Portugal nunca teve um cariz revolucionário nas suas raízes, contudo o dia 25 de Abril de 1974 marcou uma viragem no rumo do país, encaminhando-o para um horizonte bem distinto do vivido antes deste dia.
Para além de todos os factos históricos, já documentados inúmeras vezes, por livros de história ou simples senso comum, o que importa realçar são as grandes conquistas saídas da revolução: liberdade (expressão e manifestação, reunião e associação), o poder local, a democracia…
Muito do que hoje se tem e pode fazer fica-se a dever à revolução. Contudo a forma como as coisas são feitas nem sempre é a melhor.
O 25 de Abril enunciou todo um projecto de renovação que não pretendia deixar para trás os valores fundamentais (exaltados na época do Estado Novo) que pautavam a sociedade ordeira e respeitadora idealizada por Salazar. Porém ao anunciar uma liberdade quase total, onde tudo se pode fazer, sem limites e barreiras, nem tudo correu como previsto.
O caminho para a Democracia, nem sempre seguido da melhor forma, é um exemplo de algo que hoje ainda é alvo de dúvidas e sugestões, o que se pode retirar dos tempos que se seguiram à revolução, com a força tomada por comunistas. Da mesma forma se fala dos outros partidos que não se assumem, não tomam partido de um rumo fixo para o nosso país, deixando que o grupo a que pertencem se revele uma força de bloqueio sem precedentes, que se guia apenas por interesses próprios. Assim, tornou-se difícil, ao longo dos anos, lutar por um objectivo comum que encaminhasse o país para o sucesso e para a glória de outros tempos. Da mesma forma, a nossa sociedade caminhou e caminha para um vácuo de valores, sobretudo nas camadas mais jovens, que a tornam superficial e fútil. A Família, a Pátria, Deus, onde estão? De facto, a tão reclamada e exigida liberdade é um conceito complicado de definir, e dá-la aos jovens, pela educação, nem sempre é a tarefa mais fácil. Contudo essa educação de hoje não é melhor que a de antigamente. O desrespeito aumenta de dia para dia nas escolas, os pais não são capazes de deter as vontades dos filhos, os malefícios do álcool, do tabaco, das próprias drogas atingem camadas cada vez mais jovens. Enfim, tudo isto serve de exemplo para mostrar que não se melhorou com o 25 de Abril, talvez porque nunca foi dada uma definição concreta do que se pretendia com a “liberdade” dada pela revolução.
Pois bem, hoje ainda espero por essa resposta e, como eu, muitos portugueses que, mesmo tendo lutado ao lado dos capitães de Abril, não se revêem no Portugal de hoje, não se identificam com o caminho levado a cabo após revolução.
Quando se aborda a figura de Salazar aquando do 25 de Abril, ganha-se a percepção daquele que retirou todas as liberdades num regime opressor e totalitarista. Ora, não se devem olhar a regimes para criticar as pessoas. Salazar vingou pela determinação com que defendeu os seus valores, fosse a exaltação da Pátria, a defesa da Família, a importância de uma crença em Deus, a valorização da economia enquanto forma de ordenar uma sociedade forte, concentrada no interesse comum, na vitória de todo um País na persecução dos seus horizontes e objectivos. Por isto, apesar de reconhecer que as medidas de hoje não podem ser iguais às do seu tempo (a sociedade adapta-se ao momento e ao lugar), saliento que os valores do obreiro da Pátria são intemporais, transversais às vontades e realizações de cada um. A disciplina e o rigor têm que persistir na sociedade pois apenas dessa forma se educa a sociedade para cumprir a sua função social de ajuda ao próximo, de estabelecimento de relações que revelam o que de mais único o ser humano detém – a sua natureza social de contacto com os outros, dando lugar à sua capacidade reflexiva que resolve problemas e obstáculos ao desenvolvimento e progresso.
Marcello Caetano não teve a sua oportunidade e, hoje, África sofre as consequências de uma descolonização mal conduzida, a renovação na continuidade não teve tempo de se estabelecer. A mudança era necessária, sem dúvida, mas não nas condições em que se realizou, no estereótipo negativo que a época do estado novo ganhou e que hoje se vai alterando face aos problemas da actualidade – para além de tudo o que já foi enunciado, o fosso económico e o desleixo cultural em que caímos: porque nos encontramos no chamado grupo intitulado PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) que define aqueles que detêm uma situação económica catastrófica? Porque é que os governos que se sucedem não melhoram em nada esta situação e no panorama internacional perdemos progressivamente relevo de outrora? Porque é que o nosso património histórico seja na Baixa Pombalina ou noutras regiões mais interiores é deixado no desleixo, quase abandono?
Pois é, o 25 de Abril deve ser comemorado pelo dia que foi, por aquilo que idealizou, por aquilo por que se lutou. Mas comemorar o 25 de Abril de 2010 (comemorar a democracia, a liberdade, etc.) é inglório pois os heróis não tiveram seguidores que dessem acção às suas palavras e os mesmos cravos ainda não voltaram a ter vida desde esse dia. Os culpados somos nós, mas cabe a toda uma nova geração, na qual me insiro, lutar por um Portugal melhor e, quem sabe, elevar um novo cravo que simbolize, esse sim, um Portugal glorioso, rejuvenescido com as bases do respeito, da tradição, do rigor. Atingir o Portugal de um Quinto Império onde Deus quer, o homem sonha e a obra nasce.
Viva Portugal!
Guilherme Fardilha
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