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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Facebook: 20 anos depois, qual é a importância da plataforma como mídia?

Facebook - (Crédito da foto: Adobe Stock)

Meio & Mensagem, de 5 de fevereiro de 2024 

Facebook: 20 anos depois, qual é a importância da plataforma como mídia?

Responsável por mudar a forma como pessoas e marcas interagem, rede social ainda tem na comunicação de massa e segmentação elementos importantes para as marcas

Por Bárbara Sacchitiello

Nesse domingo, 4, completaram-se exatos 20 anos em que quatro estudantes da universidade de Harvard, nos Estados Unidos, criaram a tela inicial da plataforma que viria a ser, anos depois, a maior e mais importante rede social do mundo: o Facebook.

Fruto das jovens mentes de Mark Zuckerberg, de seu colega brasileiro, Eduardo Saverin, e dos estudantes Dustin Moskovitz, Chris Hughes e Andrew McCollum, o Facebook foi elaborado para funcionar como um misto de dados e plataforma de comunicação para os estudantes de Harvard.

Não demorou para que a popularidade da rede extrapolasse as paredes da universidade, ganhando fama em outras instituições de ensino e, posteriormente, em outras cidades e partes do mundo.

As duas décadas de existência do Facebook abrangem não só o período de maior transformação na forma como as pessoas se comunicam e interagem pelos meios digitais como também contemplam a ascensão da internet como o território principal para a publicidade e conexão das marcas com os consumidores em todo o mundo.

Em uma sociedade ávida por curtir, comentar e compartilhar, algo difundido globalmente sobretudo pela força do Facebook, só uma rede social acabou sendo pouco. Se por anos foi o nome e corpo de uma única companhia, desde 2021, o Facebook é um dos (porém, ainda o mais lucrativo), pilar de negócios da Meta, companhia que agregou as operações do Instagram e WhatsApp, que lançou uma nova rede social (o Threads) e que mudou de nome ao tomar para si a missão de difundir, pelo mundo, o conceito do metaverso.

O Facebook em números

O aniversário de 20 anos foi completado dias depois da divulgação do balanço trimestral da Meta, que apresentou os resultados referentes ao quarto trimestre de 2023.

Nos meses de outubro, novembro e dezembro, a companhia (considerando Facebook, Instagram, WhatsApp e Threads) teve um lucro líquido de US$ 14,02 bilhões, o que representa um significativo aumento de 201% em comparação com o mesmo período de 2022.

Analisando somente o Facebook, dados divulgados pela Meta no segundo semestre do ano passado mostraram que a rede social alcançou a marca de mais 3,08 bilhões de usuários ativos no mundo, o que torna a rede social, mesmo 20 anos depois de seu lançamento, ainda a mais utilizada no planeta.

Facebook, 20 anos: revolução e legado

Com números ainda tão superlativos em todo o planeta, o Facebook é um raro caso de uma rede social que conseguiu manter e preservar seu papel junto aos usuários e aos anunciantes, uma vez que a publicidade ainda é a principal fonte de receitas da companhia. Ainda que, ao longo dos anos, outras redes sociais tenham ocupado seu espaço no cotidiano das pessoas e das marcas, não dá para retirar o Facebook seu papel de elemento revolucionário na conexão instantânea entre as pessoas.

“Em um curto espaço de tempo, o Facebook cresceu por meio da conexão entre marcas, pessoas e fontes de informação. Com o tempo, apresentou diferentes produtos imersivos dentro da plataforma, evoluindo para ambientes com possibilidade de compra, troca e inspiração e foi, muitas vezes, de extrema relevância pra o resultado dos negócios”, relembra Glaucia Montanha CEO da Artplan São Paulo e CEO da Convert Digital Business.

O Facebook revolucionou, de forma rápida e intensa, a forma como as pessoas se conectam e interagem, também na opinião de Marcos Vinicius Costa, diretor de operações da Media.Monks. “É uma rede social que uniu de forma fácil o compartilhamento de informações, fotos, vídeos, atualização de status com amigos e familiares, trazendo o diferencial de fazer isso de forma pessoal e instantânea”, diz.

Outro diferencial, citado por Costa, está na criação de comunidades com interesses comuns, além da possibilidade de ter dado às empresas a chance de ter um canal direto de comunicação com seus clientes.

Ao analisar a importância do Facebook para a conexão humana, Henrique Fogaça, diretor de mídia da W+K São Paulo, faz uma referência. Para ele, o Facebook solidificou um caminho que já havia sido aberto pelo Orkut, rede social que teve no Brasil um de seus mais populares territórios. Porém, a plataforma de Zuckerberg conseguiu ir além, melhorando a experiência do usuário, investindo em novos features para a plataforma e fazendo aquisições importantes ao longo do tempo, como a do Instagram.

“Essas aquisições contribuíram muito para o portfólio da companhia e aumentaram a capacidade de alcance, interação e geração de conversas das marcas com os usuários”, reforça Fogaça.

Qual a importância do Facebook hoje?

Já há alguns anos, contudo, são comuns as análises e percepções de que o Facebook não detém, entre os usuários, o mesmo prestígio dos primeiros anos. Muitas pessoas que eram frequentadores ativos deixar de postar textos e fotos e até mesmo deixaram a rede social. As gerações mais jovens, também, vêm dando preferência aos recursos e ferramentas de outras redes, como Instagram e TikTok.

Ainda que o público não seja o mesmo de outrora, profissionais de mídia consideram que, como plataforma de mídia, o Facebook ainda é uma rede social fundamental para os anunciantes, tanto pelo uso que a plataforma ainda tem no Brasil como pelos recursos oferecidos às empresas.

“É fundamental para as empresas estarem presentes nessa rede social, pois ela é altamente versátil e oferece um alcance massivo de publico devido às suas dimensões”, diz Costa, da Media.Monks. O diretor cita como exemplo a veiculação avançada de anúncios segmentos e as otimizações das campanhas como vantagens importantes da rede social.

Mesmo após 20 anos – e com diversas outras redes sociais lançadas e competindo pela atenção do usuário, o Facebook ainda é um dos maiores players de alcance do Brasil. A opinião é de Fogaça, da W+K São Paulo. “Sua granularidade de segmentação traz uma maior segurança na assertividade das audiências e na eficiência das campanhas”, pontua.

A CEO da Artplan e da Convert também concorda com os demais profissionais sobre a relevância do Facebook como plataforma de mídia. Ela relembra um estudo de janeiro de 2023, divulgado pela Statista, que mostrava que o Facebook era o quarto país do mundo com maior número de visitantes da rede social, tendo, na época, 109 milhões de usuários. “Mesmo com a queda de público, segundo as pesquisas, sabemos que essa rede social possui um inventário relevante”, diz Glaucia.

Entretanto, ela alerta que a forma de se relacionar com as marcas e pessoas mudou muito a partir do surgimento e evolução de outras plataformas. ‘É certo que o Facebook possui um papel importante como plataforma de mídia, porém sua maior eficiência está no uso combinado com diferentes meios, formatos e demais ferramentas. Temos uma audiência polarizada que se comporta de formas diferentes em cada meio em que se apresenta maior conexão e afinidade. Dessa forma, a escolha do uso de uma plataforma precisa estar alinhada ao propósito, o que torna o cenário ainda mais desafiador”, analisa.

Texto e imagem reproduzidos do site: www meioemensagem com br/midia

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Facebook: Hora de compartilhar ou desgrudar?


Facebook: Hora de compartilhar ou desgrudar?

A onipresente rede social de Mark Zuckerberg tornou-se um problema político, econômico e existencial – e já há quem defenda um êxodo em massa

Por Alexandre Matias | Ilustrações Lucas Levitan

O SENADOR NORTE-AMERICANO Dick Durbin olhava para o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, por cima dos óculos, durante o interrogatório que o dono da maior rede social do planeta atravessou no início de abril. “Você ficaria à vontade em compartilhar conosco o nome do hotel em que ficou na noite passada?”, perguntou. “Ahn…”, balbuciou o cacique de uma tribo digital com mais de dois bilhões de pessoas, para responder em seguida, com um sorriso constrangido, “não”. A resposta foi recebida com uma explosão de gargalhadas dos presentes na sessão do senado americano, em Washington.

O inquérito respondido por Zuckerberg dizia respeito ao escândalo envolvendo a maior rede social do mundo, que fora usada pela consultoria política inglesa Cambridge Analytica como plataforma digital para sugar dados de quase 90 milhões de pessoas e depois manipular suas escolhas online para que elas fossem refletidas em votos. A Cambridge gaba-se de ter sido decisiva em recentes terremotos políticos modernos, como a eleição de Donald Trump nos EUA e o Brexit, referendo que desconectou o Reino Unido do Mercado Comum Europeu.

A bomba explodiu quando um ex-funcionário da empresa, o programador Christopher Wylie, veio a público para revelar que a Cambridge Analytica havia usado um inocente teste de personalidade postado na rede para drenar informações dos usuários do Facebook e influenciar suas escolhas a partir de anúncios e posts patrocinados direcionados para diferentes tipos de eleitores. A crise foi tamanha que a Cambridge anunciou em maio que fechará suas portas.

O teste vinha dentro de um aplicativo que pedia para que o público entregasse todo o tipo de informação sobre si mesmo armazenada pelo Facebook: agenda de contatos, quantidade de likes, links clicados, histórico de buscas. A minúcia chegava ao extremo de colher dados sobre pessoas que nem sequer estão na rede social, através de contatos digitais diferentes, como a agenda de telefones no celular ou o histórico de e-mails daqueles que aceitaram usar o app clicando inocentemente na caixinha de permissões do teste de personalidade.

Embora o próprio Zuckerberg lave as mãos e diga que foram as pessoas que aceitaram os termos de uso tanto do aplicativo quanto do Facebook, o fato é que a empresa controla uma quantidade de informações pessoais cada vez maior e tem se tornado central na maioria das conexões entre pessoas atualmente. Mesmo fora de seu domínio azul, Zuckerberg ainda rastreia as pessoas pelo Instagram e pelo WhatsApp, duas ferramentas independentes que tiveram saltos de popularidade e foram compradas pelo Facebook.

A era digital fez nascer um novo tipo de oligopólio: o dos dados pessoais. Aproveitando-se da ingenuidade do público e de uma nova legislação norte-americana que permitia a vigilância online após os atentados de 11 de setembro de 2001, novas empresas passaram a oferecer produtos online aparentemente gratuitos – sejam redes sociais, e-mails online, aplicativos de comunicação e de relacionamento, serviços na nuvem e mapas digitalizados – que coletam informações sobre cada passo dado por seus usuários. Ao aceitar os termos de uso destes novos serviços, as pessoas aos poucos foram abrindo mão de sua privacidade e até de sua liberdade, carregando dispositivos de monitoramento online em seus bolsos.

Corporações como Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft começaram a desdobrar suas atividades para além de suas funções originais, aumentando o nível de consentida invasão de privacidade de seus usuários. Conhecendo melhor seus clientes como nenhum outro tipo de empresa na história, eles começaram a vender estas informações em forma de publicidade, personalizando os anúncios de acordo com os hábitos digitais de seus “consumidores” – que são, na realidade, o verdadeiro produto oferecido aos anunciantes pela rede social.

Empresas menores como Twitter, Spotify, Uber e Netflix, entre inúmeras outras, também coletam seus dados para “melhorar seus serviços”, embora todos almejem ter a influência e o tamanho dos dois maiores gigantes digitais: Google e Facebook. Se o primeiro não tem uma grande rede social para conectar as pessoas, é simplesmente dono do maior site de buscas do mundo, do principal serviço de streaming do planeta (o YouTube), do principal sistema operacional para celulares (o Android) e do principal serviço de mapas online do mundo (o Google Maps).

Já o Facebook parece ter uma influência maior do que a simples inteligência artificial bradada pela empresa. Ele bane a nudez (incluindo mães que amamentam), mas não tira do ar cenas violentas, por alegada “liberdade de expressão”. No mesmo inquérito realizado nos EUA, Zuckerberg assegurou que grupos de ódio são proibidos no Facebook, quando qualquer usuário percebe a tendência belicosa por trás de comentários, likes e compartilhamentos.

A crescente polarização ideológica da sociedade no mundo todo parece ter sido reforçada pela distribuição eletrônica de publicações da rede, com a criação de bolhas de interesse que não conversam entre si. Problema que o indiano Chamath Palihapitiya, que chegou a ser vice-presidente de crescimento de usuários da rede entre 2007 e 2011, apontou no fim do ano, em uma palestra na Escola de Negócios de Stanford sobre o vício em redes sociais. Para o ex-diretor da empresa, o Facebook está destruindo o funcionamento da sociedade e rasgando o tecido social ao fazer as pessoas se tornarem compulsivas no uso e na recompensa mental que seu uso traz. Na mesma época, o primeiro presidente do Facebook, Sean Parker, admitiu em um evento na Filadélfia que a rede foi desenhada para ser viciante: “Só Deus sabe o que estamos fazendo com o cérebro de nossas crianças.”

Todas essas revelações não alteraram significativamente o engajamento de seus usuários, embora um movimento de êxodo digital tenha se intensificado desde então, e o Facebook venha encontrando dificuldades em atrair usuários mais jovens. Obviamente, a opção de abandonar o Facebook é complicada, pois a rede se tornou central em uma série de relações sociais e comerciais – e ainda não encontrou um rival à altura (quadro acima).

O que nos deixa a um clique da tirania, como alertou a professora Melissa K. Scanlan, da Escola de Direito de Vermont, em um artigo no jornal britânico The Guardian: “O uso nefasto de nossos dados pessoais está em toda parte. Se a Cambridge Analytica pode obtê-los, o que impede que um governo também os tenha?” E prosseguiu: “A maior tirania seria a fusão do monopólio corporativo e do poder governamental, criando o estado de vigilância mais invasivo da história.”

Jamais poderíamos imaginar que a distopia do futuro digital que habitamos hoje fosse mais assustadora que a ficção de George Orwell e Aldous Huxley, que cogitaram, respectivamente, o estado de vigilância máxima personificado na figura do Grande Irmão no livro 1984 e o estado de êxtase alienante em Admirável Mundo Novo. O início do século 21 parece ser uma mistura destes dois cenários, em que alimentamos um Grande Irmão digital com nossos êxtases pessoais. 

Texto e imagem reproduzidos do site: livrariacultura.com.br