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domingo, 10 de fevereiro de 2013








CONSOANTES ÁTONAS





Emudecer o afe(c)to português?
amputar a consoante que anima
a vibração exa(c)ta 
do abraço, a urgência

Tá(c)til do beijo? Eu não nasci
nos Trópicos; preciso desta interna
consoante para iluminar a névoa
do meu dile(c)to norte.





Por Inês Lourenço

quarta-feira, 19 de outubro de 2011








FELINUS




A Maria Tobias era preta
e branca. Na parte branca era
Tobias e era Maria na preta. Morou
connosco cinco anos. No sexto, numa
quinta-feira santa pôs-se a dormir
depois de um longo jejum. Ficaram-nos
nas mãos festas desabitadas e os poucos
haveres: uma malga, uma manta, um bebedouro,
que não logramos enviar
para a nova morada.




Por Inês Lourenço
Arte de Aurora Pereira

domingo, 9 de outubro de 2011








DESALINHO




Nenhum destes poemas
fará parte de um livro
adoptado nas escolas. Há
muito tempo que não escrevo
azul mar e barcos ou outras
palavras para alívio de almas
homéricas.

Prefiro – ou preferem-me
aquelas como: desalinho
alinhavo ou logro ou outra
qualquer. Nunca o arremedo
de uma palavra única esgota
o muito ou nenhum sentido
de um verso.




Por Inês Lourenço

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

PRÉSTIMO





Um gato não serve realmente

para nada, vão quase seis séculos

desde o tempo das caravelas

onde embarcou com os marítimos para

extermínio dos roedores que

infestavam o porão das naus. Agora

só o dorso oferece às carícias

ou ao regaço o peso

do pequeno corpo, ronronando

a grata beleza de existir.





Por Inês Lourenço