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16/05/07

Macroscopio: Pensamento do dia: a morte por Vergílio Ferreira: (...)Repara no que acontece com a morte dos outros e ficas a saber que o universo se está nas tintas para que morras ou não.(...)Vergílio Ferreira, Escrever"


Confesso que me choca esta forma de pensar, sentir...numa personalidade com o peso dum Vergílio Ferreira, mas...apesar da envergadura intelectual, ele era humano, não?! E depois tenho sempre alguns escrúpulos em interpretar pequenas citações deslocadas do contexto. Ao reler o total desta citação, acho que reduzi-la naquele pedacinho do Macro, retirando-lhe a contextualização do Universo, faz parecer que sim...que é uma visão demasiado amarga da nossa componente humana. Acho que o pensamento de Vergílio Ferreira ia muito mais além do que a simples constatação do que é o apagar da chama da vida...individual. Apesar disto permito-me recortar um pedacinho (não citado pelo Macro...), contestando-o por si só, abstraindo-me do tal contexto da ideia da morte face ao Universo.

«Quando morre um teu amigo ou conhecido, a vida continua natural como se quem existisse para morrer fosses só tu.»

Misturar 'um amigo ou conhecido' como se um e outro nos pesasse igual na morte é, realmente, absurdo. Há mortes que nos pesam de tal modo que a vida nunca mais terá o mesmo sentido de antes. É lugar comum dizer-se que o tempo tudo cura e com ele a memória se esbate, a saudade esmorece e a vida continua. Não sei se a vida continua, ou se antes nos limitamos a deixar que a vida escorra, simplesmente. Acho que acaba por ser mais um sobreviver que um viver e o caricato de tudo isto é que, em vida, quase toda a gente acaba por pensar (num misto de medo e lamento) como Vergílio Ferreira. Que pena que nunca os nossos mortos tenham percebido em vida o que iríamos sentir após a sua morte...

02/02/07

Desde que me lembro de dar comigo a pensar na morte - e para tal tenho de recuar aos tempos das 'depressões(zinhas)' juvenis, já lá vão uns bons tempinhos! - sempre se instalou, na minha ideia, que queria ser cremada. Depois, com o desenrolar da vida, fui firmando esta ideia agora já duma forma racionalizada, racionalização essa que passava por achar as cerimónias fúnebres um completo disparate, tantas vezes transformadas em festivais de hipocrisia familiar. Dos velórios, então, nem se fala. Ou melhor: falar, fala-se, mas de tudo menos de quem morreu. Ou, então, fala-se exactamento ao contrário do que se fazia em vida: todos os defeitos assinalados em vida passam a virtudes glorificadas na morte. Fui a um funeral em toda a minha vida (tendo passado por cima do velório e, pelo que me contaram depois, fiz muito bem ou teria desatado à estalada a toda a gente antes de correr com todos para o olho da rua!) e jurei a mim mesma que seria o último!

No entanto, discutimos tantas vezes sobre a necessidade do luto...lembras-te? Nunca percebi essa ideia. Talvez porque nunca tinha deparado com a chegada da morte...sem aviso. A minha relação com a morte sempre se fez numa base de auto-defesa: se a pessoa estava muito doente, terminalmente doente, eu entendia ser dum profundo egoísmo chorar-lhe a morte. Não se chora porque a pessoa morreu, chora-se porque a pessoa nos morreu. E, assim sendo, a morte é uma libertação para quem deixa de sofrer e o nosso sofrimento é a quota parte a pagar por se amar quem partiu. Guarde-se a memória, mas...liberte-se a dor!


Agora, agora começo a entender a necessidade de fazer o luto, de ter 'algo' a que me agarrar para chorar a dor da partida...sem aviso!, sem necessidade de libertação!, sem doença, ou mal, que o justificasse! Morreste-me apenas porque estavas vivo e alguém entendeu (ou nem sequer o entendeu tendo sido, apenas, um gesto gratúito da absoluta estúpidez humana) que assim não devias continuar. Eu não soube aprender esta tua lição: "E os MEUS mortos são MEUS porque eu lhes consegui dizer : ADEUS !"


Cumpriu-se o que sempre se disse ser para cumprir e agora? Como é que me despeço? Que luto faço? Estupidamente, e mais uma vez, fugi da realidade; imaginei (ou queria tanto acreditar!?) que não vendo, não existia e assim eu não sofria. Engano puro! Não são as almas dos mortos que pairam - penando por aí, algures - quando não alcançam a paz...são as dos vivos que não sabem despedir-se dos seus mortos.









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(Magritte)/"Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?",WW