confesso que não percebi algumas contratações tuas. Porquê o Campaña ou o Andrés, por exemplo? Ainda assim, os nomes em quem falhaste saíram bem mais em conta do que todos aqueles em que a SAD tem falhado nos últimos anos.

Dizem que não sabes aproveitar o plantel que o FC Porto tem à disposição. Não concordo. É verdade que tinhas, e tens, obrigação de fazer muito melhor com o que tens. Mas estás longe de ter o melhor plantel em mãos. E se no ano passado o FC Porto tinha um plantel muito melhor, é também teu mérito.

Jackson, Danilo e Alex Sandro já eram matéria-prima de elite, mas foi após uma época contigo que saíram deixando 92,5M€ na Invicta. Com um guarda-redes sempre contestado (Fabiano) e sem ter uma grande dupla de centrais, conseguiste ter a melhor defesa de toda a Europa na época 2014-15. Ganhaste 20 jogos consecutivos no Estádio do Dragão, coisa que não voltaremos a ver nos próximos anos. 

Lançaste o Rúben Neves, que se não fosses tu iria iniciar a época nos sub-19, e sabe lá Deus onde estaria a (não) ser manifestado o seu talento por esta altura. Pegaste num miúdo, Óliver, e num sarrafeiro, Casemiro, e tornaste-os jogadores de equipa grande na liga espanhola. Meteste Herrera e Brahimi a brilharem ao mais alto nível na Champions. Meteste o Tello a marcar e a assistir como nunca em 2014-15. E até fizeste do Quaresma o jogador que nunca foi coletivamente.

Optaste por deixar sair o Quaresma, e bem, pois os adeptos não imaginam o que é ter um balneário com vedetas. Depois seguiu-se uma série de saídas importantíssimas. É verdade que o FC Porto vende 2 ou 3 titulares por época - e foi isso que aconteceu. Saíram Alex, Danilo e Jackson. Óliver e Casemiro não eram nossos e nunca haveria dinheiro para os ter. Logo, acabou por acontecer o normal, que é perder os tais dois ou três jogadores do clube em vendas milionárias. Mas aconteceu o que é normal na gestão da SAD: venda de dois ou três ativos; não aconteceu o que é normal na gestão de um treinador: perda de cinco ou seis titulares.

Uma coisa chocante é a tua revelação de que achavas que a SAD ia aplicar o dinheiro em novas contratações. Das duas, uma: ou ninguém te explicou como funciona a SAD do FC Porto, ou estavas com muita, mesmo muita ilusión. Qualquer uma é grave, mas não pá para acreditar que a SAD não te tenha explicado que não havia tusto para reforços, exceção feita a parcerias com fundos. Por outro lado, sempre questionaste, e bem, como é que havia dinheiro para tantas coisas e não para a maior prioridade: reforçar o plantel. O plantel principal deixou de ser a porta de entrada de contratações que não serviam propósitos desportivos - em compensação, na equipa B e nas camadas jovens dispararam.

O que foi a época 2014-15 desportivamente? Fizeste uma brilhante Champions. Ajudaste a apurar o FC Porto a frio e fizeste 11 jogos consecutivos sem perder na Liga dos Campeões - hão-de passar muitos anos até um treinador de um clube português voltar a fazê-lo. O desastre de Munique foi próprio de quem não tinha laterais suplentes inscritos na UEFA. Aos 75 minutos ainda estávamos a discutir o apuramento para as meias-finais com uma equipa muitíssimo superior a nós.

É verdade, inventaste na Taça de Portugal. Subestimaste o Sporting, e partir daí muitos adeptos ficaram com o pé atrás - e nunca mais o tiraram do sítio. Mas também foi um dos muitos jogos em que foste pé frio. Penaltys falhados, ineficácia a atacar, erros individuais a defender. Detalhes, detalhes e mais detalhes. Mas o detalhes foram-se acumulando e deixaram de ser detalhes para passarem a ter tendência. Foram demasiados jogos em que o FC Porto foi incapaz de dar a volta a uma desvantagem no marcador - apenas uma reviravolta em ano e meio.

No campeonato, ainda assim, fizeste 82 pontos. Tantos como o Mourinho em 2004, mais do que o Co Adriaanse e em três épocas do ciclo do penta. Para aquilo que eras - um treinador sem experiência a nível de clubes na luta por títulos, coisa que muitos pareciam esquecer que eras: inexperiente -, foi bem razoável. Tiveste, aliás, a segunda melhor defesa de sempre num campeonato a 34 jornadas. Podias, e devias, ter sido campeão. Mas os adeptos deixaram-se iludir pela máquina de propaganda que visava lavar o roubo que foi a forma como o Benfica tirou o campeonato ao FC Porto.

Só tu, sozinho, te insurgiste contra isso. Contra-atacaste sozinho, perante tudo e todos. O Jesus, o Manuel José e o Gomes da Silva. Atacaste as arbitragens tendenciosas, as nomeações e a comunicação social que desprezava tudo o que de bom o FC Porto conseguisse. Não é um problema, é tradição. Mas os adeptos deixaram-se levar pela própria propaganda encarnada - e o problema foi esse.

Pinto da Costa elogiou mais vezes publicamente um treinador que só era líder do campeonato devido ao colinho do que defendeu o FC Porto. Tudo calado, tudo no canto. O Benfica ganhou um campeonato da forma mais ilícita de que há memória e ninguém na SAD do FC Porto protestou. Porquê? Por indiferença? Por não ter moral para o fazer? Por outras razões? Não sabemos qual, e também não sabemos qual será a mais grave.

Temos uma SAD paga a peso de ouro. Reinaldo Teles, Adelino Caldeira e Fernando Gomes têm remuneração fixa anual de 287 mil euros, mas nunca saíram a público para defender o FC Porto. Podem alegar que é o presidente que o tem que fazer, mas não há mais ninguém na SAD? Não podem dar a cara pelo FC Porto? É verdade que por vezes, nomeadamente nas intervenções de Fernando Gomes, sai uma mescla que torna o silêncio ouro. E Antero Henrique, o «homem forte do futebol», porque é que só dá entrevistas a jornais estrangeiros a falar sobre o «modelo» e «a estrutura»?

O FC Porto foi atacado por inúmeras frentes em 2014-15, numa época em que muitos queriam que fosse o funeral do clube, depois do desastre que foi 2013-14. Lopetegui defendeu o clube sozinho. Ajudou a manter a SAD de pé. Depois de Lopetegui tanto ter defendido o FC Porto, seria altura de defender Lopetegui. A SAD nunca o fez.

Tu querias ganhar no FC Porto, sei que sim. Em condições normais, já terias ganhado em 2014-15. Esta época não conseguiste segurar o leme, reconheço. Há jogadores que não ajudam, mas não há treinador que passe pelo FC Porto sem ter problemas no balneário - muitos estão de passagem e não pensam na próxima vitória, só pensam no próximo milhão. Há quem diga que és convicto, como um treinador do FC Porto tem que ser. Mas muitas vezes foste casmurro e inflexível, que é algo que dificilmente serás no teu próximo clube. 

Os próprios jogadores sabem jogar com a instabilidade do treinador. Um jogador que sabe que o treinador não é apreciado pelos adeptos, e nem sequer pela própria SAD, é um jogador que sabe que o treinador já não é a voz autoritária inquestionável. Perdeste o balneário também por isso. Quiseste ser punho de ferro quando muitos jogadores sabiam que estavas a prazo. Um treinador só consegue triunfar no FC Porto enquanto tem apoio. Quando deixa de o ter, perde tudo.

Chega a hora de seguir caminhos separados. O FC Porto vai voltar a vencer sem ti. E tu hás-de vencer sem o FC Porto. Como tem sido apanágio nos últimos anos, o tempo confirmará se as culpas se podiam, ou não, resumir ao treinador.

Boa sorte, Julen. E força, FC Porto. 

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Objetivo falhado

«O FC Porto nunca ganhou a Taça da Liga? Esperamos que seja este ano. Pela equipa que temos e pela forma como estamos a jogar, esperamos consegui-lo», Reinaldo Teles, 10-12-2014.

Defendo, desde o início, que a Taça da Liga deve ser destinada ao lançamento de jovens por parte do FC Porto. Que o que se passou em Braga deu uma vontade enorme de ganhar esta competição, deu. Mas foi antes assumido, pela própria direção do FC Porto, que a Taça da Liga, a competição que um dia Pinto da Costa disse que o Benfica podia «ganhar todas», era um objectivo para 2014-15. As opções de Lopetegui, desde a vitória em Vila do Conde, também evidenciaram que apesar de haver espaço para lançar um ou outro jovem, iria priorizar os resultados. Por isso, a participação do FC Porto nesta Taça da Liga foi declaradamente um objetivo falhado.

Urge então perceber o que correu mal e assumir o porquê do falhanço nesta competição. Os adeptos, talvez, até aceitariam falhar a final da Taça da Liga se fosse uma competição para lançar jovens e trabalhar o futuro. Não podem é aceitar exibições como a de hoje. Pois o símbolo que os jogadores ostentam na Liga dos Campeões e na Taça da Liga é o mesmo.





O destaque possível (+/-) - Maicon não acerta um passe longo. Chega a ser desesperante. Apesar de tudo, conseguiu ser o jogador mais perigoso do FC Porto na segunda parte e o único a entrar duas vezes na grande área adversária com a bola dominada. Óliver tentou mexer com o jogo e foi dos poucos a abrir (quase) sempre linhas de passe, mesmo hoje sem o menor entendimento com Evandro. E Hernâni, apesar de ter uma recepção de bola sofrível e continuar a achar que será preciso uma surpresa enorme para justificar a sua contratação em Janeiro, contudo esteve em alguns dos poucos lances de perigo do FC Porto, mesmo quase nunca lhes tendo dado boa sequência. 





O problema não foi a atitude (-) - Normalmente, quando o FC Porto perde os adeptos questionam sempre o mesmo: falta mística, falta raça. Hoje pode-se voltar a repetir isso, mas não foi esse o problema: o problema é que os jogadores não sabiam o que fazer em campo. Zero. Em termos técnicos e tácticos, o FC Porto apresentou-se em campo extremamente mal preparado, sem ideias e na segunda parte, tirando um remate frouxo de Aboubakar, não consegue criar um único lance de perigo contra um Marítimo que nunca mais atacou. Lopetegui mexeu em todos os sectores, mas se há semanas defendeu que a rotatividade tinha ajudado o FC Porto a conseguir uma série de importantes vitórias sem vários titulares, então é necessário questionar porque é que a equipa hoje parecia 11 jogadores que nunca se tinham visto na vida. Variações de flancos a roçar o amadorismo, sem jogo interior, uma equipa que vê que os corredores estão barrados e que continua a correr contra a parede e a incapacidade em criar situações de golo. Hoje tudo foi mau, inclusive nas inacreditáveis declarações de Lopetegui pós-jogo, poucos dias depois de o ter defendido aqui na questão das arbitragens. Passar de bons jogos a maus jogos é normal. Passar de uma equipa organizada e preparada para isto, não é.

Contratem um novo técnico (-) - ... para a equipa técnica. Repete-se o apelo: a equipa técnica de Lopetegui precisa de algo ou alguém para trabalhar as bolas paradas, simplesmente porque somos fracos nesse aspecto. O golo de Evandro nasce de um canto, tudo bem, mas é um canto mal marcado (mais um) e a bola sobra para um ressalto, onde o remate é feito sem oposição. Mas depois, três (!!!) jogadores do Marítimo conseguem jogar a bola de primeira, na grande área, sem que nenhum jogador do FC Porto consiga tirar dali a bola. Absolutamente sofrível. Muitos dizem que o FC Porto de Lopetegui já foi capaz do melhor e do pior. É verdade, mas nas bolas paradas só foi capaz do pior até hoje. Isto tem urgentemente que mudar. É inadmissível ter uma equipa que não sabe atacar nem defender nas bolas paradas, e não é por agora termos 3 ou 4 bons marcadores de livres que nos devemos esquecer da miséria que são os pontapés de canto. 

Sem rendimento (-) - Ricardo tem um problema. Como é português, jovem e foi uma contratação relativamente barata, não há risco e pressão, e assim olhando para a exibição dele o mais fácil será reafirmar que é preciso ir ao mercado. Se fosse uma aposta estrangeira, seria preciso tempo. Critérios. Hoje fez o seu pior jogo esta época, mas o FC Porto colectivamente provavelmente também o fez. O meio-campo, sem Herrera, andou perdido entre perceber quem devia pressionar, quem devia abrir e quem devia ir receber atrás. Dos flancos nada se aproveitou, com Quaresma sem metade da pedalada que mostra quando sai do banco. Aboubakar não é Jackson. Não significa que não é um excelente avançado, de grande potencial. Significa que não lhe podem pedir para fazer o que faz Jackson. E isso não se resolve com uma ida ao mercado, pois se há mais pontas-de-lança com o perfil de Jackson o FC Porto provavelmente não os pode pagar. Do banco nada saiu que mudasse ou melhorasse o jogo.

É melhor ir de barco (-) - Ou de kayak, ou mota de água, se calhar até a nado. Mas vejam lá se há algum problema nos aviões durante as viagens para a Madeira. Três jogos na ilha, três más exibições. E já na época passada perdemos lá os 2 jogos do Campeonato. Dou por mim a torcer para que o União da Madeira não suba à Primeira Liga. Não metam o Alberto João Jardim no Parlamento, que esta porra pode ser contagiosa.

No domingo celebra-se o dia em que dizem que Cristo ressuscitou. Rapaziada, vejam lá se na segunda-feira, contra o Estoril, ressuscitam o futebol que nos satisfez e entusiasmou até às duas últimas viagens à Madeira. Esse FC Porto pode e vai continuar a lutar pelo Campeonato e a materializar o sonho da Champions. O de hoje não. E vocês valem muito mais do que mostraram hoje. Treinador e jogadores.


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A remuneração do Conselho de Administração

Foi uma das questões mais debatidas desde a saída do R&C de 2013-14: os salários do Conselho de Administração da SAD, numa época em que só foi conquistado um título (a Supertaça) e que terminou com o maior prejuízo da história da FC Porto SAD.

O salário fixo de Pinto da Costa:
oito vezes menos que Jorge Jesu
s
Recordando: em 2012-13, o FC Porto foi tricampeão, sem qualquer derrota na época em questão; foi aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões; venceu mais uma Supertaça (o terceiro mais importante troféu do calendário nacional, na medida em que só chega a disputar a Supertaça quem ganha um dos outros dois mais importantes - Campeonato ou Taça de Portugal); terminou a época com um lucro de 20,3M€ na SAD. Em 2012-13, houve uma remuneração fixa de 1,12M€, além de 896 mil euros em gratificações.

Já em 2013-14, época com apenas uma Supertaça conquistada, um desolador 3º lugar no Campeonato, uma campanha europeia para esquecer (tanto na Champions como na Liga Europa) e derrotas com o Benfica na Taça da Liga e na Taça de Portugal, além do maior prejuízo da história da SAD (40M,7€). O Conselho de Administração da SAD recebeu, por esta época, 1,401.5M€ de remuneração fixa, além de 896 mil euros em gratificações.

Que Pinto da Costa, o presidente mais titulado da história do futebol mundial, tenha uma remuneração fixa bruta anual que é um oitavo do que recebe Jorge Jesus, não choca. Aliás, choca: devia receber bem mais. O questionável é um aumento do salário fixo de 30% quando comparado com as épocas desportivas anteriores (e financeiras - estamos a falar de uma diferença de 60M€ entre um exercício e outro, independentemente de 2013-14 não incluir as mais-valias necessárias), ainda que em 2013-14 tenha reforçado a sua posição de acionista. 

Reinaldo Teles, Adelino Caldeira e Angelino Ferreira também tiveram um aumento base de 19,5%, sendo que no caso do ex-responsável pela pasta financeira a remuneração ficou-se pelos 225,5 mil euros, pois foi substituído por Fernando Gomes, que recebeu 82 mil euros por 4 meses de trabalho. A remuneração de Antero Henrique não é revelada, por não pertencer ao CA.

Recuando a 2011-12, época de campeonato e Supertaça, a remuneração fixa foi a mesma de 2012-13: 1,12M€. Em 2010-11, o mesmo: 1,12M€. O que reforça a questão: porquê o aumento da remuneração fixa naquela que foi a pior época financeira da história da SAD e uma das piores a nível desportivo?

De realçar que em 2013-14, entre remuneração fixa e variável, a administração recebeu 2,297.5M€. Em 2010-11, época de Campeonato sem derrotas, Supertaça, Taça de Portugal e Liga Europa, o pagamento foi de 3,08M€, a grande parte em variáveis (e bem merecidas). Uma diferença que se explica pelo sistema na altura aplicável.

Ser campeão nacional dava direito a 75% de prémio sobre o salário bruto. Ser 2º ou 3º classificado valia 50% de bónus (se o objectivo assumido é ser campeão, e se se prepara uma época para isso, não faria sentido o 2º ou 3º lugar dar direito a remuneração variável - daí que o CA tenha renunciado a este direito desde 2008). Ganhar a Liga Europa dava direito a 100% de variável e a Champions a 120%. Estas variáveis deixaram de ser aplicáveis e a SAD informou que já não prevê prémios anuais predefinidos.

Sobra a questão: quais os benefícios de se renunciar aos prémios anuais predefinidos se numa época de 40,7M€ de prejuízo, sem objectivos desportivos cumpridos, consegue haver aumentos salariais entre 19,5% e 30% na remuneração fixa e as gratificações não sofrem alterações?

Que todo o Conselho de Administração do FC Porto - e se for preciso também Lopetegui - não chegue a ganhar tanto como Jorge Jesus, até justifica o aumento. Mas se houve um aumento em 2013-14 quando nada o justificava - nem o contexto financeiro, nem o desportivo -, que os juros sejam aplicados em 2014-15. Em títulos e na recuperação financeira e do prestígio europeu, claro.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Agora, o clube é verdadeiramente dos sócios

Quando o presidente disse, na entrevista ao Porto Canal, que o FC Porto «jamais será comprado», foi uma declaração que parecia não merecer grande importância. Afinal, a participação na SAD era de 40%. O que significa que qualquer magnata poderia comprar o FC Porto, a partir do momento em que reunisse uma maioria na restante participação da SAD. Tendo em conta a ligação aos irmãos Oliveira, que em conjunto detêm 21,02% (António mais 1% do que Joaquim) da participação da SAD, naturalmente que não era credível que haveria verdadeiramente esse risco.  Mas afinal já havia uma cartada na manga.

O único grande português
a ter a maioria da sua SAD
O Futebol Clube do Porto passa a ter a maioria da Sociedade Desportiva, uma notícia que registo com total agrado. Ao longo dos próximos dias, serão discutidos e analisados os vários pontos da AG (e o R&C de 2013-14 vai sair este mês), mas desde já há que assinalar a importância da compra da participação da Somague (empresa que, entre outros, detém os centros comerciais Dolce Vitta).

O receio aqui abordado com a opção Euroantas foi devidamente exposto e depois aprofundado. O clube preparava-se para «pagar» à SAD (cuja facturação era/é imensamente superior) 37,5 milhões de euros a troco de... nada. Uma sociedade cumpridora ia tapar um buraco aberto por demasiados riscos de gestão nos últimos 3 anos. Com isso, o clube perdia metade do seu principal património sem ter direito a acções que lhe conferissem direito de voto,

O clube ficava exposto, fragilizado. E se é verdade que na era Pinto da Costa poucos riscos haveria face a possíveis compradores estrangeiros, no pós-Pinto da Costa esse era o mais forte cenário, ou pelo menos o mais tentador para muita gente, quisessem ou não admiti-lo. Até hoje. Hoje, a SAD recolocou o clube nas mãos dos sócios.

O clube detinha 40% da SAD, além de 1,65% do presidente e 0,07% de Reinaldo Teles. Agora, ao adquirir as acções da Somague (que, ao contrário da absorção da Euroantas, já conferem voto participativo), o FC Porto, o clube, passa a controlar 60,52%. E com isto, directa e indirectamente, a posição sobre a Euroantas sai mais reforçada do que seria previsto (cuja alienação nunca chega a ser uma boa notícia, mas aproxima-se de um cenário idealmente mais equilibrado), mas é tema para abordar nos próximos dias. Para já, o importante é que o clube é hoje dos sócios.

Perdemos o «orgulho» de afirmar que éramos o único clube português que não sacrificou o estádio para tapar buracos na SAD (sendo que a operação Euroantas implicava 50%, enquanto os rivais tiveram que usar a totalidade dos seus estádios). Mas surge agora o orgulho de podermos afirmar que somos os únicos a ter no clube a maioria da SAD. Praticamente tanto como Benfica (40%) e Sporting (25,28%) juntos directamente.

Em relação à OPA, era uma obrigatoriedade (e dificilmente será mais do que uma formalidade). O FC Porto não irá subscrever a oferta pública, uma vez que já detém larga maioria (os 60,52% estendem-se a 3/4, basicamente). Resta conhecer a posição dos irmãos Oliveira... Mas esta excelente notícia, com devido mérito aos intervenientes, já ninguém nos tira. Mais informações no regulador de mercado.