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domingo, 14 de dezembro de 2008

A Mão Que Abala (d)o Berço

A Busca, de Bernard Hall
Um homem que se julga sensível esbarrará sempre na parede intransponível de se ver forçado a eleger os investimentos de si que o mantenham à tona, mas distraiam, ou a solidão que lhe permita voos mais altos mas destrocem. As aspirações a superar-se, sejam pela aproximação ao Divino, ou, simplesmente, pelo aproveitar da inspiração, têm o contraponto da voragem sem excitação, no abatimento que sucede a cada instante conseguido, em que se força a prescindir da concentração que desse continuidade ao salto transfigurante procurado.
Porque é sempre humano, o que, por uma vez, quer dizer fácil, encontrar na retirada Alheia a desculpa da nossa esterilidade espiritual, imputando a um dar e tirar arbitrário a carga letal da nossa inconsequência, a que acarreta a morte mais lenta de se esvair em absurdas insignificâncias quando isoladas, porém pedras integrantes dessa pilha monstruosa e irredimível que é a Renúncia.
De António Manuel Couto Viana,

EXERCÍCIO AUTOBIOGRÁFICO

As mãos erguia. A quê? A nada.
Sarcasmo e sombra roem-lhe o seio.
Já só fantasmas temem a espada.
- Na madrugada,
Escrevo e leio.

Então tu partes. O assunto morre.
Abre-se aos tempos uma janela
E avisto pombas alvas na torre.
A lua escorre
Seda amarela.

Quem me procura? Inquieto insecto
Rouba o silêncio da liberdade.
Sangrentas chagas por amuleto
Formam quinteto.
Que céu me invade?

Lá vem transporte para o abismo.
Embarco. Parto desiludido.
Porque defendes meu corpo? - cismo.
Nem teu mutismo
Me fere o ouvido.

Enfim que importa? Ginasticados,
Os meus sentidos aguardarão
motivos fáceis para os pecados.
Que tem dois lados
A tua mão.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Essa Palavra NATAL...

Nunca, até agora, havia participado na aquisição de um presépio, pois aquele que na infância me entretinha a montar, com os meus Pais, tinha sido comprado antes de eu poder sequer opinar. Acabei hoje por preencher essa lacuna; e o resultado é mais uma acha para a fogueira dos compreensíveis lamentos que povoam a blogosfera, acerca da perda do sentido sagrado da representação.
Na casa comercial aonde nos dirigimos ostentavam as paredes letreiros chamativos e de dimensão adequada, em que se dizia estarem em promoção de 20% as árvores de Natal e restantes peças de decoração natalícia. Como se a subalternização não bastasse, tendo este Vosso servidor perguntado, pensando fazê-lo por mera formalidade, se os presépios também eram abrangidos, recebeu a resposta que nos deixou boquiabertos, por parte da balconista, aliás simpática: não sei, vou perguntar. Foi de tal forma que Quem comigo se encontrava não resistiu a explicar que entrava muito mais na categoria anunciada a recriação do nascimento do Menino, do que o vegetal, que, embora entretanto enraizado, como lhe convém, ao menos nos costumes, seria de extracção pagã.
Consultado quem de direito, verificou-se que estava incluído na iniciativa embaratecedora, o que nos deixou perante uma remanescente dificuldade - optar por um de Figuras mais elegantemente talhadas, mas reduzido à Sagrada Família e aos animais, ou eleger outro, um pouco menos feliz artisticamente, mas com Reis e Pastores. Na dúvida insanável, trouxemos os dois. E levei o pensamento para a tradição medievo-renascentista italiana de juntar miniaturas das figuras gradas da cidade como sinal de devoção. Mas a (im)piedade nunca me faria colocar o Sr. Sócrates, por exemplo, junto de réplicas dos Elementos de Adoração, nesta polis hipertrofiada que nos calhou.

sábado, 29 de novembro de 2008

Os Surdos do Diálogo

Diálogo, de Albert Szukalski
Dia Fora. aproveito o portabilíssimo computador de um Amigo para marcar o ponto, longe de casa. Lendo Convosco um poema que reprovo substancialmente, tanto quanto admiro na forma. A não ser que... a dupla negação faça vingar o entendimento contrário ao que nulifica o que não se consegue atingir, apesar de outros terem sucesso nessa via. Tudo porque se cai numa inexplicável subalternização da Luz, muito por causa da obsessiva focagem da projecção de um vulto deformado que depende dela. E que parte da presunção de que são fictícios todos argumentos de interpelação pensada idealmente do que não tem lugar pela própria divergência marginalizadora radical. Aquela que tende a não eleger o Credo, pela duradoura superstição de o crer apenas mais um.
De Augusto Gil,

SOMBRA DE FUMO

Fumo, no entanto, alguma coisa é:
Porém sombra de fumo não é nada
Para o olhar que não abranja até
Onde a matéria já não faz jornada...

Génios subtis (ou de ilusória fé)
Há, para quem a sombra assim gerada
É o irreal a palpitar ao pé
Da ansiedade duma chama ansiada.

Esses, quando uma acha se incendeia,
Vêem no fumo leve que se ateia
E na sombra que dele se produz,

As falas duma língua mal sabida,
A conversa do nada com a vida,
O diálogo do caos com a luz...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Preto, Para Além da Circunstância

Já em anterior momento referi o embaraço em que me atolei por causa das conotações do claro-escuro na nossa linguagem. Esqueci-me todavia de abordar um ponto de actualíssima solicitação. Nos Estados Unidos o dia que se segue à Quinta-Feira de Acção de Graças, o de hoje, no ano presente, é chamado Black Friday, a partir da coloração contabilística que regista prejuízos a Vermelho e lucros a Negro. Parte-se de uma constatação de comportamentos tradicionais para uma esperança dos Comerciantes, traduzida em ver chegar o dia da corrida dos compradores às lojas, no início da época Natalícia. Algo positivo, por ninguém contestado.
A própria instituição da Acção de Graças, evocando uma ceia de gratidão para com Deus para com os Índios que ensinaram certas formas de cultivar a terra, transmutou-se naquilo que tendemos por cá a concentrar no Natal, o retorno ao convívio de Pais e Filhos, numa dimensão muitas vezes mais difícil do que a que do nosso lado predomina, em função das dimensões continentais do País. Ao Natal fica cometido um estatuto de festa de crianças, com a obrigatoriedade de consumo e desperdícios festivos, mais próximo do espírito do nosso Ano Novo.
Durante muito tempo pensei a adulteração da mensagem religiosa do Menino nascido ns palhinhas como mais uma manifestação do pior infantilismo materialista dos Norte-Americanos. Porém, observando a cada vez maior padronização aquisitiva e profana com que enformamos a Celebração Natalícia, second thoughts me ocorrem: a separação radical entre os dois tipos de comportamento não estará um passo à nossa frente, desprovidos que nos encontramos dessa válvula de segurança?

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A Dependência da Parúsia

Ambição, de Michel de RooijEstas expressões valem o que valem, mas sempre concordara com a força do dito do Professor Marcelo sobre nova candidatura sua à liderança do PSD. É que se Cristo descesse à Terra, o mundo tornar-se-ia pequeno demais para Ele e para as intrigas da política partidária. Todavia, numa recaída do despudor da vaidade, vê-se que a concepção que o Comentador tem dessa Segunda Via da Encarnação depende da própria vontade do putativo candidato e tem balizas temporais de oportunidade política. Como a cobra que não quer pregar no deserto onde estão semeadas lideranças, mas em túmulos, e ambiciona estreitar a relação com o mecanismo amplificador que lhe permia dar música a uma audiência vasta.
Numa coisa concordo, se voltasse a ser esta a condução Social-Democrata, seria péssimo sinal. As segundas oportunidades ao fracasso não auguram coisa boa, por muito que se tentem enfeitar com um paralelo à Nova Vinda do Salvador.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Cruzes, Credo!

A demissão da directora do museu de Bolzano responsável pela exibição da tela menos do que medíocre de uma rã crucificada tem toda a justificação e mais alguma. Não pelo critério da ofensa à Religião - que não foi sequer o invocado -, embora seja muito engraçado que toda a gente possa sentir-se ofendida com um crucifixo numa sala de aulas e esteja vedado aos Cristãos insurgirem-se contra a representação grotesca que parodia o Símbolo sob O Qual se norteiam. De notar que a mesma senhora foi criticada por patrocinar uma exposição em que se destacava uma suástica e que o quadro da polémica poderia concitar a ira dos defensores dos direitos dos animais. Mas como a Igreja Católica é que faz correr atrás, seja com o círio ou com o cacete, já Buñuel dizia, é para aí que embicam.
A meu ver, o despedimento é mais do que justo, pelos gastos injustificados de que a acusam. Com efeito, não examinei as contas da instituição, mas qualquer mísero tostão gasto com trabalho pictórico tão mauzinho seria mais do que perdulário. Dir-se-á que é a minha opinião E eu responderei que é para a ler que aqui vieram. Se relevância se quer atribuir a algum juízo, terá de ser endereçada a quem de direito, quer dizer, ao dos administradores. E esses concordam comigo, pelos vistos, embora sejam mais comedidos a fundamentar.
Não se pense que recuso valor artístico a qualquer obra concebida para provocar. Max Ernst pintou a Virgem a sovar o Menino, o que fez as delícias de muito ateu que gosta de afrontar. E até quem assina estas linhas, durante uma crise de Fé na Divindade de Cristo que hoje o envergonha, tentou irritar a Mãe, perguntando o que achava da obra. A calma resposta foi que a problemática da Hipóstase, com a Vertente Humana de Cristo, tornava perfeitamente natural que tivesse passado pelos correctivos que são comuns a muitas outras crianças. E mais me ensinou, por palavras outras, que a boa Arte é a que permite facilmente pensar o conceito que a fez, sem se dirigir ao primarismo das reacções.
Nada disso encontro no trabalho que levantou esta celeuma, pelo que me parece evidente que o propósito de tal rã se ter imiscuído no labirinto que vai sendo a Estética, seria o de, com o escândalo, apanhar as moscas que se concretizaram em alguma fama.