Vai na
net um pan-demónio, a que só reagiu com notoriedade a
Nobre Voz do João Távora, contra o "crime" que teria sido a Igreja chamar a atenção da catástrofe moral correspondente a condutas egoístas que configuram os chamados
Pecados Sociais. As leituras apressadas, nuns casos, má-fé, noutros, ou tentativa de gracejo, em mais alguns, fizeram, contra os esclarecimentos prestados pela Hierarquia, com que desatassem a assimilar o momento doutrinal a um acrescento dos
Sete Pecados Capitais, as grandes categorias enformadoras do Mal como tentação.
Chamados à pedra, surgiram as inevitáveis troças visando a escala pecaminosa. Chegámos a um ponto em que não se estranha uma graduação de responsabilidades e crimes pelo poder civil, nem a penalização de condutas emergentes, por vezes até sanções administrativas independentemente de culpa, mas tenta-se por a ridículo a condenação de comportamentos nocivos por quem pesa muito mais a necessidade das mudanças e a censurabilidade dos sujeitos.
Parece-me esta leviandade ser, mais do que um resquício
chic de anti-clericalismo, a eterna capitulação de nos crermos somente capazes de pecadilhos, enquanto que os outros o podem ser de monstruosidades. E, em consequência, de encarar os alertas contra a ausência de consideração pelo Próximo como invasões insuportáveis da nossa eventual esfera privada.
Aliás, esta recusa do que não estava na mesa, do reforço do elenco das faltas mortais, impregna-se de todas elas, de uma só vez. Vejamos:
Avareza- Não querer compartilhar o conceito de Pecado Capital com nenhum outro que os do grupinho consagrado.
Ira- A pressa em atirar-se à Santa Madre Igreja, por desaconselhar condutas que o bom senso e a Integridade também mandam afastar.
Orgulho (Soberba)- A recusa de se submeter à culpa subjacente a tristes comportamentos em voga.
Preguiça- A abdicação de auto-exame e de julgar aqueles com que se convive, invertendo os papéis e quase chamando prevaricadora à Santa Sé, uma versão light do Pecado Contra o Espírito Santo, que responsabilizava Deus pelo Mal.
Gula- da notoriedade, mesmo insignificante, que umas linhazitas demarcantes com vaga aura de heresia dão.
Luxúria- O apego aos prazeres que uma estrita conformação com o preceituado na só aparente inovação vedaria.
Inveja- de Quem pretende o Homem mais puro do que os detractores se querem ou julgam capazes.
Em qualquer caso, a predominância do eu libertário sobre o sentido do Dever de não afrontar ou prejudicar o outro, respeitando-o como surgiu ou tentou surgir neste mundo.
Jorge Luís Borges disse que os Sete Pecados Mortais eram um só, a Crueldade. Estas chocarreiras reacções, na indifrença pelo devido a Outrem, dão inteira medida da razão que tinha. E, quando se cai em apregoar que o Diabo não é tão mau como o pintam, é fácil adivinhar que tridente estará por detrás...