Desde 2005-06, quase se pode afirmar que o FC Porto só teve 2 guarda-redes titulares: Helton e Fabiano. Helton foi o sucessor de Baía e só deixou a baliza por culpa da sua grave lesão. Tirando Helton e o agora titular Fabiano, só jogava quem entrava no esquema de rotação nas taças.
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O digno sucessor de Helton |
Mesmo só havendo 2 guarda-redes titulares nos últimos 8 anos, a verdade é que o FC Porto contratou desde então 10 guarda-redes. Além dessas 10 contratações que incluem o agora titular Fabiano, o FC Porto teve Paulo Ribeiro, Hugo Ventura, Tiago Maia e Kadu a rodarem como 3º guarda-redes do plantel.
Não se pode ignorar que a baliza é uma posição que requer rotação no mercado. Ninguém se conforma eternamente com o estatuto de número 2. Se não jogam, procuram sair e rodar noutro lado. O melhor exemplo disso é Beto. Estava tapado por Helton, foi para Braga, depois para Sevilha e hoje é titular num dos melhores campeonatos do mundo e não deve nada além de alguns centímetros ao titular da Selecção.
É também uma posição onde os jogadores atingem a maturidade mais tarde e onde podem levar anos e anos até evoluírem para um patamar que justifique o FC Porto. Mas nada disto que se acaba de referir justifica uma coisa: ter mais recursos do que aqueles de que se necessita e se pode usar.
Este foi o quadro de contratações de guarda-redes dos últimos anos:
2007-08 - Nuno Espírito Santo
2008-09 - Nenhum
2009-10 - Beto
2010-11 - Pawel K.
2011-12 - Bracalli
2012-13 - Fabiano, Stefanovic
2013-14 - Bolat e Matos
2014-15 - Andrés e Ricardo
Só em 2008-09 o FC Porto não contratou nenhum novo guarda-redes. De resto tem sempre sido contratado um ou mais guarda-redes por época, muitas vezes por intermediários repetentes. Dos últimos 10 contratados, só Fabiano foi titular e só Beto mostrou capacidade para ser o número 1 (quanto a Andrés ainda é cedo para tirar conclusões). Mas passamos a avaliar a pertinência de cada contratação.
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Nuno, eterno suplente |
Nuno Espírito Santo - Na primeira passagem foi a sombra de Baía, na segunda a de Helton. Teve uma segunda vida no FC Porto pela mão de Jorge Mendes, ou não tivesse sido ele o primeiro jogador a ser representado pelo empresário (conheceram-se numa discoteca em Caminha, com 30 anos, ainda Jorge Mendes não tinha mais do que um pequeno clube de vídeo e um acordo publicitário no Lanheses). Um dos guarda-redes mais caros da história do clube, que mesmo sem ter sido titular e comprometendo muitas vezes (o melhor momento foi o jogo do hat-trick de Jankausas em Braga) conseguiu tornar-se acarinhado pelos adeptos.
Beto - Um bom suplente de Helton, que como mostrou mais tarde podia perfeitamente ser o número 1. Guarda-redes de Teixeira da Silva, saiu do Leixões abaixo da cláusula de rescisão (750 mil€) e depois saiu para o Braga a custo zero. O FC Porto ficou com 50% do passe e depois recebeu cerca de 500 mil€ (não confirmados) pela transferência para o Sevilha.
Pawel Kieszek - Guarda-redes de Gaspar Freire, não fez um único jogo no Braga no campeonato antes de vir para o FC Porto (onde ia ser o suplente de Helton e de Beto). Contratação que não obedeceu a qualquer lógica desportiva. Enterrou na Taça da Liga, fez dois jogos na Taça, 10 minutos no campeonato e foi emprestado ao Roda. Depois saiu. Assinou um contrato de quatro anos, num péssimo negócio que nada justificava.
Bracalli - Guarda-redes de António Araújo, falou-se num contrato de 3 anos, não confirmado. A sua contratação empurrou Beto para o Cluj no último dia do mercado. Mostrou alguma qualidade no Nacional, era um guarda-redes experiente. Fez alguns jogos nas taças e um ano depois foi encostado, dando lugar a outro guarda-redes. Rezam as crónicas que tinha uma relação difícil com Will Coort e também saiu pela porta pequena.
Fabiano - Único guarda-redes contratado desde Helton que conseguiu ser titular. Guarda-redes de Gaspar Freire, terá custado 1,2M€, valor não confirmado. Teve que esperar pela lesão de Helton. Uma infelicidade na base de outra felicidade.
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Nome sem história |
Stefanovic - Guarda-redes de António Araújo, uma contratação surreal. Chegou no Verão que fez 24 anos e nas equipas B só há espaço para 3 jogadores maiores de 23. Queimou-se assim uma vaga na equipa, algo absolutamente desnecessário, violando-se logo a lógica da equipa B ser para lançar os jovens jogadores - neste caso foi-se ao mercado, não se sabe por que valores, contratar um jogar de idade superior aos regulamentos. Nem o Arouca o quis e nem no Chaves joga. Contrato de 3 anos.
Bolat -
Pouco a acrescentar ao que já tinha sido analisado aqui. Teve direito a um contrato de 5 épocas. Na primeira época mal jogou enquanto cá esteve. Na segunda foi emprestado para ser suplente de Muslera ao Galatasaray. Ou seja, o FC Porto preocupou-se em arranjar um clube que lhe pagasse o salário em vez de encontrar um clube onde pudesse jogar regularmente. Lógica desportiva nem vê-la na estrada de ligação a Liége, que recentemente trouxe os irmãos Djim e um interessante extremo (ou lateral?) que tinha acabado o contrato com o Standard,
mas que afinal custou 2,615M€. O sucesso com Mangala não pude justificar tudo.
Matos - É caso para dizer, Stefanovic, estás perdoado. Um guarda-redes de 34 anos que não jogava no Leixões foi contratado para ser suplente da equipa B. Como é claro não houve interesse desportivo nesta contratação. Mas há quem diga: é importante para o Kadu e para os mais jovens terem um jogador mais experiente a treinar com eles. Essa desculpa quase que faz sentido, mas acontece que existe uma coisa chamada treinador de guarda-redes que dedica 100% do seu tempo e atenção aos guarda-redes.
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Não há espaço para Ricardo |
Ricardo - Podia ter sido importante nas inscrições para a Champions, mas afinal foi irrelevante, porque o FC Porto inscreveu os 2 GR estrangeiros. Disse-o no dia em que foi contratado: é um razoável guarda-redes, mas que tinha muito boa imprensa na Académica, pois há sempre simpatia para portugueses que jogam em clubes de menor dimensão e pegar nestes casos de jogadores portugueses dava sempre jeito para embirrar com o Paulo Bento. Contrato de 4 anos, sem qualquer pespectiva de futuro no FC Porto. Em princípio vai ser emprestado à Académica em Janeiro. Tem 32 anos e está em fileira para se juntar ao clube dos que chegam, vêem e vão-se embora sem jogar. Tendo em conta que Lopetegui já estava contratado e já se sabia que queria um novo guarda-redes (Navas opção 1, Andrés opção 2), a contratação de Ricardo queimou tempo, dinheiro e o próprio jogador, que até agora a única coisa que pôde fazer foi desfilar com o equipamento. Merecia mais, até porque (não) está a jogar no clube do coração.
Andrés Fernandez - Cedo para fazer juízos de valor, embora tenha dito na pré-época: a contratar um guarda-redes, que fosse para ser titular. Fabiano surpreendeu Lopetegui e para já é o número 1, tendo já renovado contrato. Vai ser difícil para Andrés ganhar o lugar mas há uma contratação para justificar.
Este foi o balanço dos últimos 10 guarda-redes contratados. Neste momento o FC Porto tem 11 guarda-redes no clube com contrato profissional, 2 deles emprestados. Tudo isto para dizer desde já: não é necessário contratar nenhum guarda-redes em 2015-16. E quando digo que não é necessário, não significa que não possa haver uma saída e que seja necessário colmatar uma vaga. Mas se ninguém sair, que não se contrate A para empurrar B. Estamos bem servidos de guarda-redes.
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O futuro passa por aqui |
Helton à partida vai reformar-se no fim do ano. Ficam Fabiano e Andrés a lutar pela titularidade, duas excelentes opções. Ricardo, temo, vai rodar, rodar e rodar. Não faz sentido continuar cá para ser 3º guarda-redes. Stefanovic vai sair no fim da época e sobra o caso de Bolat para resolver. Na equipa A. não é preciso mais nenhum guarda-redes.
E na B? Kadu tem tido sucessivas oportunidades, mas apesar de ser um miúdo trabalhador e portista continua sem mostrar capacidade para a equipa A (uma opinião que não é consensual). Caio já merecia ter tido uma oportunidade. De qualquer forma, defendo que seria interessante tirar Kadu da zona de conforto e tentar emprestá-lo na próxima época, ainda que não imagine que algum clube lhe dê a titularidade na primeira liga.
Além de Kadu e Caio, há Raul Gudino, que ainda é sub-19. Mexicano, está emprestado e há cláusula de compra. Já mostrou algumas qualidades e o Chivas diz que o FC Porto vai comprá-lo no fim da época. Por quanto? Não se sabe. Mas que a sua contratação obedeça a uma lógica desportiva e não à contratação da praxe para a baliza. Se não for para ser um dos 2 GR da equipa B, não vale a pena contratá-lo.
Mas para 2015-16 o FC Porto já tem 2 guarda-redes com grande potencial para a equipa B: Andorinha e Filipe Ferreira. Andorinha é o guarda-redes mais promissor do FC Porto. Junior de segundo ano, nada justifica que não seja um dos 2 GR da equipa B da próxima época. Depois há Filipe Ferreira, que esta época está tapado por Gudino e Andorinha, caso contrário podia estar a mostrar o seu potencial.
Tirando Helton e Stefanovic, que vão terminar contratado, e Gudino, que está emprestado, para 2015-16 há Ricardo, Fabiano, Andres, Bolat, Kadu, Andorinha, Caio e Filipe Ferreira para dividir entre equipa A e B. O ideal seria ter 2 GR na equipa A e 3 na B, sendo que o 3º guarda-redes da equipa A seria o 1º da B. Há pelo menos 8 guarda-redes garantidos para a próxima época, por isso nada justifica contratar mais. Nada. Estamos bem servidos.
- Com a confirmação das renovações de
Ivo e André Silva, não resta nenhuma promessa em fim de contrato. Notícia a registar com agrado, resta encontrar espaço competitivo para eles. Na equipa A a curto prazo será difícil (
defendo que na Taça da Liga devemos usar os jovens), por isso resta tentar desenvolvê-los tanto quanto possível na equipa B e depois pensar num empréstimo ou numa subida à equipa A. Tudo isto para dizer que a lógica dos guarda-redes se deve aplicar às outras posições na equipa A e B:
é tempo de espremermos os recursos que temos, não de pensar já em ir buscar mais. A situação financeira da SAD não recomenda mais do que ataques cirúrgicos ao mercado, pelo contrário, recomenda e bem que se aproveite todos os recursos que já temos à disposição. E Ivo e André Silva são 2 dos mais promissores desses recursos.