Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

Mostrar mensagens com a etiqueta língua portuguesa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta língua portuguesa. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Da língua portuguesa

Ao contrário do que a propaganda dos promotores do Acordo Ortográfico e o anterior governo quis fazer passar, este suscitou o mesmo tipo de objecções e críticas também no Brasil. Quer porque lá sabem muito bem que a unificação da língua é uma fantasia, quer porque os interesses que beneficiaram com o acordo estão lá melhor identificados do que em Portugal, quer porque a consciência de que o Estado não se deve intrometer nestes domínios é comum. A propósito, transcrevo um excerto de uma entrevista conduzida e publicada no blogue "Tantas Páginas" (CLP, Universidade de Coimbra) e que pode aqui ser lida na integra. Paulo Franchetti é o entrevistado. Trata-se de um crítico literário, escritor e professor titular do Departamento de Teoria Literária da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp):

TP. O que acha do acordo ortográfico? Acha mesmo que, como dizem os editores portugueses (e muitos intelectuais), o acordo foi uma gigantesca maquinação brasileira para permitir que os livros brasileiros entrem livremente no mercado português e no africano, acabando com a indústria portuguesa do livro?
PF. O acordo ortográfico é um aleijão. Linguisticamente malfeito, politicamente mal pensado, socialmente mal justificado e finalmente mal implementado. Foi conduzido, aqui no Brasil, de modo palaciano: a universidade não foi consultada, nem teve participação nos debates (se é que houve debates além dos que talvez ocorram durante o chá da tarde na Academia Brasileira de Letras), e o governo apressadamente o impôs como lei, fazendo com que um acordo para unificar a ortografia vigorasse apenas aqui, antes de vigorar em Portugal. O resultado foi uma norma cheia de buracos e defeitos, de eficácia duvidosa. Não sei a quem o acordo interessa de fato. A ortografia brasileira não será igual à portuguesa. Nem mesmo, agora, a ortografia em cada um dos países será unificada, pois a possibilidade de grafias duplas permite inclusive a construção de híbridos. E se os livros brasileiros não entram em Portugal (e vice-versa) não é por conta da ortografia, mas de barreiras burocráticas e problemas de câmbio que tornam os livros ainda mais caros do que já são no país de origem. E duvido que a ortografia seja uma barreira comercial maior do que a sintaxe e o ai-meu-deus da colocação pronominal. Mas o acordo interessa, é claro, a gente poderosa. Ou não teria sido implementado contra tudo e todos. No Brasil, creio que sobretudo interessa às grandes editoras que publicam dicionários e livros de referência, bem como didáticos. Se cada casa brasileira que tem um exemplar do Houaiss, por exemplo, adquirir um novo, dada a obsolescência do que possui, não há dúvida que haverá benefícios comerciais para a editora e para a Fundação Houaiss – Antonio Houaiss, como se sabe, foi um dos idealizadores e o maior negociador do acordo. O mesmo vale para os autores de gramáticas e livros didácticos – entre os quais se encontram também outros entusiastas da nova ortografia. E não é de espantar que tenham sido justamente esses – e não os linguistas e filólogos vinculados à universidade – os que elaboraram o texto e os termos do acordo. Nem vale a pena referir mais uma vez o custo social de tal negócio: treinamento de docentes, obsolescência súbita de material didáctico adquirido pelas famílias, adequação de programas de computador, cursos necessários para aprender as abstrusas regras do hífen e outras miuçalhas. De meu ponto de vista, o acordo só interessa a uns poucos e nada à nação brasileira, como um todo. Já Portugal deu uma prova inequívoca de fraqueza ao se submeter ao interesse localista brasileiro, apesar da oposição muito forte de notáveis intelectuais, que, muito mais do que aqui, argumentaram com brilho contra o texto e os objectivos (ou falta de objectivos legítimos) do acordo.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Palavras de que gosto

"Doravante". Um dos advérbios menos utilizados da nossa língua. Uma tremenda injustiça. Pois o termo, para além de uma peculiar musicalidade, resulta provavelmente de uma corruptela, ou seja, uma forma abreviada de "daqui em diante". Uma evolução que não precisou de nenhum "acordo" "ortográfico" ou alarvidade semelhante. Para colmatar a injustiça, sirvo-me dela abundantemente. Especialmente em requerimentos forenses. "Daqui em diante", "daqui para a frente", "futuramente", têm o selo de uma arrogância potestativa, de um furioso dedo em riste. Ao invés, "doravante" soa quase a um recado cúmplice, sem que isso lhe retire a firmeza...

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Acordo ortográfico? Não, obrigado

Nem aqui nem em nada do que terei de escrever daqui para diante sobre o que quer que seja alguma vez "aplicarei" o acordo ortográfico que impõe a "lulização" do português. Não aceito a degeneração da minha língua por causa de não sei quantos milhões que alegadamente a falam ou escrevem como analfabetos funcionais. Quando me apetecer ler algum autor brasileiro (dos "palops" não tenciono ler nenhum), leio e ponto final. Para além disso - e literalmente - burro velho não aprende línguas. Os prosélitos e os literatos do regime tratam da questão como tratam, aliás, de tudo. Como os pequeninos "kim-il-zinhos" de trazer por casa que são. É que um "intelectual" que fala em "uniformização da língua" não é um intelectual. É uma besta.

João Gonçalves, no "Portugal dos Pequeninos"

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Um frasquinho de memória

O livro chama-se "Os Bons Velhos Tempos da Prostituição em Portugal", (Antígona, 2006) de Alfredo Amorim Pessoa. Uma obra curiosa de que aqui dei notícia. No final (pág. 219), à laia de índice onomástico, vem elencado o léxico recolhido pelo autor e que no luso vernáculo designa o créme de la créme do tema. Deste modo, usando só os termos mais incomuns, para fornicar temos: afagar a palhinha, embutir, entamelar, chapar, dar uma espetadela, dar uma mocada, molhar o carocho, nicar, fazer tac-tac, penachar, pinar, lixar. Sinónimos de ir às putas: andar ao fanico, andar em manobras, andar às gatas, ir ao fado, ir a manos, ir para leste. Sinónimos de prostituta: cegonha, chantra, coirão, estardalho, fadista, faneca, franjosca, horizontal, lúmia, machorra, menesa, novata, ostra, pangaio, pataqueira, pépia, torga, tronga, vasvulho, vequeira, zoina. Outros termos: alcocheta, onze letras (alcoviteira), casa da tia, ilha dos amores, mangalaça, a da Joana (o mesmo que bordel), estar com avental de pau (expor-se à janela), sair a cavalo (contrair sífilis), frasco de memória (velha), iscada (puta com sífilis), marmita, mina, minestra (moça que é chulada), andarilho, pato (clente que paga bem), queijada (mesada que a puta dá ao chulo), gimbar (chular).

Publicado no jornal "O Interior"

domingo, 17 de maio de 2009

Cadê o suco, cara...

A apreciação e discussão da petição/manifesto em defesa da língua portuguesa, em sessão plenária da Assembleia da República, está agendada para o próximo dia 20 de Maio. Entretanto, até essa data é possível ainda assinar o documento. Aceder aqui. Contra o acordo ortográfico, a luta continua!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Pesadelo com o acordo ortográfico

Dear Sir / Senhora
Somos um grossista eletr?nica internacional com a China, os nossos produtos s?o totalmente nova e original. Estamos principalmente vendem todos os tipos de produtos digitais, como iPod, computador portátil, televis?o LCD, camera, GPS, PS3, celulares, motos e assim por diante. Se você estiver interessado, por favor venha para o nosso site para dar uma olhada. Se você gostaria de solicitar alguns deles, entre em contato conosco.

Se não queres assistir a isto, assina aqui. Depois não digam que não avisei.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Contra o acordo, marchar, marchar...

Ou seja, de fato a objeção de consciência será um ótimo indicador igiénico a opôr à contrafação geopolítica. Antes mesmo que as placas tetónicas da eurásia entrem em bagunça. Não é, cara?

segunda-feira, 16 de março de 2009

Novamente o acordo ortográfico

Recomendo a leitura deste texto de Pedro Correia, no "Delito de Opinião. Bem a propósito da intenção do intermitente ministro da cultura em apressar a entrada em vigor do Acordo Ortográfico. Chama-se precisamente "O 'inteleto' do ministro" e conta a história toda. Incluindo o agendamento da discussão da petição popular na AR. Ou será antes "estória"?

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Acordo ortográfico? A luta continua!

Para desespero dos marxistas, a História é cega. Não encerra nenhum desígnio. O pesadelo dos promotores do acordo ortográfico é que a língua também é cega. Dispensa burocratas e deputados desprezáveis. Vasco Graça Moura acaba de publicar "Acordo Ortográfico, a perspectiva do desastre", sob a chancela das edições Aletheia. A obra reúne intervenções públicas do escritor questionando a reforma, uma das quais lida na Assembleia da República num debate recentemente aí realizado, bem como textos inéditos. Já agora, não sei em que informações se baseia Eduardo Pitta para afirmar que a maioria dos escritores aprova o acordo. Será que a sondagem se restringiu ao universo dos happy few das redacções dos jornais e do socialite lisboeta + Nuno Júdice + Lídia Jorge? Suspeito bem que sim. Duvido que quem encara a língua como o seu terreno aceite de bom grado alterar os seus hábitos linguísticos só porque convém ao Brasil.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Acordo Ortográfico? Não, obrigado! (3)

É deprimente ver uma escritora da dimensão da Lídia Jorge a papaguear uma argumentação de vão de escada no programa "Prós e Contras", na RTP, sobre o "Acordo ortográfico", a favor desta coisa. Se antes eu já era absolutamente contra, depois deste debate fiquei a saber ainda mais porquê. Já agora, vou-me recusar a escrever uma palavra que seja que resulte das modificações operadas pelo acordo. Sabem uma delas? Pois aqui vai: já imaginaram o que é escrever fodasse? Foda-se! Nunca!

Ver anterior

domingo, 6 de abril de 2008

Acordo Ortográfico? Não, obrigado! (2)

A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) pondera a possibilidade de suscitar a apreciação da constitucionalidade do Acordo Ortográfico de 1990 junto do Tribunal Constitucional. O acordo, como se sabe, pretende "unificar" a ortografia de acordo com a norma brasileira. A notícia do DN refere ainda que, segundo Vasco Teixeira, presidente daquela associação, "em causa está a possível ilegalidade do protocolo modificativo de 2004, que prevê que a ratificação do acordo por três países o torne válido em todos os estados da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). A versão inicial, de 1990, previa que o documento só seria efectivo se aceite nos sete países." Recorde-se que o protocolo já foi ratificado pelo Brasil, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. O que significa que, por absurdo, vigoraria mesmo que a ratificação portuguesa fosse anulada. Vasco Teixeira considera que esse cenário deixaria "a falar sozinhos" os três outros países. "Três em sete nem sequer é uma maioria simples", ironizou, com propriedade.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

A minha patria é a lingua portuguesa

Portugal vai pedir um prazo de dez anos para a entrada em vigor do novo Acordo Ortográfico, que unifica a escrita da Língua Portuguesa, anunciou há dias a ministra da Cultura. Questionada no Parlamento durante a apresentação do orçamento da Cultura para 2008, Isabel Pires de Lima disse que os ministérios da Cultura e da Educação vão pedir uma moratória de dez anos para que Portugal tenha tempo de se adaptar ao novo Acordo Ortográfico. É que o novo acordo, que unifica a escrita em língua portuguesa no países da CPLP, obriga a muitas adaptações e alterações, incluindo nos manuais escolares. Portugal já ratificou o Acordo Ortográfico, mas tem ainda de ratificar o segundo protocolo modificativo do documento. O que, segundo a Ministra, deverá acontecer até ao final do ano. Até agora, só o Brasil, Cabo Verde e S. Tomé o fizeram. Ler aqui a notícia completa. Esta azáfama deve-se à CPLP II - Reunião do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - que decorreu esta sexta-feira em Lisboa. E que levou o MNE Amado a adiantar que os restantes países que também ainda não o fizeram se comprometeram a ratificá-lo «rapidamente». Está pois tudo explicado. Continuamos a reboque dos interesses do Brasil nesta matéria. Como reconhece o próprio "Jornal do Brasil" de 31.07.2002: "Os brasileiros sentirão as reformas bem menos do que os portugueses". As associações representativas do sector editoral já reagiram. Dizendo e bem que não foram sequer chamadas a pronunciar-se no processo. Nem muito menos o Ministério da Educação é parte nele, como devia.
Lembro-me de uma artigo luminoso do Miguel Esteves Cardoso, a propósito deste Acordo, incluído na compilação "Explicações de Português" (Assírio Alvim, 2ª ed. 2001). Chama-se justamente "O Acordo Tortográfico". Uma brevíssima recensão pode ser aqui encontrada. Querem os promotores do Acordo - dois ou três linguistas encabeçados por Malaca Casteleiro - normalizar administrativamente a ortografia da língua portuguesa. O único beneficiário parece ser o mercado editorial brasileiro. Do lado dos custos, eles serão incalculáveis. O governo deveria denunciar o Acordo, optando por reformas pontuais, em vez de assinar o Protocolo, o que tornará o desvario irreversível. De outro modo, passaremos a escrever o célebre verso de Pessoa como no título deste post.