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sexta-feira, 8 de julho de 2016

Um crime, disse Bruno de Carvalho

«É crime assediar um jogador que tem contrato». Estas sábias palavras pertencem ao presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, proferidas em 2013 a propósito de Bruma, que tinha contrato.

Na altura, Bruma estava a ser assediado por outros clubes. Um direito que não assistia a esses clubes, pois era um jogador com contrato com o Sporting. 


E hoje somos surpreendidos pela afirmação do jornal O Jogo, que diz que o Sporting já abordou Helton e que o guarda-redes até já teve conhecimento do salário que lhe seria proposto em Alvalade. 

Podemos citar novamente Bruno de Carvalho: «Eu vou lendo os jornais. Umas coisas devem ser mentira e outras verdade». Mas para os mais esquecidos, cá vai: Helton tem contrato com o FC Porto até 2017. Ainda que não faça parte do plantel, é um profissional com contrato com o FC Porto.

Contrato até 2017
Logo, se o Sporting abordou diretamente Helton sem a autorização devida do FC Porto, então, citando Bruno de Carvalho, cometeu «um crime». 

Não é raro ver jogadores saírem do FC Porto para o Sporting, como foram exemplo Fernando Gomes, Jaime Pacheco ou António Sousa, ou até Rui Jorge ou Hélder Postiga. Em comum, têm todos isto: não tiveram um décimo do sucesso que Augusto Inácio, Paulo Futre ou João Moutinho tiveram após terem trocado o Sporting pelo FC Porto (como Pacheco e Sousa no seu regresso em 86). 

Mas Helton só sai se o FC Porto deixar. A partir do momento em que Helton for um jogador livre, pode jogar onde quiser, de acordo com a sua própria consciência. Mas enquanto está sob contrato com o FC Porto, é o clube quem tem a palavra. 

E se o Sporting quiser, então apresentem lá uma proposta. Certamente que seria uma mais-valia, com muito para ensinar. Afinal Helton foi 7 vezes campeão pelo FC Porto, mais do que o Sporting nas últimas 5 décadas; numa só época ganhou tantos títulos europeus com o Sporting em toda a sua história; e sozinho, tem mais títulos de campeão nacional que todos os jogadores do Sporting juntos. 

Sem dúvida, um poço de experiência... e com contrato com o FC Porto. Se o Sporting contactou Helton sem autorização do FC Porto, cometeu «um crime». Se o quiser, então paguem.

Jornal O Jogo, 08-07-2016

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Obrigado, Helton

Helton terminou a sua carreira de guarda-redes no FC Porto, após 11 anos no clube. Por outras palavras, deixa de haver mobília no balneário. Herrera, que até pode deixar o clube nas próximas 24 horas (o FC Porto tem que vender jogadores - plural - até amanhã), passa a ser o elemento com mais anos consecutivos na equipa principal: apenas três. 

O FC Porto começou a época 2016-17 com a garantia de que terá um plantel renovado, com poucos anos de casa e sem que a grande maioria saiba o que é ganhar um título com este clube. Uma época que pode e deve ser encarada com confiança e otimismo, mas com muita água na fervura, pois é uma realidade sem igual na história do clube.

Mas falemos de Helton. Era um desfecho previsível. Nenhum clube pode ter Casillas sem que seja para a equipa titular. E Helton não iria aceitar uma terceira época consecutiva a ser suplente por opção, muito menos aos 38 anos. 

É óbvio que isto levanta questões sobre a renovação de contrato, em 2015. Helton renovou por dois anos, quiçá na altura a pensar que recuperaria a titularidade, e um mês depois o FC Porto apresentou Casillas. Por melhor relação que os guarda-redes pudessem ter (por norma, os guarda-redes são sempre dos elementos com melhores relações nos grupos de trabalho, por treinarem sempre juntos, à parte, com o mesmo treinador), Helton sempre foi um jogador orgulhoso. Extremamente orgulhoso, que nunca aceitou a sua passagem a número 2 das balizas. Mas o próprio devia lembrar-se que Vítor Baía, o melhor guarda-redes da história do futebol português, passou a número 2 depois de dar um frango contra o Estrela da Amadora. E teve que aceitar essa passagem de testemunho pouco digna. 

A contratação de Casillas fez Helton sentir que a sua história no FC Porto estava a ser pisada. Estamos a falar de um guarda-redes com 18 títulos e que tinha superado uma lesão que, para muitos, era sinónimo de final de carreira. Helton sentia-se preparado para continuar a jogar ao mais alto nível. Com Casillas, isso já não foi possível.

Já antes, a partir do momento em que estava recuperado, reclamava o lugar de Fabiano. Helton, apesar da sua postura de humildade e bondade, sempre foi um jogador a conviver muito mal com o estatuto de suplente. Um guarda-redes suplente tem que ter grande paciência, pois é uma condição que o pode acompanhar toda a época. Mas uma coisa é não aceitá-la, outra é conviver mal com ela. Helton seguia a segunda. 

Helton sempre se sentiu importante, muitas vezes acima do próprio treinador. Porquê? Estamos a falar do guarda-redes com 18 títulos, que ganhou muito no FC Porto. Quando se vê ultrapassado por quem nada ganhou no clube, e a receber ordens de treinadores que não só fizeram nada no clube como no futebol, toma-se por um inconformismo pouco saudável.

Desde a sua lesão, Helton não voltou a ser o Helton. Sucederam-se comportamentos que não condizem com a braçadeira de capitão do FC Porto. A mensagem enigmática nas redes sociais (1993-2014), a flash-interview em que deu recados internos (ao dizer que não estava gordo e não estava acabado), a entrevista em 2015 em que o silêncio sobre o treinador acaba por ser demasiado barulhento (simples: pedia ao jornalista para não publicar nada que fosse para falar sobre o treinador, não a sua resposta tão vaga), e a mais recente entrevista (uma vez mais a falar na terceira pessoa para mandar recados internos). Não lhe fica nada bem.

Dito isto, condenar a memória curta não deveria servir apenas para escudar quem usa fato e gravata, mas sobretudo quem suou em campo pelo nosso emblema. Não podemos nunca esquecer o papel de Helton enquanto foi o número 1 da baliza do FC Porto. Conquistou 18 títulos, e em 8 anos ganhou 7 campeonatos. Provavelmente, passarão largos anos até virmos um jogador ganhar 7 campeonatos em 8.

Helton foi tudo aquilo que um capitão do FC Porto nunca foi. Como assim? Alguma vez imaginaram João Pinto ou Jorge Costa a tocarem cavaquinho num estágio? Claro que não. Helton era um capitão diferente. Não era aquele capitão que levantava a voz, que puxava os mais novos pelas orelhas, que dava o murro na mesa. Era o capitão da proximidade, que tinha um sorriso, uma palavra de força, uma palmadinha nas costas. Foi uma abordagem diferente, mas foi com esse perfil que Helton chegou a capitão do FC Porto. E foi um bom capitão.

Uma das últimas imagens de Helton enquanto número 1 das balizas foi em 2014, em Guimarães, quando o FC Porto empatou antes de Paulo Fonseca sair. Quando o jogo acabou, os jogadores foram todos para o balneário; Quaresma pontapeou a bola para longe e desatou aos pontapés no corredor de acesso aos balneários. Só um jogador ficou no relvado para agradecer aos adeptos: Helton. E nesse dia não foi o capitão do sorriso e da palmadinha, pois quis ir obrigar os colegas a irem agradecer aos adeptos. Nélson Puga teve que acalmá-lo.

Helton conseguiu criar uma empatia sem igual com os adeptos. O que o levou até a merecer o respeito, como nenhum outro jogador do FC Porto, por parte dos adversários, como foi exemplo a ovação em Alvalade. Mesmo que tenha tido também atitudes infelizes, e do Helton que era o guarda-redes titular não ser o mesmo que o Helton que era suplente, é um nome que está na história do FC Porto.

Por isso, é de esperar algo mais do que o seco comunicado do FC Porto, onde não se lê um simples «obrigado». Já toda a gente sabe os títulos que ele ganhou pelo FC Porto. Não é tempo de enumerá-los, mas sim de deixar o devido agradecimento. 

Fica a sugestão: chamar Helton ao palco no jogo de apresentação para 2016-17, no Estádio do Dragão (o mesmo que foi feito a Pedro Emanuel em 2009). Simples e digno. Uma ovação, de pé, na casa onde foi feliz. A coisa mais fácil e adequada do mundo. Dar o microfone a Helton e ouvir a sua última mensagem para os adeptos. Porque o FC Porto tem muito a agradecer a Helton, mas Helton também muito a agradecer ao FC Porto.

Dia 6 de agosto é o dia para o fazer. É o dia de agradecer a quem fez história no FC Porto. A quem faz parte da história do FC Porto.

Bom descanso, capitão. 

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Análise 2015-16: os guarda-redes

Podemos regressar ao início da época e a uma frase d'O Tribunal do Dragão que na altura gerou alguma discórdia: a de que «desportivamente, Iker Casillas não faria uma grande diferença no FC Porto».

Esta afirmação resultou em muita confusão em alguns leitores. «Então Casillas não é melhor do que Fabiano!?» Sim, claro que é. «Então como é que desportivamente não vai fazer diferença!?» Simples, entendendo o que é o papel de um guarda-redes do FC Porto no campeonato português.

Casillas, 35 anos
Voltemos por um momento a 2014-15. No espaço de 6 meses, o FC Porto perdeu primeiro Helton, por lesão, e depois Otamendi, Fernando e Mangala. E mesmo com o contestado Fabiano nas balizas, conseguiu sofrer apenas 13 golos, sendo a melhor defesa de toda a Europa.

Este ano, já sem o contestado Fabiano mas com o ícone Casillas na baliza, o FC Porto sofreu 30 golos. Mais do dobro da época passada (tema debatido aqui), e a terceira pior defesa da história do clube numa liga a 34 jornadas. Quando O Tribunal do Dragão opinou que, desportivamente, Casillas ou Fabiano na baliza não fariam muita diferença, foi precisamente a pensar nisto: porque o modelo de jogo e os defesas do FC Porto têm tanta ou mais influência do que o guarda-redes.

O FC Porto já teve grandes guarda-redes, já ganhou muitos títulos. Mas houve algum título que tivéssemos ganho sobretudo graças a um guarda-redes?

Há quem diga que o FC Porto sofria poucos golos devido a uma posse de bola estéril de Lopetegui. Os mitos nunca resistem aos números: com José Peseiro (e com o agravamento de o mercado de janeiro ter deixado o plantel pior do que estava) a equipa piorou objetivamente em tudo. Não marca mais golos, sofre mais do dobro, remata menos, permite que os adversários rematem mais, cria menos ocasiões de golo e falha mais passes. Ora a tal posse de bola estéril, além de permitir que o FC Porto atacasse e marcasse mais, dava uma segurança defensiva que o FC Porto nunca teve com José Peseiro. Aliás, em dezembro Casillas até era o guarda-redes menos batido das ligas europeias. No mês seguinte começou a derrocada, com a troca de treinadores e o enfraquecimento do plantel, e a partir daí foi sempre a descer.

Que culpas se podem enquadrar aqui em Casillas? Poucas. Porque fez o que por norma os guarda-redes do FC Porto fazem no campeonato: ajuda a ganhar alguns jogos e comete erros que custam alguns pontos. Foi brilhante contra o Benfica e o Tondela, mas errou em Guimarães ou na Champions.

Desportivamente, Casillas pouco mudou porque há poucas coisas que um guarda-redes do FC Porto possa mudar. Para um guarda-redes, há uma diferença entre uma equipa com um meio-campo sólido e outra exposta a qualquer transição rápida; há uma diferença entre ter Otamendi e Mangala à frente e ter jogadores mais inexperientes e/ou limitados.

O impacto de Casillas seria sempre mais mediático e comercial do que desportivo. É claramente um bom guarda-redes, grandíssimo profissional (a maior surpresa para todos os que trabalham com ele), mas nunca iria ser por ele que o FC Porto ganharia o campeonato. Nem por Helton, nem por Baía, nem por Mlynarczyk, nem por Zé Beto, nem por Américo.

Iker Casillas é um guarda-redes como todos os outros, com qualidades e defeitos, e que ao longo de toda a carreira sempre fez sobressair as suas qualidades. Mas é, de facto, um guarda-redes muitíssimo caro para aquilo que rende desportivamente. E é por isso que, quando o R&C da época for publicado, é importante perceber se Casillas é um guarda-redes que de facto se paga a si próprio.

Ao que tudo indica vai continuar no FC Porto. Casillas e o clube já admitiram avançar para o ano de opção no contrato, até 2018, mas isso ainda não foi oficializado. Até porque o Real Madrid só comparticipa o salário de Casillas até 2017 (se Casillas fizer a época 2017-18 no FC Porto, o salário será na íntegra pago pela SAD), logo o salário teria que ser drasticamente reduzido para ficar no FC Porto.

Em Casillas vs. Emirates, vimos que a contratação de Casillas estava a ser muito benéfica financeiramente, mas é importante calcular os números finais no R&C. Até porque um clube que tem um guarda-redes com salário anual bruto de cerca de 5M€ não pode abdicar de um investimento num bom treinador, nem pode andar com a equipa coxa durante toda a época. A manta tem que dar para cobrir ombros e pés. E quando avaliamos um jogador como Marega em mais de 4M€, então a manta devia dar para cobrir Dragão, Aliados e a Ponte do Freixo. 

A primeira época de Casillas no FC Porto não deixa saudades, devido à ausência de títulos. Oxalá as coisas mudem no próximo ano, de preferência sem sofrer outra vez 30 golos. Nunca esquecendo que é o guarda-redes quem fica com os golos sofridos, mas nem Lev Yashin ou Vítor Baía conseguiriam sobreviver a tanta asneira na defesa esta época. O Casillas da Luz é um guarda-redes que ajuda a ganhar campeonatos, mas o FC Porto nunca ganhará campeonatos se precisar que o guarda-redes faça tantas defesas como as que fez nesse jogo.

A melhor forma de proteger a baliza não é ter um guarda-redes que defende tudo: é fazer com que o guarda-redes tenha que defender o menos possível.

Helton, 38 anos
E agora Helton, o capitão. Todos sabem que Helton, embora seja um jogador acarinhado e carismático, não tem um feitio fácil, pois detesta ser suplente (quem não detesta?). Esteve irrepreensível na Taça de Portugal... até à final, onde sofreu os primeiros 2 golos, não ficando bem na fotografia. Aos 38 anos, Helton dificilmente tirará o lugar a Casillas em 2016-17 - nenhum clube tem Casillas se não for para jogar. Tem mais um ano de contrato, por isso coloca-se a questão: uma última época como (mais que provável) suplente ou o adeus antecipado?

Helton tem um lugar cativo na história do FC Porto. Foram 18 títulos neste clube. Tudo dependerá do entendimento entre as partes. Quando ou se Helton quiser, seria certamente uma mais-valia integrá-lo nos quadros técnicos do clube. Mas se ainda entender que está em condições para jogar ao mais alto nível, está no seu direito.

José Sá, 23 anos
José Sá, conforme esperado, não chegou a jogar na equipa A, tendo sido apenas utilizado na equipa B. Tem que ser emprestado para, pela primeira vez na sua carreira, fazer uma época completa como titular de primeira liga.

José Sá já vai para o seu 5º ano de sénior e ainda não fez uma época completa e regular numa primeira liga. No FC Porto, a não ser que lhe seja garantido o lugar de 2º guarda-redes (com titularidade nas Taças e esporadicamente na B), não faz sentido continuar. Foi uma contratação, não um reforço

Raúl Gudiño teve a sua primeira experiência na primeira liga, pouco positiva. Deu dois ou três frangos que o marcaram no União da Madeira. Ainda assim, este foi apenas o seu primeiro ano de sénior, e a margem de evolução continua toda cá.

Gudiño, 20 anos
Ter um bom treinador de guarda-redes é essencial (Bruno Freitas, o treinador do União, teve como expoente máximo da sua carreira profissional a titularidade no Ribeira Brava). Já não vai contar como jogador formado no FC Porto, devido a este empréstimo, pelo que agora deve continuar a procurar-se um enquadramento de primeira liga (o Chaves já o pediu).

Na temática dos guarda-redes, deseja-se ainda que a nova equipa técnica inclua um treinador de guarda-redes de provas dadas, habituado a trabalhar com diversos guarda-redes, desde jovens, que precisam de evoluir, a mais experientes, que precisam de manter a forma física. Nada pode ser descurado.

Os guarda-redes ligados ao clube, mas que não iniciaram a época no FC Porto, serão analisados no post destinado aos emprestados.

Pergunta(s): Quem deve ser o número um e o 2º guarda-redes para 2016-17?

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A história da Taça não reza de boas exibições

A história da Taça de Portugal não reza de quem jogou bem ou mal: reza de quem passou ou não as eliminatórias, de quem foi ou não ao Jamor, de quem ficou com o caneco. Terceira eliminatória consecutiva fora de casa, terceiro jogo contra uma equipa inferior motivada por fazer o jogo das suas vidas, terceira vitória sem sofrer golos.

Não foi uma boa exibição, foi a exibição suficiente. Um canto, um desvio, um golo. Terá sido a primeira vez que o FC Porto de Lopetegui ganhou um jogo assim. O Feirense é uma equipa superior a muitas da primeira liga, o que impunha cautelas, mas o FC Porto esteve sempre exposto aos riscos de gerir/defender/controlar um jogo em que está a vencer apenas por 1x0.

Um golo que deveria tranquilizar a equipa acabou por relaxá-la. Nestes jogos, com alterações em todos os setores, é sempre difícil imprimir uma dinâmica forte e revelar níveis altos de entrosamente, mas não justifica tudo. Muitos cruzamentos (20) mas pouco ou nenhum seguimento na grande área, individualidades improdutivas, poucas ocasiões de golo e circulação lenta e sempre em zonas recuadas.

Já lá vão umas valentes semanas sem que o FC Porto faça uma exibição que leve os adeptos a dizer «assim sim, carago!» Domingo era um bom dia para isso.





Helton (+) - Sempre tranquilo, rápido e ágil na resposta aos cruzamentos e ao jogo aéreo, evitou que o jogo fosse a prolongamento com uma grande defesa. Um guarda-redes do FC Porto não fez 10 defesas por jogo: faz duas ou três, e são essas que podem resolver um jogo. Assim foi.

Danilo Pereira (+) - Está a atravessar um bom momento. Afirmou-se como o pêndulo do FC Porto na zona mais recuada do meio-campo. Referência no início de construção, ganha todos os duelos físicos, limpa tudo pelo ar, nunca perde o sentido posicional. Precisa que os dois médios à sua frente deem mais ofensivamente, seja no transporte, na chegada à grande área e na meia distância, pois essas funções, ainda que pudessem fazer de Danilo um jogador mais completo, não é a ele que lhe competem.

Outros destaques (+) - O regresso de Aboubakar aos golos, mais uma boa resposta de Ángel na Taça (que futuro para Cissokho?), Maicon quase impecável até aos 88 minutos e Corona a entrar bem na partida.





Tello (-) - Vamos chegar a janeiro e Tello ainda só tem 2 golos e uma assistência esta época. Há um ano, por esta altura já tinha estado envolvido em 11 golos da equipa. Uma quebra enorme de rendimento para um jogador que está num ano decisivo: não volta ao Barcelona de certeza e a jogar assim também não vai ficar no FC Porto. Não se viu uma arrancada, um bom cruzamento, um bom remate, nem sequer um drible. Vamos criar o #AcordaTelloCaralho.

A rever (-) - Continuamos a ver mais do mesmo. Todos sabemos que é intenção de Lopetegui fazer uma circulação apoiada, com calma, controlada, em vez de andar a fazer piscinas de campo a campo. Mas uma coisa é fazer uma transição lenta mas tendo a baliza como destino; outra coisa é resumir a circulação a um espaço de 30 metros, entre a linha defensiva e os médios, ignorando que há uma baliza do outro lado para atacar e que um 1x0 é sempre um risco. O FC Porto, ao não querer correr riscos, acaba por correr o maior risco de todos. É pôr-se a jeito.

1/4 da Taça já estão, e restam apenas equipas da primeira liga em prova (exceção feita ao Gil Vicente). Preocupações para 2016, pois para já resta a receção a Académica em casa, antes de pensar no ataque à liderança em Alvalade.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Casillas, Helton e a sombra da sucessão

Eu, portista, me confesso: em 1999, quando Peter Schmeichel assina pelo Sporting, achei de facto que o fim do mundo estava próximo. Levava 8 anos a ser titular indiscutível em Manchester e nesse mesmo ano tinha acabado de ganhar Premier League e Liga dos Campeões. Foi um dos negócios mais inacreditáveis e surpreendentes que alguma vez vi. E hoje leva goleada daquilo que está muito perto de se concretizar.

Oportunidade sem igual
Iker Casillas no FC Porto. O guarda-redes campeão europeu e mundial, titular do Real Madrid há 16 anos, reconhecidamente um dos melhores da história do futebol. Continua a ser difícil de acreditar. Há entendimento alinhavado, as partes estão hoje reunidas, se tudo correr bem o FC Porto será uma atração ainda maior quando começar o estágio na Holanda. Esperemos que um endinheirado qualquer não se atravesse.

Que se pode dizer? A partir do momento em que o FC Porto anuncia a contratação de Casillas, pouco mais se pode fazer do que imitar aquele célebre gif. (pronunciem lá como quiserem) de Lopetegui. É simplesmente uma transferência bombástica, sem paralelo. Mas se Casillas esteve quase a ir para a Roma, não é assim tão surpreendente que acabe no FC Porto. 

Aqui, Casillas continua a jogar a Champions, vai lutar por títulos, fica perto de Madrid e da sua família. A questão salarial é sempre um impasse, mas felizmente as relações entre Real Madrid e FC Porto estão ótimas. E se o Real quiser vender Casemiro, tem que pagar uma indemnização de mais 7,5M€ ao FC Porto. Esse valor já ajudava e muito a suportar grande parte do salário de Casillas.

Continua a ser um jogador muito caro? Sim. Como são sempre os melhores do mundo. Mas é melhor a SAD andar a sustentar um Casillas do que andar a pagar por Bolats, Andrés e Ricardos para nunca sequer os utilizar. O problema não são os jogadores caros que rendem. São os baratos que não chegam sequer a ter oportunidade para render.

Desportivamente, claro que há questões a debater. Se Casillas é contratado é para ser titular, sem discussão. É uma estrela e sentir-se-á como tal no FC Porto. Não lhe peçam que seja um portador de mística, porque não o vai ser. É um guarda-redes que ganhou tudo o que há para ganhar, que pode jogar em qualquer clube no mundo. Tem 34 anos? Ok, é dois anos mais velho do que Mlynarczyk quando chegou ao FC Porto. Tem todas as condições para jogar ao mais alto nível enquanto - esperemos - Gudiño evolui no sentido de se tornar o número 1 do FC Porto.

A braçadeira também se
usa fora de campo
E há Helton, que renovou contrato até 2017. É um dos jogadores mais acarinhados pela massa adepta. Mas é também um jogador que convive muito mal com o banco, sobretudo pela sua própria auto-estima face àquilo que já ganhou pelo FC Porto. Helton sente que é parte da história do FC Porto, e sente-o bem. Mas isso não confere titularidades por decreto. Infelizmente para ele, contratar Casillas é quase dar-lhe a titularidade por decreto. Como é óbvio, Casillas não viria para Portugal para ser suplente, para ser mais um num grupo de trabalho. Helton pode sentir a sua história ser desrespeitada, mas... até Vítor Baía, a determinada altura, teve que passar o testemunho a um jogador que vinha da União da Leiria, por causa de ter dado um frango contra o Estrela da Amadora. Não foi a mais honrada passagem de testemunho, mas aconteceu.

Helton já pisou o risco muitas vezes desde a lesão. A mensagem enigmática nas redes sociais, a flash-interview em que deu recados internos, a entrevista em que o silêncio sobre Lopetegui acaba por ser demasiado barulhento (simples: pedia ao jornalista para não publicar nada que fosse para falar sobre o treinador, não a sua resposta tão vaga). Helton tem 18 títulos pelo FC Porto. Lopetegui nenhum. Helton pode sentir que isso lhe dá um estatuto que não pode ser colocado em causa, mas não dá. Helton não era nada no FC Porto no dia em que se tornou o sucessor de Baía. Todos começam do zero neste clube. A não ser que tragam na bagagem tantos anos de sucesso ao serviço do Real Madrid e de uma das seleções mais fortes da história... 

Se Helton ficar no plantel, tem que honrar a braçadeira de capitão. A responsabilidade é a mesma, seja em campo, no banco ou no balneário. É um jogador adorado pela massa adepta e não queremos que isso seja deitado a perder. Mas é preciso compreender os efeitos que a contratação de Casillas também gerará no balneário. 

Ainda na questão da idade. Contratar um jogador trintão faz todo o sentido, se: a) tiver qualidade imediata para entrar no 11 e render ao mais alto nível; b) seguir uma lógica de sucessão dentro do próprio plantel. Para Casillas, seria bom ver Gudiño evoluir na sua sombra. E se quisermos falar noutra possibilidade, não seria um desdém para Aboubakar, Gonçalo ou André Silva passarem um aninho a treinar com Drogba e a crescerem com e ao lado dele.

PS: A transferência de Garay para o Zenit foi ainda melhor do que se pensava. Para bom entendedor, um Danilo, um Casemiro ou um Casillas bastam. 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Análise 2014-15: os guarda-redes

Quem gosta de basquetebol conhece esta frase: «Os ataques ganham jogos, as defesas campeonatos». Infelizmente, no futebol isto não é regra, caso contrário o FC Porto teria tido uma época muito melhor.

O menos batido da Europa
Depois de no espaço de 6 meses termos perdidos 4 esteios defensivos (Helton, por lesão, e Otamendi, Mangala e Fernando), o FC Porto conseguiu, em 2014-15, acabar a época com a melhor defesa das 25 principais ligas europeias. Tudo isto quando houve muita crítica a Fabiano ao longo da época e aos defesas-centrais. Quando ser a defesa menos batida da Europa não chega, o que chegará?

Claro que não se pode reduzir tudo aos números. Os guarda-redes do FC Porto raramente ganham jogos, pois por norma temos boas defesas e os adversários poucas vezes conseguem criar perigo. E este ano tivemos algo que ajudou a essa estatística, que foram grandes melhorias na reação à perda da bola. Por isso, um guarda-redes do FC Porto pode fazer 50 defesas, mas basta um erro para ficar marcado

Um dos primeiros pedidos de Lopetegui quando chegou foi um guarda-redes. E tinha nome: Navas, ainda antes do Mundial 2014. O FC Porto não agiu a tempo e perdeu-se o guarda-redes. A época teria sido melhor? Impossível saber. Facto é que mesmo com um guarda-redes contestado em parte da época, conseguimos ter a melhor defesa europeia. Agora, volta a haver um pedido de um novo guarda-redes. O nome já é conhecido, Perin, do Génova (e diria que será mais difícil ir buscá-lo ao Génova do que teria sido ir buscar Navas ao Levante). Mas a maior surpresa é a revelada por Pinto da Costa quanto à possível continuidade de Helton. 

Se renovar, mais gente terá que sair. Em Novembro foi alertado: o FC Porto tem que parar de contratar guarda-redes só porque sim, porque isto já é uma prática habitual e que se adivinhava novamente para 2015-16. Não podemos ter 4 guarda-redes com idade sénior no plantel. O ideal seria 2 seniores + o guardião titular da equipa B. Perin, a prioridade, não é uma contratação de ocasião mas sim de grande aposta de médio prazo. Não há memória de o FC Porto ter investido a sério num guarda-redes jovem já internacional por uma grande seleção europeia. Que tem grande potencial, tem. O valor investido e o leque de guarda-redes para 2015-16 definirão se se tratará, ou não, de uma boa contratação, isto se houver condições para a fechar.

Passemos à análise dos guarda-redes de 2014-15, a exemplo do que será feito nos outros setores.


Helton - É preciso uma enorme determinação para, aos 36 anos, conseguir superar uma lesão que a muitos outros jogadores ditaria o fim de carreira. É o mais carismático jogador do plantel, que entende a mística do clube, que ganhou 7 campeonatos e viu o que foi preciso para o FC Porto não ganhar os únicos 3 que falhou. Está bem fisicamente e tem condições para jogar mais um ano. Não sei se vai ficar, mas só faria sentido se fosse para continuar como número 1. Porque por mais peso que Helton possa ter no balneário, sendo ele um dos mais bem pagos do clube tem que render em campo, não fora dele. O problema esta época, muitas vezes, foi não haver voz de comando dentro de campo, não no balneário. Se Lopetegui quiser e entender que Helton será uma mais-valia, que siga a renovação. Caso contrário, preparem a estátua para o museu, porque Helton bem a merece.


Fabiano - Regressemos ao início: foi o guarda-redes menos batido da Europa. Ficou marcado pelos 6 golos em Munique, mas não tem culpa que a sua defesa, no espaço de poucos minutos, seja três vezes batida no jogo aéreo e sofra três golos. Tentou aproximar-se do que Lopetegui pretendia, o tal guarda-redes que oferece sempre linha de apoio na construção e joga com os pés. Evoluiu, mas passou de titular à bancada (ironicamente, na pré-época passou de possível dispensado a titular). Tem contrato até 2019. Se for para passar a época na bancada, que a SAD procure uma solução para ele no mercado.

Andrés Fernández - A mais estranha aposta de Lopetegui. Foi pé frio, pois em 4 jogos o FC Porto só venceu um. Mas em nenhum teve culpas. A verdade é que pouco ou nada pudemos ver de Andrés. Fazendo fé no R&C da SAD, custou não mais que 1,2M€, mas é estranho que tenha sido contratado para ser prioridade em relação a Fabiano, mas na verdade poucos meses depois Fabiano renovou contrato. Não pode ficar no FC Porto em 2015-16 se não for para jogar. Emprestá-lo a uma equipa de primeira liga, preferência estrangeira, que lhe garantisse a titularidade e cobrisse os salários seria o ideal, ou então recuperar o investimento. Lopetegui conhecia-o bem antes de o contratar. Não justificou a aposta do treinador ou houve erro de avaliação?

Ricardo Nunes - É ingrato dizer isto a um adepto do FC Porto que nem uma oportunidade teve, mas foi uma contratação que se sabia desde o primeiro dia desnecessária. Nem sequer serviu para facilitar as inscrições na Champions. Em termos de plantel principal, em 2014-15 só serviu para desfilar o equipamento. Um contrato de 4 anos para um guarda-redes trintão que se sabia que não seria titular? Que o FC Porto o deixe sair no fim da época, porque aqui não vai jogar e merece mais para a sua carreira do que fazer número. Ter um guarda-redes trintão só para jogar na equipa B e na Internacional Cup não cabe na cabeça de ninguém.

Os bês - Kadú pouco ou nada evoluiu nos últimos 2 anos e é tempo de sair do FC Porto por empréstimo, onde possa jogar com regularidade, de preferência tentando colocá-lo num clube com um bom treinador de guarda-redes, que bem precisa. Caio, nos seus 2 primeiros anos de sénior, fez 2 jogos pela equipa B. Se não puder jogar mais em 2015-16 (Filipe Ferreira e Andorinha já vão ter idade de sénior), é tempo de o deixar sair. E claro, o nome de que todos falam: Raúl Gudiño. Nada justificaria a não exerção da cláusula de compra. É um jogador de enorme potencial, que vai ter o primeiro ano de sénior, e faz todo o sentido que seja o titular da equipa B. 

Pergunta(s): faz sentido contratar mais um guarda-redes para a equipa principal? Perin é a solução ideal? Quem deve sair? Quem devem as opções na equipa A e B?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Hoje o orgulho, amanhã a revolta

Imbuídos de um espírito Ulrichiano: ai aguenta, aguenta! Aguentou tanto que no final rebentou. Treinador, jogador e dirigentes do FC Porto só tinham uma palavra no final: orgulho. Orgulho é o que devemos sentir hoje. Revolta é o que devemos sentir até ao fim da época.

Fotos: Catarina Morais
Digo há anos que devíamos deixar a Taça da Liga para a equipa B (antes disso, para os sub-19, como chegou a fazer Jesualdo Ferreira) e as segundas linhas. Reafirmeio-o no início da época, outra vez após ganhar ao Rio Ave, novamente depois de ganhar ao União. E hoje pela primeira vez digo o contrário: eu quero aquele pedaço de chapa que mais parece uma peça de ludo no museu. Eu quero a Taça da Liga. Esta Taça da Liga.

Quero a Taça da Liga no museu, para que possamos olhar para ela e recordar este dia em Braga. Como nos recordamos do Derlei, completamente rebentado, a fazer sprints nos prolongamentos contra o Celtic e o Panathinaikos; como recordamos o Pedro Emanuel, com uma cãibra, a entrar pela baliza do Baía dentro para evitar mais um golo do Inter; o João Pinto, acompanhado pelo Baía, o Secretário e (quem diria) o Rui Jorge, a levarem com garrafas no Jamor; o Lisandro Lopéz a correr 70 metros para ir roubar uma bola ao Rodríguez quando o Benfica, de Chalana, ficou contente por perder apenas por 2-0; o Fernando com tentáculos que mais pareciam oriundos de um filme de porno japonês contra o Zenit; o Pedro Mendes a gritar, aos 91 minutos em Gelsenkirchen, para o Jorge Costa: «Oh bicho, eu nem acredito!».

Tantos momentos que simbolizam a mística portista. Hoje temos mais uns quantos. O Helton a fazer a vénia aos adeptos enquanto bate com a mão no peito; o Rúben Neves completamente rebentado ao fim de 90 minutos, após lesão; o Campaña com olhos esbugalhados de serial killer; o Ángel numa corrida que já não se via desde o sprint do Cissokho em Braga; o Marcano a levar à frente um, dois, três e a recuperar com mais um sprint à maluca. Raça de dragão como há muito não víamos, como pensávamos que não veríamos num plantel com tanta gente nova.

Falta de mística o tanas. Vimos empenho, garra, esforço mútuo, inconformismo e vontade insaciável de vencer. Se isto não é ser Porto, o que será? Um jogo à Porto, que pode muito bem marcar um ponto de viragem. Mas temos que ser nós a inverter a situação, e não esperar que ela mude por si mesma. Porque todas as ameaças aqui ontem enumeradas mantêm-se. O orgulho não chega. Não se não tiver a revolta como amiga íntima.

Quero esta Taça para que olhemos para ela e nos recordemos de Cosme Machado. Isso mesmo. Para que nos recordemos que nem assim nos conseguiram tirá-la. Quero esta, este ano. E quero o campeonato pelas mesmas razões.





Helton (+) - Mea culpa, Helton. Fui um dos primeiros a lamentar que após a lesão dificilmente o veríamos ao mais alto nível outra vez. Como estava errado. Na mesma exibição consegue parecer guarda-redes de futebol, andebol e hóquei em patins. Um gigante, como tinha sido Fabiano em Nápoles, como Andrés ainda não pôde ser, como Ricardo nunca poderá ser. Se isto não lhe dá a titularidade, nada dará. Como merece jogar nos Barreiros.

Rúben Neves e Campaña (+) - Pensar que Rúben Neves podia estar por esta altura a cumprir o primeiro ano de júnior é assustador. Deixem de perseguir os Minalas desta vida, pois os 17 anos de Rúben Neves é que merecem todas as suspeitas. Um patrão no meio-campo, mesmo a coxear, certinho no passe mesmo faltando 2 jogadores em campo e com uma raça interminável. E que grande parceria fez com Campaña. Na primeira parte temi que não acabasse o jogo, mas não só acabou como fez 45 minutos de altíssimo nível. Uma bela resposta à contratação de Sérgio Oliveira.

José Ángel (+) - Alex Sandro tem um problema. A 18 meses do final de contrato, continua a ser um grande lateral esquerdo, de craveira internacional e com grande potencial. Mas não consegue uma regularidade que leve a oferecer um salário dos mais altos do plantel, como Danilo já (quase) pode reclamar, nem que faça um clube europeu perder a cabeça por ele. Não sabemos como a SAD decidirá, mas estou descansado: Ángel tem tudo para ser titular no FC Porto. Fartou-se de fazer cortes, anular jogadas de dois para um e ainda foi desequilibrar no ataque. Exibição que pede mais jogos. Nota para Ricardo, também em bom plano.

Adeptos (+) - Absolutamente irrepreensíveis, em especial na segunda parte, e a contagiar a equipa como nunca. As atitudes de Lopetegui e Pinto da Costa no final do jogo foram mais do que merecidas. O comportamento dos ultras hoje merece todo o reconhecimento pela forma como empurraram uma equipa que, ao fim da primeira parte, estava destinada a uma derrota. Mudaram o jogo.

Outros destaques (+) - Sou fã de Herrera e este é um dos jogos que mostram porquê. Entra com uma imensa disponibilidade, agressividade, verticalidade e sem nunca deixar que o Braga ganhasse espaço na rectaguarda. Ricardo fez um bom jogo defensivamente, o que se pedia, Marcano fica mal na foto nos descontos mas Helton safou-o e passa com nota positiva. E por fim, Gonçalo Paciência. Tal como Ivo, teve uma estreia ingrata. Mas enquanto esteve em campo lutou no corpo-a-corpo, baixou, ficou perto do golo, arrancou um penalty e ainda foi fechar o corredor esquerdo. Para um avançado em estreia que funciona numa equipa que assume a posse de bola e que hoje teve tudo menos isso, foi bom. Com Ádrian lesionado, dos convocados já ninguém te tira. E ainda bem.





Anjinhos (-) - Reyes faz estes disparates porque não joga mais ou não joga mais porque faz estes disparates? O empréstimo só lhe fará bem. O problema é a dicotomia de emprestar um central de 7 milhões para ir investir noutro que, supostamente, tem que ser melhor do que os que já cá estão. Precisa de jogar, com regularidade, e de preferência que seja emprestado a uma equipa que assume predominante o jogo e que joga com a linha defensiva subida; se for para emprestá-lo a uma equipa de linha defensiva recuada não vale a pena. E Evandro, Evandro... Com a equipa reduzida a 10, é preciso evitar expor-se a situações de risco. Foi o que aconteceu e podia ter custado um jogo. Lembro-me de 2 expulsões no Estoril que também foram um disparate. Que a lição tenha sido aprendida.

À 3.ª tem que entrar (-) - Achei que se tínhamos alguma hipótese de ganhar o jogo era com uma bola para a corrida do Tello. E assim foi, a oportunidade apareceu, mas faltou força para finalizar bem e a pressão do Tiago Gomes (o tal que já devia ter sido expulso antes) impediu-o de rematar como devia ser. Dito isto, recuso-me a acreditar que um jogador com esta capacidade de explosão não aprenda a ser mais incisivo, ter mais critério a definir no último terço e a saber jogar em espaço mais curto. Em Alvalade falhou, hoje também. Na próxima tem que entrar. Vai entrar.

Cosme (-) - Havia uma razão muito forte para eu chamar a esta secção os «Machados». Agora há duas.

PS: O Helton merece um espacinho no mesmo corredor que o Guttmann. Afinal, já conseguiu fazer aquilo que outros tentam fazer há mais de 50 anos sem o treinador húngaro: meter as mãos numa taça europeia. Por isso, vamos lá ser solidários com esta causa. A votação MVP, como já repararam, está aldrabada. Mas quem não concordar que é o MVP é que seria o maior aldrabão.

PS1: Lopetegui e Pinto da Costa, impecáveis na reacção a um momento de orgulho nos jogadores e nos adeptos. Após o jogo era um momento para sentir orgulho. A partir do treino de amanhã será um momento para sentir revolta. E ainda aguardemos para conhecer os castigos que Evandro e Antero Henrique vão ter.


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

As redes que não precisam de mais peixe

Desde 2005-06, quase se pode afirmar que o FC Porto só teve 2 guarda-redes titulares: Helton e Fabiano. Helton foi o sucessor de Baía e só deixou a baliza por culpa da sua grave lesão. Tirando Helton e o agora titular Fabiano, só jogava quem entrava no esquema de rotação nas taças.
O digno sucessor de Helton

Mesmo só havendo 2 guarda-redes titulares nos últimos 8 anos, a verdade é que o FC Porto contratou desde então 10 guarda-redes. Além dessas 10 contratações que incluem o agora titular Fabiano, o FC Porto teve Paulo Ribeiro, Hugo Ventura, Tiago Maia e Kadu a rodarem como 3º guarda-redes do plantel.

Não se pode ignorar que a baliza é uma posição que requer rotação no mercado. Ninguém se conforma eternamente com o estatuto de número 2. Se não jogam, procuram sair e rodar noutro lado. O melhor exemplo disso é Beto. Estava tapado por Helton, foi para Braga, depois para Sevilha e hoje é titular num dos melhores campeonatos do mundo e não deve nada além de alguns centímetros ao titular da Selecção.

É também uma posição onde os jogadores atingem a maturidade mais tarde e onde podem levar anos e anos até evoluírem para um patamar que justifique o FC Porto. Mas nada disto que se acaba de referir justifica uma coisa: ter mais recursos do que aqueles de que se necessita e se pode usar.

Este foi o quadro de contratações de guarda-redes dos últimos anos:

2007-08 - Nuno Espírito Santo
2008-09 - Nenhum
2009-10 - Beto
2010-11 - Pawel K.
2011-12 - Bracalli
2012-13 - Fabiano, Stefanovic 
2013-14 - Bolat e Matos
2014-15 - Andrés e Ricardo

Só em 2008-09 o FC Porto não contratou nenhum novo guarda-redes. De resto tem sempre sido contratado um ou mais guarda-redes por época, muitas vezes por intermediários repetentes. Dos últimos 10 contratados, só Fabiano foi titular e só Beto mostrou capacidade para ser o número 1 (quanto a Andrés ainda é cedo para tirar conclusões). Mas passamos a avaliar a pertinência de cada contratação.

Nuno, eterno suplente
Nuno Espírito Santo - Na primeira passagem foi a sombra de Baía, na segunda a de Helton. Teve uma segunda vida no FC Porto pela mão de Jorge Mendes, ou não tivesse sido ele o primeiro jogador a ser representado pelo empresário (conheceram-se numa discoteca em Caminha, com 30 anos, ainda Jorge Mendes não tinha mais do que um pequeno clube de vídeo e um acordo publicitário no Lanheses). Um dos guarda-redes mais caros da história do clube, que mesmo sem ter sido titular e comprometendo muitas vezes (o melhor momento foi o jogo do hat-trick de Jankausas em Braga) conseguiu tornar-se acarinhado pelos adeptos.

Beto - Um bom suplente de Helton, que como mostrou mais tarde podia perfeitamente ser o número 1. Guarda-redes de Teixeira da Silva, saiu do Leixões abaixo da cláusula de rescisão (750 mil€) e depois saiu para o Braga a custo zero. O FC Porto ficou com 50% do passe e depois recebeu cerca de 500 mil€ (não confirmados) pela transferência para o Sevilha.

Pawel Kieszek - Guarda-redes de Gaspar Freire, não fez um único jogo no Braga no campeonato antes de vir para o FC Porto (onde ia ser o suplente de Helton e de Beto). Contratação que não obedeceu a qualquer lógica desportiva. Enterrou na Taça da Liga, fez dois jogos na Taça, 10 minutos no campeonato e foi emprestado ao Roda. Depois saiu. Assinou um contrato de quatro anos, num péssimo negócio que nada justificava.

Bracalli - Guarda-redes de António Araújo, falou-se num contrato de 3 anos, não confirmado. A sua contratação empurrou Beto para o Cluj no último dia do mercado. Mostrou alguma qualidade no Nacional, era um guarda-redes experiente. Fez alguns jogos nas taças e um ano depois foi encostado, dando lugar a outro guarda-redes. Rezam as crónicas que tinha uma relação difícil com Will Coort e também saiu pela porta pequena.

Fabiano - Único guarda-redes contratado desde Helton que conseguiu ser titular. Guarda-redes de Gaspar Freire, terá custado 1,2M€, valor não confirmado. Teve que esperar pela lesão de Helton. Uma infelicidade na base de outra felicidade. 

Nome sem história
Stefanovic - Guarda-redes de António Araújo, uma contratação surreal. Chegou no Verão que fez 24 anos e nas equipas B só há espaço para 3 jogadores maiores de 23. Queimou-se assim uma vaga na equipa, algo absolutamente desnecessário, violando-se logo a lógica da equipa B ser para lançar os jovens jogadores - neste caso foi-se ao mercado, não se sabe por que valores, contratar um jogar de idade superior aos regulamentos. Nem o Arouca o quis e nem no Chaves joga. Contrato de 3 anos.

Bolat - Pouco a acrescentar ao que já tinha sido analisado aqui. Teve direito a um contrato de 5 épocas. Na primeira época mal jogou enquanto cá esteve. Na segunda foi emprestado para ser suplente de Muslera ao Galatasaray. Ou seja, o FC Porto preocupou-se em arranjar um clube que lhe pagasse o salário em vez de encontrar um clube onde pudesse jogar regularmente. Lógica desportiva nem vê-la na estrada de ligação a Liége, que recentemente trouxe os irmãos Djim e um interessante extremo (ou lateral?) que tinha acabado o contrato com o Standard, mas que afinal custou 2,615M€. O sucesso com Mangala não pude justificar tudo.

Matos - É caso para dizer, Stefanovic, estás perdoado. Um guarda-redes de 34 anos que não jogava no Leixões foi contratado para ser suplente da equipa B. Como é claro não houve interesse desportivo nesta contratação. Mas há quem diga: é importante para o Kadu e para os mais jovens terem um jogador mais experiente a treinar com eles. Essa desculpa quase que faz sentido, mas acontece que existe uma coisa chamada treinador de guarda-redes que dedica 100% do seu tempo e atenção aos guarda-redes.

Não há espaço para Ricardo
Ricardo - Podia ter sido importante nas inscrições para a Champions, mas afinal foi irrelevante, porque o FC Porto inscreveu os 2 GR estrangeiros. Disse-o no dia em que foi contratado: é um razoável guarda-redes, mas que tinha muito boa imprensa na Académica, pois há sempre simpatia para portugueses que jogam em clubes de menor dimensão e pegar nestes casos de jogadores portugueses dava sempre jeito para embirrar com o Paulo Bento. Contrato de 4 anos, sem qualquer pespectiva de futuro no FC Porto. Em princípio vai ser emprestado à Académica em Janeiro. Tem 32 anos e está em fileira para se juntar ao clube dos que chegam, vêem e vão-se embora sem jogar. Tendo em conta que Lopetegui já estava contratado e já se sabia que queria um novo guarda-redes (Navas opção 1, Andrés opção 2), a contratação de Ricardo queimou tempo, dinheiro e o próprio jogador, que até agora a única coisa que pôde fazer foi desfilar com o equipamento. Merecia mais, até porque (não) está a jogar no clube do coração.

Andrés Fernandez - Cedo para fazer juízos de valor, embora tenha dito na pré-época: a contratar um guarda-redes, que fosse para ser titular. Fabiano surpreendeu Lopetegui e para já é o número 1, tendo já renovado contrato. Vai ser difícil para Andrés ganhar o lugar mas há uma contratação para justificar.

Este foi o balanço dos últimos 10 guarda-redes contratados. Neste momento o FC Porto tem 11 guarda-redes no clube com contrato profissional, 2 deles emprestados. Tudo isto para dizer desde já: não é necessário contratar nenhum guarda-redes em 2015-16. E quando digo que não é necessário, não significa que não possa haver uma saída e que seja necessário colmatar uma vaga. Mas se ninguém sair, que não se contrate A para empurrar B. Estamos bem servidos de guarda-redes.

O futuro passa por aqui
Helton à partida vai reformar-se no fim do ano. Ficam Fabiano e Andrés a lutar pela titularidade, duas excelentes opções. Ricardo, temo, vai rodar, rodar e rodar. Não faz sentido continuar cá para ser 3º guarda-redes. Stefanovic vai sair no fim da época e sobra o caso de Bolat para resolver. Na equipa A. não é preciso mais nenhum guarda-redes.

E na B? Kadu tem tido sucessivas oportunidades, mas apesar de ser um miúdo trabalhador e portista continua sem mostrar capacidade para a equipa A (uma opinião que não é consensual). Caio já merecia ter tido uma oportunidade. De qualquer forma, defendo que seria interessante tirar Kadu da zona de conforto e tentar emprestá-lo na próxima época, ainda que não imagine que algum clube lhe dê a titularidade na primeira liga. 

Além de Kadu e Caio, há Raul Gudino, que ainda é sub-19. Mexicano, está emprestado e há cláusula de compra. Já mostrou algumas qualidades e o Chivas diz que o FC Porto vai comprá-lo no fim da época. Por quanto? Não se sabe. Mas que a sua contratação obedeça a uma lógica desportiva e não à contratação da praxe para a baliza. Se não for para ser um dos 2 GR da equipa B, não vale a pena contratá-lo.

Mas para 2015-16 o FC Porto já tem 2 guarda-redes com grande potencial para a equipa B: Andorinha e Filipe Ferreira. Andorinha é o guarda-redes mais promissor do FC Porto. Junior de segundo ano, nada justifica que não seja um dos 2 GR da equipa B da próxima época. Depois há Filipe Ferreira, que esta época está tapado por Gudino e Andorinha, caso contrário podia estar a mostrar o seu potencial.

Tirando Helton e Stefanovic, que vão terminar contratado, e Gudino, que está emprestado, para 2015-16 há Ricardo, Fabiano, Andres, Bolat, Kadu, Andorinha, Caio e Filipe Ferreira para dividir entre equipa A e B. O ideal seria ter 2 GR na equipa A e 3 na B, sendo que o 3º guarda-redes da equipa A seria o 1º da B. Há pelo menos 8 guarda-redes garantidos para a próxima época, por isso nada justifica contratar mais. Nada. Estamos bem servidos. 





- Com a confirmação das renovações de Ivo e André Silva, não resta nenhuma promessa em fim de contrato. Notícia a registar com agrado, resta encontrar espaço competitivo para eles. Na equipa A a curto prazo será difícil (defendo que na Taça da Liga devemos usar os jovens), por isso resta tentar desenvolvê-los tanto quanto possível na equipa B e depois pensar num empréstimo ou numa subida à equipa A. Tudo isto para dizer que a lógica dos guarda-redes se deve aplicar às outras posições na equipa A e B: é tempo de espremermos os recursos que temos, não de pensar já em ir buscar mais. A situação financeira da SAD não recomenda mais do que ataques cirúrgicos ao mercado, pelo contrário, recomenda e bem que se aproveite todos os recursos que já temos à disposição. E Ivo e André Silva são 2 dos mais promissores desses recursos.