O encerramento do mercado de transferências trouxe duas novas e importantes opções para Sérgio Conceição: um que entra para já como alternativa a Alex Telles, outro que pode dar novas soluções para o meio-campo. Jorge e Bazoer chegam por empréstimo, com opção de compra no final da época, e constituem duas opções de qualidade, que mostram que era possível encontrar boas soluções de baixo custo (pelo menos no médio prazo), mesmo com as prioridades algo trocadas - Jorge só vem porque Zakarya chumbou nos exames médicos e Bazoer chega já depois de Ewerton ter entrado e saído.
Começamos por Jorge, lateral-esquerdo. Há duas épocas, aos 20 anos, Jorge já era o melhor lateral-esquerdo do Brasileirão, tendo-se destacado ao serviço do Flamengo. Veio para a Europa pela mão de Deco, em parceria com Jorge Mendes, com destino ao AS Mónaco, que se sagrou campeão nessa época. Na temporada passada jogou com uma regularidade interessante, mas uma lesão em janeiro acabou por lhe tirar espaço na segunda metade da época.
Ao contrário do estereótipo comum de lateral brasileiro - melhor a atacar do que defender -, Jorge é um exemplo contrário, destacando-se sobretudo pela solidez defensiva. Na época passada, na Liga francesa, foi o 2º jogador com maior média de interceções por jogo e o oitavo com mais desarmes. Em termos ofensivos, até pela própria estratégia do AS Mónaco, Jorge sempre se revelou bem mais resguardado - embora não nos possamos esquecer que o próprio Alex Telles, aquando da sua chegada ao FC Porto, não era metade do jogador que é neste momento na vertente ofensiva da equipa.
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Um «velho» referenciado, melhor a defender do que a atacar |
Embora tenha chegado ao FC Porto perto do fecho do mercado, Jorge já é um nome conhecido no Dragão. Já estava referencido quando despontou no Brasil e, inclusive, chegou a ser proposto a título definitivo no início do defeso, mas a um preço incomportável - pediam 12 milhões de euros. Sem colocação, acabou por chegar ao FC Porto por empréstimo e tem um ano para mostrar serviço como alternativa a Alex Telles... e quiçá sucessor, pois no final da época Alex estará certamente na montra para a saída.
Da mesma forma chegou Bazoer, uma contratação atípica no FC Porto. Não só o FC Porto não costuma apostar em jogadores holandeses (Bruno Martins Indi foi o único até hoje) como é muito raro e difícil contratar na Bundesliga. Mas Bazoer representa um perfil interessantíssimo para o meio-campo, uma vez que é igualmente capaz de encaixar no 4x4x2 e no 4x3x3.
Capaz de jogar a médio-defensivo ou na posição 8 (a ideal para ele neste momento - opinião), Bazoer foi um dos principais talentos a sair das escolas do PSV e do Ajax nos últimos anos e estreou-se na seleção da Holanda quando era ainda sub-19. É um bom distribuidor de jogo, que gosta de jogar em profundidade (como Sérgio Conceição tanto gosta que sirvam os avançados) e que joga com grande amplitude no meio-campo - na Bundesliga, o passe médio de Bazoer é de 19 metros, acima da média habitual de Herrera e Sérgio Oliveira (17 metros no FC Porto). Tem rotinas como médio-defensivo, mas é melhor a distribuir e a avançar do que a proteger meramente a retaguarda.
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Solução para todas as variantes da equipa |
É certo que Bazoer não se adaptou da melhor forma à sempre difícil Liga alemã, mas num contexto de campeonato português pode revelar-se uma ótima solução para o meio-campo. Se, tal como Jorge, poderá ser uma opção a título definitivo para lá do fim da época, só o tempo o dirá.
Certo é que os moldes das contratações de Jorge e Bazoer também acabam por se confirmar o que já se sabia: que não havia disponibilidade financeira imediata na SAD para reforçar o plantel no fecho do mercado. É sempre difícil de compreender como é que há dinheiro para o jogador A e não há para o jogador B, mesmo que a opção B custe menos, mas tem sido algo recorrente nos últimos anos.
Por exemplo, o FC Porto teve avanços concretos por Daniele Verde e Roger Guedes, opções para o ataque. Mas acabou por não chegar nenhum jogador para a posição de extremo. Certamente que Sérgio Conceição não afirmou «quero o Verde, o Guedes ou então não quero ninguém». O FC Porto negociou estes alvos porque necessitava de soluções para o ataque, mas acabou por não as conseguir - mas lá está, pois não havia condições financeiras para investir, e o Relatório e Contas do primeiro semestre de 2018-19 poderá confirmar que as contas vão ao encontro dos limites traçados pela UEFA e que não havia margem para muito mais.
O FC Porto também tentou Bissouma e Ntcham, médios na casa dos 10 milhões de euros, mas acabou por ficar com Bazoer. Já a posição de lateral-esquerdo foi sempre sendo secundarizada até perto do fecho do mercado, a ponto de ficarem convencidos com 90 minutos de um lateral de 29 anos recém-contratado pelo Belenenses.
As continuidades de Herrera e Brahimi, mesmo em final de contrato e com poucas perspetivas de renovação de contrato, acabam também por ser contraproducentes àquilo que eram os planos anteriormente traçados pela SAD. Por exemplo, em outubro de 2018, a SAD terá que pagar 12 milhões de euros ao Novo Banco por um empréstimo que tinha como garantias os passes precisamente de Herrera e Brahimi. A saída do mexicano ou do argelino poderiam gerar uma verba que seria canalizada para o reembolso deste empréstimo, mas ambos continuaram no Dragão, pelo que a SAD terá que gerar receitas por outra via. Mas outubro será mês da SAD publicar o Relatório e Contas de 2017-18 e a proposta de orçamento para a próxima época, oportunidade para uma visão bem mais detalhada e completa sobre o presente e futuro do FC Porto.
Até lá, boas-vindas a Jorge e Bazoer e oxalá todos estejam a suspirar pela sua continuidade a título definitivo no final da época.