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Alembro-me dos tempos d’aventura,
Os mui felizes dias ao teu lado,
Que agora desentranho do passado,
Co’o coração repleno de ternura...
Tu eras jovem! Eu usava tranças!
E eu sonhava mil sonhos doirados,
Nas redes da inocência embalados...
Cobertos com um manto d’esperanças.
Na praça da igrejinha, pelos bancos,
Sentávamos juntinhos e felizes,
Sem conhecer, da vida, as cicatrizes,
Trocando entre nós olhares francos...
E a brisa deslizando em teus cabelos,
Tornavam mais fermosos teus sorrisos,
Teus lábios me roçavam, indecisos,
Envergonhados com meus tolos zelos.
Nas noites belas, céus aveludados,
Seguíamos felizes, sem malícias,
Sorvendo desse amor, suas delícias,
Pisando mil estrelas, descuidados...
Por sobre as minhas vestes alvadias,
Teus olhos deslizavam com mil pejos,
E eu me quedava morta de desejos...
Ah! Que saudades desses belos dias!
E inda sinto desse amor o lume,
E pulsa dentro em mim essa saudade,
Que chega sem detença e assim m’invade,
Deixando pelo ar o teu perfume...
Os dias se passaram! Meses! Anos!
E tudo se passou depressa, aos trancos,
E os meus cabelos já estão mui brancos,
Sofri imensa dor e desenganos...
A mim me restam soledades tantas!
Recordações dos tempos d’inocência,
Saudades tuas, esta confidência,
Lembranças belas, tristes, sacrossantas!
E ao dobrar dos sinos, que tristura!
Revejo tua imagem na neblina
Do tempo que passou, mas não termina
Com este amor que dentro em mim perdura!