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segunda-feira, 22 de maio de 2017

«Mas uniu o grupo»

Percentagem de vitórias dos treinadores do FC Porto nos últimos 12 anos:
1. André Villas-Boas 84,48%
2. Vítor Pereira 69,89%
3. Julen Lopetegui 68,83%
4. Jesualdo Ferreira 67,20%
5. Co Adriaanse 64,44%
6. José Peseiro 59,09%
7. Paulo Fonseca 56,76%
8. Luís Castro 56,25%
9. Nuno Espírito Santo 55,10%

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Salazar estaria orgulhoso

Despedida do Estádio do Dragão da época 2016-17, com a garantia de que se completará um ciclo de, pelo menos, cinco anos sem que voltemos a festejar um título na nossa fortaleza. A mesma fortaleza em que o FC Porto não consentiu uma única derrota esta época, mas em que somou três empates que comprometeram seriamente a luta pelo título.

Mas ao contrário do que se possa fazer crer, este não é um título que se perde em casa - o FC Porto, na época 1999-2000, somou 49 pontos em 51 possíveis e mesmo assim não deu para chegar ao título. Este é um título que se perdeu por muitas vias: começando pela pré-época, com uma má escolha para o cargo de treinador e uma má abordagem na gestão/reforço/definição do plantel; perdeu-se com sucessivos erros arbitrais que impediram o FC Porto de ganhar pontos e confiança preciosas em algumas jornadas; perdeu-se com a falta de crescimento da equipa e de qualidade individual em alguns momentos; perdeu-se porque o FC Porto falhou em quase todos os momentos decisivos, enquanto o Benfica raramente tremeu quando o FC Porto pressionou - mesmo que tenha havido fatores externos a reforçarem-lhes as varetas na hora da pressão. Inegável, mas para a história fica sempre o mesmo: o FC Porto perdeu este título de campeão para o Benfica. Mais um. 

E agora? E agora há quem clame que o Benfica pode ser tetra pela primeira vez, mas que o FC Porto continua a ser o único penta. Quem diria, um portista cada vez mais agarrado ao passado para combater a realidade do presente. Talvez ignorem é que, dentro de um ano, o penta pode muito bem deixar de ser um exclusivo, sobretudo se não houver melhorias necessárias de forma gritante, desde a equipa técnica à postura da SAD em todas as posições do futebol profissional (desde o mercado aos órgãos de poder), bem como reajustes no plantel em todos os setores. E acima de tudo, não pensar que é com uma troca de treinadores que se resolvem todos os problemas, sobretudo quando conseguem escolher um pior do que o que já cá estava, sem quaisquer valias ou currículo que o recomende para o FC Porto.

Esta vitória sobre o Paços de Ferreira não será recordada nos livros de história, infelizmente, mas não deixa também de ser curioso a facilidade com que desta vez se apitaram duas grandes penalidades a favor do FC Porto. Ainda assim, a maior história do jogo não é essa. Já lá vamos.





Héctor Herrera (+) - Um golo atípico na sua carreira, de cabeça, e uma bela assistência para Diogo Jota. Sem Danilo de início e com André André a baixar muitas vezes no início de construção, aproveitou para se libertar e foi o jogador mais interventivo em campo, tendo não só chegado várias vezes a zonas de finalização como tido diversas ações defensivas (16 no total). Uma boa exibição, mas ainda assim não deve continuar a haver muitas pessoas que teriam recusado uma proposta de 30M€ por ele no último verão. Fica também uma palavra para mais uma exibição bastante razoável de Otávio no meio-campo. 

Diogo Jota (+) - Entrou, agitou o ataque, fez um golo, arrancou um penálti e confirmou um estatuto invulgar para um jogador emprestado no seu primeiro ano de equipa grande: é o jogador do FC Porto com maior influência direta em golos por minuto no Campeonato. Diogo Jota faz um golo ou assistência a cada 110 minutos, uma média excelente para um menino que completou apenas 20 anos em dezembro. E agora? Agora terá a palavra o FC Porto, o Atlético de Madrid e Jorge Mendes. Não necessariamente por esta ordem. 





Será que chega? (-) - Quando Soares chegou ao FC Porto e teve uma entrada a matar, não tardaram as comparações com grandes goleadores da história do FC Porto. Uns falaram em Derlei, outros chegaram a Jardel. Mas talvez a comparação mais ajustada seria esta: Adriano. Não necessariamente pela qualidade técnica dos jogadores, mas por terem tido o seguinte papel: excelentes como reforços de inverno, mas talvez não o suficiente para serem considerados titulares no FC Porto a longo prazo.

Soares superou claramente as expetativas no FC Porto - 12 golos em 16 jogos é sempre excelente, apesar de nos últimos 9 jogos ter apontado apenas 3. Mas será necessário ponderar seriamente se terá a capacidade de se assumir como um titular indiscutível e decisivo no FC Porto. Adriano (que curiosamente também foi determinante num clássico contra Sporting, este sim verdadeiramente decisivo e a valer o título) também chegou, foi determinante na luta pelo título, mas a longo prazo viu-se que não deu para mais. 

Soares, que teve uma exibição francamente má no seu último jogo no Dragão (nenhum remate, nenhuma jogada de perigo), pode e deve ter a oportunidade de fazer a pré-época com a equipa, quiçá com um treinador que saiba trabalhar avançados, e com isso talvez até consiga evoluir e afirmar-se como uma solução de créditos de médio prazo, em vez de ser apenas um reforço de inverno com impacto imediato. No entanto, o presente recomenda que ninguém entre na próxima época a pensar que o FC Porto será Soares e mais 10. 

A cuspidela de Nuno (-) - Nuno Espírito Santo deu os parabéns ao Benfica. Nuno Espírito Santo deu os parabéns ao Benfica. Nuno Espírito Santo deu os parabéns ao Benfica. Sim. O mesmo Benfica que se aguentou na liderança ao som do apito, que tem ostracizado o FC Porto em todas as ocasiões, que vários portistas tentaram combater ao longo do último ano, com um revoltante sentimento de injustiça. Não, o FC Porto não jogou futebol de campeões em 2016-17, mas que ninguém diga que o Benfica jogou muito mais. Não foi um campeão incontestável. Nunca saberemos o que aconteceria em campos menos inclinados.

Mas o que faz NES? Cospe em toda a luta dos portistas ao longo da época, ao felicitar o Benfica. Percebe-se, de certa forma, que o faça. Afinal, os comentadores afetos ao Benfica em espaço televisivo têm feito questão de elogiar, e muito, NES desde o início da época. Por uma dupla razão: não só têm todo o interesse desportivo em manter NES no FC Porto como mantêm de pé o bom nome de um cliente de Jorge Mendes. E podem ter a certeza: não faltarão, nos próximos dias, benfiquistas a enaltecerem que fez um excelente trabalho e que merece continuar. Nem é preciso cartilha para o antecipar. Preocupante é que também haja portistas a partilharem dessa opinião, mas é um direito que lhes assiste. O problema é que as consequências, depois, tocarão a todos. 

O orgulho de Salazar (-) - Muitos portistas - e o próprio clube nas suas vias oficiais - decidiram chamar a este Campeonato a Liga Salazar. Mas muito possivelmente o que mais honra o legado de António Salazar não é o tetra do Benfica: foi o que se passou nas bancadas do Estádio do Dragão, com os Colectivo 95 a serem impedidos de fazer o que já se fez em tantas outras ocasiões - manifestarem o total e legítimo direito à crítica. À crítica. Não à ofensa, não à difamação, não ao insulto. À crítica. 

Os Colectivo não são a claque mais popular de Portugal, todos sabem isso. Mas são tudo aquilo que deve ser uma claque. Não priorizam merchandising ou proximidade com dirigentes/funcionários em detrimento da sua postura de adeptos independentes no Estádio do Dragão. Apoiam. Sofrem pela equipa. Viajam com a equipa. Estão lá nos maus momentos. Mas também têm algo fundamental: ter posição crítica. Essa mesma posição que, note-se, foi censurada por quem tem no seu cargo uma função que inclui a «ligação» entre adeptos. Os C95 esperaram pelo final da época para assumirem essa posição crítica. Ao longo da temporada, nunca faltou apoio à equipa. E agora, no final da temporada e numa fase em que se impõe a análise e o balanço, querem inibir o direito de opinião a quem sempre batalhou pelo FC Porto!?

O próprio presidente do FC Porto já tinha feito a distinção entre os verdadeiros portistas e os demais, entre os bons e os maus. Este episódio foi nesse sentido: bom portista, aparentemente, é aquele que fecha os olhos a tudo o que está mal, que come e cala, e que começa cada vez mais a invocar o passado em vez de se preocupar com presente e futuro. Não é uma conversa nova: já vem desde o milagre de Kelvin. São quatro - a caminho de cinco - anos a seco.

Nenhum, nenhum dos portistas que vibraram com o golo de Kelvin, há quatro anos, imaginaria que esta seria a realidade do presente: o Benfica se calhar está mais perto de ganhar o quinto Campeonato consecutivo do que o FC Porto o primeiro em cinco anos. 

Fica aqui uma total de manifestação de solidariedade para com os C95, como não poderia deixar de ser num espaço que também sempre fez uso da crítica legítima, sustentada e construtiva. Ainda assim, a tarja erguida não parece corresponder totalmente à verdade: o espírito de campeão já não parece viver em todos os portistas. 


Pró ano há mais. Do mesmo?

terça-feira, 9 de maio de 2017

Um amargo superar de expetativas

A duas jornadas do final do Campeonato, aconteceu o que chegou, a determinada altura da época, a parecer improvável: o FC Porto assegura a qualificação direta para a Liga dos Campeões. Motivo para celebrar? Não, porque ainda está para nascer o dia em que o FC Porto celebre o primeiro dos últimos lugares - ainda que o passado recente obrigue a concordar que já esteve mais longe. Mas por incrível que possa parecer, a surpresa em ver este FC Porto ir diretamente à Liga dos Campeões não é menor do que desilusão de ver o Benfica a um passo de ser tetracampeão pela primeira vez.

Não há portista que não sonhe alto, nem que não queira mais. Mas desde o início da época a realidade era esta: não foi uma temporada preparada para fazer do FC Porto campeão. Desde a escolha do treinador a toda a gestão da pré-temporada. No meio de tudo isto, o mais admirável é que o FC Porto tenha mesmo conseguido (a diferença de golos em relação ao Sporting já o assegura), sob o comando de Nuno Espírito Santo, ir diretamente à Liga dos Campeões. 

Todos temos que concordar que as arbitragens foram más esta temporada. Muito más. Sonegaram vários lances que poderiam ter ajudado o FC Porto a desbloquear alguns jogos difíceis. Por vezes as equipas não crescem e se constroem apenas com boas exibições: é preciso ter aquela pontinha de sorte num mau jogo, trocar a ópera pelos pontos, sofrer para vencer. 

Mas a verdade é só uma: este FC Porto, versão 2016-17, joga demasiado pouco. Demasiado pouco para poder clamar que tinha estofo de campeão. Como já aqui foi dito, o mais frustrante é mesmo isso: mesmo numa época de mau futebol, o FC Porto tinha todas as condições para ser campeão. Não o foi por motivos diversos: falta de algumas soluções no plantel (e outras desaproveitadas a determinado momento, começando por Aboubakar, passando por Brahimi e acabando em Layún), a falta de qualidade de Nuno Espírito Santo, as más arbitragens, um Benfica bem mais feliz na hora de apitar. Podemos também falar da bola que vai ao poste, do jogador que falha de baliza aberta, de infelicidades próprias do jogo. Também acontece. Mas as quatro coisas anteriormente referidas eram possíveis de se antecipar, ao contrário das meras incidências de jogo.

Vários leitores criticaram O Tribunal do Dragão por ter defendido muitas mais vezes Lopetegui do que o vez em relação a Nuno Espírito Santo. Não só é uma crítica válida como é verdade: houve muitos mais momentos de defesa a Lopetegui do que a NES. Mas há uma grande diferença na hora de avaliar os dois treinadores.

Lopetegui era um absoluto tiro no escuro. Praticamente nenhum adepto o conhecia. Foi uma aposta de Pinto da Costa da qual não sabíamos o que esperar. Ninguém podia afirmar «não vai resultar», porque pouco ou nada sabíamos de Lopetegui.

No caso de NES, já estava aos olhos de todos aquilo que podíamos esperar no FC Porto. Letra por letra. NES não tem qualidade para ser treinador do FC Porto. Pode vir a ter? Não sabemos, pode um dia evoluir bastante. Mas à data de hoje, não tem. Como não tinha após ter concluído - ou deixado por concluir - os seus trabalhos no Rio Ave e no Valência. Não fossem as expulsões da Roma no play-off e possivelmente nem à fase de grupos da Champions o FC Porto teria chegado. Ter começado logo desde o início da época a usar essa vitória como um atestado de crescimento e qualidade foi das piores coisas que se poderiam fazer.

São já seis pontos a menos do que os da época 2014-15. Menos golos marcados, mais sofridos. O FC Porto de Lopetegui, a tal equipa que falhava em momentos decisivos, fez uma belíssima Champions, lutou pelo título (quase) até ao final, valorizou um punhado de jogadores e teve melhor futebol. Muito melhor, sobretudo na época celebrizada pelo colinho. Ainda assim, muitos adeptos vaticinaram logo que não dava. E agora, dá?





Otávio (+) - Esteve mal no passe, mas conseguiu cumprir na função que lhe cabia no último terço: o momento do desequilíbrio. Fez um golo, conseguiu ter alguma objetividade na primeira parte e ainda quis mostrar trabalho defensivo, com um total de 13 ações na defesa. Soube medir bem os momentos em que tinha que sair para o drible (algo que conseguiu fazer duas vezes, enquanto Brahimi tentou 15) e adaptou-se bem ao caos híbrido que é o FC Porto 2016-17.

Outros destaques (+) - Primeira parte bastante boa de Héctor Herrera, que esteve sempre bem nos apoios no jogo interior. Esteve por todo o lado e ofereceu sempre soluções ao portador da bola, na melhor fase do jogo do FC Porto. Quando a equipa recuou, jogando da forma pequena como NES a idealiza, perdeu-se Herrera e perdeu-se o FC Porto. Até lá, Fernando Fonseca (há dois anos alvo de uma análise d'O Tribunal do Dragão que o apontava como um valor seguro - quanto a laterais-direitos estamos perfeitamente servidos, desde Ricardo Pereira a Diogo Dalot) e Brahimi (embora pecando demasiado no lance individual - mas a sério, quem o condena perante o que se passa à sua volta?) também iam fazendo pela vida. 





Não aprender com os erros (-) - Isto é um problema que transcende o FC Porto e a forma como NES aborda as bolas paradas defensivas, mas que afetou uma vez mais equipa. A «velha escola» do futebol ensinava uma coisa que se aprendia desde a formação: nos pontapés de canto, é preciso meter um jogador a cobrir o poste. Isto poderia, por exemplo, ter evitado o golo de Lisandro no Dragão, no FC Porto x Benfica da primeira volta. E também teria evitado este golo do Marítimo.

É preciso notar que o FC Porto tem os 11 jogadores na grande área a defender neste pontapé de canto (com Brahimi na quina da grande área, a evitar o canto curto, e Otávio na meia lua). E no meio de tantos jogadores, ninguém se preocupou em cobrir o poste... e o próprio marcador do golo do Marítimo. Djoussé está completamente sozinho no momento em que o pontapé de canto é batido! E André André pareceu ser o único a aperceber-se disso - o jogador que estava na outra ponta da jogada e que começou a correr que nem um perdido na grande área, numa missão, em vão, de tentar evitar o cabeceamento. Bolas paradas defensivas é uma coisa que se trabalha nos treinos e que obriga a coisas básicas, como saber cobrir os postes e ter atenção a um tipo forte fisicamente e no jogo aéreo, como Djoussé. Esta jogada ignorou tudo isso.

Nada. Não jogam nada (-) - Sabem aquele bronco que aparece nos estádios todos e cujo vocabulário de análise tática não vai muito além de «estes gajos não jogam nada»? Não precisa de dizer mais nada: é uma análise adequada a este FC Porto. NES não sabe nada do que é jogar à Porto. Joga no FC Porto como tentou fazê-lo no Rio Ave e no Valência. Tem culpa disso? Não, está a fazer um trabalho idêntico ao que fez noutras paragens. Culpa - ou responsabilidade - tem quem apostou nisso mesmo. NES está a ser igual a si próprio desde o início da época. Que responsabilidades lhe podemos imputar por fazer um trabalho de acordo com as suas ideias e valia?

Não há ideias para nada neste FC Porto. Ou se procura Alex Telles na profundidade para cruzar para terra de ninguém, ou bombeia-se diretamente a bola para a frente. O FC Porto tem extremas dificuldades em encontrar espaço no jogo interior e decide muitíssimo mal no último terço (algo que também é da responsabilidade dos atletas). É penosa ver a hesitação dos jogadores sempre que chegam à entrada da grande área: não sabem se hão-de dar mais um ou dois toques, se devem jogar em apoio, se devem aguentar a posse, se devem dar mais uma fintinha. Rematar é que nada. O guarda-redes do Marítimo fez duas defesas em todo o jogo. Duas! Num jogo em que se não houvesse vitória servíamos de bandeja o primeiro tetra da história do Benfica. 

Isto não é o tempo do Eusébio. Podemos invocar todos os Salazariamos, mas à época havia uma verdade insossa: o Benfica era melhor do que o FC Porto. Por isso ganhava mais vezes, por isso estivemos tantos anos sem ser campeões. Nos últimos 30 anos, o FC Porto habituou o mundo a ser melhor do que o Benfica. Mas agora, ver o Benfica ser tetracampeão nesta era? Nestas circunstâncias? Uma equipa que não consegue fazer ponta na Europa, mas que se prepara para fazer um póquer de títulos entre colinhos e campos inclinados? Um Benfica que à 8ª jornada de 2015-16 estava morto e que esta época não mostrou melhor futebol? E ainda assim, vão ser tetracampeões? Chegámos a esta fase: a fase em que o Benfica nem precisa de fazer muito para ser campeão. Ou lhe fazem a papinha, ou o FC Porto não consegue também ele servir um prato à altura. 

Ser 2.º classificado esta época é um superar de expetativas, pelo menos face às análises feitas neste espaço no início da época. Mas ver o Benfica ser tetracampeão desta forma? Inaceitável.  E agora, pagam a fatura os lesados do NES? Não. Porque se há algo que Nuno Espírito Santo fez esta época, foi algo que tem faltado a muita gente no seio do FC Porto: não ficou abaixo das expetativas, pois não era, à partida, particularmente expectável ganhar algo sob o seu comando esta época. A não ser que anseiem pela repetição do ciclo «a culpa é do treinador». 

Pró ano é que é. 

segunda-feira, 24 de abril de 2017

O melhor ataque dos últimos 20 anos

Trivia: qual era, à entrada para a 29ª jornada, o melhor ataque do FC Porto em casa dos últimos 20 anos? A resposta pode chocar: este. Este mesmo FC Porto, ontem incapaz de fazer um golo ao Feirense, mas que tinha, em igualdade com o FC Porto de Villas-Boas, o melhor aproveitamento de golos em jogos em casa (40). 

O mesmo FC Porto que acabou a seco em jogos contra Tondela, Setúbal, Belenenses, Paços de Ferreira e Feirense, que joga um futebol limitado desde as ideias que iam sendo trabalhadas na pré-época (por vezes disfarçado por bolas paradas e pelo talento individual dos jogadores, mas a base foi sempre inegável e nunca mostrou uma equipa com estofo de campeão), tinha o melhor ataque no Dragão. 

Em 30 jornadas, apenas uma derrota. A melhor defesa do Campeonato, que se mantém. E fora de casa, o segundo menor número de golos sofridos dos últimos 30 anos. Como é que uma equipa com estes predicados chega a esta fase a jogar tão sofrível futebol?

O mais frustrante é isto: este FC Porto joga pouco. Mas tinha, tem, condições para ser campeão nacional. É frustrante que numa época de tão pobre futebol, de tão pobres e inconsequentes ideias do seu treinador, de uma série de apostas falhadas (e outras ganhas, com mérito, essencialmente com reforços brasileiros), o título ter estado ali sempre ao virar da esquina, ao alcance.

Nos últimos 5 jogos, o FC Porto ganhou um. Desperdiçou 8 pontos. Esses 8 pontos já teriam arrumado a discussão da luta pelo título, e fariam do FC Porto um relativamente inesperado campeão em 2016-17. 

Este jogo contra o Feirense foi, novamente, um espelho da época. Uma equipa que não jogando particularmente bem não deixou de criar as suas oportunidades, de ter todas as condições para ganhar o jogo. Agora, não digam que estão a fazer tudo para serem campeões, pois quem serve oito pontos de bandeja em cinco jornadas, na decisiva reta final do campeonato, pode ter a ambição, mas não mostra estofo para tal.

Nuno Espírito Santo e os jogadores não têm, é claro, culpa de mais uma arbitragem prejudicial com dois lances de penalty, nem que Brahimi e Corona tenham estado ausentes quando havia (ou então devia haver!) planos para o regresso ao 4x3x3. Mas olhar para campo e ver uma equipa tão mal preparada, sem fio de jogo, com dificuldades contra qualquer equipa do campeonato português, com jogadores desviados das suas posições sem benefício para atletas e equipa...

Esta não foi uma época preparada para fazer do FC Porto campeão - basta recordar todas as incidências da pré-época, desde o atraso na chegada de reforços, as indefinições nas saídas, as lacunas que ficaram por colmatar e as ideias que NES ia demonstrando querer implementar -, mas no final das contas havia hipóteses de lá chegar. E provavelmente foram goradas nas últimas semanas.

Faltam quatro jornadas. E a maior incógnita não é saber se o Benfica vai perder pontos. É saber se o FC Porto não vai desperdiçar os que sobram. Lutar pelo título até ao fim sempre foi a ambição e, admita-se, algo que a determinada altura da época pareceu impossível. O problema é não notarmos que o fim talvez já aí esteja.



Movimentos de Maxi e Alex
Laterais (+) - O mapa ao lado é altamente ilustrativo: Maxi Pereira e Alex Telles passaram o jogo no meio-campo adversário, fizeram quilómetros e corresponderam na perfeição àquilo que NES sempre quis para os seus laterais (máxima profundidade). O problema é que sobem quase sempre numa missão solitária, sem os apoios apropriados no jogo interior, e assistiram a um festival de desperdício entre os 30 (!!) cruzamentos que conseguiram fazer para a grande área. Mas atenção: entre estes 30 cruzamentos, só um resultou num remate à baliza e outros quatro chegaram a zonas de perigo. O problema é que para um cruzamento ser perigoso, há que ter um avançado pronto para finalizar. Se André Silva e Soares andam ocupados a passear-se pelos flancos ou longe da grande área, nada feito. 

Que os adeptos não percebam as ideias de NES é uma coisa. Não é para os adeptos perceberem: é para a equipa perceber, render e ganhar jogos através delas. Que os adeptos não percebam, não há problema. Que os jogadores em campo não pareçam perceber, já é grave. Fica a grande nota de mérito para Maxi Pereira e Alex Telles: por eles, o resultado seria outro. 

Raio de ação de Danilo
Danilo Pereira (+) - O raio de ação de Danilo Pereira diz tudo: esteve em todo o lado, sempre à procura do primeiro momento de construção. Ganhou metros no terreno para empurrar a equipa para cima do Feirense, mas sempre em vão. Ganhou todos os lances pelo ar, tentou descomplicar, a determinada altura tentou ele subir no terreno, procurando um atalho que evitasse que a bola passasse por um miolo sem capacidade para encontrar espaço e servir os avançados. 

Mourinho chegou a dizer que com 11 Paulos Ferreiras ganha-se um campeonato. Com 11 Danilos talvez não fosse diferente. 



Tudo em redor de André Silva (-) - E, consequentemente, o próprio André Silva. Sim, não havia Corona e Brahimi, o que dificultou a tarefa para as alas. Mas uma vez mais, NES quer fazer dos avançados o que eles não são. Desta vez, André Silva até esteve mais vezes em zona interior (Soares caiu mais sobre a esquerda), mas nada, nada funcionou e a exibição de André Silva foi uma nulidade: tocou 2 vezes na bola na grande área, fez 7 passes, não ganhou nenhum lance pelo ar, fez dois dribles (na zona do meio-campo) e não fez um único remate (exceção ao golo anulado por fora de jogo). Alex Telles rematou mais, Casillas tocou mais vezes na bola e Karamanos, o ponta-de-lança do Feirense, fez mais passes e ganhou mais bolas divididas do que André Silva. 

Um dos mais promissores pontas-de-lança da Europa, que andou a carregar a equipa às costas na primeira metade da época, não está a render absolutamente nada nos últimos jogos. O que mudou? Não o jogador, mas a missão que agora lhe dão dentro de campo. Não há milagres, sobretudo recordando o quão felizes foram os avançados de Rio Ave e Valência no passado recente.

Cruzar, repetir! (-) - Ponto prévio: o FC Porto teve oportunidades, várias, para ganhar o jogo. E quando um jogador se exibe ao nível de Vaná, torna-se difícil. O FC Porto fez 14 remates na grande área, o recorde desta época. Mas isto não é um caso de «se uma bola tivesse entrado ninguém falava disso». Não. Foi dito o mesmo em jogos anteriores, onde a bola parada, André Silva, Brahimi ou Soares davam a pincelada que disfarçava muita coisa. 

Foi mais um desses jogos. O FC Porto teve oportunidades, mas os meios para os fins são sofríveis. André André e Óliver Torres poucas vezes encontraram os avançados, a equipa não se entendia no jogo interior, os avançados atropelavam-se no mesmo espaço e tudo acabou por resultar no mesmo: tentar meter a bola diretamente na grande área, usando e abusando da profundidade que Maxi e Alex Telles davam (e deram-la muito bem). 

Neste FC Porto não há ideias no espaço interior, há poucas desmarcações, poucas tabelas que abram o espaço, uma equipa que reagiu várias vezes mal ao momento da perda (algo que já fez bem esta temporada) e incapacidade para aproveitar todo o caudal que, com mais ou menos qualidade, foi levado à grande área. 

E no meio de tantas adversidades, o que mais revolta será sempre isto: o FC Porto tinha, tem, condições para chegar ao título em 2016-17. Não «graças a», mas «apesar de».

terça-feira, 18 de abril de 2017

Do 2 para o X2

É a principal consequência do empate em Braga: o Benfica já pode rever os seus planos para Alvalade. Se o FC Porto fizesse a sua parte, não haveria alternativa para o Benfica: teria que jogar para ganhar ao Sporting, riscando a estratégia defensiva e de contenção que Rui Vitória já abraçou em outros clássicos. Mas com a igualdade em Braga, tudo mudou: o Benfica pode agora jogar para dois resultados no clássico. Uma mudança no totobola que certamente vão apreciar. 

O título ainda é possível, mas não para a equipa que esteve em campo diante do SC Braga, sobretudo na primeira parte. As gírias são muitas vezes vazias e pouco sustentadas, mas neste caso assenta que nem uma luva: uma equipa que não joga nada. Bem sabemos que o talento individual dos jogadores - leia-se Brahimi - e as bolas paradas (ninguém marca mais do que o FC Porto desta forma no Campeonato) têm os seus limites para aguentar o barco, mas uma equipa que quer ser campeã, por mérito próprio, não joga desta forma. 

Isso, tal como na época 2014-15, não pode invalidar ou abafar o que se vai passando ao som do apito. Foi mau de mais. O Braga bateu o recorde de faltas cometidas em Portugal (32!) e, ainda assim, conseguiu a proeza de acabar o jogo com menos cartões do que o FC Porto e com 11 jogadores em campo. As arbitragens inclinaram nitidamente o campo em desfavor do FC Porto esta época. Isso é algo de que Nuno Espírito Santo e os jogadores não têm culpa. Mas o passado recente, nomeadamente há duas épocas, mostrou bem que os adeptos (a maioria) preferem vaticinar o demérito para a ausência de títulos do que culpabilizar as péssimas arbitragens. Tem que haver um equilíbrio, claro. 

Em 2014-15 fizemos 82 pontos, e não chegou para o título por um fenómeno chamado colinho. Neste momento, na melhor das hipóteses, o FC Porto pode chegar aos 83 pontos, sendo certo que já tem mais golos sofridos do que na totalidade da referida temporada, o que também vai deteriorando o mérito possível no futebol praticado esta época: o bom trabalho defensivo. 

Estar, neste momento, ainda na luta pelo título continua a ser um grande superar de expetativas, tendo em conta a forma como foi preparada a pré-época. Mas após meses e meses de adversidades que, de maneira mais ou menos ortodoxa, a equipa ia conseguindo superar, é desolador testemunhar a apatia, falta de ideias e o caos táticos que se passeou em Braga. Eram capazes de mais. Deviam ser capazes de mais. 

E agora? Resta torcer pelo Sporting, esperar que consigam vencer o Benfica. E caso esse milagre aconteça, nos restantes 5 jogos pode não ser necessário apenas vencer, mas sim também golear. E isso não se consegue a jogar como em Braga.




Brahimi (+) - Não poderemos contar com ele frente ao Feirense, por ter dito algo em francês que, rezam as crónicas, o quarto árbitro não percebeu. Ou então sim: se foi de facto isto que aconteceu, o FC Porto tem que se socorrer de todas as vias necessárias para anular a expulsão. É ridículo de mais para ser verdade. Sapunaru, um dos nossos, divertia-se a mandar os árbitros irem para as couves em romeno. Aparentemente, os árbitros percebiam o que ele dizia, pois se não percebessem, segundo o mesmo critério, teria sido mandado muitas vezes para a rua. Absurdo.


Futebolisticamente falando, é um oásis no futebol do FC Porto: à sua volta, só se vê um deserto, um deserto de ideias coletivas. Brahimi recebe invariavelmente a bola em zonas demasiado distantes da baliza. Consegue sempre deixar um ou dois para trás, mas depois não aparecem soluções em zonas mais interiores. Está a rematar mais (foi o mais rematador da equipa), mas sobretudo por não encontrar alternativas. Vai remando contra a maré com inconformismo, irreverência e uma revolta nítida de quem quer que as coisas saiam melhor. A ele e à equipa. 

Alex Telles (+/-) - Somou mais uma assistência para golo e foi o jogador que conseguiu forçar mais vezes a entrada na grande área adversária (mais do que Brahimi ou até Soares e André Silva, o que mostra bem o resultado de encostar André Silva ao flanco - já lá vamos). Só perdeu um lance de 1x1 e criou mais duas situações de golo, infelizmente desperdiçadas, e cometeu o erro num momento crítico: o cruzamento do qual saiu o 1x0. Ainda assim, soube reagir ao erro. 

O livre dos 85' (+/-) - Isto não nasce da inspiração do momento: é um tipo de lance que se trabalha nos treinos, e que tem que ser repetido muitas vezes até sair bem. E saiu (quase, quase...) bem. Minuto 85, livre em zona frontal, e o reflexo de qualquer equipa pode ser o de tentar o remate direto ou a bola bombeada para a grande área. Mas ali houve calma, cabeça e inteligência para surpreender o adversário e tentar um novo tipo de bola parada: bola curta no livre, cruzamento para a grande área e Danilo a aparecer na perfeição na zona de finalização. Mas não apenas Danilo: o próprio Felipe aparece solto de marcação mesmo ao lado, pronto para encostar. Infelizmente, Danilo falhou uma grande oportunidade, naquela que foi uma das melhores jogadas do FC Porto 2016-17 - e só foi preciso três toques para a criar. Tivesse a bola entrado e poderia ter sido uma jogada a marcar a época. Mas, pelo menos, viu-se trabalho de casa dos treinos. Não o suficiente para passar no exame, infelizmente. 




André Silva à direita (-) - Não há palavras simpáticas para o descrever: André Silva está a ser uma nulidade encostado à faixa direita. E isso não tem a ver com a qualidade do jogador, mas sim por não ter caraterísticas para jogar naquela posição, naquelas funções. Vale para André Silva como valeria para Soares: temos dois pontas-de-lanças feitos para jogar na grande área, não encostados na faixa para servir de apoio a um ataque que pouco produz. 

André Silva jogou várias vezes com grande amplitude e liberdade na primeira metade da época, mas sempre tendo o eixo como referência. Sabia que tinha que aparecer na grande área, os movimentos que tinha que fazer, quando devia descair nos flancos para dar apoio. E quando André Silva começou a jogar mais por dentro em Braga, fazia-o bastante distante da grande área. O resultado foi este: André Silva tocou duas vezes na bola na grande área, perdeu 16 vezes a posse e só conseguiu ganhar um lance de 1x1. Sofrível, o equivalente a se algum dia um treinador tivesse a ideia de colocar Fernando Gomes, Jardel ou Falcao no flanco. 

Não foi André Silva que desaprendeu. Simplesmente André Silva não pode desempenhar o papel que NES idealiza para aquela função. Nem ele nem Soares. Cabe a NES decidir: ou muda o sistema, ou então terá que rever os seus planos para aquela posição e quiçá jogar com apenas Soares ou André Silva. É certo que os dois juntos já revelaram sintonia e produtividade, mas com o puxão de André Silva para o flanco direito jogar com um ou dois não está a fazer diferença. 

O vazio de ideias (-) - Bola longa, bola longa, bola longa. Patada para a frente, patada para o flanco, quem quiser quem a apanhe. É sofrível chegar a esta fase da época e ver o FC Porto jogar assim, sem a capacidade de sair em apoio, encontrar soluções entre linhas, jogar no pé em vez de procurar sempre o espaço. Não há ideias: a partir do momento em que a equipa adversária fecha os flancos, o FC Porto não tem outra alternativa senão dar a bola a Brahimi ou atirá-la em profundidade, à procura do espaço que não existe.

Este é um dos Bragas mais caóticos dos últimos tempos, e mesmo assim o FC Porto foi incapaz de aproveitar as limitações de uma equipa que a cada dois passes falhava um. Sim, o SC Braga teve apenas 55% de passes certos na segunda parte. Ou seja, a cada 10 passos que fazia, praticamente falhava metade. Diz isto que o FC Porto é capaz de recuperar a bola ou perturbar a circulação do adversário. Isso sim. O problema vem depois: não sabe o que fazer com ela. E sem a bola parada ou a inspiração individual dos jogadores, nada feito. 

E no meio de todas estas limitações e dificuldades, o FC Porto chega à 30ª jornada ainda com esperanças na luta pelo título. O equivalente a percorrer uma maratona com cãibras, muitas vezes a mancar, uma técnica de corrida questionável, mas ainda sim ter a meta à vista e apenas um gajo à frente a correr, também ele a arrastar-se de bengala para chegar à meta. Há esperanças de que sofra uma rasteira e que fique caído. Mas com corridas como a de Braga não vamos lá. 


PS: Muitos leitores notaram e questionaram uma redução no número de publicações d'O Tribunal do Dragão nas últimas semanas, algo que chegaram a chamar de «silêncio». Não se trata de silêncio ou ausência de temas que merecem comentário, mas indisponibilidade profissional e pessoal para corresponder ao número de posts desejado. As crónicas de jogo serão sempre publicadas (mesmo com atrasos, como aconteceu neste caso), mas não tem havido o tempo desejado para explorar outros conteúdos.

Ainda assim, há o reconhecimento que deve ser dado ao trabalho que está a ser realizado no Porto Canal, em particular no programa Universo Porto. O Tribunal do Dragão escreveu, um dia, numa reação a uma pequena polémica que muitos recordarão, isto: «O Tribunal do Dragão faz o que gostaria que fosse o clube a fazer. O que provavelmente todos os leitores deste espaço gostariam que fosse o clube a fazer.» E é mesmo isso que o Porto Canal, em particular nas intervenções de Bernardino Barros e Franciso J. Marques, está a fazer: uma defesa sustentada do FC Porto nos bastidores e meandros do futebol português. Pertinente, incisiva, perspicaz. O Tribunal do Dragão terá sempre o seu cantinho na bluegosfera, mas é bom ver o FC Porto, finalmente, servir-se das suas vias oficiais para fazer o tipo de trabalho que os leitores se habituaram a apreciar neste espaço. 

segunda-feira, 13 de março de 2017

Vamos à décima

Sem espinhas. Nona jornada consecutiva a vencer, sem sofrer golos nas últimas cinco, e a confirmação/continuação do melhor momento da época, com o tónico perfeito para as últimas nove jornadas do campeonato. Faltam 27 pontos em disputa, e o FC Porto acaba de somar 27 em 27 possíveis, acrescentando eficácia ofensiva a uma equipa há já muito sólida defensivamente.


O Arouca não é nenhum exemplo de poderio (vem de 5 derrotas seguidas), mas estamos numa fase em que o mais pequeno deslize pode custar as esperanças na luta pelo campeonato até ao fim. A pressão é enorme, mas o grupo de trabalho tem sabido lidar com ela. 

No final da época, aconteça o que acontecer, ninguém poderá afirmar que faltou Porto a este grupo de jogadores. Ser Porto não é ganhar sempre, mas é lutar sempre para ganhar. Este grupo não tem lutado por outra coisa.




Brahimi (+) - O melhor FC Porto desta época teve sempre o melhor Brahimi. Regressou à dimensão que parece bem maior do que o campeonato português, com o altruísmo que tantas vezes lhe faltou. Prova disso é que não rematou nenhuma vez em Arouca (e devia!), mas criou seis situações de golo e fez da defesa do Arouca faca quente em manteiga, sobretudo na primeira parte. Está longe dos números da primeira época quer em golos, quer em assistências, mas carrega, mais do que nunca, as esperanças do FC Porto no seu virtuosismo.


Meio-campo (+) - O FC Porto continua a ganhar metros no terreno: é capaz de circular a bola mais à frente, o que não só empurra o adversário para trás como não obriga os avançados a jogarem tão longe da grande área. Danilo foi o pêndulo habitual, essencial na dimensão física do jogo e certinho na saída de bola, além de ter inaugurado o marcador. Óliver voltou a ridicularizar os momentos em que acharam que a sua presença no banco podia combinar com um melhor FC Porto: 92% de acerto no passe, excelente no controlo do ritmo de jogo e a fazer parecer tão simples jogar com a cabecinha levantada, como foi exemplo o passe para o 2x0. Sobre André André, já aqui foi muitas vezes descrito como sendo um jogador que dificilmente ultrapassará o campo da utilidade no FC Porto. É verdade. Mas que nos últimos jogos tem sido útil, tem, sem dever muito ao que foi o melhor rendimento de Herrera esta época. 

A presença de Soares (+) - Nove golos em seis jornadas, que renderam seis vitórias? Perfeito. É inegável que Soares não é um prodígio técnico - é sempre o jogador com mais perdas de bola em campo e raramente ganha um lance de 1x1. Mas tem revelado um talento não menos importante e muitas vezes difícil de encontrar: a capacidade de estar no sítio certo para finalizar. Ou Soares vai ter com a bola, ou a bola vai ter com Soares. Muito bem não só na presença na grande área como na sua capacidade para atacar o espaço. Falhou algumas boas ocasiões, mas lá está: estava sempre bem colocado para a criar. O futuro dirá se o seu momento é uma espécie de Pena v2.0; o presente diz que é um reforço que está a ser absolutamente determinante nas aspirações do FC Porto. Mérito a quem viu nele uma solução para o mercado de inverno, porque, para esse efeito, acertou em cheio.

Solidez defensiva (+) - Casillas voltou a ser um mero espectador, sem ter feito qualquer defesa durante o jogo. O Arouca raramente existiu em termos ofensivos e o FC Porto esteve sempre perfeitamente equilibrado, com Maxi e Marcano particularmente em destaque na defesa. Quando a equipa não dá abébidas na defesa e produz ocasiões em abundância no ataque, as vitórias apareceram com naturalidade. 

Amanhã, Turim. Não sabemos o que vai acontecer contra a Juventus, mas sabemos o que tem que acontecer no domingo: vencer o V. Setúbal. Independentemente do resultado em Turim, há que chegar a esse jogo com confiança, cabeça levantada e novamente determinados na luta pelo título.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Sete a zero

Não é todos os dias que se vence por 7-0 no Campeonato - e prova disso é que o FC Porto não o fazia desde 1999. Mas não só: ter o melhor ataque, a melhor defesa e depender de si próprio na luta pelo título a 10 jornadas do final é excelente, sobretudo para quem se recorda do aperto que se sentia aos 90 minutos do jogo frente ao SC Braga, onde o FC Porto parecia incapaz de marcar um golo que fosse.

Contra o Nacional, foi um festim. Ressaltos, bola a bater nos defesas, no guarda-redes e a entrar de qualquer maneira. Desde esse jogo frente ao SC Braga, o FC Porto fez 37 pontos em 39 possíveis. Só falhou mesmo na visita ao Paços de Ferreira (0x0). E é curioso precisamente lembrar o que foi o caudal ofensivo da equipa nesse jogo.

Em Paços de Ferreira, o FC Porto rematou 23 vezes, criou 14 ocasiões, ganhou 14 cantos e foi 59 vezes à grande área adversária. Contra o Nacional, rematou 25 vezes, criou 18 ocasiões, ganhou 4 cantos e foi 39 vezes à grande área. A diferença? Não só a eficácia, mas também maior ambição e objetividade na procura da baliza adversária.

O minuto 66 foi o mais marcante de todo o jogo: o momento em que NES, já com o resultado feito, retira Danilo, lança Diogo Jota e dá um sinal claro à equipa de ir para cima do adversário e marcar mais golos. Bem diferente do FC Porto que se resguardava à vantagem mínima, mesmo em casa, mesmo contra 10. Não é bater em mortos: é ter ambição, é querer mais golos, é querer jogar melhor, é querer favorecer o espetáculo quando o resultado já está feito. 

É deixar-nos a querer mais do mesmo já na sexta-feira, em Arouca.




Óliver Torres (+) - Um perfeito exemplo do que acontece quando Óliver tem a possibilidade de passar mais tempo no meio-campo adversário do que nos primeiros 40 metros. 90% de acerto no passe, três ocasiões de golo criadas, um golo, 16 ações defensivas e uma incrível capacidade de jogar em toda a largura do terreno. Jogou e fez jogar, e fez dois jogos completos seguidos pela primeira vez desde outubro. No que resta desta luta, será essencial que faça muitos mais.

Na grande área (+) - O que têm em comum os golos de André Silva e Soares? Estão ambos na grande área enquanto um deles está a marcar. Apesar de André Silva ter jogado muitas vezes pela faixa direita, a dinâmica da equipa permitiu que os dois pontas-de-lança, no momento do último passe ou do cruzamento, estivessem ambos posicionados na grande área para finalizar. Quando assim é, a bola acaba por entrar, e prova disso foi o festival de ressaltos e desvios que acabou sempre com a bola na baliza. Além disso, apesar do FC Porto ter criado diversas situações de finalização, tendo sempre colocado muita gente na grande área, a equipa raramente foi apanhada em contrapé. O Nacional fez apenas um remate, que mal aqueceu as mãos de Casillas. Impecável.

Brahimi (+) - É verdade que foi o jogador com mais perdas de bola, mas isso também está relacionado com a insistência em forçar o 1x1 - ou até o 1x2. E ainda bem que o fez, pois foi responsável por metade dos dribles eficazes da equipa (10), foi constante sinónimo de perigo no lado esquerdo, arrastou marcações, abriu espaços, contribuiu com um golo e aparenta estar mais forte fisicamente, pela forma como consegue segurar a bola e ser agressivo na pressão. Se esta não é a melhor versão de Brahimi que o FC Porto já teve, anda lá perto. E se é certo que fez muita falta na primeira metade da época, pode fazer a diferença no que resta da temporada.



terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Derby à moda do Porto

Estas sabem melhor do que qualquer recital que termine em goleada. Um derby no verdadeiro sentido da palavra. A raça, a garra e o crer a terem que se sobrepor à qualidade durante grande parte do jogo. A motivação e determinação que crescem à medida que o campo inclina, com o patrocínio do jovem árbitro a quem um dia chamámos «um wonderboy apropriado para Maxi Pereira» - e que agora ironicamente o expulsou.

Boavista, aquele Boavista de que tanto gostamos: sarrafeiros, sujos, a olharem para nós como se tivessemos canela até ao pescoço. Esta é a imagem de marca do Boavista nos derbys. E que gozo nos dá vencê-los após estas circunstâncias. Não imaginamos um Boavista de nenhuma outra forma. Ajudam a apimentar os derbys desta forma, diga-se. 

Este tipo de jogos só servem para enrijecer os jogadores. Não viram ninguém a encolher-se, a tirar o pé, a deixar-se afetar pela pressão. Pelo contrário: foi uma prova cabal do espírito deste grupo de trabalho, que teve como consequência uma boa vitória.




Óliver e o golo (+) - Tão simples, tão difícil, tão bom: toda a inteligência de Óliver neste lance, mas também um exemplo de como toda a equipa foi capaz de estar bem colocada nesta jogada. É Marcano, longe de grande área, que vai junto à linha obrigar a puxar o lateral-esquerdo. Com isso, abriu-se um enorme espaço na zona interior para Corona - que está sempre em posição regular pois Brahimi e Soares estão a empurrar a linha defensiva. O passe de Óliver é sublime, pois foi capaz de esperar pelo melhor momento para aproveitar a melhor solução. O seu passe deixa para trás 3 jogadores do Boavista e coloca Corona numa posição perfeita para cruzar. Nuno pode imaginar mil e uma formas para o FC Porto jogar, mas pode ter a certeza de uma coisa: Óliver e mais 10. E com Óliver em campo, quem está à sua volta jogará sempre melhor.

As zonas de ação de Óliver contra o Boavista
A partir daqui, o cruzamento de Corona foi perfeito, a fazer a bola cair entre o guarda-redes e o último defesa, para Soares aparecer. E este não é um golo em que era preciso encostar: Soares está sozinho na grande área. Corona só o tinha a ele para finalizar. A bola foi lá direitinha, mas Soares soube atacar o espaço certo - Brahimi já estava, também ele muito bem, pronto para a segunda bola nas costas. Um excelente golo, e com uma boa jogada ganhou-se o derby.


Iván Marcano (+) -  O Boavista teve quatro tentativas de remate à baliza: duas foram defendidas por Casillas... e as outras foram cortadas por Marcano. Continua numa forma irrepreensível: o seu sentido posicional é simplesmente perfeito. Tem estado sempre bem colocado, chega a todas as bolas, voltou a ganhar todos os lances pelo ar e ajudou a que Boly também fizesse um jogo positivo. Um percurso à Pedro Emanuel: chega ao FC Porto numa idade já avançada, sem que dêem muito por ele, começa de forma algo intermitente na equipa, agarra o lugar e torna-se indiscutível não só pela sua qualidade, mas pela forma como personifica tudo o que os adeptos querem ver num central. Se quiser bater um penaltyzinho decisivo, a malta também agradece. 

Brahimi (+) - Brahimi completou 10 dribles durante a partida - a equipa toda do Boavista teve 9 e os jogadores do meio-campo para a frente do FC Porto também 9. Isto mostra bem a influência e o que distingue Brahimi. Mas não são fintas inconsequentes, ou voltas de 360º: Brahimi vai para cima dos defesas com objetividade, a partir do lado esquerdo, descompõe toda a defesa adversária e tentou sempre servir os colegas - não rematou nenhuma vez, algo que também lhe faltou, pois andou sempre à procura de alguém na grande área. Como é que conseguimos chegar até meio da época sem tirar proveito do seu talento, e mantendo-se na luta pelo título, será sempre um mistério.

A corrida de NES (+) - O melhor momento de Nuno Espírito Santo ao serviço do FC Porto: a forma como se impôs, de imediato, na defesa a um dos seus. Corona foi anjinho, podia ter ali arranjado sarilhos dos grandes (Talocha devia ter sido expulso, mas Corona podia ter prejudicado toda a equipa por ter reagido a quente - e acabou por estar na origem da expulsão do treinador), mas foi muito bom ver NES a reagir, de pronto, na defesa a um dos seus jogadores. Treinador que esteja sempre na linha da frente na defesa ao seu plantel, independentemente de todas as limitações táticas, terá sempre apreço pela sua liderança. Um gesto que valeu mais do que 50 conferências de imprensa monocórdicas e politicamente corretas. NES foi mais Porto naquele sprint do que em 70 repetições de «Somos Porto» ou «o Dragão é a nossa fortaleza». Um gesto vale mais do que mil palavras. 




A rever (-) - Brahimi estava a ser forte nos movimentos interiores - e com isso, ia abrir-se espaço do lado esquerdo. Normalmente, essa lacuna é preenchida com a subida do lateral-esquerdo. Mas o que vimos foi que Soares passou a maior parte do jogo encostado ao lado esquerdo. Uma vez mais, isso é expor Soares a um trabalho que não deveria ser o seu. Esse desvio de posição fez dele o jogador com mais perdas de bola e com apenas um lance ganho em 1x1 entre os 14 que tentou disputar.

Soares está de pé quente, tem que ser aproveitado na grande área. A primeira e única bola que lhe deram deu em golo. Estar sucessivamente encostado ao flanco acaba por o prejudicar, embora seja nítido, desde o início da época, que NES vai sempre pedir isso ao seus avançados. Soares está a superar as expetativas neste seu arranque no FC Porto, mas se querem fazer dele o que não é, isso acabará por prejudicar o jogador. Entre os 14 golos de Soares na Liga, 13 foram marcados no enquadramento entre a marca de penalty e a baliza (a exceção foi o golo ao Tondela). Junto ao flanco, está a ser o jogador com mais perdas de bola. Quanto mais perto estiver da grande área, melhor. 

Ainda neste âmbito, o FC Porto perdeu muito na segunda parte com a saída de Corona. Pois Corona estava a conseguir dar muita largura do lado direito. Com a entrada de Jota, o FC Porto afunilou demasiado o seu jogo - forçou Maxi Pereira a subir mais vezes e a falta de pernas fez-se notar na segunda parte. É certo que o FC Porto não tem outro extremo direito no plantel, não com as caraterísticas de Corona, mas era necessário procurar dar maior largura naquela fase.

Além disso, houve pouca gente a chegar a zonas de finalização. Entre os médios do FC Porto, só houve um toque na grande área adversária, de Óliver. Os três médios passaram a maior parte do jogo atrás da linha de meio-campo (André André começou por pressionar muito à frente, mas adiantava-se apenas no momento defensivo, deixando sempre um vazio que só Brahimi preenchia com os movimentos interiores). Corona e Brahimi não remataram nenhuma vez, o que mostra que o FC Porto, apesar de ter tido boas oportunidades, meteu pouca gente em zonas de finalização e faltou mais gente a rematar.

O Boavista, aliás, foi mais vezes à grande área do FC Porto do que o contrário - ainda que tenha criado menos lances de perigo, mas Casillas revelou-se, uma vez mais, decisivo no pouco que teve que fazer. Num derby, sobretudo jogado da forma a que o Boavista obrigou, é sempre complicado e o que importa é vencer. Mas vêm aí jogos em que a raça, o crer e a determinação não vão chegar. Não é preciso muito: basta multiplicar aqueles 15 minutos iniciais. 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Lógica por linhas tortas

Há dias em que o futebol tem lógica. A Juventus é pentacampeã italiana e vai a caminho de um inédito hexa, o que mostra bem que estão numa das melhores fases da história do clube. Só o que Pjanic e Higuaín custaram paga todo o plantel do FC Porto. A Juventus tem um dos melhores plantéis da Europa, com o equilíbrio perfeito entre experiência, maturidade e talento. São técnica e taticamente muito superiores ao FC Porto. Posto isto, a única surpresa para esta eliminatória será a Juventus não passar. Tal como ontem a surpresa seria a Juventus não se impor no Dragão.


Há dias em que o futebol tem lógica. A Juventus é melhor, foi melhor e ganhou o jogo. Não há portista que não entre numa eliminatória destas sem uma pontinha de esperança em vergar a lógica. Foi graças a essa atitude que Viena e Gelsenkirchen, ou Sevilha e Dublin, ou até Tóquio não são apenas nomes de cidades para nós. Mas os argumentos da Juventus são imensamente superiores, a todos os níveis.

Na Liga dos Campeões, o FC Porto já cumpriu os seus objetivos, com uma dose de felicidade já bem generosa: as três expulsões contra a Roma (agora provámos o efeito contrário) e o penalty em Brugge que pode muito bem ter invertido o rumo da fase de grupos. Sem estas incidências nestes dois jogos podíamos nem ter chegado a esta eliminatória contra a Juventus. Isso sim seria preocupante, pois passar a fase de grupos era um objetivo e uma necessidade. A partir daqui, ou se contraria toda a lógica e expetativas, ou acontece o que aconteceu no Dragão: o testemunho de uma equipa superior.

Ninguém pode exigir aos jogadores ou a Nuno Espírito Santo que eliminem uma das melhores Juventus da história. Muito menos quando, ainda há bem pouco tempo, o FC Porto atravessava reconhecidamente uma das fases mais negativas da história do clube. Estes opostos dificilmente terminarão com a eliminatória em festa.

Antes de defrontar a Juventus, o FC Porto tinha que ganhar ao Boavista. Continua a ter que fazê-lo. Não há que pensar em Turim mas sim nos 9 pontos que têm que ser feitos contra Boavista, Nacional e Arouca. A nossa luta é esta e já vai dar trabalho de sobra. 




A organização defensiva (+) - É o único traço verdadeiramente positivo da identidade da equipa esta época. Raramente apanham o FC Porto num momento de descompensação defensiva. Mesmo com dez, a Juventus poucas vezes entrou no último terço em superioridade, as tabelas poucas vezes tiveram consequência e Felipe (muito bem no jogo aéreo) e Marcano foram ótimos na missão possível: afastar a bola da grande área. Quanto à organização defensiva, só se pode elogiar Nuno Espírito Santo. E depois podem puxar pela memória e lembrar-se da última vez que disseram isto: «Naquele ano ganhámos o campeonato porque defendíamos muito bem». Pois.


Brahimi (+) - Do meio-campo para a frente, tudo o que de bom pudesse acontecer teria que nascer dos pés de Brahimi. Foi ele o único a tentar algo enquanto esteve em campo: seis dribles em progressão, nove duelos ganhos, um dos três remates do FC Porto (nenhum à baliza) e o único capaz de mostrar alguma habilidade na procura da baliza da Juventus. Com a sua saída desapareceram de campo as únicas ideias do FC Porto para tentar chegar ao golo. 

Herrera (+/-) - Não pela exibição, mas por aquela velha frase de que uma imagem vale mais do que mil palavras. O estado do pé de Herrera é sugestivo. Não o viram a queixar-se, não pediu para sair. Aguentou, não virou a cara à luta e honrou a braçadeira de capitão que tinha no braço pela sua atitude. Também é por isso que é capitão: um estatuto que tem que ser reconhecido e compreendido pelo treinador e pelos colegas, não pelos adeptos. Quem acha que esta atitude não é significativa talvez tenha o cérebro em pior estado do que o pé de Herrera. 




A ausência de Óliver (-) - Esta Juventus tem um rosto: Pjanic. Que delícia é vê-lo jogar. Todo o futebol da Juve passa por ele: seja no passe curto, na progressão, na variação de flanco ou no momento de esticar o jogo. Sem Pjanic, esta Juventus não seria a mesma. Uma espécie de FC Porto sem... Óliver.

Não havia ponta de fio de jogo no FC Porto do meio-campo para a frente, mesmo antes da expulsão de Alex. Ninguém a saber tratar a bola, a perceber o momento para a soltar, para apoiar, para solicitar os colegas. Nada. Ou Brahimi ia para cima dos defesas, ou nada acontecia. Não houve um único passe nos últimos 35 metros para situação de finalização - o mais próximo disso foi o cruzamento de Layún para Herrera. Nada. Não iam ser Danilo, Rúben ou Herrera a consegui-lo. E mesmo que André Silva tivesse continuado com Soares na frente, dificilmente haveria capacidade para imaginar uma jogada que desmontasse a organização defensiva da Juve.

Percebe-se a intenção de NES: quis jogar para o 0x0 e esperar que, em Turim, o FC Porto tivesse o espaço desejado para as transições rápidas e explorar o espaço em profundidade. Mas podem contar pelos dedos das mãos as vezes em que apanham a defesa da Juve em contra-pé, seja no modelo em que jogaram ontem, seja no esquema de três centrais. Não funcionou. 

O FC Porto anunciou a compra do passe de Óliver a 9 de fevereiro. Desde então foi três vezes para o banco, e ontem nem de lá saiu. Dá para compreender esta gestão de recursos? A SAD anuncia a compra do ativo mais caro da história do clube (a par de Imbula), e logo a seguir Óliver deixa de contar como titular para NES? Querer encontrar a melhor versão desde FC Porto sem Óliver é algo que nunca baterá certo. 

O abandono a Soares (-) - Soares estava a fazer a sua estreia na Liga dos Campeões. Há confiança pelos golos que marcou recentemente, mas ter que jogar contra Chiellini e Barzagli é um pouco diferente do Campeonato português. No momento da expulsão de Alex Telles, a decisão seria sempre difícil para NES. Saiu André Silva, mas a forma como Soares ficou completamente desamparado no ataque foi deveras preocupante. Pediram-lhe o impossível. Soares não seria nunca uma solução para jogar em profundidade, o que já retirou metros à equipa. Houve uma clara tentativa de colocar Soares a segurar a bola, mas depois o apoio nunca chegava. Isso fez com que Soares fosse o jogador com mais perdas de bola em campo, só tivesse arrancado 2 faltas (crítica extensível a toda a equipa - com 10, o FC Porto tinha que procurar os lances de bola parada), não tenha ganho nenhum lance de 1x1 e nem um esboço de remate para amostra. Sem culpas no cartório: Soares ficou sozinho no ataque para tentar ser o que não é. É mais um ajudar, mas não alguém que vai resolver tudo sozinho. Não é Hulk, é Soares. Não queiram fazer dele um salvador da pátria. O resultado esteve à vista: Casillas levou para casa uma camisola de Buffon sem pinga de suor.

Uma noite má (-) - Todos os jogadores têm noites más. E se calhar foi melhor tê-la contra a Juventus do que contra o Boavista. Mas algo se passou com Alex Telles, que fez 27 minutos irreconhecíveis para um jogador da sua já demonstrada valia. 8 perdas de bola, 7 passes falhados, 3 faltas e uma única chegada aos últimos 30 metros. Foi mau, ele sabe que foi mau, mas há que assumir que foi apenas isso: uma noite má, como calha a todos. Uma reação contra o Boavista será bem vinda, Alex. O outro Alex, que estava do outro lado, andou meses a ouvir coisas bem menos simpáticas nos seus primeiros tempos no FC Porto. 

Faltam 12 jornadas para o final do campeonato e é nelas que o FC Porto tem que pensar. Talvez nem o melhor FC Porto chegaria para bater esta Juventus. Mas no Campeonato português, mesmo sem o melhor FC Porto, estamos na luta e a depender de nós próprio. Talvez mais «apesar de» do que «graças a», mas as contas do campeonato são as mesmas: dependemos de nós próprios para chegar ao título. E não há o risco de aparecer nenhuma Juventus pelo caminho.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Identidade alternativa

No início da época, Nuno Espírito Santo disse à revista Dragões que queria uma equipa construída em dois princípios: a) «pressão intensa para recuperar a bola»; b) «chegar o mais rapidamente possível a zonas onde podemos transformar essa posse em golo».

Em Guimarães, ficou patente que já não é defeito, é feitio: o FC Porto desistiu de ser uma equipa que assume o jogo em posse, que constrói, que trabalha para abrir o espaço. Estamos em fevereiro, e não é nos últimos três meses da época que isso vai mudar. 

O FC Porto mostrou-se, em Guimarães, uma equipa forte e preparada na pressão ao adversário, capaz de matar a esmagadora maioria das jogadas de ataque antes dos últimos 25 metros. Uma equipa muito organizada e fiável na pressão defensiva. Para recuperar a bola e suster o adversário, excelente. O problema aparece depois: quando é preciso fazer alguma coisa com a bola. 


Foi a 5ª vitória consecutiva e o superar de um ciclo de jogos extremamente complicado, num período que coincide com um divórcio da posse de bola: 46% frente ao Rio Ave, 52% frente ao Estoril, 34% contra o Sporting e 42% em Guimarães. Não há comparação com as 4 primeiras jornadas do campeonato, no qual o FC Porto teve 60% contra o Rio Ave, 66% frente ao Estoril, 45% em Alvalade e 55% contra o Vitória de Guimarães.

O FC Porto não deixou o Vitória de Guimarães fazer quase nada durante os 90 minutos (a única defesa de Casillas foi a um remate em posição irregular) e voltou a ser muito oportuno no ataque, conseguindo muito com pouco: Soares aproveitou a única oportunidade que os avançados tiveram até à entrada de Diogo Jota e o mesmo Jota, com a ajuda de Alex Telles, aproveitou um erro de Douglas. 

O fato de macaco não ganha concursos de estética, mas mantém o FC Porto na luta pelo título. 




Matar a jogada (+/-) - Com as saídas de Óliver e Corona, o FC Porto jogou com um único criativo em campo: Brahimi. O resto da equipa dividiu-se na missão de matar cedo os ataques do Vitória de Guimarães, pressionando e tentando depois meter rapidamente a bola em Soares ou André Silva. Havia três vias para atacar: ou Brahimi pegava no jogo a partir do lado esquerdo; ou Alex/Maxi conseguia subir e o FC Porto aproveitava a profundidade; ou então era chutão direto para Soares ou André Silva. A construir, o FC Porto poucas vezes conseguiu jogadas de perigo, mas o pragmatismo e a forma como não se deixou o Vit. Guimarães avançar esteve lá. Atentos a este pormenor:


Estas foram as zonas em que o FC Porto fez faltas. Ou seja, nenhuma nos últimos 25 metros, o que mostra que o FC Porto nunca teve problemas em matar a jogada mais à frente. Daí que toda a defesa do FC Porto, Danilo incluído, só tenha feito 3 faltas em todo o jogo: porque do meio-campo para a frente formou-se uma barreira de combate que meteu o pé, o corpo, foi de carrinho, foi pelo ar e varreu quase todos os lances em que o V. Guimarães saía com perigo. Só Brahimi e Soares fizeram 11 faltas: e não foram momentos de antidesportivismo, mas sim de raça na pressão sobre o adversário. Ninguém se importou em jogar feio para servir um propósito maior: ganhar.

Iván Marcano (+) - Absolutamente imperial. Ganhou 100% dos tackles e lances aéreos, teve 12 ações defensivas (o mais interventivo em campo), bloqueou um remate e ainda foi ao ataque criar uma situação de golo. Se pouco se viu do V. Guimarães no ataque, foi muito por culpa dele. Uma exibição irrepreensível de um senhor jogador.


Alex Telles (+) - A quantidade de vezes em que lhe era pedido para meter a bola em profundidade faz com que seja o jogador com mais perdas de bola e passes errados em campo. Mas é injusto avaliar por esse prisma: Alex Telles segue a estratégia da equipa. Quando pôde subir pelo flanco, indo à linha em vez de fazer logo um balão de 40 metros para o ataque, fez a diferença: é dele o cruzamento para o 1x0 e a assistência, com toda a calma e inteligência do mundo, para Diogo Jota matar o jogo. Pensar numa dinâmica que permita a Alex Telles subir em vez de mandar o balão para a frente não era mal pensado: sem isso o FC Porto dificilmente venceria em Guimarães. 

A entrada de Diogo Jota (+) - Sozinho, fez mais remates à baliza do que todos os companheiros, o que diz tudo sobre a forma como a sua entrada agitou o jogo. Entrou numa fase em que o V. Guimarães já estava mais adiantado, o que abriu mais espaço para o FC Porto entrar em transição rápida. André Silva e Soares só tinham conseguido 2 remates e quatro toques na grande área adversária (dois deles no lance do 1x0), essencialmente porque não eram servidos. Diogo Jota, com a sua velocidade e objetividade, conseguiu sozinho - depois com a ajuda de Alex Telles - semear o pânico na defesa do V. Guimarães. Pode só ter mais 3 meses de FC Porto pela frente: se for sempre assim, deixará todos a suspirar por mais.




Desapoiados (-) - Um pouco ao início do que já foi referido: o FC Porto esteve bem a recuperar a bola. O problema aparecia depois de recuperar a bola: e agora, o que se faz com ela? A primeira parte foi particularmente sofrível neste aspeto. Soares e André Silva tiveram que inventar, entre eles, com ajuda de Alex Telles e Herrera, praticamente a única ocasião de perigo do primeiro tempo, onde o FC Porto poucas vezes foi à grande área adversária (seis, contra 14 do V. Guimarães).

Com pouca profundidade nos flancos (a não ser quando Maxi e Alex conseguiam subir - fizeram 6 dos 7 cruzamentos do FC Porto), Soares e André Silva raramente foram servidos na grande área. Depois, no meio-campo, não havia ninguém para o último passe em zonas interiores - ainda que Herrera tenha feito a diferença no lance do 1x0, ao ajudar a povoar a grande área. O único momento em que o FC Porto desequilibrava era quando Brahimi pegava na bola do lado esquerdo. 

O FC Porto esteve muito bem montado para o momento de recuperação, mas depois falta algo: o momento de construção. Uma estratégia que não surpreenderia, por exemplo, para uma eliminatória com a Juventus, mas que é incomum numa equipa a jogar para o título em Portugal. Nem sempre poderemos contar com o ressalto ou a bola perdida. Contra o Tondela, dentro de uma semana, espera-se um bocado mais - a garra só ganha campeonatos se vier acompanhada de qualidade.