Desde que iniciei o blog tive vontade de abranger mais esse assunto, inclusive, de postar mais poemas infantis, o que ao meu ver não parece ser algo muito aprofundado quando se estuda o Magistério e até mesmo o curso de Letras, como aconteceu no meu caso: desculpe se incorro num grave erro neste ponto, talvez os cursos referidos estejam dando mais ênfase no conteúdo atualmente, sei que muitas mudanças ocorreram ao longos desses anos em que estou ausente do meio acadêmico, não posso precisar sobre este em questão. (Em off: lá se vão 15 anos em que concluí o Magistério e outros 10, que completei este ano, o curso de Letras! Caramba, como o tempo voa!rs…Isso me deixou mais velha!kkkkk!)
O fato é que gosto e já expus poesias de Olavo Bilac aqui e acolá. Intento postar outras, tanto dele quanto de outros poetas que muito contribuíram para a Literatura. Curiosamente, em vias de me formar “sofressorinha”, em meio à loucura dos estágios, revirando os livros nas prateleiras da biblioteca, fazendo pesquisas e mais pesquisas, planejando aulas e “tentando inovar” (coisa básica que os supervisores pedem a todo principiante!), deparei-me com alguns poemas infantis, encantei-me com a simplicidade do conteúdo e com a riqueza presente nas entrelinhas ao lê-los! Intitulados “infantis”, porém, muito se podia extrair de significativo para uma jovem normalista. Diante de mim havia um mundo de possibilidades! Além disso, crianças gostam e precisam ser estimuladas sempre mais a apreciar esse tipo de texto. Mães ninam os filhos com cantigas rimadas, com a sonoridade das palavras, sabemos muitas questionáveis, outras mais lúdicas. Nos primeiros anos do jardim de infância canta-se muito, gesticula-se para expressar o que se canta e, de certo modo, a poesia está inserida no contexto da criança, mas, a partir da alfabetização isso vai diminuindo e mudando de forma, outras vezes desaparece completamente da vida do aluno.
Não é tarefa fácil aprofundar o tema, entretanto, desvincular-se da poesia por completo é deixar passar algo preciosíssimo, principalmente num mundo carente por expressar-se como o da juventude.
Dias desses, lendo uma história para meu baixinho, lá pelas tantas um dos personagens citava uns versinhos e ele riu à beça, mesmo sem compreender completamente o teor do que era lido; a sonoridade e a rima das palavras despertaram algo na criança e eu percebi o quanto poesia faz bem, mesmo para quem mal entende o que é e como se faz aquilo e pediu que eu repetisse os versos muitas e muitas vezes.
A respeito do título do post de hoje, estive a pensar como o professor em sala e, mesmo em casa com pai, mãe ou qualquer adulto que goste e leia poesia para crianças pode servir de elo entre o que há de belo e mais profundo nessa arte. A partir da poesia é possível compreender o mundo e as pessoas que nos cercam, é possível extravasar, criar e recriar, dar sentido ao que, aparentemente, não tinha nenhum antes.
E, para não deixar passar em branco, escolhi outros dois poemas da Coletânea de Poesias Infantis de Olavo Bilac. Devo dizer que é muito difícil selecionar,pois, quando me deparei com essa riqueza fiquei a imaginar como o poeta conseguiu traduzir o mundo em forma de poemas tão singelos que podem agradar às crianças e aos adultos (e quantas lições podem evocar!).
Um final de semana cheio de poesia para você! Se gostar, leia outras no Portal São Francisco, ok?
O Avô
Este, que, desde a sua mocidade,
Penou, suou, sofreu, cavando a terra,
Foi robusto e valente, e, em outra idade,
Servindo à Pátria, conheceu a guerra.
Combateu, viu a morte, e foi ferido;
E, abandonando a carabina e a espada,
Veio, depois do seu dever cumprido,
Tratar das terras, e empunhar a enxada.
Hoje, a custo somente move os passos...
Tem os cabelos brancos; não tem dentes...
Porém remoça, quando tem nos braços
Os dois netos queridos e inocentes.
Conta-lhes os seus anos de alegria,
Os dias de perigos e de glórias,
As bandeiras voando, a artilharia
Retumbando, e as batalhas, e as vitórias...
E fica alegre quando vê que os netos,
Ouvindo-o, e vendo-o, e lhe invejando a sorte,
Batem palmas, extáticos, e inquietos,
Amando a Pátria sem temer a morte!
A borboleta
Trazendo uma borboleta,
Volta Alfredo para casa.
Como é linda! é toda preta,
Com listas douradas na asa.
Tonta, nas mãos de criança,
Batendo as asas, num susto,
Quer fugir, porfia, cansa,
E treme, e respira a custo.
Contente, o menino grita:
“É a primeira que apanho,
Mamãe! vê como é bonita!
Que cores e que tamanho!
Como voava no mato!
Vou sem demora pregá-la
Por baixo do meu retrato,
Numa parede da sala.”
Mas a mamãe, com carinho,
Lhe diz: “Que mal te fazia,
Meu filho, esse animalzinho,
Que livre e alegre vivia?
Solta essa pobre coitada!
Larga-lhe as asas, Alfredo!
Vê como treme assustada...
Vê como treme de medo...
Para sem pena espetá-la
Numa parede, menino,
É necessário matá-la:
Queres ser um assassino?”
Pensa Alfredo... E, de repente,
Solta a borboleta... E ela
Abre as asas livremente,
E foge pela janela.
“Assim, meu filho! perdeste
A borboleta dourada,
Porém na estima crescente
De tua mãe adorada...
Que cada um cumpra a sorte
Das mãos de Deus recebida:
Pois só pode dar a Morte
Aquele que dá a Vida.”
Fonte das imagens: Site Colégio São Francisco
Poemas de Olavo Bilac (Coletânea de Poesias Infantis)