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quarta-feira, 27 de junho de 2012
Digo "responsáveis" e não culpados - do ICS.
"(...) frente a um questionamento, uma pessoa se defende dizendo: "Ah, só se foi o meu inconsciente", como se o inconsciente não fosse de sua responsabilidade. Pois bem, somos, sim, responsáveis frente ao acaso e à surpresa. Digo "responsáveis" e não culpados."
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Para além do Édipo
“Nosso tempo pede um “software” que opere além do Édipo. (...) Para a psicanálise, agora, “esperar não é saber” – como cantou Vandré. Considerando que o saber será sempre incompleto, pela psicanálise podemos precipitar o tempo da conclusão e agir antes. Decidir, no século XXI, conta com a palpitação do coração.”
(A invenção do futuro, Jorge Forbes, Ed. Manole, p. 9-10)
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Sucesso também leva ao Divã
"As pessoas ficam achando que elas sofrem só por causa das dores, as pessoas sofrem também pelas boas coisas. Eu tô cansado de ver pessoas no meu consultório, mulheres bonitas sofrendo porque são bonitas, ricos que tem casas bonitas que não conseguem usar, pessoas que não conseguem legitimar aquilo que elas tem. Porque ter sucesso é não poder se reconhecer no outro. Por que? Porque ele tem sucesso, ele é diferente. Então você tem que usar um outro tipo de reconhecimento da sua identidade. É você poder ter a responsabilidade frente ao acaso e a surpresa. É uma responsabilidade... (...) que saber que boa que ela é, o que é um limite de uma responsabilidade e não é um tudo poder. É o oposto. (...) Implicando a pessoa no seu sucesso ou na sua qualidade (...) diferente do outro".
(Jorge Forbes)
domingo, 1 de agosto de 2010
Invenção do futuro
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Mesmo assim...
quinta-feira, 18 de março de 2010
Sobre sonhos
quarta-feira, 17 de março de 2010
A tentativa de ortopedia geral da satisfação humana
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Diferença entre querer e desejar
"Há sempre uma diferença entre querer e desejar. Querer corresponde a uma necessidade. Querer é algo que o indivíduo compreende. Eu quero tomar água, eu quero dormir, eu quero me proteger do frio. Enquanto desejar é aquilo que ninguém compreende, é algo muito particular, singular de cada um e jamais nós temos uma resposta que nos satisfaça completamente. Essa é a base da criação ou é a base do sofrimento. Na psicanálise o que acontece quando um desejo é realizado? São raros os momentos e nesse momento a pessoa tem uma sensação de uma quase morte. Os franceses chegam a chamar o orgasmo de uma pequena morte. A pessoa tem a sensação como se estivesse no olho de um furacão, uma sensação de perda de identidade, uma sensação de tontura, uma sensação de querer se agarrar no outro, e isso passa. O que é que vem depois? Pode vir uma depressão, de algo perdido, pode vir uma vontade de reinventar esse prazer tão rápido que é a realização de um desejo".
(Jorge Forbes)
(Jorge Forbes)
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
terça-feira, 24 de novembro de 2009
No inesperado, o mesmo
"Freud construiu a psicanálise como teoria e técnica de tratamento dos efeitos do recalque. Para ele, todo ser humano teria tido um dia, na vida, uma experiência de satisfação, muitas vezes representada pelo aleitamento, pela presença de alguém, de um corpo, de uma situação que o completava. Ao longo da vida, o sujeito perde essa sensação de bem-estar, quando surgem situações que diferem da primeira e chega uma outra pessoa que não aquela. Ao deparar com o Outro, ele percebe que não é um, que não é inteiro. Por isso já se disse que o neurótico não gosta de inteiro. Diante do inesperado, ele se aferra ao mesmo:
- Você mudou de perfume?
(...) Na neurose acredita-se que vai recuperar algo que se perdeu. Por isso o neurótico pensa que amanhã será melhor, sempre adiando decisões. É, por excelência, o indeciso. Uma vez que decidir implica uma perda, não suporta decidir, procurando alguém que o faça por ele".
(Você quer o que deseja?, Jorge Forbes)
domingo, 1 de novembro de 2009
Mais Forbes
BASTA DE QUEIXAS
Jorge Forbes
Texto publicado no livro "Você quer o que deseja?"
Todo mundo se queixa o tempo inteiro. Do tempo: um dia do calor, outro dia do frio. Do trabalho: porque é muito, ou porque é pouco. Do carinho: “que frieza”, ou “que melação”. Da prova: “dificílima”, ou “fácil demais”. E dos políticos, e da mulher, e do marido, e dos filhos, e dos tios, avós, primos; do pai e da mãe, enfim, de ter nascido. A queixa é solidária, serve como motivo de conversa, desde o espremido elevador até o vasto salão. A queixa é o motor de união dos grupos, é sopa de cultura social; quem tem uma queixa sempre encontra um parceiro. A queixa chega a ser a própria pessoa, seu carimbo, sua identidade: “Eu sou a minha queixa”, poderia ser dito.
A queixa deveria ser a justa expressão de uma dor ou de um mal-estar, mas raramente ocorre assim. É habitual que a expressão da queixa exagere em muito a dor, até o ponto em que esta, a dor, acaba se conformando ao exagero da queixa, aumentando o sofrimento. É comum as pessoas acreditarem tanto em suas lamúrias que acabam emprestando seu corpo, ficando doentes, para comprovar o que dizem.
A causa primordial de toda queixa é a preguiça de viver. Viver dá trabalho, uma vez que a cada minuto surge um fato novo, uma surpresa, um inesperado que exige correção de rota na vida. Se não for possível passar por cima ou desconhecer o empecilho, menosprezando o acontecimento que perturba a inércia de cada um, surge a queixa, a imediata vontade de culpar alguém que pode ir aumentando até o ponto em que a pessoa chega a se convencer paranoicamente que todos estão contra ela, que o mundo não a compreende e por isso ela é infeliz, pois nada que faz dá certo, enquanto outros, com menos qualidades, obtém sucesso. Ouvimos destes aquele lamento corriqueiro, auto-elogioso: “acho que sou bom ou boa demais para esse mundo, tenho que aprender a ser menos honesto e mais agressivo...” Conclusão: se não fossem os outros, ele, o queixante, seria maravilhoso. Por isso, toda queixa é narcísica.
Temos que acrescentar que a queixa não surge só de uma dor ou de um desassossego, mas também quando se consegue um tento, uma realização. Aí a queixa serve de proteção à inveja do outro – sempre os outros ! ... – e tal qual uma criança que esconde os ovos de páscoa até o outro ano, o queixante não declara sua felicidade para que ela não acabe na voracidade dos parceiros podendo ele curti-la em seu canto, escondido, até o ano que vem, quando o coelhinho passa de novo.
Em síntese, três pontos: a queixa é um fechamento sobre si mesmo, uma recusa da realidade e um desconhecimento da dor real. Não confundamos: é importante separar a queixa narcísica da reivindicação justa, mas isso é outro capítulo. Aliás, é comum o queixoso se valer da nobreza das justas reivindicações sociais para mascarar seu exagerado amor próprio.
Um momento fundamental em todo tratamento pela psicanálise é o dia em que o analisante descobre que não dá mais para se queixar. Não que as dificuldades tenham desaparecido por encanto, mas que o “tirem isso de mim”, base de toda queixa, perde seu vigor, revela-se para a pessoa todo o seu aspecto fantasioso. É duro não ter para quem se queixar, não ter nenhum bispo, um departamento de defesa dos vivos como tem o dos consumidores. A pessoa pode perder o rumo, não saber o que vai fazer, nem mesmo saber quem é.
Nesse ponto, a condução do tratamento há de ser precisa: há que se ajustar a palavra à vida, conciliar a palavra com o corpo, fazer da palavra a própria pele até alcançar o almejado sentir-se “bem na própria pele”. Também será necessário suportar o inexorável sem se lastimar e abandonar a rigidez do queixume pela elegância da dança com o novo.
Mais importante que uma política de acordos, que é feita a partir de concessões de posições individuais, é estar em acordo com o movimento das surpresas da vida, dos encontros bons ou maus. E tudo isto sem resignação, mas com o entusiasmo da aposta. Basta de queixas.
Jorge Forbes
Texto publicado no livro "Você quer o que deseja?"
Todo mundo se queixa o tempo inteiro. Do tempo: um dia do calor, outro dia do frio. Do trabalho: porque é muito, ou porque é pouco. Do carinho: “que frieza”, ou “que melação”. Da prova: “dificílima”, ou “fácil demais”. E dos políticos, e da mulher, e do marido, e dos filhos, e dos tios, avós, primos; do pai e da mãe, enfim, de ter nascido. A queixa é solidária, serve como motivo de conversa, desde o espremido elevador até o vasto salão. A queixa é o motor de união dos grupos, é sopa de cultura social; quem tem uma queixa sempre encontra um parceiro. A queixa chega a ser a própria pessoa, seu carimbo, sua identidade: “Eu sou a minha queixa”, poderia ser dito.
A queixa deveria ser a justa expressão de uma dor ou de um mal-estar, mas raramente ocorre assim. É habitual que a expressão da queixa exagere em muito a dor, até o ponto em que esta, a dor, acaba se conformando ao exagero da queixa, aumentando o sofrimento. É comum as pessoas acreditarem tanto em suas lamúrias que acabam emprestando seu corpo, ficando doentes, para comprovar o que dizem.
A causa primordial de toda queixa é a preguiça de viver. Viver dá trabalho, uma vez que a cada minuto surge um fato novo, uma surpresa, um inesperado que exige correção de rota na vida. Se não for possível passar por cima ou desconhecer o empecilho, menosprezando o acontecimento que perturba a inércia de cada um, surge a queixa, a imediata vontade de culpar alguém que pode ir aumentando até o ponto em que a pessoa chega a se convencer paranoicamente que todos estão contra ela, que o mundo não a compreende e por isso ela é infeliz, pois nada que faz dá certo, enquanto outros, com menos qualidades, obtém sucesso. Ouvimos destes aquele lamento corriqueiro, auto-elogioso: “acho que sou bom ou boa demais para esse mundo, tenho que aprender a ser menos honesto e mais agressivo...” Conclusão: se não fossem os outros, ele, o queixante, seria maravilhoso. Por isso, toda queixa é narcísica.
Temos que acrescentar que a queixa não surge só de uma dor ou de um desassossego, mas também quando se consegue um tento, uma realização. Aí a queixa serve de proteção à inveja do outro – sempre os outros ! ... – e tal qual uma criança que esconde os ovos de páscoa até o outro ano, o queixante não declara sua felicidade para que ela não acabe na voracidade dos parceiros podendo ele curti-la em seu canto, escondido, até o ano que vem, quando o coelhinho passa de novo.
Em síntese, três pontos: a queixa é um fechamento sobre si mesmo, uma recusa da realidade e um desconhecimento da dor real. Não confundamos: é importante separar a queixa narcísica da reivindicação justa, mas isso é outro capítulo. Aliás, é comum o queixoso se valer da nobreza das justas reivindicações sociais para mascarar seu exagerado amor próprio.
Um momento fundamental em todo tratamento pela psicanálise é o dia em que o analisante descobre que não dá mais para se queixar. Não que as dificuldades tenham desaparecido por encanto, mas que o “tirem isso de mim”, base de toda queixa, perde seu vigor, revela-se para a pessoa todo o seu aspecto fantasioso. É duro não ter para quem se queixar, não ter nenhum bispo, um departamento de defesa dos vivos como tem o dos consumidores. A pessoa pode perder o rumo, não saber o que vai fazer, nem mesmo saber quem é.
Nesse ponto, a condução do tratamento há de ser precisa: há que se ajustar a palavra à vida, conciliar a palavra com o corpo, fazer da palavra a própria pele até alcançar o almejado sentir-se “bem na própria pele”. Também será necessário suportar o inexorável sem se lastimar e abandonar a rigidez do queixume pela elegância da dança com o novo.
Mais importante que uma política de acordos, que é feita a partir de concessões de posições individuais, é estar em acordo com o movimento das surpresas da vida, dos encontros bons ou maus. E tudo isto sem resignação, mas com o entusiasmo da aposta. Basta de queixas.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Importa
"Qual a utilidade de admirar um quadro, ler uma poesia, tomar um banho de mar, ouvir música brasileira, escrever uma carta de amor? Deveria ainda provocar: e qual é a utilidade de fazer análise? Não é o que perguntam certos psiquiatras ditos biológicos? Nenhuma. A psicanálise é tão pouco útil quanto uma mulher, daí toda a sua importância. Ela importa, "apesar de você impirista", como diria Chico. Ela se impõe".
(A mulher e o analista - Você quer o que deseja? , Jorge Forbes)
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Outra coisa
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Escolhas e (in)certezas
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
?
Mudanças
Eu nascia na surpresa, agora, na previsão;
Eu não saia de casa, agora vou para a creche;
Eu namorava alguém, agora vou ficando;
Eu decorava tudo, agora uso o Google;
Eu jantava na hora da família, agora, do microondas;
Eu fazia passeata, agora, nem serenata;
Eu escolhia uma faculdade, agora estudo em várias;
Eu queria ser doutor, agora, inventor;
Eu saía de casa cedo, agora sou canguru;
Eu casava lá pelos vinte, agora, quase aos quarenta;
Eu jamais me separava, agora só divorcio;
Eu me aposentava aos cinqüenta, agora mudo de profissão;
Eu morria aos setenta, agora tenho morte lenta.
E se alguém me perguntar o que eu vou fazer agora, antes
por favor me responda: - Afinal, que raios é a globalização?
Jorge Forbes, 9 de agosto de 2009
Imagem: Pára, Mauro Piva
Imagem: Pára, Mauro Piva
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