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terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

O Direito à Imagem

Uma companhia menor foi condenada por aproveitamento da imagem de Carla e Sarko. Acho muito bem, não porque, no primeiro caso, não ache que Ela deva ser património público... Mas sim por estar em crer que o que motivou os queixosos terá sido terem sido postos em plano similar ao do Presidente Zapatero. Claro que isto é ofensa à imagem, que deve ser alvo de idemnização reparadora!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Do Drama Ao Enjoo

O Suicida

Dia do aniversário de Manet. Converge um dos seus quadros mais poderosos com um estudo sueco, que me insatisfaz, para me fazer abordar o tema. Não vejo, pela condensação transmitida na Imprensa, que se posssa, de uma mera constatação estatística, tirar da presença ou não de uma substância química um padrão de probabilidades de suicúdios futuros, em função do peso ao nascer. Toda a minha observação diz que a principal causa suicidária radica na concepção que cada um faz de si, do que lhe falta, do que merece, do que teme. Cioran dizia que só um optimista se suicidaria, é o único que acredita ir desta para melhor. E não sei já quem tinha alertado para que se nem todos os motivos de suicídio são maus, há sempre coisas melhores para fazer... o que, em última análise, remete o acto fatal para um privilégio mais dos desocupados,
Quereria acrescentar uma nota sobre o tema na Pátria do Pintor: os Franceses são pródigos em reverter para os Ingleses tudo o que desconsideram. Mesmo coisas que lhes sáo geralmente atribuídas. A sífilis, conhecida em todo o lado como Mal Francês, é dada por eles como Mal Espanhol, pretendidamente trazida pelos companheiros de Colombo para Nápoles, pelo que igualmente lhe chamam Mal Napolitano. Toda a outra gente diz que sair sem se despedir é fazê-lo à francesa; mas lá estão eles a contrariar, dizendo que é à inglesa. Seria ainda mais ocioso que suicidar-se - e, em todo o caso, fazê-lo como escritor credível - tentar imputar aos habitantes da Albion a prática, no seu todo. Mas Etienne de Jouy não hesitou em dizer que a maior objecção contra o suicídio é que ele encontra frequentemente a fonte numa vil mania que nos vem de Inglaterra e que nós tomámos por moda, como os jockeys e os cavalos de cauda curta, as «Noites» de Young e spencers. Os ingleses matam-se para se desenfastiar. Deixemos-lhes esse passatempo que não convém ao nosso carácter nem ao nosso clima.
E, contudo, o delírio como prefácio acaba por ser truque expedito para transformar uma sentença moral de conclusão quase num dito de espírito:
o suicídio é frequentemente um crime, por vezes uma mania, raramente uma desculpa e quase sempre um erro de cálculo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Consumo Público

Hã, hã, será que foi mesmo isto que o Presidente Francês anunciou? Se assim foi, está-se a recuperar outro hábito do Trono de S. Luís, em que a consumação dos casamentos régios era até testemnhada, para que dúvidas não restassem. A página 14 nada diz, é inteiramente composta por anúncios. Pensando melhor... diz muitíssimo, está tudo ligado.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Os Anéis da Cascavel

Devo dizer que considero absolutamente venenosos, daí o título, os despropositados ataques que vêm fazendo a Sarkozy por dar o mesmo anel - ou, no mínimo o mesmo modelo dele - a Cecilia e a Carla. Pois se representa um coração, queriam que ele proclamasse a duplicidade do mesmo? Foi símbolo de transição total.
Mais grave era o caso, relatado numa carta magnífica a Ferreira de Castro, creio que por Jaime Brasil, entre as coligidas pelo Compadre RAA: um conhecido deles, viúvo, que, na iminência de um segundo casamento, derretera as duas alianças do primeiro para fazer uma só, "a dele, porque se teriam passado a usar mais grossas"!".
Num caso, o altruísmo da outorga da propriedade dos sentimentos, no outro o egoísmo da Avareza!
*
Nota acrescentada em 13/1: informa o Incansável Investigador citado, em comentário, que o relator epistolar da reciclagem da ourivesaria matrimonial foi Roberto Nobre e não Jaime Brasil. Nada como ter a chancela da Autoridade!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Faraós, Múmias e Camelos

Uf! Depois de um dia de escravo das construções de Gizé, em que se blocos de pedra não carreguei, os substituí bem por sacadas de livros, chego a casa, abro o computador e dou com o Mundo a girar à volta da viagem oferecida a Sarko & Carla por um empresário de comunicação.
Em primeiro lugar, cumpre lamentar que no dia de hoje, em Países Cristãos, se pareça pensar que a Fuga para o Egipto diz respeito a este périplo. Depois, não percebo a admiração, tanto compararam o Presidente Francês ao primeiro Bonaparte que ele, sabedor do episódio célebre do outro termo da comparação, deve ter achado que os quarenta séculos das Pirâmides teriam muito mais gosto em contemplar a Bruni do que os soldados de França. Como diria o célebre professor encarnado por Agildo Ribeiro, aquele que chamava "múmia paralítica" ao vigilante, a BruuuuuuunI!!!...
Depois, não percebo o espanto com o fausto de uma visita que vai cirandar por uma terra de nome LUXOr...
E chegamos à vaca fria, quer dizer, ao momento de falar a sério. Os políticos oposicionistas interrogam-se sobre quais os ganhos que serão dados ao patrocinador, como contrapartida. A questão é legítima e pertinente, já tivemos um caso paralelo com umas férias oferecias a José (então Durão) Barroso por um empresário. A minha resposta é de que o caso português cheirava pior: com personalidades senhoras de uma imagem tão namoradeira das câmaras e objectivas como o casal excursionista, o sponsor pode defender-se dizendo que o seu lucro foi ver o nome associado a eles.
Alguém concebe a mesma justificação tendo por base o actual Presidente da Comissão Europeia?

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O Nó do Problema

Abandono de Robert G. Gardner

Antes de discutir se o principal ponto do abandono pelo Presidente Sarkozy da entrevista em que uma jornalista o interrogou sobre a solidão em que Cécilia o deixou é ou não o problema do nó, gostaria de chamar a atenção para o papel precursor de Santana Lopes, quando se retirou por lhe ver preferido nas prioridades Mourinho; e para a notícia do fim de semana, em que o jogador italiano Cassano saiu dum jogo por não concordar com uma decisão do árbitro. O que os três episódios têm em comum é remeterem para questões de estatuto. O do atleta transalpino é censurável, na medida em que consiste numa subtracção a autoridade que se tinha comprometido a aceitar. O do Político Luso, já por mim abordado, muito compreensível, por recusar que fosse levada às últimas consequências a inversão de hierarquia entre quem tem a incumbência de noticiar e quem tem a capacidade de tomar decisões a que seja dada relevância noticiosa, apesar das transigências que a dependência dos votos e das câmaras impõe.
E o Chefe de Estado Francês? Claro que está no seu pleníssimo direito de não expor detalhes da vida matrimonial, como qualquer outro cidadão. Mas não assim no "profissionalismo" dos membros das Famílias Reais, sabedores de que a privacidade que podem reivindicar é muito mais reduzida do que a do vulgo, desde os tempos em que as Rainhas de França davam à luz em público. A medida da incompetência da jornalista esteve em não se ter apercebido de que inquirir um político eleito é incompatível com a nostalgia da Royauté. E de que a postura dos entrevistados está longe do sonho dos entrevistadores, de um abandono à sua condução, num relacionamento frio e sem afecto.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Milho Verde

Sarkozy continua a fazer por me cair no goto. Sabe-se da minha costela ecologista, logo não posso deixar de me sentir agradado perante anúncios legislativos importantes. Mas tenho uma vez mais de chamar a atenção para quanto deforma mentalmente um partido: as associações ambientalistas que não visam a ocupação de uma fatia do poder, com as reservas que passos embrionários impõem, saudaram medidas que consideraram no bom sentido. Os Verdes partidarizados logo vieram chamar "propaganda" a acções que vêm no sentido do que dizem defender. É que não pretendem melhorar qualidade de vida alguma, como prioridade. A sua razão de existir é contestar e afrontar, execrando qualquer consensualidade evolutiva. Os heróis deles são os destruidores da plantação algarvia, não tanto pelo que destruíram, mais por terem destruído. E assim merecem ser classificados como transgénicos da Ecologia.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

A Coerência Democrática

A 14 de agosto de 1945 um tribunal constituído apenas parcelarmente por magistrados, sendo as restantes partes dele parlamentares hostis e resistentes, com um presidente e um procurador que exprimiram antecipadamente a convicção da culpabilidade do Acusado, condenou o Marechal Philippe Pétain, salvador do País em 1918 e em 1940, quando mais ninguém queria pegar no poder, à morte (comutada em prisão perpétua). As acusações? 1- Ter excedido os poderes conferidos pela Assembleia Nacional, que tinham sido os «plenos», recorde-se, entrando assim da forma mais triste na renovação da língua. 2- Ter aceite a derrota como definitiva, quando as testemunhas inglesas, de acordo com o próprio Churchill explicaram ter sido tudo combinado com Londres, para evitar que o armamento, Império Colonial, economia e território franceses ficassem completamente na mão do inimigo. 3- Ter colaborado com o ocupante, fornecido tudo o que ele exigia e de que necessitava, não considerando minimamente as toneladas de papel que evidenciavam o constante regatear das condições impostas, quando não a sabotagem do seu preenchimento.

Que espanta? Nas letras Claudel também publicou um poema laudatório dirigido ao Condenado, quando ele estava por cima. E quatro anos depois, outro, ao político que mais pesou neste exemplar acto judicial...
Ao contrário, o Réu, como única defesa, proferiu:
Ao vosso julgamento responderá o de Deus e o da posteridade. Eles serão suficientes à minha consciência e à minha memória. Confio-me à França.
Apesar da odiosa fantochada nunca se alterou.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Desmitificação do Ogre

Quem leia a notícia como cá chegou pode ficar com a ideia de que a acção de Sarkozy agrada a Le Pen por alguma sintonia de programa. Não estará ciente de que a aproximação partiu de iniciativa do novo Chefe de Estado francês, no sentido de chamar a Frente Nacional à plena participação nas instituições. Cada vez mais o activismo da Esquerda partidária tem razão de se desgostar com o eleito. O espírito gauchiste precisa do confronto para sobreviver e até para se definir. As práticas de congregação e unidade do todo social são-lhe não só estranhas, como causadoras de alergia incurável. Logo, quando figuras da sua área do espectro político concordam em colaborar, em prol de um agir sem oposição a minar em função da rotulação, há um motivo de ódio surdo. Quando, porém, é eliminada a proscrição que lhes dava primazia vocal na vanguarda da luta contra um espantalho agitado a que colavam a capa ilegítima dos fascismos, soltam urros de dor. Cada vez gosto mais de Sarkozy, no plano da política interna.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Quando o Telefone Toca...

Je fais don de ma personne au maréchal Pétain comme il a fait don de la sienne à la France.
Je m'engage à servir ses disciplines et à rester fidèle à sa personne et à son oeuvre.

François Mitterrand
Essa foi fácil, Caríssimo Carlos Portugal! Foi só digitar Mitterrand 1943 e saltou, fresquinha. Como brinde ainda Lhe deixo a declaração cerimonial do agraciado com a Francisque. Aquele abraço.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Sem Fazer Ondas

A Ondas de Arnold Böcklin

Pronto, Nicolas Sarkozy lá tem a sua maioria, mas sem ser o vagalhão previsto, que lhe tinha permitido o sonho de surfar. De tanto tocar a rebate, o PSF conseguiu convencer os eleitores adversários de que eram "favas contadas", os seus da mobilização geral e os oscilantes da sua imprescindibilidade parlamentar. Resultado: obtiveram uns bons quarenta deputados de acréscimo, relativamente às últimas legislativas, entre os quais cinco dezenas de royalistes que pareciam ameaçados. Como o seu ex-qualquer coisa Hollande também meteu quase outros tantos partidários, provou-se que dois é bom, noventa e tal é demais; e o casal anunciou a sua separação.
De resto importa parafrasear Bernanos: la majorité pour quoi-faire? O que mais me irrita nesta Direita é o primado do Económico sobre as questões político-morais, no discurso. Neste contexto dou graças aos Céus por ter sido derrotado Alain Juppé, a ponte que o Chefe de Estado queria fazer com o chiraquismo. Para além de me agradar ver um cúmplice de malfeitorias cadastradas obrigado politicamente à demissão, agora que o ex-presidente perdeu a imunidade, vislumbro, com este sinal, um encorajamento a que do Eliseu não venha, em caso de condenação, um qualquer perdão presidencial dum inimigo dentro do aparelho gaulista, em nome da "abrangência" - conceito estimável que poderia tornar-se uma fixação.
Resultados ontem corrigidos em baixa, como hoje o foi a cotação bolsística das acções do Benfica.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Vagas Eleiçoeiras

Quando meio mundo canta o "tsunami azul" na primeira volta das Legislativas francesas de ontem não vejo a coerência de considerar o fraquíssimo nível de afluência como uma falência do sistema de votos, nem por aqueles que nos azucrinaram os ouvidos com a "saúde da Democracia" pretensamente comprovada pela participação-record das Presidenciais. O 'Efeito Sarkozy' continua, pois, mas só marginalmente, nas percentagens. Esta Esquerda e Direita pouco aptas à distinção, nos dois sentidos, variaram qualquer coisa como um mero ponto, considerando os resultados da Assembleia anterior. No eleitorado da FN é que o Presidente entrou como faca quente em manteiga derretida, o que quase extinguiu as triangulares e reforça a ideia de que a fuga para o centro propugnada por Marine Le Pen foi fatal, como a noção de que muita gente que votava no Pai dela não estava ideologicamente tão próxima como isso, apenas queria honestidade e decisão no enfrentamento dos perigos, coisas manifestamente impossíveis de encontrar em Chirac.
No resto, Madame Royal anda entretida em ser Presidente de alguma coisa, nem que seja do próprio partido, cargo a criar, para não afrontar demasiado o Primeiro-Secretário com quem partilha a vida, apesar de este poder vir a ser posto na alheta, caso aí uma metade do grupo parlamentar do PSF seja varrida da assembleia.
Ah! e o Sr. Bayrou? Pois, o MoDEM provou não ser o dispositivo adequado para ligar o Centrismo ao eleitorado.
Mas atenção, as votações mais expressivas são as que podem comportar maiores desilusões, apesar de o discurso unitário do momento me parecer merecedor de apreço. Não sei é por quanto tempo um regime de conflitos permitirá mantê-lo.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Uma Esquerda de Mestre?

Não sei se Sarko terá visto esta imagem, mas sem dúvida que ela prova que até uma Esquerda pode exercer alguma atracção. É norma nos governos norte-americanos integrar um membro do gabinete provindo do partido derrotado na eleição presidencial, para simbolizar uma platónica postura anti-partisenship. Daí que o Sr. Norman Mineta, nome correctamente grafado, tenha acompanhado a apresentação como Secretário dos Transportes de Bush com a declaração de que aqueles não eram Republicanos, nem Democratas. Não é tão habitual em França. Por isso a celeuma acerca da corte feita pelo Presidente a alguns Socialistas. Não falarei do Sr. Eric Besson, nem dos publicistas que apoiaram o novo ocupante do Eliseu antes do sufrágio. Cingir-me-ei a breves palavras sobre aqueles ao encontro de quem o Eleito foi, na ressaca da bebedeira eleitoral.
É um Bando dos Quatro. Não porque tenha cometido malfeitorias equivalentes, mas porque a solicitação deles para que integrassem a equipa dirigente vinda do outro lado é uma verdadeira "Revolução Cultural" na rotina política do Pais. Os nomes: Claude Allègre - o coveiro da PUF -, Anne Lauvergeon, Hubert Védrine, Bernard Kouchner. Os convites geraram logo rangeres de dentes dos aparelhos partidários: na Maioria com desabafos à boca pequena de que um estaria muito bem, mas quatro em quinze ministros seria levar a governação para a Gauche. No PSF, transformando François Hollande em controleiro, ao declarar inaceitavel a cooperação de inscritos no Partido com o inimigo e o inefável Maire de Paris a adoptar linguagem ameaçadora para os "traidores". Três recusas terão resolvido os embaraços maiores da questão. E o que cedeu acaba por ser o menos significativo, embora o mais popular deles. Kouchner, apesar do cartão de militante, sempre se moveu com uma autonomia que o transformava em sucessor de Tapie como a amante cara dos socialistas. É um homem paradoxal, com uma vontade efectiva de realizar boas obras, mas uma quasi-patológica - e e todo o caso infantil - necessidade de aparecer a protagonizá-las para o Grande Público. As explicações que se vão dando para a sua nomeação em vez de Védrine para as Relações Exteriores, o seu pendor filoisraelita, confrontado com o extremo anti-sionismo do outro ministeriável, cai pela base, dado o preenchimento da vaga ter tido origem na nega deste último e não numa retirada do convite em função das propaladas pressões da Comunidade Judaica. Mas creio que a razão última da abertura de Sarkozy não foi ditada pela Política Externa, antes pela vontade de emitir sinais para os compatriotas. Quer dizer, pelo privilégio da abrangência da Nação, contra o fraccionismo dos partidos. Precisamente o contrário do que Royal fez, pressionando os seus pares para uma designação imediata do candidato ao próximo despique, daqui a cinco anos, oferecendo-se, modestamente para o cargo. Se achava assim tão vital a alteração, mandaria o pudor que não se disponibilizasse. Estou a gostar da forma como um soube ganhar e a entristecer-me com a maneira como a outra não mostra saber perder. Dentro do triste espectáculo que é sempre uma corrida divisionista, claro está.
Nota: já depois de escrito o post, chega a notícia, por Hollande, da expulsão do "colaboracionista" que aceitou o posto ministerial. No fim de contas a Revolução Cultural, na vertente viciosa, parece morar na direcção partidária...

terça-feira, 15 de maio de 2007

Coisa Feia, a Inveja!

Numa altura em que é moda dizer mal da França, este maldito sugere a razão oculta de tal pulsão: nós temos o Nero que abaixo desmascaro; na Feliz Gália "Néron" respeita remotamente ao monstro imperial, mas, muito mais na ordem do dia, a Caroline... Néron! Fados!

domingo, 6 de maio de 2007

Belle du Jour

Cesse o pranto diante da beleza de Ségolène, perdida para a República. Os Franceses e, por extensão, os seus parceiros europeus poderão regalar-se com olhadelas sôfregas para Cecilia, essa feliz mistura de sangue russo e espanhol que é a Mulher do Presidente Eleito das Gálias, a qual, ainda por cima, traz como apêndice as duas filhas do primeiro casamento.

Já no plano estético que substitua as curvas pela recta analítica, tenho de sublinhar as diferenças de reacções e como faz diferença a Reacção. O vencedor fez um discurso para o Futuro que diz querer tornar sorridente, a bela vencida discursou sorridente para tornar a ter um Futuro, pois já há gente a querer abocanhar-lhe a sucessão como disputante eleitoral do PSF. E, vendo a animosidade dos azuis contra Royal, emendada pelo seu herói triunfante, tal como a de Ségó contra o seu rival, aclamada pela multidão dos vermelhos que a confortava, dei comigo a olhar para o Branco, cor do meio do pavilhão tricolor e nom adoptado pelos fiéis à Realeza Franca, que não punha uma metade da Nação contra a outra...
Logo, cedendo a uma fraqueza contra a qual não posso lutar, dei comigo a lamentar que, em vez da Royalté não esteja a chefiar o estado francês uma Royauté; e a felicitar-me por não ir nos cantos das sereias republicanas, as tais que só têm a metade das escamas...

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Explicação dos Pássaros



Os resultados da primeira volta das Presidenciais francesas suscitaram uma série de análises em Portugal que, quanto a mim, não se debruçam sobre o essencial. Aos meus olhos este seria a medida em que os dois finalistas rompem com a prática política anterior e não a dose em que a continuam, pois não era crível que um oriundo de partido integrado viesse a operar transformações radicais no quadro constitucional. Desta expectativa modesta, não só Madame Royal afrontou os barões partidários que contra ela concorreram, como propõe uma modificação por cá pouco falada, mas que merece reflexão - a criação de um mecanismo análogo ao do impeachment para o Chefe de Estado, acabando com a impunidade e irresponsabilidade que actualmente o favorecem. Depois dos três últimos titulares do cargo, a política gaulesa precisa disso como de pão para a boca. E esta fronda anti-abusos dos poderosos pode ser a chave do sucesso da candidata. Resta saber se o tom do seu discurso celebrativo da passagem ao segundo turno, fastidioso e lido à maneira de uma colegial, a beneficiarão, cativando a simpatia do generalizado sentimento contra os políticos, à Bush, ou se a farão passar por incapaz.
Já Sarkozy tem o problema do cobertor, claro, no puxar para o candidato gaulista o eleitorado da UDF, o que não pareceria difícil, por ser coisa a que este está mais do que habituado. Mas é aqui que entra Bayrou, o qual, ao não apoiar nenhum dos seus vencedores rivais e anunciar novo partido, parece querer transformar a UDF num fiel da balança, tal e qual os Liberais alemães durante muitos anos e não no comparsa menor de uma coligação, como foi durante grande parte da V República. Mesmo a façanha máxima da história da agremiação, a eleição de Giscard, passa hoje por malfeitoria indisputada, quer pelo que se revelou o eleito, quer por só ter tido sucesso graças ao apoio de Chirac contra o candidato proveniente do seu próprio RPR, Chaban-Delmas.
E é aqui que Sarko se pode jogar como revel ao Sistema, pois o desvio que fez de um partido que o Chefe de Estado cessante sonhou como transformador da herança de De Gaulle em consolidação do Chiraquismo, inclusivé na vertente que o salvaguardasse de responder perante a Justiça por falcatruas suspeitadas, pode modificar toda a ratio da UMP e da ética política francesa.
Claro que os malefícios dos partidos continuam, inquebrantáveis. No que toca à honradez dos intérpretes é que os actuais presidenciáveis têm uma palavra a dizer.
Pobre França, quanto caiu!

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Desconsiderações Sobre a França

todo o atentado cometido contra a soberania em nome da Nação é sempre, em maior ou menor grau, um crime nacional, porque nunca está a Nação livre de culpa quando uns facciosos chegam a estar em condições de cometer o crime em seu nome.
Joseph de Maistre in Considerações Sobre a França

A conquista do Ar, de Roger La Fresnaye
Apoderei-me propositadamente desta imagem para ilustrar o que me vai na alma enquanto tocaio o triste espectáculo de uma eleição presidencial mais em França. A pintura foi concebida para comemorar os êxitos pioneiros da aviação francesa, porém a mesa vazia e o desconsolo da ilegitimidade tricolor a voar parecem-me mais do que apropriados para exprimir o atentado que é a prevaricação em preencher por papeluchos, o lugar que foi de São Luís, isto é, a patética tentativa de se apoderar do vazio.
E, no entanto, o mal não está nas pessoas. Os candidatos são melhores do que a V República habituou. Até aqui, tínhamos a arrogância como imagem de marca, De Gaulle à cabeça, olhando de alto do seu metro e noventa e sete, fingindo lutar contra a decadência ao trucidar os que estavam na mó de baixo, camuflando com "passos históricos" as cedências vergonhosas cuja rejeição prometida lhe tinham valido o Poder. Pompidou pouco contou, mas a sua afabilidade relativa não escondia a presunção da nata financeira donde foi extraído. Giscard tinha o olhar altaneiro e não tinha mais, salvo as perigosas ligações diamantíferas a circenses Napoleões africanos. Mitterand nunca a escondeu, por detrás do florentinismo com que enrolou família e País. Até alguém vindo dos meios católicos, como Delors, não conseguia evitar os tiques da auto-suficiência pesporrente com que amassava as tradições nacionais sob o rolo compressor burocrático.
Na última eleição tocou-se no fundo, com um burlão comum a vencer, depois de eliminado o Jospin de anedota, homem cujo drama reside em não ver a opinião que faz da sua estatura política corroborada por alguém mais, o que significa que a justiça não se sumiu de todo.
Perante isto, Sarkozy, que adoptou alguns dos tiques dos seus predecessores gaulistas parece uma esperança redentora, pois consegue fazer da antipatia peculiar aos litigantes dos sufrágios um sinal de decisão. Que é aquilo por que os franceses mais suspiram, massacrados pela regular criminalidade protestatária.
Madame Royal estava longe de ser, como a querem fazer os seus compatriotas e a extensão portuguesa deles, apenas uma carinha-laroca. Tinha, realmente, uma panóplia de propostas substantivas que, contudo, teve de meter na carteira, porque não agradavam à sua base de apoio. A descentralização era incompatível com o jacobinismo legiferante caro aos militantes socialistas gauleses. O ambientalismo é por eles tido como mero apêndice eleitoral, não cativa, para além do que os Verdes possam acrescentar a uma maioria. A reforma do Serviço Público é impensável no partido cuja maior base de apoio está, justamente, nos funcionários do Estado. E vamos ver até que ponto foi um erro afirmar firmeza no combate ao crime sem aceitar a descida da idade de responsabilidade penal, dado constatar-se a preponderância juvenil no recenseamento etário da criminalidade.
O Sr. Bayrou, creio-o, na verdade, bom homem, tanto quanto um político o pode ser. Mas, de cada vez que é inquirido sobre propostas concretas, só lhe saem frases ocas sobre "a necessidade de políticas novas", com o engasgo subsequente quando lhe pedem para precisar, bem como o aprofundamento em abstracto da União Europeia. Faz lembrar o actual Presidente da Comissão, com mais bonomia, não admirando que lhe teça os encómios que invariavelmente debita.
E Le Pen já não é o mesmo. À transigência em correr com as regras do Sistema este Réprobo, maior do que o que escreve, soma agora a rendição perante as inovações instiladas pela filha e presuntiva herdeira, tacitamente capitulando perante a convicção - e não já mera aceitação - republicana, eleiçoeira e abortista com que se pretendeu renovar no Campo Nacional. O seu corajoso combate ameaça diluir-se numa progressiva indiferenciação.
Perante isto, não se pode concluir por coisa diferente de que, apesar da melhoria no material humano, as contingências impostas pelo regime e pelo Arco Consensual continuarão a fazer das paragens que condenaram Maurras um péssimo exemplo para o Mundo. Pode-se seguir o espectáculo, mas como de baixa comédia que é.