“Baiana que entra na roda e
quinta-feira, 17 de março de 2011
GERALDO PEREIRA
“Baiana que entra na roda e
sábado, 5 de fevereiro de 2011
LAMARTINE BABO
Os dois compositores são muito mais ouvidos hoje - isso é pura verdade - mas quem criou os hinos de futebol que estão na boca de qualquer carioca foi Lamartine Babo. Pela rua eu nunca vi alguém cantar "Serra da Boa Esperança", é verdade, mas o "Hino do Flamengo" é coisa que se vê sempre.
Lamartine nasceu em 1904, no Rio de Janeiro, no mesmo ano da fundação do América Football Club, o time de futebol que ditava seu coração. Desde pequeno já imitava os instrumentos das bandas de rua, cada instrumento com um pedaço da boca ou do corpo diferente. As imitações acabaram se tornando uma de suas marcas, presente em diversas gravações, além de terem uma função de composição. Por não saber escrever em partituras, Lamartine solfejava as notas dos instrumentos para os maestros ou músicos com que estava trabalhando. Extremamente magro, de voz fina (dizia: não tenho voz, tenho vez), de porte engraçado, Lamartine tinha tudo para não ingressar no universo da música brasileira da época, de galãs com vozes poderosas e grandes orquestras.
Seus primeiros sucessos vieram com as marchinhas de carnaval, no início da década de 30, quase todas sempre na boca de Mário Reis - o compositor que dividiu o canto da música brasileira. Isso porque, antes de Mário Reis, se cantava com inclinação ao bel-canto, com a voz poderosa, mais "virtuosa". Mário Reis, que iniciou a carreira com composições de Sinhô, tinha a voz mais contida, que se aproximava mais da fala, não do canto. Outro motivo de sucesso, além de seu talento e espontaneidade, são suas melodias simples, satíricas, bem completadas, como se vê em A.E.I.O.U., de Lamartine e Noel Rosa:
Mário Reis, que cantou vários clássicos | de Lamartine. |
A Juju sabe escrever
Há dez anos na cartilha.
A Juju já sabe ler,
A Juju sabe escrever,
Escreve sal com cê cedilha"
E não é aí que param as sátiras. Além de adorar trocadilhos - o que o fazia popular na imprensa da época - Lamartine era o primeiro compositor no Brasil a adotar o humor nonsense. Tudo o que se podia satirizar era satirizado. Como um tango seríssimo de Discépolo, na voz de Gardel, que em suas mãos se tornou "Família Urango-tango":
"Eu não suporto as intrigas,
apenas eu cito pessoas amigas.
Mas disse alguém lá do 100
que a família Urango não paga ninguém..."
As mudanças de época são muito presentes em suas canções, onde ele colocava em contraste os tempos antigos (como preferia de chamar: tempo da vovó) e moderno, as novidades que borbulhavam em sua época. As rádios, os novos estilos musicais, os novos comportamentos - tudo isso era notado por Lamartine. As canções abundam:
Lamartine Babo ao piano. |
"Rancheira é espécie de mazurca
mais velha que o morro da Urca
me faz lembrar o meu avô
nos tempos de noivado ao lado da vovó..."
(Babo...zeira, 1932)
"Toda gente agora pode
Ser bem forte, ser um "taco"
Ser bem ágil como um bode
E ter alma de macaco.
A velhice na cidade
Canta em coro a nova estrofe,
E já sente a mocidade
Que lhe trouxe o Voronoff..."
(Seu Voronoff, 1928)
"Não mostres à Vovó
minha conta da pensão,
deixa a velhinha
viver na ilusão..."
(Deixa a Velhinha, 1934)
Em "Babo...zeira", além do trocadilho do título com o nome do autor, a música fala da transformação dos ranchos no samba e marcha modernos, com um gingado totalmente diferente. Em "Seu Voronoff", o cirurgião russo Serge Voronoff é o tema: suas ideias eram de intervenções cirúrgicas entre homens e animais, em busca do rejuvenescimento. Louvado na época, Voronoff logo viu suas exóticas teorias caírem por terra antes de sua morte. Já "Deixa a Velhinha" é atualíssima, e é até espantosa se forem olhados os versos "esconde essas notícias de desastre de avião...".
Mas Lamartine não perdoaria os jovens. Já na sua primeira marcha a ser gravada, "Os Calças Largas", dizia:
Dança charleston, famosa na década de 20. |
Faz lembrar peru de água
Quando a gente o quer matar"
(Os Calças Largas, 1927)
Se não era da moda ou das danças, era dos costumes novos dos jovens, como o de flertar não por amor, mas por ser "bom":
"Vamos flertar,
(oh sim!)
Beijos trocar,
(sem fim!)
Lá no Leblon
(por quê?)
Porque é bom. "
(Que pequena levada, 1928)
O mesmo Lamartine que logo em frente veremos idealizar a mulher (e o carnaval) era o que criticava. Em "Maria da Luz", a própria idealização era criticada - a imagem da mulher sensual ao passar da rua. Uma curiosidade é que, além do belíssimo arranjo em que Lamartine canta, é uma versão de "Whistling in the Dark", de um filme americano famoso na época.
"É um tipo esbelto de mulher
e a gente faz o que ela quer,
é mais cotada que o café
pois tem aroma até no pé...
[...]
Maria da Luz
É o "ai jesus" de todos nós
Seu corpo fino tão franzino
Parece um tubo de retrós..."
(Maria da Luz, 1932)
Com a chegada da gravação, os intérpretes começaram a definir tudo o que era cantado, a fim de "direcionar" o público da música. Dos primórdios da gravação até os anos 50, era quase regra constar o gênero da música.
Selo de disco onde se vê o gênero após o título. De: outrasbossas.blogspot.com |
E uma orquestra de anjos divinos
Uns acordes de um toque de sinos
Nos finais desta valsa de amor."
De alguém que não me quis
Vivo cantando a sós pela cidade
Fingindo ser feliz"
forguetifaive
no bonde Silva Manuel, Manuel..."
É o "ai jesus" de todos nós
Seu corpo fino tão franzino
Parece um tubo de retrós"
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Elomar Figueira de Mello
Quem pensa que o trovadorismo morreu lá pelos anos da Idade Média, é porque não conhece Elomar Figueira de Mello, que é o tema da coluna de hoje.
O POETA E O MÚSICO
Elomar Figueira de Mello nasceu por ali mesmo, na Bahia, na velha casa da fazenda Boa Vista, em Dezembro de 1937. Descendente de hebraicos e de trovadores, de lá mudou para Vitória da Conquista três anos mais tarde, devido a frágil saúde do garoto Elomar; seus pais, trabalhando duro na cidade, voltam para o campo novamente, onde Elomar conclui o primário escolar.
Em 1954, Elomar vai para Salvador cursar o "científico", que abandona dois anos depois para servir o Exército, o qual retorna e completa em 1957. Cada vez mais enreda-se com a poesia e a música nos meios dali, o que o faz perder o vestibular de Geologia do ano seguinte, e, em 1959, passa no vestibular para Arquitetura, onde se forma, em 1964, quando retira-se de volta e definitivamente para o Sertão, onde começa a compor sua obra e tendo a Arquitetura apenas como suporte financeiro mínimo. 'Inda hoje vive pelas bandas do Sertão, com sua casa-fundação "Casa dos Carneiros".
Desde pequeno Elomar se interessou pela música rústica (até certo ponto, pois é algo que vem naturalmente) dos cantadores poetas do sertão. Suas primeiras composições datam de 7, 8 anos, quando, de noite, saía de casa às escondidas para assistir e aprender com os músicos.
Em 1960 lhe chegam ideias de trabalhos mais envergados, em comparação com as antigas cantigas que ia compondo. Nessa época, já havia anos e anos que era apaixonado pelos romances de cavalaria e pela cultura que ele define como "sertaneza". Elomar compõe então óperas, antífonas e galopes estradeiros, esses últimos, sinfonias compactas.
Elomar tem no seu currículo um caderno com pouco mais de 80 canções, 11 óperas, 11 antífonas, 4 galopes estradeiros, 3 concertos, 1 sinfonia e 12 peças para violão-solo.
O mais relevante, no entanto, em sua obra, é a capacidade de Elomar em combinar o que é folclórico, "de raiz", com o erudito, chegando ao universal com a linguagem regional, e tudo isso com enorme maestria.
Prepare-se para uma das maiores viagens da sua vida.
Das barrancas do Rio Gavião... (1972)
Faixas:
01. O Violêro
02. O Pidido
03. Zefinha
04. Incelença do Amor Retirante
05. Joana Flôr Das Alagoas
06. Cantiga de Amigo
07. Cavaleiro do São Joaquim
08. Na Estrada Das Areias de Ouro
09. Retirada
10. Cantada
11. Acalanto
12. Canção Da Catingueira
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E, como extra, uma letra de Elomar:
INCELENÇA PARA O AMOR RETIRANTE
Vem, amiga, visitar
A terra, o lugar
Que você abandonou
Inda ouço murmurar
Nunca vou te deixar
Por Deus nosso Senhor
Pena cumpanheira agora
Que você foi embora
A vida fulorô
Ouço em toda noite escura
Como eu a sua procura
Um grilo a cantar
Lá no fundo do terreiro
Um grilo violeiro
Inhambado a procurar
Mas já pela madrugada
Ouço o canto da amada
Do grilo cantador
Geme os rebanhos na aurora
Mugindo cadê a senhora
Que nunca mais voltou
Ao senhô peço clemência
Num canto de incelença
Pro amor que retirou.
Faz um ano in janeiro
Que aqui pousou um tropeiro
O cujo prometeu
De na derradeira lua
Trazer notícia sua
Se vive ou se morreu
Derna aquela madrugada
Tenho os olhos na istrada
E a tropa não voltou.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Canto Gregoriano
Olá! O "E, na vitrola..." de hoje falará do Canto Gregoriano.
A característica principal do Canto Gregoriano é sua monofonia (uso de apenas uma melodia), ausência de acompanhamento instrumental, uso da voz e apenas a voz, ritmo livre e não medido, além de ser utilizado na liturgia católica.
O texto no canto gregoriano tem primazia sobre a melodia, herança antiga da oração cristã cantada, os cantores do canto gregoriano devem ter compreendido, absorvido o texto, para interpretá-lo.
As formas do canto gregoriano foram herdadas de salmos judaicos e modos (escalas musicais) gregos, compilados assim por Gregório Magno no século VI para ser utilizado nas cerimônias litúrgicas católicas.
(partitura de um canto gregoriano, detalhe para a forma ancestral de escrita musical)
Existem várias formas para o canto gregoriano, relacionada com a função: ofertório, hino, antífona, etc.
Na página abaixo você poderá fazer o download de diversos cantos gregorianos, e legalmente:
REVIVALISMO LITERÁRIO
Poesia Retrô é um grupo de revivalismo literário fundado por Rommel Werneck e Gabriel Rübinger em março de 2009. São seus principais objetivos:
* O debate sadio sobre os tipos de versos: livres, polimétricos e isométricos, incluindo a propagação destes últimos;
* O estudo de clássicos e de autores da História, Teoria, Crítica e Criação Literária;
* Influenciar escritores e contribuir com material de apoio com informações sobre os assuntos citados acima;
* Catalogar, conhecer, escrever e difundir as várias formas fixas clássicas (soneto, ghazal, rondel, triolé etc) e contemporâneas (indriso, retranca, plêiade, etc.).