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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Passar ao Lado

Sou um distraído paradigmático. De Inverno, o guarda-chuva, de Verão, os óculos de sol, são atestados e vítmas, em simultâneo, da minha incapacidade de conferir concentração aos avatares da Rotina. Devolver o troco que vim de receber, ficar com esferográficas acabadas de me serem momentaneamente emprestadas, estender na biblioteca o cartão do supermercado, são características que só não aspiram à promoção a marcas de personalidade porque, uma a uma, são facilmente encontráveis em outros frequentadores dos mesmos meios. O todo é que podia ser desoladoramente identificante.
Há casos mais graves, como o de trocar o nome da Amiga com que se está, levando-me a apressadamente convocar a explicação de Michel Déon, que atribui a distracção diante de uma Mulher ao facto de Ela nos perturbar. Isto para evitar males sérios, como a suspeita de um interesse comparativamente menor, sempre na ponta da língua acusadora das Atingidas pelo erro. É a luta permanente por nos defendermos através da paradoxal exibição de um estado indefeso que cative. Mas a melhor escapatória, porque aplicável à própria crítica que a todo o momento nos impele a morder a língua, ainda é reparar que há casos piores. Como este, que me consola por estar longe de poder dizer-se que, sendo doutros, enforme um mal, já que é impossível dizer que não foi fecundo.

domingo, 7 de dezembro de 2008

A Porta Estreita

Na Encruzilhada, de Dmitry ZejtsevQuando entrevemos, de um lado, o que nos intriga e, do outro, o que nos encanta, por vezes é a curiosidade que leva a melhor sobre a atracção, talvez porque nos pretendamos dar a ilusão de uma profundidade que inviabilizaria a adesão ao brilho e à luz, caída na ingénua suspeita de vulgarizar-nos.

domingo, 23 de novembro de 2008

Caixinhas Chinesas

Uma Gota do meu Sonho, de Shahla RosaSerá o sonho desvanecido ou a realidade esfumada o mais imaterial? Preconceito puro que quer ver a tangibilidade que parecia ao alcance e se nos escapou entre os dedos como o critério de realidade, esquecendo que a intensidade não lhe está forçosamente vinculada, mas à capacidade de aproveitamento que uma memória ou permanência onírica nos deixem. Breton e os seus fizeram da eliminação dos policiamentos da vigília o critério de aprovação e consagração do Homem. Esquecendo que o sonhado e o vivido não andam tão longe um do outro como isso, salvo na satisfação da vaidade. Os salvados que Coleridge conseguiu reunir no «Kublai Kahn» estão tão próximos dos fragmentos que nos ficam do que experimentámos, como as conjugações, verbais e outras, os fazem intermináveis portas para sucessivas divisões vazias, de que, afinal, se retira a grande ilação - a de os compartimentos que se seguem uns aos outros, condicionados por elas, não dizerem tanto respeito ao que pensámos dormindo, mas muito mais ao Desejo do nosso todo.
O Mundo está cheio de descobertas já anteriormente feitas. Aprisioná-las em linguagens e dogmas de escola é a ilusão que nos damos do Novo.
De Manuel Bandeira:

TEMA E VARIAÇÕES

Sonhei ter sonhado
Que havia sonhado.

Em sonho lembrei-me
De um sonho passado:
O de ter sonhado

Que estava sonhando.

Sonhei ter sonhado...
Ter sonhado o quê?
Que havia sonhado
Estar com Você.
Estar? Ter estado.
Que é tempo passado.

Um sonho presente
Um dia sonhei.
Chorei de repente,
Pois vi, despertado,
Que tinha sonhado.



quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A Kiss Is Still a Kiss?

Debruçando-me sobre esta imagem extraordinária, não consigo deixar de pensar que, para muita gente, o Amor não significa estar no mesmo barco que o Amado...
As más notícias estão em essa acepção passional se dissolver como o fumo.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Um Cheiro a Esturro...

Quem sou eu para duvidar da Prof.ª Herz? Mas esta ideia de que as Mulheres identificam os machos que Lhes encaixem através do cheiro, parece-me demasiado um Complexo de Cão Pisteiro. Pela experiência assustadora que é qualquer curta viagem de transportes públicos, a combinação do pivete de certos utentes com a aliança no dedo indica uma de duas coisas: ou há uma epidemia de proporções catastróficas de narizes entupidos, presumivelmente a sinusite crónica, ou o casamento por amor já conheceu melhores dias. Tudo porque não é crível que a população masculina se passe a lavar menos após a junção dos trapinhos e a insigne investigadora garante que só depois de casada a Mulher passará a aguentar qualquer cheirete. E não se pode permitir que o intercâmbio de suores dos trajectos urbanos sirva de fundamento de uma derrogação à Biologia!
Cá para mim, tudo se pode harmonizar com uma leitura atenta deste quadro argutíssimo: o que tresanda, para a penca de um homem, é muitas vezes adorável ao delicado narizinho Delas.
O Sentido do Olfacto, de Adriaen Van Ostad

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Chamaram-Lhe Eterno...

A permeabilidade absoluta ao Ideal, uns lhe chamam, com menos razão do que os que detectam no mesmo culto a aspiração a aprisionar a Essência que precisa do Plural hiperbólico para se oferecer como conceito. Que sobeja então, de uma sensibilidade receptiva que os menos vocacionados apodam de faqueza, ficando reservada àqueles que insistem em procurar a faculdade de deixar-se prender, quer por oscilarem entre destrinçar ao ponto de particularizar uma atracção, ou, bem pelo contrário, em assimilar o encanto à totalidade do Género. Com agravante de o circuntancialismo concreto de uma vida poder levar ao sentido da dulcíssima mas consumptiva tirania da indistinção.
De Guedes Teixeira,

Não ha mulher que não tenha um encanto,
Todas são bellas seja no que fôr:
A alma, por mais occulta, em qualquer canto,
Ha de romper e dar a sua flôr.

Mas quando nada dê, temos, no entanto
Em nós poder de tudo lhe suppor,
Desde a pureza, se esse amor é santo,
Ao mais, se o nosso amor é bem amor.

Entre as negruras de que nos rodeia
A vida, pode uma alma ser perdida?
Criatura d´amor que seja feia?

Sonho que eu vivo e por que ha tanto chamo!
Quem me dera, atravez da minha vida,
Encontrar, afinal, a que eu não amo!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Romantismo ou Realismo?

Sobre o valor emblemático da vida sentimental contemporânea que mais sobressai nesta fotografia de Langfossen, a decisão aos (e)Leitores...

sábado, 25 de outubro de 2008

Amor Em Fuga

Alegoria Com Vénus e o Tempo, de Tiepolo
Muitos conhecem bem cedo o que a vida reitera e confirma, alguns demoram mais a ser surpreendidos, outros são prevenidos pelo exemplo alheio; e até nos casos de menos erosão a dúvida faz os seus estragos, pois este é o domínio em que, ao contrário de outras faixas e diversas rodagens, a ultrapassagem realmente custa. Será da essência de quem tem asas usá-las para atingir alturas que os demais não podem acompanhar, mas não é menos certo que os condenados à Terra num nível superior ao dos vermes têm igualmente uma natureza inescapável, a de continuar a tentar. Oiçamos então o que podia bem ser um Fado, saído da pena de António Feijó

O AMOR E O TEMPO

Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu, subiamos um dia
Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adeante
E, com o tempo, acelerava o passo.

-«Amor! Amor, mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pôde com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Subito o Amor e o Tempo combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
-«Porque voaes assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» N´esse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
Tende paciencia, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!...