Quem já me acompanha sabe que em julho passado fiz dois posts falando dessa epidemia, e, trabalhando na área da saúde é difícil não dizer ou escrever absolutamente nada sobre o assunto, por mais cansativo e batido que esteja sendo, e coloque cansativo nisso, aliás, exaustivo. Entretanto, faz parte de toda campanha de vacinação esse ritmo frenético, pelo menos por aqui, imagino que no restante do Brasil seja da mesma maneira.
Uma coisa interessante é notar a presença das pessoas com suas dúvidas e, principalmente, com seus medos: umas porque podem receber a vacina, de acordo com os critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde, e acabam não fazendo por temerem reações adversas; outras porque não se enquadram nestes critérios e gostariam de receber a dose, sentindo-se, desse modo, mais protegidas contra a doença. As coisas mudam rapidamente, portanto, atente-se, pois, quem não foi contemplado pode vir a ser e a mídia deverá divulgar.
Há e-mails circulando, há notas em blogs e sites, há pessoas até discutindo com funcionários acusando os mesmos de estarem aplicando “mercúrio” para causar assassinato em massa a mando das autoridades!
Eu fui vacinada e estou aqui para contar essa e outras histórias (se Deus permitir, claro!). Meu braço ficou doloridíssimo no dia da aplicação, no dia seguinte estava tudo bem, nenhum sintoma extra, porém, há profissionais da saúde que tiveram reações esperadas e sabidas, como febre e sintomas relacionados ao quadro gripal. Há colegas que nem sentiram aquele meu dolorido… Então, não há como saber a reação individual previamente, exceto em casos de pessoas que já tenham um histórico de contraindicação médica para determinados remédios e vacinas.
Como sabemos, ao longo da história da humanidade, num primeiro momento o medo do que é novo tende a se sobrepor, até mesmo sobre as mentes mais esclarecidas, centradas e conscientes da situação (como foi o meu caso e de outros trabalhadores da saúde, com certeza, pois, fomos os primeiros da fila e não havia ninguém para contar essa história a nós, soldados da linha de frente… ai Jesus!). Passado o susto, restou-nos dali por diante enfrentar o medo dos próximos: gestantes, crianças, doentes crônicos e por aí vai - e estamos indo, sem maiores obstáculos, exceto o próprio medo de cada um e sobre o qual nenhuma outra pessoa é capaz de interferir plenamente, a não ser o próprio indivíduo.
Por falar em medo, aqui abro um parênteses para um bom puxão de orelhas na faixa etária dos 20 aos 29 anos – decepcionaram em dois sentidos: não levam o cartão de vacinas (diga-se de passagem é UM DOCUMENTO IMPORTANTE, CIDADÃO!) e só procuram as unidades de saúde por causa da pressão, seja da própria sociedade, família ou da mídia. Aproveitamos, como bons funcionários que somos, para colocar o esquema vacinal desses jovens em dia, isto é, sob muitos protestos e queixas de “ai, vai doer?”, “é de agulha?”, “pode ser de gotinha?”, “só quero a H1N1… tetânica, febre amarela, rubéola não!” e assim muitos e muitos deles enlouqueciam e nos levavam à loucura junto!
As pessoas precisam entender que não se fica doente só da gripe A (H1N1) porque ela está em evidência, obviamente a epidemia deve ser contida de todos os lados, entretanto, façamos um alerta para tantas doenças e para as quais existe a PREVENÇÃO. Fazendo uma comparação, a grosso modo, quando a poliomielite devastava a vida de famílias com a paralisia, imagino que fosse semelhante ao drama de pessoas que tiveram parentes acometidos com a gripe A (H1N1) num estágio já avançado: O que fazer? Tem cura? Tem remédio? Tem retorno? Por que as autoridades não fazem algo?
Surgiram campanhas e até hoje elas existem no combate à paralisia infantil, não é? Digo que ainda há mães e pais que deixam passar essa oportunidade, mesmo com tanta divulgação, mesmo que façamos campanhas todo santo ano! Com as outras campanhas, idem! O fato de certas doenças terem diminuído nas estatísticas e não constarem no noticiário não quer dizer que sumiram do mapa! Agora o caso é com a Influenza H1N1 e Deus sabe lá o que pode surgir de novo, porém, o ciclo deverá ser o mesmo: muitos infectados, mortes, mobilização da mídia, indignação da população ao ver a medicina tão avançada sem dar conta em tempo real dos surtos, falta de governabilidade…
Logo aparecem as vacinas preventivas e… Bom, essa história eu já contei!