No mundo dos blogues há muita maternidade. Muita paternidade. Muita parentalidade. Em alguns sítios até demasiada. Discute-se tudo até ao ínfimo detalhe, toda a gente tem opiniões e muitos as debitam constantemente. Não sou mãe, logo, por razões óbvias, não é um tópico que me chame particularmente a atenção. A rúbrica Motherhood Mondays da Joanna Goddard é das poucas que leio porque vem no meio de vários outros temas genéricos que me despertam uma espécie de curiosidade sociológica. A mais recente entrada nesse tópico teve uma colaboração da Mara Kofoed de A blog about love e abordou o inesperado "What if you can't have a baby?".
Não me identifico com a autora em vários aspetos, nem encaro as questões da mesma forma, porque não acredito que nós humanos sejamos a medida de todas as coisas, nem que as respostas estejam dentro de nós. A minha fé leva-me num percurso distinto. Sinto-me em paz e cultivo a gratidão pela minha vida como ela é - e não como eu gostaria que fosse. É por isso que me identifiquei muito com:
"we're trying to cultivate as much excitement and hope as we can for a life that looks nothing like we had planned."
No filme "The Village" (em português, "A Vila") de M. Night Shyamalan havia a referência a "those we don't speak of". Muitos de nós temos tabus pessoais que constituem "aqueles sobre os quais não falamos" na nossa vida. No meu caso, o facto de não termos filhos é o tal assunto que nunca puxei e evito o mais possível. Não por me custar ou ser desagradável mas, principalmente, porque não sei o que dizer. Sempre quis ter filhos e sempre achei que viria a ter uma família grande mas isso não aconteceu e nós fomo-lo aceitando.
Desde há pouco menos de 2 anos trabalho com crianças diariamente e, se há características notáveis das crianças, a falta de pudor e filtro são algumas delas. Dizem o que pensam e perguntam o que querem. É por isso frequente perguntarem-me se tenho filhos e à resposta "não" reagirem com um espantado "Porquê?". Já houve tempo em que essas perguntas me incomodaram mais. Agora respondo "Porque não" e mudo de assunto, mas já por várias vezes fiquei enternecida ao perceber que o espanto deles é carinhoso por acharem que os nossos filhos seriam uns sortudos. Fico mesmo enternecida. E quem sabe um dia? Se Deus quiser.