quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

PESO PENA


Vez em quando eu escuto por aí sobre a gravidade das coisas: "É que meu caso não é prá psicanálise, não. É grave. É caso prá psiquiatria."
Fico pensando o que seria um caso prá psicanálise. Ela, que pegou os casos mais perdidos que se possa haver por aí, ficou relegada à um plano perigoso.
A história do Freud e seu diferencial estava justamente em ouvir o que o paciente tinha a dizer. Em prestar uma atenção danada em porque o corpo começava a falar o que a boca não queria dizer. O que era trancado a sete chaves prá não trazer à tona conflitos internos tão secretos que a ameaça de revelá-los assustava mais que qualquer bicho-papão.
Só que junto à escuta desses conflitos, estava a elaboração dos mesmos. Desfazer nós e desembaraçar novelos. Esta é a proposta.
Nada de pilulinhas mágicas que fazem calar, que fazem babar, que enchem o rosto de tiques nervosos.
É a escuta o que se privilegia.
Chega a ser de uma curiosidade mórbida como tem tanta gente que confia plenamente em médicos prá fazer calar a boca.
"Doutor, preciso de uma mordaça. Não posso com meus desejos e fantasias e vontade de virar a mesa."
A consequência às vezes é drástica. Além da eliminação do desejo, há o perigo de morte, literalmente, da pessoa.
Mas é natal. Vamos cear com a família, aparafusar sorrisos e não esquecer o rivotril de cada dia.

curiosidades: O Natal é a época em que mais as pessoas entram em crise. E o peru entala na garganta. Sem nem precisar de farofa. Tudo isso para que a voz não saia.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

"ELE É BONZINHO, TADINHO!"


Por que é que a gente escolhe os nossos amigos como tais?
Você aí, apressadinho, mal leu a pergunta e já tasca logo uma resposta ansiosa que teoricamente seria óbvia: "Ué, por afinidade!"
Isso seria certo se a vida fosse simples, óbvia, e sem mecanismos secretos que a gente esconde de todo mundo. Mas na prática a teoria é muito outra.
Todo mundo lembra fácil aqui de alguém que tem um amigo chato, mas chato de verdade, que ninguém aguenta, com a única exceção daquele nosso amigo que tem o apelido de bom pastor, de madre teresa, ou de qualquer entidade filantrópica que faz o bem indiscriminadamente.
A pergunta é: Por que aguentar essas pessoas?
Até o Betinho, símbolo do bem maior no mundo politicamente correto já assumira, quando lhe perguntaram se ele, o tal, tinha algum tipo de preconceito. Ele pensa, se cala, revê seus conceitos e divulga: - Tenho sim. Tenho preconceito contra o chato!
Tem outra questão aí que se interpõe. Afinal, quem é chato? A gente não vai achar tão facilmente gente com crachás, ou que pertençam ao chatos anônimos tentando se curar só por 24 horas. Mas a problemática que trago aqui é muito maior que a pura e simples classificação. É sobre as escolhas. Sobre o que me leva a eleger alguém como amigo. e mais, por que são abertas tantas exceções? Por que os descontos?
Prá quem é realmente uma mala sem alça é até cômodo. Afinal, ele não precisa se aprimorar em nada. É chato e pronto.
E a outra parte? Por que quer parecer tão boazinha?