Tomás António Gonzaga
(1744 – 1810)
“Nasceu na cidade do Porto em 11 de Agosto de 1744. Tendo passado a meninice em terras do Douro, teria acompanhado o pai, em 1752, quando foi exercer funções de ouvidor – geral em Pernambuco.
Em 1 de Outubro de 1763 encontramo-lo matriculado na faculdade de Leis, em Coimbra.
Gonzaga ia entretendo os seus ócios de magistrado no cultivo da poesia.
O grande amor foi-lhe inspirado por uma menina de 15 a 16 anos, D. Maria Doroteia Joaquina de Seixas, da melhor sociedade vila –riquense, que conheceu pouco depois da sua chegada.Marília, como Gonzaga passou a chamá-la nos seus cantares, era uma das filhas do capitão João Baltazar Marinque, homem abastado e de boa família.
Tomás Gonzaga, tendo sido acusado como o chefe principal da Inconfidência Mineira, foi metido numa lúgubre masmorra da Ilha das Cobras. Depois de longos meses de cativeiro, era condenado a 10 anos de degredo para Moçambique.
A história de Gonzaga em Moçambique tem andado rodeada de romântico mistério. Dizia-se que o pobre poeta, ausente de Marília, tinha perdido o juízo e andava como um sonâmbulo pelas ruas.Nada disso.
Uma vez no exílio, Gonzaga deitou contas à sua vida. Nunca mais Marília lhe pertenceria. Casou com uma senhora de muita fortuna, tornando-se numa das principais pessoas da cidade, que habitava.
A poesia de Gonzaga, além do seu valor intrínseco, porém diminuído por algumas debilidades de forma e inspiração, documenta bem a passagem do classicismo para o romantismo. Causam-nos hoje e fazem-nos sorrir as constantes citações dos deuses, a sua impertinente imiscuição nas coisas da vida real. Descreve em belos versos a sua situação tristíssima; mas, por muito sentida que fosse a dor, dificilmente dispensara o ornamento clássico, a alegoria mitológica.
A sua poesia é suave e tem um cunho de acentuado realismo, concepção burguesa e democrática da vida”.
Vamos recordá-lo com várias estrofes, respeitando, dentro do possível, a diversificação da rima e da métrica por si usada.
Petições
suplicante – Elisa
dispensador – Pai Santo e Eterno/ Apaixonado ignoto
(I)
Sonhei que , pastora, levava o gado
para verdes prados, onde o meu Amor,
de rosto alegre e pelo Sol tisnado,
p’ra mim a flauta tocava a primor.
O seu afecto toda a mágoa cura;
dos seus olhos irradia luz divina.
Deslumbrada estou com a minha sina.
A quem devo tanta paz e ventura?
Graças ao Criador,
graças ao meu Senhor!
Corremos para a sombra da floresta,
sempre aconchegada pelo seu braço;
aí dormi reconfortante sesta,
tendo por travesseiro seu regaço.
Restantes pastores e seus namoricos
nas moitas folgavam às escondidas;
suas conversas eram tão queridas
que indago: porquê d’amor assim ricos?
Graças ao Criador,
graças ao meu Senhor!
(II)
Cupido, para os poetas,
é um rosado menino
nu, com aljava de setas.
Brincando, acertou nos dois:
Eu e tu, prendada Elisa,
de paixão somos feridos:
de coração tão unidos
para sempre minha sois.
Mas Cupido é traiçoeiro
às vezes com suas manhas;
até de Apolo é coveiro
e de muitos humanos seres,
não respeitando as idades.
Em tudo não somos iguais,
mas amor nunca é demais,
basta tu sempre o quereres.
(III)
Elisa, teus olhos
foi primeira farpa
que rasgou meu ser.
São como os sons da harpa
que me alegram a vida.
Eles até dizem:
eis tua guarida!
Quando vi teus lábios,
deixei de falar.
Meu corpo tremeu
e a cambalear,
o chão por jazida.
Eles até dizem:
eis tua guarida!
(IV)
Recordas, Amor,
ao nascer do Sol,
Natura acordava
com o arrebol?
Esfregavas os olhos
para ver melhor
e louvar a cor
desta maravilha
que todos encantou.
Em tudo és a mesma,
porém, eu não sou.
Elisa, tu pedes?
Aguarda que eu dou.
Deus Vulcano e Vénus,
felizes tais nós?
Ele amava festas.
Tu e eu, a sós,
jurámos a fé.
Lembras-te das tardes,
que, isentos de alardes,
promessas fazíamos?
E quem te beijou?
Em tudo és a mesma,
porém, eu não sou.
Elisa, tudo pedes?
Aguarda que eu dou.
Agostinho Alves Fardilha (o meu pai)
Coimbra
Foto: internet