"Minhas Senhoras e meus Senhores, muito boa tarde.
É um prazer dar a todos as boas vindas àquele que será um dos últimos Cafés Literários da responsabilidade da Loja 107, realizado com o patrocínio do Centro Cultural e de Congressos da nossa cidade.
Começo, pois, por agradecer quer a vossa vinda quer o acolhimento do Centro Cultural a mais esta iniciativa.
E agora, uma palavra muito especial para o nosso autor de hoje - Ricardo Dias Felner. Apesar de ter tido conhecimento da particular situação vivida pela Livraria, quis que fosse a Loja 107 a promover a apresentação do seu livro.
Mais do que um acto de confiança foi um acto de carinho que senti de um modo muito especial.
Quero por isso expressar, publicamente, o meu grande apreço pela sua atitude. Muito obrigada.
«Herói no Vermelho» é o título do terceiro livro de Ricardo Felner, sendo que, neste caso, estamos perante um romance. O seu primeiro romance.
Num clima de alguma violência que se vive numa grande cidade, o autor constrói uma trama em que se cruzam diferentes personagens – refiram-se, a título de exemplo, polícias, artistas, políticos, assassinos... – provenientes das mais diversas origens e cujos objectivos se entrechocam.
Um narrador omnisciente, ou seja, que tudo sabe, ajuda a criar um ambiente particular, proporcionado pela ilusão de pairar no meio das restantes personagens, conhecendo-as no mais íntimo dos seus pensamentos muito para além, portanto, das atitudes observáveis que tomam.
Assim, ao invés de um relato frio, distante e desinteressado do desenrolar das acções, seguimos uma trama que nos chega por via do conhecimento, da intimidade e da cumplicidade do narrador com todos os intervenientes e com todos os factos que se sucedem perante os nossos olhos.
Ricardo Dias Felner é jornalista e, no âmbito da sua profissão, tem-se dedicado a temas que nos habituámos a designar e a ver designados como marginais. Umas vezes, em resultado dos grupos étnicos ou sociais em que ocorrem, outras vezes, por força da frequência com que nos confrontamos com eles.
Em qualquer caso, temas que provocam incomodidade e que gostaríamos de poder ver varridos para debaixo do tapete uma vez que dificilmente as sociedades actuais e os seus dirigentes estão dispostos ao esforço de lhes dar a solução apropriada.
Reportagens na Cova da Moura, junto à população estrangeira não legal ou levadas a cabo na descoberta de doentes africanos instalados em pensões clandestinas, ajudam a conferir à escrita de Ricardo Dias Felner uma plasticidade que me leva a algumas interrogações sobre a história que li:
- é a realidade o que nos rodeia e a ficção o que está escrito, ou há uma simbiose entre o imaginado e o real e a escrita é o relato de uma verdade?
«Herói no Vermelho» não é apenas um romance como a inscrição na sua capa nos quer fazer querer.
É mais do que isso. É o resultado de um olhar atento sobre uma sociedade de grandes contrastes e de acentuadas clivagens sociais e económicas em que crescem frustrações e a violência gratuita tende a instalar-se.
Como calculam, não tenho a pretensão de fazer crítica literária.
O que pretendi e procurei foi transmitir-vos as minhas impressões de leitura de «Herói no Vermelho» sem contudo desvendar um pouquinho que seja do seu enredo, sem levantar o véu que, por agora, cobre as personagens e as suas acções.
Resta-me recomendar-vos a sua leitura. Espero que vos dê tanto prazer a ler como me deu a mim e que acorde em vós, como acordou em mim, a vontade de ficar muito atenta aos próximos livros deste autor.
Estou certa de que não nos irá desiludir.
Obrigada Ricardo, pelo seu livro, por ter vindo apresentá-lo às Caldas e por assim me ter proporcionado o prazer de me debruçar sobre ele de uma forma particular. "