Mostrar mensagens com a etiqueta Pecado. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Pecado. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 1 de julho de 2008

De Costas Viradas

Sempre disse que a abertura do anglicanismo à homossexualidade seria o princípio do seu fim, dada a convivência livre do sacerdócio e da vida sexual naquela Religião. Aí está o cisma. Resta saber em que ponto mandarão os políticos ficar a Rainha, já que Lhe cabe a chefia da dita Igreja, sendo ao Arcebispo de Cantuária cometida apenas a liderança teológica. Talvez estejamos perante o primeiro passo para deixar de ser credo de Estado, o que pode favorecer a expansão em curso da influência de Roma na Grã-Bretanha.
Para um católico heterossexual as contestações protestante e gay à doutrina de Roma partem igualmente de erros, mas não de equivalentes incongruências. Enquanto que os Reformadores dissidiram e fizeram religiões à sua medida, por não suportarem nem serem suportados na Religião Tradicional, os invertidos e alegres contestatários querem à viva força ser admitidos nas mesmas altas responsabilidades que os de sexualidade maioritária. A culpa cabe em grande parte às representações do Inferno que grandes pintores imaginaram para castigo dos sodomitas, as quais levaram os retratados a acreditar que, religiosamente, não poderiam perder. Só Dali, no recanto infernal que lhes reservou, insistiu numa punição sem ambiguidades.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Frutos do Mar

Criança Morta de PortinariTenho o Ministro Jaime Silva por atrozmente incompetente, com a agravante de tomo da facilidade ofensiva que a arrogância faculta. Não posso, por conseguinte, de ânimo leve, condenar a luta dos que tiram do mar a sua subsistência, cada vez menos, que a hipotecação despudorada a Bruxelas quer juntar os que já foram arrumados. Mas quando o interesse particular leva a impedir que se pratique o Bem, distribuindo alimento aos necessitados, toda a razão fica perdida. É muito pior do que o egoísmo sem sensibilidade que se está nas tintas para os que sofrem, encarrila pela diabólica procuração de obstar a que outros ajudem. Por muito publicitária que fosse, ou instrumental de posições opostas, nada justifica que se obstrua uma contribuição para minorar a fome, quando esta cresce. Também para casos destes gostaria de viver num Estado com uma polícia brutal, posto que soubesse seleccionar a aplicação dessa brutalidade. Como usar o cassetete nestes monstros que só dão pelas próprias dores.

sábado, 17 de maio de 2008

País Em Fuga

O Suicídio de Dorothy Hale de Frida KahloAqui está um resultado de estudo que me surpreendeu. Sempre pensei que houvesse mais tentativas de sucídios entre os homens, mas parece que são as Mulheres que ocupam essa duvidosa dianteira. A minha ideia firmava-se numa constatação, a de, nas minhas relações e conhecimentos, a parte masculina não admitir sequer a concorrência do Belo Sexo, o que, pelos vistos, não constituía uma amostra significativa. E num duplo diagnóstico caracteriólógico, o de Elas serem mais capazes de aguentar a dor do que nós e o de, por este lado, ser muito mais frequente a tentativa de aumentar a própria envergadura através da retumbância de um acto definitivo.
A bem ver, poderia suspeitar-se, meditando nas causas. As sujeições acabrunhantes talvez ainda ameacem mais o Sector Feminino, assim como a maior propensão a depressões poderia contribuir. Mas o conformismo diante das contrariedades da vida também se suporia maior.
Claro que falo apenas da abrupta decisão de precipitar o fim desta vida, não já da desistência dela. Igualmente acreditava, pelos vistos laborando em erro, que os meios de auto-infligir-se o fim eram mais radicais no Sexo Fraco - gás, mergulho de edifícios altos, do que o manejo de armas ou comprimidos, sempre susceptíveis de falta de habilidade.
Será que ficarão outrossim abaladas as convicções de ser na masculinidade mais frequente a assunção de fracasso pessoal no desmentido do projecto pessoal que se fizera e de ser nas Senhoras muito mais rara uma segunda tentativa, falhada a primeira?
Depois desta surpresa já não arrisco certezas. Até porque lembro sempre a propalada ideia entre a intelectualidade francesa do Sécilo XIX, de que a voga moderna do suicídio era importação de Inglaterra, concluindo que os Britânicos o faziam para desenfastiar-se e exortando-se a deixar-lhes esse passatempo, que não conviria quer ao carácter, quer ao clima da nova Gália. Quando a percentagem, sabe-se hoje, era maior em França.

domingo, 4 de maio de 2008

É Domingo, Mas...

Ainda, Querida Fugidia?







A Bola de Sabão de Manet

The Horror, The Horror...

Leda e o Cisne de C. A. HollandDá-nos a Zazie representações da zoofilia, no sentido sexual, no nosso mundo Cristão, sendo certo que as religiões monoteístas, ao arrepio da liberdade artística, sempre proibiram o chamado crime de bestialidade.
Desde o Levítico, XVIII,23- Não te ajuntarás com animal algum, nem te mancharás bom ele. A mulher não se prostituirá a algum animal, nem se misturará com ele; porque é um crime horrendo.
e XX, 15
Aquele que tiver cópula com jumento ou outro animal será condenado à morte. Também matareis o animal.
A forma de execução era pelo fogo, a que se atirava ambos. E assim passou para a Cristandade, com a variante ocasional do enterramento em vida. No entanto, a tensão entre a manifestação do horror e a necessidade de graduar as culpas levou a que o bicho, ao contrário do humano, fosse previamente estrangulado.
Diz Damhouder

Il serait indigne et odieux enceffect qu´une telle, denuée de raison, subsistat et continuat de vivre sous les yeux des homes quand, à cause d´elle, un homme doné de raison a peri d´une mort miserable.

E retira-se das Capitulares de Ansegise:
Os animais não são punidos pela sua culpa por isso que não a têm, mas sim por haverem sido cúmplices duma execrável aberração humana pela qual se tira a voda ao ente racional. Como depois de tão revoltante maldade o animal recordaria o acto impuro que é preciso eliminar e riscar para sempre, a sabedoria dos tribunaes ordenou, por isso, que até mesmo os processos de tão impuros delinquentes como eles sejam queimados afim de que não reste memória em tempo algum de tão nefandas abominações.
Muitas vezes o animal era estrangulado antes de lançado à fogueira com o culpado vivo e considerava-se isso como uma graça especial concedida ao animal.

No politeísmo a repulsa era menor. Entre os gregos puniam-na somente com a castração, repugnando mais o deseqilíbrio que a degradação. E em Roma muito se praticava e nada se punia. Tirei estes dados do opúsculo que reproduzo:
Mudam-se os tempos mas continua esta vontade, como atestam as ofertas alternativas para desfastios citadinos sofisticados e a penetração ovina por pastores do mais rústico. O que terá mudado, então?
A parte mais visível e honrosa é a preocupação de proteger o animal e os respectivos sentimentos. Já o esvaziamento do que de horrível haveria, tem, para mim, outra explicação - continuando a considerar-se ilegítima e reprovável, ganhou-se consciência de que ela não corresponde a uma despromoção do Homem, mas a uma inaceitável tentativa de elevar-se, tamanha é a consciência do quão baixo descemos. É decerto um progresso que nos exerguemos. Mas, felicitando-me por ser minorado o sofrimento de seres desprovidos de culpa, lamento que tenhamos abaixado a nossa medida reactiva contra os piores de nós.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Nem sempre o Omo...

Em matéria de branquear a Preguiça, o meu pecado favorito, é melhor recorrer à agitação dos apelos próprios, do que confiar no detergente que lave o cérebro do parceiro apanhado descalço...

Posted by Picasa

quinta-feira, 20 de março de 2008

O Voto

Pilatos Mostrando Cristo e Barrabás à Multidão, de Il Morazzone

Hoje é o dia do beijo que ameaçou dar mau nome a todos os demais. O do Iscariotes, pois. Mas, para pecado dos nossos males, o significado de amanhã não foi o de outro dia. Pilatos agiu como mandam os bem-pensantes de hoje - não interferindo nos assuntos internos de outro povo, sob ocupação sua, muito embora. Fez o que os individualistas preceituam quanto a responsabilidade, não querendo sujar as mãos próprias com sangue inocente, mas marimbando-se para a vergonha de pactuar com o acto pelo qual outros o vertessem. Portou-se como bom marido, tentando um truque para salvar um Acusado que via sem culpas, atendendo aos rogos angustiados da Mulher, impressionada pelo sonho que tivera. Foi mesmo a única pessoa que fez uma pergunta a Que o Filho do Homem não deu resposta, a célebre O que é a Verdade?
Por que será então que faz tão má figura na História? É evidente que por ter sido instrumento da Democracia contra a Justiça, ao dar-lhes o Barrabás que pediam. Que ele viesse a chefiar gerrilhas contra as forças do seu País era só o condimento necessário a abrir os olhos para o desastre da abdicação de autoridade proconsular a quem não partilhava da Fé. E fazer-lhe ver que perguntar onde está A verdade é a própria essência da Mentira.
Mas então, ainda não descobertas as trafulhices financeiras que o fizeram morrer exilado, era um homem respeitável.
Dir-me-ão logo os moderadinhos de todas as épocas que a maldade só se aplica às assembleias populares informais, que um parlamento de que a escumalha esteja afastada é muito outra coisa. E eu contraponho-lhes o exemplo da própria Nação do magistrado justiçado pela memória histórica: o orgulhoso Senado Romano foi o mesmo que votou a amnistia para os assassinos de César, assim abrindo caminho para os epígonos que recusam votos de pesar pelos morticínios de Reis e Príncipes. E foi o mesmíssimo que anulou o decreto com a nomeação do sucessor por Tibério, substituindo o nome pelo de Calígula, inspirando todos os tiranetes com menos pompa, os quais se limitam a matar "indirectamente" os que não têm poder, desde aqueles que dependem para tudo de quem os gerou, como os que não formam grandes aglomerados eleitorais e, para castigo, vão sendo desprovidos de maternidades, escolas e hospitais.
Mas uns e outros, exemplos e fiéis seguidores deles, são homens respeitáveis.
Recuso tanto o triunfo do número nas conglomerações da canalha ululante, como nos areópagos das mordomias e do penacho.
Não sou dos que votam, mas enquanto não calarem este meio, não farei como o egoísta que pensou tranquilizar-se, lavando as mãos.
Mas claro que aqueles que nos governam são homens respeitáveis.
A todos uma Santa Páscoa!

segunda-feira, 17 de março de 2008

A Quem Possa Interessar

Tivesse a História decorrido assim e os aliciamentos tornar-se-iam supérfluos, a cobra desempregada e Eva e companheira silenciosas, rivalizando no impulso da deglutição.
Deixaria de se poder dar o nome de Adão à maçã que nos dizem atravessada no pescoço. Mas teria valido a pena? É de crer que não. Dizia outra, Lady Macbeth que o que está feito está feito.
E assim se encontra justificada a frase do Abade Guyon o Inferno está calcetado de línguas de mulheres...

sexta-feira, 14 de março de 2008

O Diabo a Sete

Vai na net um pan-demónio, a que só reagiu com notoriedade a Nobre Voz do João Távora, contra o "crime" que teria sido a Igreja chamar a atenção da catástrofe moral correspondente a condutas egoístas que configuram os chamados Pecados Sociais. As leituras apressadas, nuns casos, má-fé, noutros, ou tentativa de gracejo, em mais alguns, fizeram, contra os esclarecimentos prestados pela Hierarquia, com que desatassem a assimilar o momento doutrinal a um acrescento dos Sete Pecados Capitais, as grandes categorias enformadoras do Mal como tentação.
Chamados à pedra, surgiram as inevitáveis troças visando a escala pecaminosa. Chegámos a um ponto em que não se estranha uma graduação de responsabilidades e crimes pelo poder civil, nem a penalização de condutas emergentes, por vezes até sanções administrativas independentemente de culpa, mas tenta-se por a ridículo a condenação de comportamentos nocivos por quem pesa muito mais a necessidade das mudanças e a censurabilidade dos sujeitos.
Parece-me esta leviandade ser, mais do que um resquício chic de anti-clericalismo, a eterna capitulação de nos crermos somente capazes de pecadilhos, enquanto que os outros o podem ser de monstruosidades. E, em consequência, de encarar os alertas contra a ausência de consideração pelo Próximo como invasões insuportáveis da nossa eventual esfera privada.

Aliás, esta recusa do que não estava na mesa, do reforço do elenco das faltas mortais, impregna-se de todas elas, de uma só vez. Vejamos:

Avareza- Não querer compartilhar o conceito de Pecado Capital com nenhum outro que os do grupinho consagrado.

Ira- A pressa em atirar-se à Santa Madre Igreja, por desaconselhar condutas que o bom senso e a Integridade também mandam afastar.

Orgulho (Soberba)- A recusa de se submeter à culpa subjacente a tristes comportamentos em voga.

Preguiça- A abdicação de auto-exame e de julgar aqueles com que se convive, invertendo os papéis e quase chamando prevaricadora à Santa Sé, uma versão light do Pecado Contra o Espírito Santo, que responsabilizava Deus pelo Mal.

Gula- da notoriedade, mesmo insignificante, que umas linhazitas demarcantes com vaga aura de heresia dão.

Luxúria- O apego aos prazeres que uma estrita conformação com o preceituado na só aparente inovação vedaria.

Inveja- de Quem pretende o Homem mais puro do que os detractores se querem ou julgam capazes.

Em qualquer caso, a predominância do eu libertário sobre o sentido do Dever de não afrontar ou prejudicar o outro, respeitando-o como surgiu ou tentou surgir neste mundo.
Jorge Luís Borges disse que os Sete Pecados Mortais eram um só, a Crueldade. Estas chocarreiras reacções, na indifrença pelo devido a Outrem, dão inteira medida da razão que tinha. E, quando se cai em apregoar que o Diabo não é tão mau como o pintam, é fácil adivinhar que tridente estará por detrás...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Gastronomia Requintada

Não, não é, D. T, queremos cá crocodilos com orgulhos desses! O Orgulho foi o pecado que perdeu Lucifer, lembra-Se? Deseja-se é um bicho que se alimente do que de melhor qualidade há, sem ser comida de plástico, mas em que nem ASAEs possam botar defeito. Apresento-Lhe o Gourmet. Foi sacrificado para a demonstração, mas não falta quem lhe siga as pisadas esperando melhor desfecho.

Ao Que Isto Chegou!

O facto de alguém pagar uma dívida faz a primeira página de um jornal! E o visado envergonha-se, quer ser como os outros...

domingo, 13 de janeiro de 2008

Os Sete Pecados na Capital

Robert Delaunay era um visionário abrangente: duas das suas variações sobre o tema da Torre Eiffel correspondem às visões das partes em conflito no recente episódio de putativa ameaça terrorista contra tão emblemático ícone turístico da Mais Prodigiosa Cidade do Universo: o vermelho da Torre da mesma cor, correspondendo ao alerta em que se encontram as autoridades; a desconjuntada visão cinzenta do monumento, à que os sonhadores do atentado desejariam ver triunfante.Mas é possível detectar nesta notícia ecos dos Sete Pecados Capitais: a Avareza por a Al Qaeda parecer desejar a reserva para si do monopólio o terror, ao ponto de assinar um projecto não concretizado, pouco importando que o resultado ficasse comprometido; a Gula dos escutadores nacionais, ávidos de mostrarem serviço que os promova a salvadores de uma referência estrangeira célebre; a Ira, que todo o Mundo Civilizado sentirá despertar, face a um rumor sem confirmação suficiente; a Soberba, inscrita na construção que se quer Nova Maravilha do Mundo e, não esqueçamos, nos minaretes tão queridos aos que desejam deitá-la abaixo; a Preguiça, das Forças da Ordem gaulesas, as quais decerto chamarão a si os méritos do impedimento da catástrofe, referindo o mínimo que possam o contributo externo na descoberta da possível lebre; a Luxúria, expressa na edificação altaneira e pontiaguda, como símbolo fálico que é, maravilhosamente apta a ilustrar a preocupação dominante na França de hoje, com a virildade presidencial bem orientada; e a Inveja - o pecado de que menos gostava, mas a que Carla Bruni veio fazer com que me afeiçoasse, passando, concomitantemente, a prezar um bocadinho menos esse Sarko que tanto apreciava...

sábado, 5 de janeiro de 2008

Sempre a-Tentar

Querida Amiga, quando prescindimos de cruzar o corpo da Mulher com as asas de ave estamos a renunciar a caracterizá-La pelo (en)canto das Sereias, que tanto podiam ser meio-peixe como semi-pássaro...
As asas de morcego reenviam para Lilith,
ou seja para enraizamento no Mal muito mais profundo do que a tentação vaidosa e otária da pobre Eva. Como mostra Collier, a identificação com a cobra é, verdadeiramente, epidérmica. É esta a imagem que Se quer?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

E Ela a Dar-lhe!

Essa já não pega

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A Mecânica dos Fluidos

Nunca teria o arrojo de falar de mecânica acerca do casório, mas como foi a T que remeteu para essa chave de fendas e pôs ao dispor veículos de ocasião, vou fazer-me lucas e aceitar o termo. Não posso é fazer outro tanto às carripanas. Reparai, não é oferecida toda a actividade de uma estação de serviço, pelo que teríamos de recorrer a este estabelecimento para garantir a lavagem e lubrificação adequadas. Ora, achais que alguma noiva se sentiria confortável diante de uma proposta de girling?!

domingo, 18 de novembro de 2007

Paninhos Quentes

Detalhe
Os apavorados pela nudez têm tanta infelicidade que, ao pensarem servir a religiosidade, acabam por cair em asneiras teológicas: a 18 de Novembro de 1541 Miguel Ângelo desvelava pela primeira vez O Julgamento Final, embora a abertura ao grande público só tenha vindo a ocorrer como presente natalício. Começou então, encabeçada por Sernini, um estrangeiro, Embaixador de Mântua, uma campanha para cobrir os orgãos sexuais das figuras. Esta atitude, que foi prolongada na Campanha das Folhas de Figueira, um expediente antecessor do fio dental de hoje, remetia para a saudade das parras de Adão e Eva, após a Expulsão; e contrariava o exclusivo da temporalidade terrena em que o conhecimento do Pecado obrigava ao seu uso, inaplicável nos que iam agora ver a Eternidade ser decidida pela Presença Divina. O Papa Paulo III não foi na conversa, mas, depois do Concílio de Trento, novas exigências do exterior levaram a que se encomendasse a Daniele da Volterra a colocação de uns paninhos sobre as partes podendas. Era a fúria contra o Inventor de Porcarias, como chamaram ao Artista, quando, afinal, ele delas seria somente o retratista, devendo a responsabilidade ser endossada ao Criador, o que deixaria esses obcecados em maus lençóis...
Mas um problema perdurou. Apesar de uma cópia duplamente au naturel, de Marcello Venusti, poder ser vista em Nápoles, optou-se, no final do Século XX, por, no restauro, preservar os acrescentos, como incorporação artística que eram. Ora, pergunto, não seria mais respeitoso e curial pôr a pintura como foi concebida e ter uma cópia que permitisse examinar as alterações efectuadas? É que, assim, a autoria não pode ser somente atribuída ao Buonarrotti.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Orelhas na Terra

Alegoria ao Terramoto de 1755 de João A. Glamma Stroberle, Artista com vinte anos de aperfeiçoamento em Roma, ainda hoje mais querido no mundo Anglo-Saxónico do que no seu e nosso País, talvez pelas temporadas de residência em Londres e... no Porto.Ao arrepio do ensino oficial do Catolicismo, insistentes prédicas religiosas voltam a martelar serem os tremores de terra castigos divinos, com se o Outro Mundo tivesse vindo fazer umas férias neste. Hoje são os clérigos islâmicos do Paquistão e de Caxemira, mas no nosso continente os Metodistas dos Irmãos Wesley reclamaram-no abundantemente, tendo John elaborado uma verdadeira Teoria Geral do Terramoto como punição.
Na sequência do de 1 de Novembro de 1755 em Lisboa, que abalou meio mundo pensante e outro tanto incapaz de o fazer, generalizou-se mesmo aos Países da Religião Romana, à revelia das determinações hierárquicas, a ideia de sanção. Num processo de abstractização das culpas, até o inefável Rousseau veio a embarcar na onda, apesar de as encarar como castigo não tanto do pecado, mais da imprudência e da traição à naturalidade da vida, estigmatizando os nossos Avós por terem escolhido esta localização para Lisboa, e pela construção de casas, largando o tecto celeste, numa não-especificada alusão à literalidade bíblica que mandava não colocar nada entre o Homem e o seu Deus, preceito também invocado pelos missionários puritanos para proibirem as posições sexuais com a Mulher por cima, dando assim nome à que se permitia.
Invertendo o caminho na generalização da causa pecadora, um inflamado visionário um tanto ridículo, esse Gabriel Malagrida que se dizia um São João mais claro, veio pregar, contra as causas exclusivamente naturais patrocinadas pela propaganda Pombalina, a tese da pena terrestre, mas com atribuição concreta da responsabilidade aos vícios do poder absolutista e centralista, arrasador das elites e esmagador das massas, que o Valido de D. José projectava. Afastado da proximidade da Framília Real, a sua extracção Jesuítica, como a influência nos Távoras e nos populares da Outra Banda, marcou desde logo Os que, com um Duque de Aveiro não-alinhado nestas fantasias, viriam a ser as vítimas emblemáticas do tirano iluminado. O candidato a profeta, esse, para não dar o braço a torcer, deu o pescoço, alcançando o sacrifício que ambicionava na sua entrega e que fez o seu nome perdurar.

Onde o conteúdo útil da relação entre pecado e abalo sísmico se encontrou foi na exposição de muito crápula que andava encapotado: com as casas destruídas e os géneros a rarear, a pilhagem e a especulação subiram a níveis tais que foi preciso importar tropas da Província, como dessa Peniche cujo abarracamento foi perpetuado na toponímia lisboeta, seguindo-se um imparável cortejo de prisões, degredos e execuções. Mas a Divindade não meteu o nariz nesta imposição da ordem, da esfera do humano, por muito que queiramos dar ao vocábulo a conotação de clemência.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A Mística do Dia

A Comunhão de Santa Teresa de Cláudio Coelho

Sempre tive um fraco pelos grandes líderes que moderam com humor a avassaladora adesão sem nichos de descanso, por parte dos seus discípulos. Freud com o charuto, Lueger dizendo que escolhia quem era judeu, mal-comparada porque superior a esses e muitos outros, a Santa de Ávila de que passa o dia. Certa vez, uma freira mais nova veio confessar-lhe tentações vulgares que promovia a pecados hediondos. Consta que a Grande Superiora lhe terá respondido com uma pragmática tão grande como os seus enlaces célebres de êxtases espirituais somatizados: minha Filha, nenhum de nós é perfeito. É preciso é tomar cuidado para que essas imperfeições não se transformem em maus hábitos.
A Todas as minhas Leitoras que tenham o nome Teresa, à maneira dos Ortodoxos, que celebram a festa pessoal na data do Santo do nome.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Uaaaaah Vs. Buaaaaah

Querida T, assim não pode ser, deixar os Seus leitores à míngua de postagens. Agora percebo por que razão no elenco dos Pecados Capitais a Acedia foi substituída pela rotineira Preguiça, aqui dada a versão de Jacques Callot: a pensar no absentismo actual da Grande Animadora dos «Dias...»

Lá porque gostamos deles, não quer dizer que sigamos literalmente os maus exemplos que dêem, não é?

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Condolências a Satan?

Um Anjo Caído de Jack Paul Sanders

Pouco importa que as sapiências especializadas nos esclareçam de que o Satan adorado pelos Yazidis, alvos dos últimos atentados mortíferos mo Iraque, seja diverso do que conhecemos e corresponda, sim, a um anjo caído, mas que invertera a marcha por um diluviano arrependimento. Ao excluírem a capacidade interventiva de Deus neste Mundo e atribuírem o supremo governo dele a uma entidade que proclamam ter conhecido o Pecado, não há como escapar ao reconhecimento de adoração do Mal, seja por Muçulmanos, seja por Cristãos. E ao, comunitariamente, participarem em práticas ainda recentemente reiteradas, de apedrejamento até à morte de raparigas que queiram casar noutra religião, essa seita mergulhada no secretismo deveria suscitar a repugnância, a condenação e a intervenção de todos os Ocidentais, religiosos ou não.
Significa isto simpatia para com as explosões da Al-Qaeda? Nem por sombras, pois a fecundidade criadora e fantasista do radicalismo islâmico que a informa facilita a identificação de cultos diabólicos noutras paragens, começando pelo nosso património espiritual, para além de assassinatos em massa poderem sempre atingir elementos isolados não-comprometidos nos crimes das suas colectividades.
Mas é significativo que a União Europeia tenha condenado com tanta veemência o castigo dos adoradores do Diabo. Se acreditasse nele, provavelmente, até lhe enviaria um cartão expressando os seus sentimentos. Simpatia que, do ponto de vista muçulmano maioritário, será um indício mais para determinar a natureza maléfica dos poderes que nos regem. Da qual, aliás, não tenho dúvida, mas que deve ser atribuída aos tentados em vez de se procurar para ela a (in)dignidade terrífica do Tentador.
Um caso de venda da alma, então? Talvez não, mais de aluguer do corpo. É que a política escancarada de imigração sem discriminações de segurança permitiu uma comunidade considerável de membros Yazidi na Alemanha. Com a liberdade de circulação, quer dizer à nossa porta.