Outra cartada na manga é um percurso de bicicleta, organizado e com guia, acompanhando durante vários kilómetros o traçado original do Muro, com passagem pelos locais mais emblemáticos. Entretanto, fiquei hoje a saber que me esperam duas (?) festas de boas vindas em casa de pessoal amigo onde vou ficar. No desiderato, já não vou levar o cachecol do Glorioso, pois tal seria encarado como manobra provocatória...
Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
O raid berlinense
Outra cartada na manga é um percurso de bicicleta, organizado e com guia, acompanhando durante vários kilómetros o traçado original do Muro, com passagem pelos locais mais emblemáticos. Entretanto, fiquei hoje a saber que me esperam duas (?) festas de boas vindas em casa de pessoal amigo onde vou ficar. No desiderato, já não vou levar o cachecol do Glorioso, pois tal seria encarado como manobra provocatória...
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Campanha "o último a sair apaga a luz"
"A campanha política, ideológica, institucional e mediática em torno dos 20 anos da chamada «queda do muro de Berlim» foi massivamente difundida pelos media e conduzida por uma assinalável «santa aliança» anticomunista entre extrema-direita, direita, social-democracia, ex-comunistas e a chamada «nova esquerda».As classes dominantes recorrem, mais uma vez, à revisão da história para erigir com estas «comemorações» uma gigantesca farsa que tenta apresentar o acontecimento como uma «revolução», uma vitória do «bem» sobre o «mal», um acto de «libertação», ocultando simultaneamente a História e as reais razões da construção do Muro como as provocações e as acções militares e de espionagem hostis dos EUA, Grã-Bretanha e França contra a RDA e o campo socialista, sinalizadas logo no início do pós-guerra."Nem sei o que dizer. A não ser que a arteriosclerose avançada produz efeitos como estes. Mesmo assim, para quem gostar de literatura fantástica, vale a pena a leitura integral do artigo. Fica o registo, para memória futura.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
A queda do Murro
Marx disse que o capitalista não trabalha para aquecer, nem por caridade, e que o Capitalismo não recua perante nenhum crime. Mas foi Max Weber que encontrou, no espírito protestante, as raízes desta ganância. Com Marx e com Max, o Mundo ficou Maxi, escuro, frio e ardente. Depois, veio o Comunismo e, porque alguns estavam perdidos ou agarrados a ilusões antigas, tiveram de morrer para escolher o seu campo. Milhões de Homens e Mulheres foram desafiados por um anjo de fogo a escolherem metade de uma coisa que não podia ficar por dividir. E comportaram-se como náufragos no Mar, como se o chão se tivesse liquefeito sob os pés e como se perdessem de repente a memória. O mundo a que chegámos, na Europa e outras zonas onde chegou a civilização moderna, da fornicação e da invenção, foi, portanto, produzido pela violência, pelo massacre, pela fossa comum e pela câmara de gás. Não me considerem pessimista. O mundo de Marx, que era, como todos os mundos antes dele, também negro, foi iluminado como uma noite incendiária, de Nero. Por trás dos amanhãs que cantam, os hoje foram insuportáveis. Todos os sacrifícios e todas as infâmias foram exigidas. Restou alguma coisa? Até os índios do Brasil, Lévy-Strauss descreveu como vivendo numa imensa ternura e liberdade, mas exprimindo uma «alegria animal». Penso que Lévy-Strauss se calou, porque percebeu que tudo o que dissesse, só faria pior. Quem dá o nome a uma nuvem, obriga a que ela se desfaça em chuva, ou então a nuvem obscurecerá o resto do dia. E caiu o Muro de Berlim. Durante algum tempo, os obcecados da luta ardente notaram os outros muros que se levantavam, como o da Cisjordânia, o recuo do muro para Leste, a fronteira sul dos Estados Unidos, a muralha do Mediterrâneo. Mas nem isso rendeu. De repente a Europa passou a ser toda festiva, a comemorar em cada esquina com efemérides como o calendário da Revolução Francesa. Liberdade…e a liberdade fez-se obra, nas mesquitas a abarrotar de gente, nos marines americanos violando uma adolescente iraquiana ou matando um irregular que se fazia de morto no chão, perante a Televisão. Igualdade…nas contas, nos cartões de crédito, nos telefones e nas redes todas escutadas, nas ascensões vertiginosas e nas quedas obscuras. Fraternidade…nas famílias desfeitas, nos sexos pulverizados, nos irmãos mordendo-se como lobos, nas solidões provisórias sustentadas a cirurgia estética e terminadas em morte assistida. Alguém desfez o mito de que a muralha da China, a qual não excede cinco metros de espessura, se via do Espaço. Mas descobriu-se, depois, que era um terço mais comprida do que se julgava. Como uma serpente, a História infame foi rodeada pela cobra, sábia, sobrevivente, venenosa, de olhos de diamante. O Muro de Berlim caiu, deixando entrar os bárbaros meio ébrios, já sem a força de a arrebentar e deram-se todos no pátio de um campo de prisioneiros a que chamaram Liberdade. Como o comunismo, que era apenas um véu sobre a mesma sociedade industrial. De repente, acordámos todos numa fábrica durante uma festa de Natal da empresa. Tínhamos todos sido gaseados devagarinho, durante uma época inteira. E ficámos todos a mais, todos precários e a prazo, presos no recinto da Europa. Como é falsa a ilusão da liberdade em que um dos maiores sábios do Ocidente diz que os índios, civilização perdida dos grandes massacres e fossas comuns, têm uma «satisfação animal». Felizmente que se calou, com as suas euforias de animal. Percebeu que o último Direito Humano é um Dever: o enorme silêncio.
André
Goodbye Lénine
Apesar de o comunismo ter falido em toda a linha e de ter chegado a hora das utopias pré marxistas (as únicas em que vale a pena investir), apesar das evidências do colapso da luta "anti acapitalista", há quem ainda persista na cegueira. Ora, no exemplo citado, as "detestáveis" fronteiras europeias são comparadas ao muro erigido pelos carcereiros comunistas da RDA. E os fugitivos africanos são comparados a cidadãos de uma mesma nação, que tiveram o azar de ficar do lado errado e que só desejaram reconquistar a liberdade e a prosperidade. Anular as vítimas dos "outros" com as "nossas" é o expediente monstruoso que resta a uma esquerda ultra-complexada, que ainda desfia o catecismo marxista, sem dignidade e sem sombra de vergonha. Nesse acto de devoção aparecem outros "santos" como Frantz Fanon, teórico chic do "anti-colonialismo", muito na moda nos trabalhos académicos nos anos 70. Trocado por miúdos, mais uma fraude africana sub-gaulesa, alimentada pelos compagnons de route sartrianos e afins.