«(...)E é espantoso o quanto dependemos, nós os sem-petróleo, do petróleo que não temos. Não só dependemos como queremos continuar a depender,
A mesma lógica se aplica aos detentores de automóvel - afinal, ninguém é obrigado a ter carro, e se o tem, estando disposto a fazer face aos acidentes de percurso (a começar pelos propriamente ditos), por que não há-de ver na subida do preço da gasolina e do gasóleo mais um acidente? -, como aos transportes públicos em geral e a toda a gente em particular. Escolha como quer reagir a esta situação: chorando e exigindo "apoios" ou aproveitando para mudar hábitos, poupando energia e dinheiro? Quantas pessoas há que deixaram de usar transportes públicos há anos, passam horas em bichas e a procurar lugar para estacionar, apenas porque meteram na cabeça que isso é mais cómodo e lhe confere mais statu?(...)» Partilhando, genericamente, da opinião expressa
no artigo tenho, no entanto, de fazer um reparo
(zinho)...à
F., como a todos os que, de certo modo demagogicamente, invocam o uso dos transporte públicos como panaceia para lutar contra o aumento da gasolina, a poluição das cidades, o estacionamento caótico da mesmas e por aí fora...
Ora, só alguns exemplos
(zinhos):
- De minha casa ao meu trabalho levo 10 minutos de carro. Se optar por usar os transportes públicos deverei usar um dos autocarros que até me param mesmo à porta e me levará até um outro local onde deverei apanhar um outro autocarro que me deixará num outro ponto donde deverei andar a pé (pr'ai uns cinco minutos) até ao local de trabalho. Neste percurso demorarei pr'ai uma hora, ou hora e meia...se o primeiro autocarro não falhar o horário, o que me fará ficar meia hora (no mínimo, porque a pontualidade não faz parte dos métodos dos nossos transportes públicos) até ao próximo. Agora em termos de gastos: para ter o passe com acesso aos dois autocarros teria de adquirir um dos passes mais caros, pagando pelo uso do primeiro percurso o equivalente a toda uma zona da qual só uso as duas últimas paragens, a opção é comprar um só passe e módulos para o primeiro percurso. Em termos concretos o que gasto em gasolina dá-me pr'ai para pagar uns três passes...para os dois percursos! Alguém tem dúvidas sobre o uso do carro? E já para não falar em determinadas zonas entre as quais não existe qualquer opção de ligação directa, por transportes públicos, obrigando ao uso de dois ou três autocarros diferentes. E que fique bem claro: não moro na província, estou a 20 minutos de Lisboa...se não ficar engarrafada na ponte, claro! E isso leva-me ao outro exemplo;
- Quando me apetece ir pra Lisboa opto por usar a Fertagus. É cómodo, rápido, sem bichas e que me deixa num qualquer ponto de Metro que me dará acesso fácil à maioria dos locais para onde costumo ir. Mas...gasto uma média de oito euros na brincadeira!, isto se for a pé (uns bons quinze minutos) de casa até à estação. Porque se usar o tal autocarro (que nunca se sabe muito bem a que horas vai passar) lá se vai a brincadeira arredondada para os dez euros. Que é o que muitas vezes acontece? Uso a boleia cá do parceiro, cujo trabalho o obriga a usar o carro o dia inteiro, sempre que ele também precisa ir a Lisboa. Ora, com menos de cinco euros de gasolina no carro vamos os dois a Lisboa! E esta situação coloca-se, também, quando queremos ir, os dois, para assistir a um espectáculo, por exemplo. Quantas vezes não sou eu mesma a sugerir deixar o carro na estação e usar o combóio?, mas...porra! são oito euros vezes dois (isto se formos para um sítio com acesso pelo Metro), depois o tal do espectáculo acaba lá prá uma da matina...lá se vai o comboio, pois o último é pr'ai à 1,30h.
Pois é, cara Câncio, isto são só uns exemplos(zinhos) de quem reside no tal 'deserto do ministro'...na outra margem, do outro lado da ponte e que nem sequer é no 'deserto' profundo, é só(!) Amora, Seixal!...é que Portugal não é só Lisboa! E mesmo assim!...vezes houve em que combinava encontrar-me com alguém que morava nos Olivais e se saíssemos à mesma hora de casa, usando os transportes públicos, eu chegava muito mais rápido que ele e se fosse à noite, então, nem se fala...já para não falar dos limites horários apertadíssimos que faziam com que a partir duma determinada hora (hora normal de regresso para quem sai à noite) fosse impossível usar os ditos transportes. Que fazer, para quem não usa carro, senão usar o táxi???
Sejamos um pouco mais rigorosos nas críticas e se é verdade que estamos todos muito comodistas, por um lado, e muito pressionados pelos inúmeros afazeres por outro, também é verdade que não tem havido, da parte dos diversos governos, a vontade política de implementar medidas de incentivo ao uso dos transportes públicos, quer no que diz respeito ao fácil acesso pela quantidade, quer no que respeita ao conforto, quer ainda no que diz respeito à segurança: existem inúmeros percursos, em diversas cidades, onde andar de transportes públicos é bem mais perigoso que fazer um safari em África!
E já agora, vem-me à memória os quatro dias passados em Barcelona que corri de lés a lés usando apenas os transportes públicos. Nunca se estava mais de cinco minutos à espera de ligação entre uns e outros (Metro, comboios, autocarros) e todos fazendo ligação a todos os locais e em condições aceitáveis.
Um(a) jornalista devia ter a obrigação de ter mais conhecimentos prácticos e concretos sobre o que escreve e, por outro lado, ser um bocadinho mais isento...coisa de que até há bem pouco tempo eu não a achava criticável...
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(Magritte)/
"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW